Eu estava enganada, até que foi fácil ficar perto dele, os Sr. Dylan ficavam fazendo pergunta sobre Los Angeles e eu comentava as vezes, já que conhecia a cidade.

— Você conhece os Estados Unidos todo? - Cris perguntou quando estávamos tomando sorvete.

— Quase - sorri sem graça - meu pai gosta muito de viajar.

— E outros países? - Neitan me encarou esperando a resposta de sua pergunta.

— Brasil, México, Alemanha, França, Nova Zelândia, Suíça e Austrália - meu Deus, eu realmente conhecia bastante lugar, nunca tinha reparado nisso, parecia comum em California City.

— Caramba - eles riram - seu pai é mafioso?

Encarei Nick incrédula e eles gargalharam com a minha expressão.

— Ele é veterinário, mas trabalha com agropecuária e também cria cavalos para vender, hipismo e coisas do tipo - sorriram e eu terminei de tomar meu sorvete - muito capitalista as vezes, mas ninguém é perfeito não é?

O resto do dia foi tranquilo e me perguntei por quantas vezes eu passaria por aquele tipo de situação, suspirei e torci para que fosse poucas vezes. Quando deu 18h, me despedi de todos e cheguei em casa já tomando banho, estava com sono.

— Então, como foi? - mamãe perguntou me dando um susto e acabei engasgando com a água, estava na cozinha - ah, desculpa.

— Tudo bem - sorri e a voz saiu um pouco embargada - foi legal, o Neitan está de volta.

Ela me encarou com um sorriso de lado e eu franzi o cenho, conhecia bem aquele sorriso.

— O que? - perguntei colocando o copo na pia.

— Nada - riu sem humor - é que você falava tanto desse garoto quando o conheceu, até estranhei porque só tinha o visto uma vez. Achei que fossem ter alguma coisa, mas agora você está com o Nick.

Eu dei uma risada e assenti.

— Já entendi, mãe.

— Então, foi só a minha opinião - ela tocou o meu ombro - mas não machuque quem te ama.

— Pode deixar, conselheira amorosa - nós rimos e subimos.

Antes de dormir, lutei contra o meu sono e entrei nas minhas redes sociais, não fiquei surpresa ao ver solicitação de amizade do Neitan e dei um sorriso bobo. Aceitei e ele estava online. Mexi em algumas coisas e recebi um pedido para uma vídeo chamada. Prendi o cabelo em um rabo de cavalo e aceitei.

— Você estava falando sério sobre estar casada quando eu voltasse? - Neitan apareceu com um sorriso de lado. Estava com uma camisa regata branca, cabelo arrepiado intacto.

— Que mania de não acreditar em mim - sorri e ele assentiu.

— Não, agora é sério. Formam um casal bonito - disse e depois me mandou uma foto que tinha tirado comigo a tarde - mas seríamos um casal perfeito, pegadora.

Nós rimos.

— Para de ser bobo, seu irmão é uma graça, sabia?

— É a primeira que prefere ele a mim - balançou a cabeça - eu não entendo.

— Cala a boca, Neitan - sorri sem graça - ele é mais rápido.

Neitan riu alto e apontou para o ombro.

— Se não fosse esse cara, eu aposto que Nick nem teria chance.

— Você é tão convencido - eu revirei os olhos e ele assentiu.

— Realista - piscou e eu suspirei. Como podia ser tão lindo? Eu tinha que terminar aquela chamada antes de ter um infarto.

— Convencido - disse Nick e apareceu na tela, dei graças a Deus.

— Oi amor - sorri e ele retribuíu. Estava sem camisa, mordi o lábio inferior. Neitan pigarreou.

— O meu é mais definido - fez cara de tédio.

— Idiota - disse e os dois riram.

— O mais velho sempre tem razão - Nick zombou, Neit só ficou me encarando e eu desviei o olhar.

— Vou dormir, senhores convencidos.

— O que? - disseram juntos e eu ri.

— Sim, são e ponto final. Até amanhã, meu amor - Neitan fez biquinho me mandando um beijo, sorri - beijo pra você também.

— Até - disseram e eu desliguei o notebook.

Deitei e senti um friozinho na barriga. Eu estava perdida, como poderia namorar com o Nick e sentir tanta atração pelo Neitan? Era completamente errado e ele era tão convencido, falava como se eu fosse fácil e aquilo me irritava, teria que resolver isso logo. Adormeci lembrando do moreno que roubava a minha consciência.

Acordei as 6h na quinta-feira e tinha uma mensagem no Nick no meu celular, perguntando se eu queria que ele fosse me buscar, respondi que não precisava porque não era caminho.

Tomei um banho rápido. Estava fazendo calor naquela manhã e o dia nem tinha começado direito. Vesti um short jeans que ia até a metade da coxa, cinto azul escuro e uma camiseta azul clara, sapatilha branca no pé, cabelo solto com uma tiara com borboletas brilhantes, não era chamativo. Peguei a mochila e uma blusa de frio por causa do ar condicionado da escola e desci para tomar café. Mamãe já estava lá.

— Bom dia.

— Bom dia, nega - mamãe respondeu e pediu para eu sentar no balcão com ela.

— Folga hein, que beleza - sorri e ela assentiu. Tinha feito plantão por 5 dias, nem sei como ela conseguia.

— Merecida - deu risada - quer que eu te leve? Posso te buscar depois.

— Claro, vou sair as 14h hoje. Tem teste para o time do futebol, não quero perder.

— Tudo bem. A gente pode almoçar naquele restaurante que você gosta depois, o que acha?

— Perfeito - olhei para ela que tinha um sorriso bobo no rosto - qual o nome dele?

Mamãe podia tentar esconder tudo de mim, mas eu sabia que tinha alguém no meio, nunca me chamaria para almoçar do nada, não durante a semana.

— Jonny, 40 anos, chefe da pediatria - sorriu e eu me lembrei dele. Alto, cabelos preto, um pouco grisalhos, simpático.

— Ah, é ele que está te dando boas noites de sono então - brinquei e ela ficou quase roxa de vergonha, não consegui segurar a risada.

— Você é igual o seu pai, nunca vi - respondeu um pouco irritada e eu ainda ria.

Terminamos de tomar o café e fomos para a escola. Ela me deixou lá as 6h48, suspirei, tinha alguns carros e motos no estacionamento, um pessoal no pátio. A aula só começava 7h30. Fui para a biblioteca para estudar um pouco e estava aparentemente vazio, só vi a moça que cuidava de lá. Procurei uma mesa afastada e me surpreendi ao ver Neitan sentado sozinho, super concentrado com um monte de livros em cima da mesa que ele estava.

Estava com uma blusa de frio azul clara quase branca, percebi que era da academia de luta e sorri. Eu não sabia que ele usava óculos, era um ray ban wayfarer também azul mas era meio puxado para o marinho, calça jeans skinning preta, supra branco.

Me sentei e fiquei observando-o, deu para perceber que estudava exatas. Abri minha mochila pegando meu material. Levantei para pegar alguns livros de química orgânica e acabei derrubando um no chão, queria enfiar minha cabeça na prateleira. Olhei para o lado, a moça me encarava sorrindo e depois me virei para a direção do Neitan. Ele estava com a sobrancelha esquerda arqueada e ficou me encarando, sorriu e voltou a estudar.

Peguei o livro do chão junto com os outros que já havia pego e fui para a minha mesa. Senti um par de olhos me seguindo e brinquei:

— Assim eu vou sumir, sabia? - Neitan segurou a risada.

— Desculpa, é que você me desconcentra - sorriu e eu contive um sorriso ao ouvir aquelas palavras.

— Sei - disse e voltamos a estudar.

Já tinha passado uns 10 minutos que eu estava lendo e de repente alguém sentou na minha mesa, de frente pra mim. Ergui a cabeça e Neitan tinha um sorriso tímido no rosto.

— Pode me ajudar? - parecia com medo da minha resposta. Fechei a minha apostila de exercícios e empurrei um pouco dos livros para o lado.

— Claro - sorri e ele me estendeu uma folha lotada de contas, era física elétrica, minha matéria preferida. Seria fácil, pensei.

— Eu já fiz o exercício 7 umas 3 vezes e dá resultados diferentes, é a fórmula certa, mas acho que estou perdendo alguma informação no texto.

Assenti e li o enunciado. Sorri ao encontrar o problema.

— Você está esquecendo de converter, ele quer em watts por metro quadrado, mas se deixar para fazer isso no final vai dar um resultado absurdo, e praticamente impossível de resolver - apaguei a conta na folha e resolvi - assim, está vendo?

Neitan pegou a folha e assentiu.

— Mas dá pra usar frequência, não? - perguntou olhando a folha.

— Tem N jeitos de resolver, esse é o mais simples. Mas frequência é óptica - respondi e ele sorriu. Me encarou alguns segundos.

— Nerd - brincou, ele sabia que era óptica, estava me testando - muito obrigado.

— De nada - sorri e ele voltou para a mesa.

Olhei no relógio e já estava quase na hora da aula. Guardei o meu material e só sobrou os livros para devolver. Coloquei a mochila no ombro direito, estava pesada.

Levantei indo em direção as prateleiras. Neitan apareceu do meu lado com a mochila nas costas e sem óculos. Também estava com alguns livros de química na mão.

— Soube que é minha concorrente - disse sorrindo e devolvendo-os na prateleira, assim como eu.

— Mais ou menos, estou em dúvida.

— Nick me contou sobre isso também - fomos caminhando até a saída da biblioteca.

— Você não faz o tipo nerd - eu disse quando chegamos no corredor e já estava lotado de pessoas.

— Não posso ser descolado e nerd? - perguntou com um sorriso nos lábios.

— Eu não disse isso - balancei a cabeça.

— Foi o que quis dizer - ele ainda sorria - o que adianta ser aprovado pelo inmetro e reprovado pela GPA?

Rimos do comentário dele. Era mesmo perfeito. Ficamos conversando mais um pouco e então Nick chegou com uma expressão não muito boa no rosto ao me ver com o Neitan.

— Oi amor - eu disse sorrindo e ele não respondeu. Fiquei sem graça e Neitan suspirou.

— Vamos pra aula - Nick pegou na minha mão e puxou, tínhamos a primeira aula juntos. Eu não estava entendendo nada. Acenei rapidamente para Neitan, que retribuíu e com um olhar que mais parecia de desculpas. Eu fiquei ainda mais perdida na situação.

Fechei a cara e quando entramos na aula de história, Nick sentou ainda emburrado e eu procurei outro lugar para sentar que não fosse ao lado dele. Ele segurou no meu braço.

— Aonde vai? - perguntou assustado.

— Me sentar - respondi seca - quando melhorar o seu humor, talvez eu sente com você.

— Amor - ele suspirou - Neitan não é uma boa companhia, ele quer você.

— E precisava ser grosso comigo? Alguma vez eu tive crise de cíumes e fui grossa com você? Não, sabe por quê? Eu converso contigo antes de tomar minhas conclusões sobre as coisas. Olha, sou sua namorada, mas não sua propriedade - virei as costas para ele que ficou com um olhar frustrado e arrependido. Me sentei no fundo da sala e ele ficava olhando toda hora.

A aula foi bem legal, eu gostava bastante de história, o professor fazia umas piadas em meio a narração, me fazendo dar boas gargalhadas. Quando acabou, peguei a mochila e Nick estava me esperando do lado de fora. Suspirei quando ele tocou o meu braço.

— Me desculpa - pediu suplicante. Eu assenti - então me dá um sorriso.

Eu não conseguia sorrir e ele ficou com um olhar triste. Caminhamos em silêncio. Nick estava pensativo. Vi Neitan conversando com uma garota no corredor quando passamos, era muito bonita, loira, baixinha, olhos azuis.

— Muita gente para o teste? - perguntei para quebrar o silêncio. Nick finalmente sorriu.

— Bastante, estamos ansiosos - respondeu e logo voltou a expressão de antes.

Paramos em frente a sala dele e me deu um beijo na testa.

— Nos vemos no intervalo? - perguntou olhando para a sala um pouco cheia.

— Claro, vou estar com a Lily - respondi. Ele assentiu.

Caminhei para a minha sala. Neitan estava lá sentado com a mesma garota de antes, eles riam de alguma coisa, olhei-o meio de lado. Notou a minha presença, a professora ainda não tinha chegado, era química geral. Como me sentei sozinha, ele sentou ao meu lado, pude perceber a garota irritada quando fez isso.

— Está tudo bem? - perguntou me olhando curiosamente.

— Acho melhor você voltar para o seu lugar - respondi sem vontade. Eu não queria magoar o Nick.

— Eu não sou um monstro, sabia? - disse olhando para a porta.

— Sei disso - eu não estava olhando para ele.

— Está bom - levantou da carteira - até depois e me desculpa por ter feito vocês brigarem.

— Você está aprontando alguma, não é? - disse encarando-o. Um sorriso nasceu nos lábios dele. Aquilo foi um sim.

— Eu? - fingiu incredulidade - não apronto nada.

Bufei. Que cara de pau.

Nick talvez estivesse certo, ele não era uma boa companhia. Nunca sabia quando estava falando a verdade, tinha duas personalidades e o que ele estava aprontando?

A professora resolveu vários exercícios e explicou uma matéria que eu já sabia. Quando o sinal bateu, corri para a aula de geografia que eu tinha com a Lily. Ela sentou comigo e ficamos conversando e contei o que havia acontecido.

— O Neitan não é má pessoa, mas adora apostas e acho que Nick já te disse isso - ela disse sorrindo, eu assenti, ja me disse isso mesmo.

Ela comentou que ia ter uma festa no outro dia e que todos iriam. Sorri dizendo que iria ver com o Nick.

Saímos da sala e andando um pouco rápido para pegar uma mesa para sentarmos. Logo os garotos se juntaram a nós. Nick não olhou pra mim e nem sentou do meu lado, foi para a fila pegar alguma coisa para comer. Fui atras dele.

— Nick - eu chamei e olhou com um sorriso de lado, encarei-o curiosamente.

— Tinha que fazer alguma coisa para você vir atras de mim - admitiu sem graça - não gosto de ficar assim com você.

— Nem eu - disse sorrindo.

— Me promete uma coisa? - o olhar dele estava distante.

— Sim.

— Não beija o Neitan, independentemente do que acontecer, não faça isso - ele parecia triste. Eu estava confusa.

— Por que eu faria isso? - perguntei.

— Eu não sei. Só me prometa - pediu e eu assenti.

— Eu prometo - sorrimos. Pegamos algumas coisas para comer e beber e logo voltamos para a mesa.

— Cara, cada dia que passa, vocês ficam mais fofos juntos - Lily disse fazendo com que todos rissem.

O resto do dia na escola foi tranquilo e logo estaríamos presenciando o teste. Estava andando sozinha quando ouvi alguém discutindo, vinha do outro corredor. Era a voz do Nick, fui até lá.

— Você é um vacilão! - Neitan berrou e eu assutei, estava perto deles mas não podiam me ver.

— O que queria que eu fizesse? - Nick estava vermelho de raiva - babaca.

— Se ela te ama, não vai cair nessa, relaxa - Neit colocou a mão na cabeça e ficou pensativo. Nick ficou triste de repente, o irmão dele percebeu - ah entendi, ela não te ama.

— Cala a boca! - Nick socou o armário e eu dei um pulo - nunca mais fala isso, entendeu?

Neitan riu sem humor e disse:

— Vai ser fácil então - senti meu sangue ferver. Eles estavam falando de mim, eu tinha certeza disso.

— Nick? - chamei e os dois me encararam assustados.

— Há quanto tempo está ai? - meu namorado perguntou.

— Nossa - eu ri e saiu bem melhor do que imaginei, até eu teria acreditado se fosse eles - eu acabei de chegar.

Eles relaxaram e sorriram automaticamente, mas não disseram nada.

— Algum problema? - perguntei. É claro que eles não falariam nada sobre, mas tinha que continuar a ser convincente.

— Nenhum, não é, Nick? - Neitan conseguia ser tão falso que eu quis pular no pescoço dele.

— Tudo certo - Nick respondeu olhando para mim e sorrindo.

— Então vamos - chamei-o.

Andamos até o campo e eu estava me segurando para não perguntar nada. Primeiro ele me fez prometer aquilo e agora aquela conversa. Neitan estava mesmo aprontando.

— Idiota - eu disse alto demais e Nick me encarou.

— Eu? - perguntou assustado, eu ri.

— Não, bobo, estou falando sozinha. É que hoje de manhã fiquei resolvendo uns exercícios de química e agora veio a resposta na minha cabeça. Eu sou muito lerda - disse e ele sorriu. Eu sempre fazia esse tipo de pensamento, ele não se importou.

Foi até o campo e eu me sentei na arquibancada. Logo Lily e Jake se juntaram a mim, notaram que eu estava nervosa.

— Qual o problema? - perguntou Jake.

— Não sei ainda - respondi olhando para o campo e Neitan estava procurando algo na arquibancada. Percebi que tinha achado quando ficou me encarando - mas vou descobrir.

— Neitan - Lily disse apontando para o campo - ele sempre é o problema de tudo.

Rimos e Jake concordou:

— Sempre mesmo, devia receber um prêmio por isso.

Fiquei observando Nick colocar os garotos em fileira e separando os times. Sorri ao ver a cena. E quis me matar por não amá-lo. Por que? Ele era tão bom pra mim. Eu não podia cair na do Neitan, não mesmo, tinha que conseguir resistir.

— Milla! - Lily estava irritada.

— O que? - perguntei confusa.

— Para de ficar babando no seu namorado e presta atenção em mim - pediu manhosa. Eu ri e assenti.

Ela voltou a falar e eu novamente não ouvi. Só queria saber como me apegar à ele. Eu tinha que fazer isso, não podia magoá-lo.