Nick me levou em casa e dei graças a Deus por ele ter um carro separado do Neitan(acabei descobrindo que é viciado em motos, droga, também sou). O sorriso dele não saía da minha cabeça desde a hora em que cheguei em casa.

Limpei a casa para a minha mãe e fiquei sozinha o dia todo. Resolvi estudar um pouco, tinha umas listas atrasadas das minhas aulas particulares pra fazer, tinha que ver exatas.

Deu 16h e fui tomar um banho, estava cansada. Enquanto a água caía sobre mim, fiquei lembrando da escola, eu até que tinha me "enturmado", é tão diferente da minha ex-cidade, senti falta dos antigos colegas de classe, da carona do Travor e daquele jaleco que me tirava o fôlego.

Lavei o cabelo e deixei secar naturalmente. Coloquei um short jeans curto, camisa branca sem manga e uma sapatilha. Ia dar uma volta no bairro para conhecer, agora que criei coragem para isso na verdade.

Tranquei as portas de casa, não ia demorar muito pra voltar. O quintal era grande e aquilo me deu uma ideia, pediria para minha mãe um cachorro e também me faria companhia enquanto ela trabalhava.

As casas da rua eram todas grandes como a minha. Andei por algumas ruas, não tão longe porque eu me perderia facilmente naquela cidade. Acabei parando em uma sorveteria, afinal, estava calor e ainda era 17h. A primeira coisa que pedi foi um milk shake de torta de chocolate, meu preferido, independentemente do lugar que fosse, não era como do Novo México mas estava gostoso.

Quando sai de lá, não pude deixar de reparar que ao lado tinha uma academia enorme, em cima estava escrito: "Only black fighters", me interessei e cheguei mais perto. Ao ver vários homens e garotos lutando, deduzi que era uma academia de luta. Fiquei observando alguns minutos e voltei em direção a minha casa. Enquanto andava pela rua, uma kawasaki ninja verde e preta passou ao meu lado, acho que chegou a escorrer uma baba pelo canto da minha boca, que moto linda. Percebi que o motociclista parou na academia mas parecia com pressa, logo voltou a subir na moto, vindo na mesma direção que eu. A moto passou do meu lado e pude sentir os meus cabelos voarem um pouco por causa da velocidade da mesma.

Não tinha passado nem 1 minuto que ela havia desaparecido, voltou á rua e andou devagar ao meu lado, confesso que senti muito medo. Podia ser um psicopata, mas quando olhei novamente, o motociclista havia erguido a viseira, parei automaticamente e não consegui conter um sorriso que nasceu no canto dos meus lábios, percebi que ele também sorria.

Era Neitan. Parou a moto e veio ao meu encontro, ainda o odiava, mas era tão perfeito que ficava difícil odiá-lo. Antes, eu achava Travor o cara mais lindo de todos, agora, aquele garoto o superava só com um sorriso. Ele estava usando uma calça jeans escura e uma blusa de frio cinza com o nome da academia que eu tinha visto, atras estava escrito: competidor, calçava um supra azul escuro e o cabelo arrepiado. Está bem, além de lindo, jogava futebol americano, tinha uma kawasaki ninja e era lutador? Que isso, Deus, caprichou nesse, hein.

- Perdida, caipira? - a voz dele estava rouca e parecia cansado. Bufei.

- Dá pra parar de me chamar de caipira? Eu não sou isso - fui um pouco grossa e o sorriso dele desapareceu.

- Desculpa, Kamilla, acho que você está com uma visão errada sobre mim. Eu não sou um veterano metido que acha que sou, muito pelo contrário - Neitan estava sendo sincero, dava pra perceber pelo olhar e voltou a sorrir - Vamos começar de novo?

Ele estendeu a mão para mim e eu fiquei receosa. Lembrei do que Lily tinha me dito pela manhã, aquilo podia ser uma estratégia dele para me ter, mas não conseguia ser má com as pessoas, isso não era de mim.

- Prazer, Kamila Andrews - apertei a mão dele e o mesmo retribuíu.

- Belo nome, sou Neitan Dylan, prazer - soltou uma risada abafada e senti a minha consciência indo embora.

- Você vem sempre aqui? - ele riu e não pude deixar de acompanhá-lo.

- Antes vinha todos os dias mas agora estou com um probleminha com o meu amigo aqui - Neitan apontou para o braço esquerdo e ele percebeu a minha cara de confusa - eu sou pugilista, treino naquela academia ali.

Olhei para tras pra ver novamente a academia. Estávamos parados um de frente para o outro.

- Ah entendi. E o que houve com o seu braço? - perguntei. Neitan mordeu o lábio inferior e aquilo me fez arrepiar.

- Hum, te conto se for ali comigo - apontou pra sorveteria. Eu sorri.

- Eu acabei de tomar um milk shake, vou me tornar uma gorda se aceitar? - olhei pra minha barriga e ele soltou uma risada alta e eu corei.

- Depois você treina futebol comigo para perder esses quilos a mais - dessa vez eu que ri.

Neitan subiu na moto e nem colocou o capacete. Eu só observava aquele garoto.

- Sobe ai - disse com um sorriso de lado - ou você ainda tem medo de mim?

- Está debochando? - perguntei rindo e subindo na garupa dele. Coloquei os braços envolta da cintura dele e o senti suspirar.

- Jamais - respondeu e andando com a moto até a sorveteria. Chegamos rápido demais. O cheiro dele era muito bom e ficar "abraçada" com ele me fez perceber o quanto eu estava carente.

Estacionou a moto e descemos. Neitan colocou o capacete em uma das mesas da sorveteria e a moça ficou encarando ele, que nem deu bola.

- Então, o que você vai querer? - perguntou olhando para mim, passando a mão no cabelo e sorrindo, como sempre.

- O que você me sugere? - ouvi a risada gostosa dele.

- Dois milk shakes sensação. A garotinha de Califonia City tem que saber o que tem de bom na cidade - Neitan pediu para a moça que ainda olhava descaradamente para ele. Bufei por dentro.

- Nasci aqui mas morava lá - disse enquanto sentávamos na mesa aonde estava o capacete dele.

- Dá pra perceber pela sua cor do pecado - Neitan fitava os pés.

- Engraçadinho - ele deu com a língua - então, o que aconteceu com o seu braço?

- Interessada, senhorita? - perguntou com a sobrancelha arqueada, eu ri.

- Qual é, disse que ia me contar - fiz biquinho e ele assentiu. Quando ia começar a falar, a moça chegou com 2 imensos milk shakes.

- Está brincando, não é? Eu não vou conseguir tomar tudo isso, pugilista - eu disse fazendo com que ele risse.

- Relaxa, eu te ajudo - pude ver um sorriso malicioso nos lábios dele mas ignorei. A moça ainda estava parada ao nosso lado, então ele pegou a carteira e tirou dinheiro, dando a ela - Obrigado, Alice.

A tal Alice(era mais alta que eu, ruiva e olhos claros) deu uma secada nele e eu fiz cara de paisagem.

- De nada, Neit e - ela olhou pra mim, parecia curiosa e incomodada com a minha presença, me mexi na cadeira tentando me sentir confortável. Neitan percebeu que eu estava sem jeito e estendeu a mão por cima da mesa, peguei sem pensar duas vezes e ele sorriu.

- Essa aqui é a Kamilla, meu novo anjinho - a voz dele era tão boa de ouvir. Me sentia totalmente hipnotizada.

Ela olhou com cara de nojo mas não disse nada e saiu de perto de nós. Começamos a tomar o milk shake em silêncio.

- Sinto que ela já me odeia só por eu estar com você - ele riu.

- Era a final do predador, meu braço já estava deslocado mas só faltava 1 minuto para eu ser campeão nacional - Neitan falava e o seu olhar mostrava o quanto estava longe - então, eu ganhei, mas o meu braço e o meu ombro estão acabados. Estou fazendo fisioterapia, sai gritando de dor da luta e nem pude curtir a festa de comemoração.

- Se arrepende?

- Muito. Fui ganancioso, se eu tivesse desistido, poderia estar treinando hoje e tentar ser campeão esse ano, mas o tempo está passando, a dor só piora e as notícias são cada vez piores - ele disse olhando para mim. Fiquei com pena dele, parecia ser algo que gostava de fazer.

- Sinto muito por isso - tomei um pouco daquele líquido gelado que eu gostava tanto. Neitan já estava acabando o dele.

- Tudo bem. Tem coisas que a gente só aprende quando apanha mesmo - a ambiguidade da fala dele nos fez rir - Mas e você? Deixou alguém chorando de amor na antiga cidade?

Ele desivou totalmente de assunto e aquilo me fez engasgar. Por quê estava interessado?

- Na verdade, sim - corei e ele riu.

- Quem?

- Chama Travor, tem 20 anos - meu humor mudou rapidamente quando me lembrei dele, Neitan percebeu. A expressão naquele rosto quando nos despedimos nunca saía da minha memória.

- Vocês namoravam? - Neitan viu que eu não ia tomar mais milk shake e puxou a minha taça para perto dele.

- Sim, mas eu não quis continuar morando longe dele. São tantas festas na faculdade, queria que ele curtisse, merecia.

- Nossa, você é a favor da pegação então? - nós rimos.

- As vezes é bom.

- Caramba, é uma pena que o meu irmão tenha te visto primeiro, formaríamos um super casal - pausa para a risada - sou super a favor da pegação.

- Já deu pra perceber - disse ainda rindo.

- Estou brincando. Você escolheu bem, o Nick é um cara e tanto, reservado - ah, se ele soubesse que eu e o Nick ainda não temos nada, não que eu não queira ter.

- Mora aqui perto? - Neitan perguntou dando um último gole no milk shake.

- Sim, umas 7 quadras daqui.

- Eu te levo então, vamos? - ficou em pé do meu lado e eu sorri.

Eu expliquei aonde era a minha casa para ele e fomos. Quando paramos em frente, Neitan ficou só observando o Jetta branco na garagem e uma Land Rover do lado, pelo jeito o carro da minha mãe tinha ficado pronto, estava na oficina.

- Belo carro - disse olhando pro Jetta. Eu sorri.

- A caipira aqui tem bom gosto, sabe - ele riu alto e fez reverência.

- É seu? - Neitan estava surpreso - tudo bem, admito, de caipira você não tem nada.

- Idiota - eu disse rindo e ele sorriu sem graça.

- Caloura, foi bom passar esse tempo contigo. Acontece que vou viajar amanhã cedo e só volto daqui 5 meses - Neitan fez cara de tédio.

- Sério? Por quê?

- Os meus patrocionadores não são daqui, então eles pagaram um tratamento intenso pra mim em outra cidade, acho que vamos nos ver as vezes mas vou deixar avisado pra você não sentir a minha falta - Ele era tão convencido.

- Vou estar casada quando você voltar, relaxa - nós rimos.

- Tomara que não - sorriu maliciosamente e olhou pro iPhone, eu não respondi - preciso ir, Kamilla, a gente se fala por ai então.

- Sim.

Neitan me deu um beijo no rosto e depois um abraço apertado, como de despedida mesmo. Admito que sentiria falta daquela perfeição mas teria uma cópia dele sempre perto de mim.

Ele subiu na moto e logo desapareceu, eu ainda conseguia ouvir o ronco da moto de longe e sorri. Entrei em casa e me deparei com a minha mãe sentada no sofá da sala com um sorriso sapeca no rosto.

- Quem era? - perguntou me chamando pra sentar. Eu revirei os olhos e respondi sem vontade:

- Um garoto da escola, eles são gêmeos e me receberam muito bem - adiantei já sabendo que ela faria um mega questionário.

- Ele é lindo, investe - ela disse rindo e me fazendo rir também.

- Para mãe - aposto que eu estava corada - vou subir.

- Tudo bem, querida.

Subi pro meu quarto e fiquei lembrando dos irmãos Dylan. Apesar de um se misturar e o outro nem tanto, eram bons amigos.

Estava tão cansada que troquei de roupa e fui dormir 20h30. Mal conseguia esperar para o próximo dia de aula, será que ele realmente foi viajar ou só brincou comigo?