Pecados Capitais escrita por IS Maria


Capítulo 4
Ligação de sangue .




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Se não estivesse rodiada por pessoas , eu teria gritado ou ao menos entrado em pânico . O encarei por um longo minuto e nada se passava em minha cabeça . Procurava desesperadamente em seu rosto algo que me lembrasse minha mãe ou até mesmo meu pai , mas não havia nada ali , ele era como alguém saído de um outro mundo . Eu não conseguiria me mover nem se o baque houvesse sido menor .

Ao menos seus olhos o entregavam e mostravam que ele também de nada sabia , isso explicava o porque de ter soltado a minha mão a pouco . Eu não estava pronta para dizer algo , não estava pronta para acreditar ... na verdade , eu não queria acreditar . Eu aceitaria que qualquer um no mundo fosse o meu irmão , mas ele não . Não justo aquele que roubara o meu primeiro beijo , não aquele que me fizera sentir como se a magia fosse real ... não ele , não o homem que fora feito sob medida para mim .

Claro que todos começaram a perceber a maneira como ambos estávamos paralisados , mas não é como se eu pudesse agir de outra maneira . Minha consciência não parava de martelar , pesando cada vez mais , me lembrando que eu havia beijado o meu próprio irmão . Sufocando-me aos poucos pois meu corpo , mesmo agora sabendo da verdade , só sabe clamar por mais . Estando diante a ele , eu só podia desejar que tudo na verdade não fosse real ... assim como eu desejava que metade das coisas que vinham acontecendo também não fossem . Apenas me pergunto se isso será capaz de me condenar ao inferno , mas seria minha culpa se minha alma gêmea viera no pacote errado ?

Apenas depois de começar escutar os sussurros que pude começar a processar uma reação . Pisquei rapidamente e então esbocei um sorriso , torcendo para que ele compreendesse que aquele era um sinal para não dizer sequer uma palavra . Ele sorriu de volta e se aproximou como se nada houvesse acontecido a pouco , como se a sua boca não tivesse tocado a minha , como se ambos não estivéssemos atraídos um pelo o outro .. afinal não estávamos , certo ? Eu estava atraída pelo desconhecido , certamente não pelo meu irmão .

– É um prazer revela irmã . - Disse posicionando-se a uma curta distância de mim .

– Digo o mesmo Nathaniel - Naquele momento eu apenas desejei profundamente que nada desse errado e que eu não tropeçasse em minhas próprias palavras como recentimente vem acontecendo .

– Eu não a vejo desde ... muito tempo - Arregalou os olhos , ele estava nervoso e eu nem de longe poderia o culpar .

– Muito ... muito tempo - Concordei , tentando aos poucos o tranquilizar .

– Sim - Eu não poderia dizer nada sobre ele , mas a meu respeito ... bem ... eu apenas conseguia me prender no movimento de seus lábios me recordando então do belo momento vivido a pouco , desejando mortalmente jamais ter entrado naquela sala .

Meu pai estava inquieto ao nosso lado . Claro que estava confuso . Ao primeiro momento entramos de mãos dadas na sala e em seguida agimos como se nunca houvéssemos nos visto antes . Aos poucos ele se entregou e suspirou se aproximando de nós dois .

– Sei que ao momento são completamente estranhos ... mas com o tempo tudo se ajeitará . - Disse ele colocando as mãos em nossas costas . Ele não fazia a menor ideia da bagunça que o tempo precisava ajeitar .

– Você não faz ideia - eu disse me afastando da tensão que tudo havia provocado ao ar .

– Nem um pouquinho - Completou ele , como se lesse os meus pensamentos .

Todos aos poucos foram se dirigindo até a mesa e eu os acompanhei . Ali não havia ninguém que me incomodasse ou me intimidasse , a não ser um certo casal . O nome dele era James , James Willian . Seus olhos azuis praticamente podia me penetrar e aos poucos iam me despindo por completo . Confesso que ele me deixava sem ar a cada vez que eu percebia que estava sendo observada . Seus cabelos negros , sua pele levemente rosada emoldurando seu belo par de olhos , lhe causavam um poder enorme . Mas , o problema não estava nele e sim na garota que havia trazido junto a si , sua irmã .

Sim , eu sei que é completamente clichê , mas juro que ela não parava de devorar Nathaniel com os olhos . Eu não a culpava , afinal eu mesma fazia isso , porém discretamente ao contrário dela ... ela desejava ser notada por ele . Já havia jogado para o lado seu cabelo loiro tingido mais de cem vezes , piscado o seu belo par de olhos azuis esverdeados e ajeitado o seu vestido justo ao corpo ... mas ele nem sequer lhe dirigira o olhar , pois seus olhos estavam sobre mim , isso eu podia sentir . Mas confesso que mesmo sabendo que ele não havia notado , eu havia a notado e aquilo me irritara em um certo ponto . Digamos que ... ela não era a cunhada que eu pedi aos céus .

E claro que ela não havia ido com a minha cara , não poderia ser o contrário . Qualquer um que coloca o seu nariz a frente e se acha melhor do que tudo aquilo que a cerca e que tem o direito de escolher tudo , não presta e certamente não se daria bem comigo . Se ela continuasse a tentar me matar com o olhar , eu cruzaria aquela mesa e voaria sobre ela sem pensar duas vezes . Posso morar em Malibu agora , mas eu ainda tenho um sangue bem esquentadinho nas veias .

James se sentou ao meu lado e Nathaniel a minha frente , tendo ao seu lado aquela que eu desejaria enfiar o garfo . Tentava não olhar muito para frente para não encontrar com seus olhos , afinal isso seria tortura . Eu ainda não me sentia pronta para o encarar ou muito menos trocar palavras , talvez por ainda não saber o que deve ser dito ou feito ... talvez por temer perder o controle novamente , eu não posso dizer , ele é como um convite piscante para o pecado . O prato em minha frente não me atraía nem um pouco e apesar de mexer na comida com o garfo , eu não possuía a menor intenção de leva-la a boca .

– Sophia ... não é ? - Perguntou James depois de um longo momento . Me disseram que ele possuí apenas 19 anos e que assumiu o lugar do pai devido a uma doença que ele adquirira e que vem se saído muito bem , ainda melhor do que o que seu pai costumava ser .

– Sophie , na verdade ... mas muitos confundem . - Eu não poderia evitar ficar sem jeito diante a ele , seus olhos eram intimidantes demais . Como se com apenas um olhar ele pudesse descobrir todos os meus mais profundos segredos .

– Sophie - repetiu em um sussurro como se tentasse o guardar na memória . - Soa como uma carícia aos lábios - Disse por fim abrindo um sorriso , um belo sorriso por sinal .

– Eu agradeço - Eu jamais sei quando devo agradecer , por isso sempre agradeço .

– Não parece com fome - Disse depois de lançar um breve olhar para o meu prato .

– Muitas mudanças - Disse arregalando os olhos, mudanças e descobertas , tão grandes que ele jamais nem sequer poderia imaginar .

Ele era agradável , eu teria de admitir e me fora mais do que útil . Seus elogios durante a maior parte do jantar me impediram de pensar em virar o rosto e fitar quem não deveria , ajudando que tudo ali de certo modo fosse mais confortável . Ao fim de tudo , a sobremesa fora servida e depois de um último drink , os convidados começaram a se retirar . Havia sido uma noite cansativa , mas eu apenas teria de aguardar a porta me despedindo de todos ao lado de meu pai e poderia desabar sobre a caminha , ficando em fim só com os meus próprios pesadelos ... que milagrosamente , acabaram de se tornar ainda maiores . James fora o último a se retirar e sua querida irmã fizera questão de dar uma abraço com muitas mãos em Nathaniel , pelo o que pude notar .

– Eu adoraria a levar por um passeio pela cidade , ajuda-la a conhecer cada pedaço de sua nova casa . - Disse se demorando em mim . Ele era simplesmente um galanteador .

– Não vai dar sabe , eu já vou fazer isso . - Nathaniel rapidamente chegara até nos , impedindo-me de responder . Seu tom fora curto e grosso , ele claramente não sentia nenhuma simpatia por James .

– Então eu terei o prazer de a levar em um jantar a luz de velas - disse prendendo os seus olhos aos meus .

– Ela não acredita em velas , adeus James - Completou Nathaniel , praticamente o expulsando para fora de casa . O repreendi com um olhar .

– Nathan , eu acredito em velas - disse a loira se aproximando . Por que eu não adivinhei que aquilo viria ?

– Ele é alérgico a parafina , querida . - Disse sorrindo enquanto a colocava delicadamente para fora . Em vez de repreendida apenas ganhei um sorriso vindo de Nathaniel .

O encarei por uma última vez , me despedi de meu pai e então subi as escadas ... estava morta . Abri minha mala e coloquei um de meus pijamas de flanela dos quais eu jamais abrirei mão e caminhei até o banheiro . Prendi o cabelo e retirei a maquiagem , escovei os dentes e fiquei um bom tempo encarando a mim mesma . Eu ainda podia sentir a sua boca a minha , ainda podia sentir meu coração bater rápido ao peito como se fosse queimar ali mesmo , ainda podia sentir meu corpo clamando pelo seu , antes que o balde de água fria fosse despejado sobre nós .

Eu não sabia exatamente como , mas a cabeceira de minha cama , sobre o criado mudo , estava a rosa branca que ele havia colocado em minhas mãos . Eu não me recordava do momento que havia a deixado , mas sabia exatamente que ele havia a colocado ali . Caminhei até ela , colocando-a novamente em mãos , senti mais uma vez o seu perfume e deixei que meu corpo caísse sobre a cama . A sensação era quase como se eu estivesse presa a um sonho , um sonho que aos poucos , perdera todos os tons vibrantes e se tornou cinza ... um desses sonhos onde perdemos os sentidos e somos privados de nossos desejos . Eu jamais havia desejado ninguém e quando finalmente me permiti sentir , fui tocada pela perdição . " Jamais deixe que a toquem " , por que simplesmente ignorei minha própria regra ?

As batidas na porta me acordaram . Eu não me lembrava quando havia pegado no sono , mas nem sequer as luzes eu havia apagado . Coloquei a rosa que repousava em meu peito , novamente sobre o criado mudo e caminhei em direção a porta , depois de abrir e focar os olhos para tentar ver quem era , corri até a minha cama e peguei uma das almofadas , acertando a sua cabeça com força . Nathaniel , havia aparecido ali , de madrugada , usando apenas uma calça de moletom , no mínimo ele desejava apanhar .

– Ei ... O que foi ? - Perguntou ele ainda meio tonto com o golpe .

– Nunca apareça no meu quarto desse jeito . - Eu não me referia a maneira dele ter chegado de uma hora para a outra e sim pelo fato de estar sem camisa o que tornava o julgamento de meus sentimentos ainda mais difícil .

– Bem . Fico feliz que já começara a agir como minha irmã . - Sorriu como se os momentos vividos antes não houvessem sido nada , ele era um idiota , mais do que um idiota , merecia uma surra .

– Pro . Inferno - Disse com cuidado para que não levantasse a voz . Como ele ousava me chamar de tal maneira , mesmo tendo me beijado ? Um babaca .

– Nervosa ? - perguntou cruzando os braços e arqueando uma das sobrancelhas .

– Não . - Disse hesitando . - Furiosa . - Completei depois de analisar meus sentimentos .

– Comigo ?

– Não . Comigo mesma . - Sim , eu me odiava . Eu não deveria tê-lo deixado se aproximar , deveria ter deixado minha cabeça raciocinar antes de me entregar , mas escolhi agir como burra e me dei muito mal .

– Posso entrar ?

– Não - eu disse tentando fechar a porta mas ele entrou mesmo assim .

– Até parece que vou obedecer a minha irmã mais nova - disse ele fechando e logo em seguida trancando a porta .

– Não tranca - eu disse subindo na cama .

– Por que está ai em cima ? - Arqueou novamente a sobrancelha . Ele jamais entenderia as minhas loucuras .

– Segurança própria . - Disse enquanto agarrava a almofada na frente do meu corpo como um escudo .

– Tem medo de mim ? - Será que ela simplesmente difícil de entender o que estava debaixo do nariz dele ? Ou ele apenas era burro mesmo ?

– De mim . - Disse revirando os olhos . Eu não possuía controle algum quando se tratava dele , como tem pouco tempo , ainda não sei do que sou capaz , por isso aquilo era necessário .

– Só quero conversar .

– Conversar - repeti como se tentasse acalmar meu corpo e então pulei na cama me sentando - Não consigo dormir - disse fitando a poltrona que ficava ao lado dele .

– Nem eu . - disse depois de dar uma breve olhada para poltrona e em seguida tornar a me encarar .

– O que vamos fazer ? - Disse sem sequer piscar , eu estava perdida .

– Esquecer ? - Disse dando de ombros . Será que para ele era realmente assim tão fácil ?

– Isso . - Disse tentando mostrar para ele que para mim também era fácil , mas a minha vontade era de gritar que eu possivelmente não iria conseguir .

– Meu Deus . Eu não posso acreditar que beijei minha irmã . - Disse enquanto o seu corpo caía ao lado do meu .

– E você diz isso para mim ? - Eu era a novata desavisada , que jamais havia beijado ninguém antes .

– Olha , é só que ... todos esses anos , eu e meu pai pensávamos em você e em como deveria estar grande e bonita . Mas eu não fazia ideia de que você estava tão linda e pequena - Tá , o anexo a respeito da minha altura de fato não era necessário .

– É ... eu sou muito linda - eu disse batendo nele com a almofada novamente , porém com mais força .

– Por que você ...?

– Só to tentando te ver como meu irmão .

– E tá conseguindo ? - Perguntou enquanto colocava as mãos em frente ao corpo para se defender .

– Não - Disse suspirando .

– É ... também não . Na verdade eu adoraria a beijar agora mesmo . - Disse ele fitando-me profundamente nos olhos .

– Eu também - disse enquanto fitava os seus lábios .- Agora saí - Gritei o puxando pelo braço . - Isso não pode piorar . - Completei enquanto o expulsava do quarto .

– Já vou ... mas não se esqueça de que temos um compromisso . - disse levantando as mãos em sinal de rendição .

– Você é doido ? - Ele simplesmente não pensava antes de falar e não media a consequência de seus atos .

– Talvez isso possa nos ajudar ...

– Ou piorar tudo .

– Devemos tentar . - Ele era extremamente convincente , isso eu não poderia negar .

– Tudo bem , tudo bem . - Disse me dando por vencida e por fim fechando a porta do quarto .

Eu deveria o matar e assim tudo seria incrivelmente mais fácil . Jamais ter de olhar novamente para os seus olhos azuis , ou sua boca rosada e macia ou para o seu corpo que parecia ter sido esculpido por Picasso . A vida realmente arma situações das quais sentimos que jamais poderemos sair . Ali estou eu , na minha primeira paixão a primeira vista , completamente atolada em merda sem saber o que fazer ou no que pensar em seguida ... apenas entregando aos céus , clamando por uma salvação .


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Notas finais do capítulo

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