Pecados Capitais escrita por IS Maria


Capítulo 5
Apenas eu .




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Acordar e me lembrar de que tudo havia sido muito mais do que um sonho , não ajudava nenhum um pouco a aliviar a sensação de consciência brutalmente pesada . Eu não fazia a menor ideia de como poderia o encarar , sorrir e fingir que eu não havia permitido que ele me beijasse . Eu não costumava agir daquela maneira com garotos que acabo de conhecer , porém , é muita testosterona para resistir .

Depois de escovar os dentes e encarar a mim mesma em frente ao espelho , convenci-me de que deveria me vestir , afinal passar o dia fechada ali , não mudaria o que tinha acontecido . Não me sentia confortável em vestir nada daquilo que minha madrasta havia preparado . Vestido de alta costura , com tecidos que geralmente ganham nomes estranhos , onde a quantidade de fios realmente importa e que costumam ter muitos zeros em suas etiquetas , não são o meu forte . Eu ainda não havia mexido em nenhuma de minhas malas , mas eu não me importava , diante que além daquilo a minha única escolha , era a de me vestir como alguém que foge completamente daquilo que sou .

De shortinho jeans e blusão preto , eu sabia que não agradaria ninguém , mas a preguiça de continuar a procurar por peças mais apresentáveis , simplesmente não me permitia continuar . Eu me sentia bem e confortável , já que daquela maneira eu escondia boa parte da vergonha que transpirava em minha pele e assim me sentia um tanto pronta para encarar as dores que viriam pela frente . Começar de novo nunca era fácil e algo me dizia que eu já havia começado na direção errada .

Eu fiquei eu não os encontrar logo de cara assim que desci as escadas , eu sabia aonde estavam , mas as preliminares de preparação me aguardavam . Eu sabia que ali começaria a rotina que eu agora levaria por um bom tempo , ali começaríamos a nos aproximar e eu teria de passar a os considerar a minha família . Eu sabia que não seria simples , mas era muito pior do que eu imaginara . Eu me sentia uma intrusa , que aos poucos estava perfurando a bolha de uma família perfeita . Sentia como se jamais pudesse ser aceita e que nem sequer o sobrenome deles me serve . Mais um passo e eu soube com o que lidava . Meu pai tomava uma grande xícara de café , que eu podia notar ser amargo e preto , sem leite ou qualquer outra coisa . Minha madrasta usava roupas semelhantes as que havia escolhido para mim , o que não me surpreendia , e tomava um suco de laranja e torradas que eu não precisaria ler a embalagem para saber que eram dight . Nathaniel estava ao fundo , nas panelas . Isso sim me surpreendia .

– Panquecas - gritou ele - Quem não gosta de panquecas ? - completou . Eu sinceramente não esperava o ver daquela maneira .

– Tenho certeza de que seria melhor se Matilde as fizesse - disse Amanda sorrindo com a bagunça do filho . Ou , quase filho .

– Eu quero fazer , e além do mais hoje é folga dela . - disse ele sem ao menos virar para trás . Ele estava mesmo concentrado naquilo .

– Sophie , tenho certeza de que é para você . Desde sempre , jamais o vimos se aproximar das panelas . - Ela abriu um sorriso assim que me vira na cozinha , fazendo com que eu me sentisse um pouco mais confortável .

Nathaniel se virou e seus olhos então encontraram os meus . Até o momento ele ainda não tinha percebido a minha presença . Senti uma leve corrente elétrica percorrer todo o meu corpo e em seguida sem querer , deixei que caísse ao chão , um porta retrato que estava próximo a minha mão . Abaixei-me e ao o pegar , vi uma foto de Nathaniel . Seu sorriso era largo e muito bonito , estava sozinho e ao seu lado havia um barco a vela , uma de minhas paixões . Aquilo fizera-me pensar que talvez estávamos muito mais conectados do que eu poderia imaginar .

– Bom dia Abelhinha - disse meu pai sorrindo .

– Bom dia Pai - eu disse me abaixando para dar-lhe um beijo . - Aonde vai assim todo arrumado ? - Fiz um breve comentário a respeito de seu terno cinza extremamente macio .

– Amanda ficará na empresa por algumas horas enquanto irei resolver alguns assuntos pendentes . A sua mão possuía a sua guarda , mudou seu sobrenome e me proibiu de fazer diversas coisas que agora , terão de ser revertidas . - Seu sorriso era sem vida . A intenção dele não era de me mostrar que ela havia causado a nossa separação , mas sim de tornar menos doloroso o processo de passar pelo luto de perde-la .

– Entendo - Abri um sorriso , desejando que aquilo ficasse para trás .

– Queria que tivesse se levantado mais cedo . Já estamos de saída - disse ele se levantando - Espero que não queimem a casa - disse ele apontando para Nathan .

Nathaniel abrira um sorriso demonstrando empolgação . Eu sabia o dia que havia planejado para nós , bem , não exatamente . Sabia que tínhamos planos , mas não poderia dizer quais seriam e pelo visto ele estava ansioso . Senti o cheiro de queimado e arregalei os olhos enquanto corria em sua direção . Ele se virou rapidamente , também assustado e eu apenas pude rir com a situação .

– Ajuda ? - Me posicionei ao seu lado e observei a massa dourada começando a escurecer .

– Bem ... era para ser uma surpresa .

– Ahm ... eu não contarei a ninguém . - Abri um sorriso .

– Então combinado .

Eu até tentei deixa-lo me ajudar , mas mesmo lendo a receita ele não sabia a diferença entre uma espatula e uma concha . Pedi que ele se sentasse e fiz a famosa receita de panquecas com chocolate da minha mãe . Nos sentamos e então comemos em silêncio . Na hora de arrumar a bagunça , acabamos decidindo de que eu faria o almoço para que o desastre não se repetisse e ele insistira para me levar para lanchar em qualquer outro lugar de maneira que eu conhecesse a minha nova casa e eu não me vi em posição de recusar .

Fui completamente molhada assim que ele tentara lavar uma colher . O olhei enfurecida , mas assim que seus olhos azuis encontraram os meus , pude perceber que não poderia o odiar nem mesmo que fosse apenas por um segundo . Sorri , enquanto torcia brevemente as áreas mais atingidas e esperei que ele não fizesse novamente , porém ele apenas se divertia ainda mais com tudo . Era bom ter ele ao meu lado , depois de passar tanto tempo sozinha , tanto tempo até receber o comunicado de que tudo se transformaria e isso me fazia temer , temer que de alguma maneira , eu acabasse me tornando dependente de algum modo daquele lugar , daquela família e dele .

Depois de me trocar , eu tentei o encontrar pela casa , mas o silêncio me mostrava que eu não o encontraria ali . Subi as escadas novamente e me vi diante a porta do seu quarto . Estava entreaberta , portanto , eu não invadi ... tecnicamente . Entrei e pude ouvir o barulho do chuveiro . Naquele momento eu soube que deveria deixar imediatamente aquele lugar , antes que eu visse o que eu não deveria e o que poderia não conseguir esquecer . Eu até tentei , mas havia muito ali a se observar . Eu não havia encontrado a bagunça que esperava , seu perfume estava por toda parte , envolvendo-me cada vez mais e sobre a cômoda , haviam diversas fotos antigas e em muitas delas , eu pude me reconhecer .

Eu não poderia explicar o sentimento de culpa que agora me percorrera a espinha . Aquilo mostrara que ele sempre mantivera seus olhos em mim , mesmo que tenha perdido informações . Ali tinham boa parte das fotos da minha infância que minha mãe jurava ter perdido e em muitas delas , as que ele estava presente , eu podia o ver sempre muito atencioso e com um cuidado extremo comigo . Em uma delas inclusive , eu apenas conseguia ficar de pé , porque ele me sustentava com seus braços . Nathaniel tão pequeno , gostaria eu poder me recordar de todos esses momentos . Eu não deveria ter o beijado , eu não poderia estragar o pouco que ainda me resta dos bons tempos .

– Porque eu tinha a sensação de que a encontraria aqui ? - Virei-me assustada me deparando com ele . Sorria abertamente , seus olhos cintilavam em um azul muito mais do que perigoso , usava apenas uma toalha que pendia a cintura como se pudesse cair a qualquer momento e seu corpo definido ainda estava molhado . Sem perceber , cai sobre sua cama , sentando-me ofegante e desejei morrer de vergonha ali mesmo .

– Coisa de irmã ? - Tentei fazer aquilo parecer o mais normal o possível , porém aquela palavrinha , apenas tornara tudo ainda mais estranho .

– Talvez seja . - Deu de ombros , talvez por não perceber a maneira como me deixara ou talvez por preferir ignorar .

– Eu não esperava encontrar fotos minhas - Tentei desviar toda a atenção que ele me dava ao momento para uma outra coisa , mas notei que aquele não havia sido um bom caminho .

– Eu sinto que não tenho o suficiente ... não existe um só dia que eu não tenha pensado em você . - Aproximou-se e acariciou minha bochecha . Eu sabia que aquilo deveria fazer com que eu me sentisse próxima a ele , fazer com que eu sentisse a genética que nosso sangue carregava , o vínculo de irmãos ... mas apenas conseguia sentir meu sangue ferver sob a pele e cada nervo do meu corpo protestar por mais um toque .

– Eu sinto muito por ter entrado sem a sua permissão . - Afastei-me rapidamente . Eu me sentia ainda mais culpada por o ver daquela maneira , culpada a ponto de me odiar ainda mais . Eu não poderia estragar aquilo .

– Não tenha medo de mim . - Disse , impedindo-me de deixar o quarto . - Aquilo que aconteceu ... não vai se repetir . - Eu sabia que sua intenção , era de me transmitir segurança , porém eu apenas conseguira ficar desapontada .

– Acredite , bom seria se medo fosse o que eu sinto . - Foi tudo o que disse antes de abrir a porta a fechar em seguida depois de passar por ela .

Eu sabia que tudo aquilo era derivado do simples desejo , sabia que eram meus hormônios conspirando contra mim , fazendo-me o desejar como uma mulher desejaria um homem que julgasse atraente , porém , eu não poderia descrever o medo que sentia ao momento de que tal desejo se tornasse algo maior . Eu jamais me perdoaria se passasse a sentir algo que não pudesse não controlar , algo que não cabece mais apenas a mim , não me perdoaria se me permitisse cometer tal pecado . Eu o desejava e apenas isso , algo completamente normal e seria apenas isso .

Minha mãe , se pudesse me ver agora , talvez sentiria vergonha . Eu era aquela que sempre havia presado muito , cada escolha na vida , tomado cuidado para jamais me envolver com cada uma das besteiras que nos cercam e com custo , tinha mantido a minha integridade e construído meus princípios . Era daquela maneira , porque ela havia me ensinado a ser assim , me educado corretamente e mesmo sem tempo , me dizia o que era certo ou errado . Me entregar ao desejo e me permitir o ver daquela maneira , havia sido um beijo , um beijo inocente entre duas pessoas que não faziam a menor ideia de que o sangue os ligava e que agora que sabiam , esqueceriam tudo o que havia acontecido .

Eu me sentia boba ao lado dele , perdia o raciocínio e me esquecia da maioria das palavras que pretendia falar , me sentia bem ao lado dele , mas eu já o amava profundamente . Apenas em ver algumas fotos que minha mãe ainda guardava , eu sabia que o amava , eu faria algo , e não estragaria aquilo , eu não poderia contrariar minha mãe e muito menos o meu pai .


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Notas finais do capítulo

Eu podia tá matando , roubando , me prostituindo mas estou aqui escrevendo e realizando o meu sonho e é claro pedindo esmola . Ou seja ... implorando por CoMeNtÁrIoS .