Meus pensamentos iam desde aquela carta escrita até o pequeno quarto de bonecas . A sensação que senti ao ler os dois textos foram mais do que ... assustadoras pode se dizer . Era uma espécie de arrepio na espinha , juntamente com a curiosidade e a intuição feminina de que algo estava terminantemente errado .

Eu estava perdida em pensamentos ... devaneios ...conclusões . A minha cabeça viajava constantemente e eu não sabia ao certo o que devia fazer . Eu sabia que leria o pequeno caderno e faria o que estiver em meu alcance para descobrir o que tanto me deixa inquieta .

Todos a minha volta continuavam expressando arduamente a sua felicidade . Sorrindo enquanto comiam e contavam casos e assuntos que em outra ocasião não interessariam a ninguém . Naquela casa , acho que eu era a única em silêncio . Não ... Nathan dissera poucas palavras desde que chegou aqui e neste momento tudo que faz é manter seus olhos fixos em mim ... ele sabe que tem algo errado .

Depois do jantar , ficamos por mais uns minutos a sala e então meu pai dissera que já estava tarde e teríamos que partir . Eu nada disse e apenas assenti , me despedi de todos e dei um beijo um tanto demorado em Erik quando ele me levara até o carro . Meu pai até me chamara para ir em seu carro , mas eu o ignorei indo até o carro de Nathan .

Nathan sorriu - o primeiro sorriso que deu desde que chegamos - e então após se ajeitar no carro deu partida . Estava tudo mais do que tranquilo ,até eu perceber que minha bolsa não estava em meu colo . Meu Deus ... se eu tiver a esquecido na casa jamais poderei saber o que aquele pequeno caderninho esconde .

– Por que não me conta o que aconteceu ? - disse Nathan .

– Não aconteceu nada ... - Meu Deus ... não será nada fácil mentir para Nathan , ele me conhece bem ... melhor do que eu gostaria , mas o que posso fazer ? Ele ainda é meu irmão .

– Por que desceu do andar de cima tão nervosa ? - Sua voz continuava estável e sua pose tranquila .

– Por que é uma casa cheia de histórias um tanto ... diferentes . - Bem não era de fato mentira . Por que afinal foram estas histórias que me deixaram atônita .

– E você viu um fantasma do século passado ? - Ironizou ele - Por que não me conta exatamente o que aconteceu ? - Ele estava tranquilo dimais para meu gosto .

– Por que , soube que uma menina morreu ali , apenas aos seus oito anos . E contente- se com isso - eu disse cruzando os braços .

– Por que não me conta tudo e eu então de devolvo isto ? - disse ele sacudindo a minha bolsa no ar . Eu sabia que ele acharia um jeito ou outro de me arrancar respostas , mas ao menos eu estava melhor por saber que minha bolsa está com ele e não na casa .

Contei a ele tudo o que descobri , desde a carta do homem doente , até a pequena página que li no diário de Mary . Contei a ele o que senti nos dois casos e na estranha sensação de que tinha muito mais para ver . Basicamente ... contei a ele praticamente tudo . Ele riu e disse que eu estava ficando maluca , mas eu pude ver em seus olhos que ele também se surpreendera .

Em casa , eu estava tão cansada que subi para meu quarto em uma rapidez descomunal . Em meu quarto , tomei um breve banho gelado para me ajudar a esquecer certas lembranças e depois de vestir o meu pijama de morangos - sim eu tenho um pijama de morangos - eu me joguei na cama . Como estava mais do que cansada eu logo adormeci .

Meus olhos se abriram novamente , mas desta vez em um cenário completamente diferente . Tudo ao meu redor havia adquirido um tom amarelado e parecia um tanto mais envelhecido ... eu não conseguia me lembrar aonde estava .

A escada de madeira envelhecida com o carpete em verde escuro me chamara a atenção . Eu sabia aonde estava ... apenas não entendia o por que . Eu estava na casa de Erik , mas não poderia ser real ... ou estou em um sonho , ou em uma realidade alternativa .

" Venha brincar comigo " - Disse uma garotinha ao alto da escada .

Seus cabelos estavam em cachos largos e grandes que pendiam até o meio de suas costas , seus olhos eram profundamente azuis e seu sorriso era largo . Usava fitas em azul marinho , para prender seu cabelo que combinavam perfeitamente com o vestido por serem de mesma tonalidade . Com meias finas e brancas até os joelhos e sapatinhos de boneca ... ela era mais do que linda .

Mas o seu olhar não era em mim em si . E sim para a pequena garotinha posicionada atrás de mim . Esta também era loira , mas seus olhos eram verdes e seus cachos menores . Usava um vestidinho de fitas e laçarotes em um tom rose e suas meias eram em um tom seco de rosa . Ela sorriu e correu em direção da outra menina e as duas sumiram corredor a dentro .

Eu as segui por impulso e reparei que elas brincavam no quarto ao fim do corredor . Rodeadas de bonecas as duas pareciam se divertir constantemente . Ao fim do corredor surgiu então uma mulher , seus cabelos eram negros e estavam presos em um coque perfeito , usava um vestido em tonalidade azul clara e trazia uma caixa de madeira em mãos . Foi até o quarto e entregou para a pequena .. Mary , se é que eu a posso chamar assim .

A menina pegou a caixa mais do que contente e depois levantou a boneca no ar . Até eu me assustei com a semelhança da garota com a boneca . Vi a outra garotinha , mudar de expressão e olhar emburrada com os bracinhos cruzados para a mulher que dera o brinquedo .

" Por que sempre ela mamãe ? " - Disse ela mais do que emburrada e então tudo ao meu redor foi tomado pelo cinza .

Eu já não podia mais ver as duas pequenas garotas ou muito menos a mulher . Mas vi que alguém se deitara no chão . Me aproximei cautelosamente do quarto e quando vi a cena , fui obrigada a me segurar para não ir ao chão . A pequena Mary estava desacordada e saia muito sangue de sua boca .

Esfreguei os olhos tentando despertar e quando os reabri não via mais a garota , mas eu ainda estava naquela casa . Ouvi um barulho atrás de mim e me virei assustada . A pequena Mary estava em pé atrás de mim , o vestido estava ensaguentado e ela chorava descontroladamente .

" Precisa me ajudar " - Disse ela tentando parar as lágrimas - " Ou ela fará o mesmo com você " - Ela ? ... mas quem seria ela ?

Acordei assustada e exasperada . Tudo ao meu redor estava escuro , mas o quarto não era escuridão em si . Pois a janela clareava tudo deixando com um leve tom acinzentado , olhei para o pé da cama e tive a forte impressão de ver Mary em pé , próxima a mim .

Ascendi a luz do abajur sobre o criado mudo assustada com o que tinha acabado de ver . Meu coração estava acelerado e batia pesadamente contra o peito , minha garganta estava seca e minha respiração ofegante ... eu senti como se pudesse perder a consciência a qualquer momento . Me levantei da cama ascendo a luz principal e me pus a andar de um lado para o outro no quarto .

Eu estava assustada e sentia que a qualquer momento o meu coração poderia saltar pela boca . Eu não tinha extrema certeza , mas eu tinha visto o que eu vi ... era ela ... a pequena Mary , para ali em frente a minha cama . Ela não sorria , na verdade precisamente acho que ela chorava e no mesmo instante em que eu ascendera a luz , ela simplesmente desaparecera .

Poderia ter sido apenas impressão minha . Eu deveria ter ficado extremamente impressionada com a história que li no pequeno caderno e acabei sonhando acordada ... fora apenas isso . Bem ... este pensamento não estava me acalmando de fato , mas teria que servir . Caminhei para voltar para a cama quando vi o pequeno caderninho jogado ao chão , no mesmo lugar onde eu pensara ter visto Mary .

Poderia ter sido normal , eu poderia ter chegado tão sonolenta que nem sequer havia percebido que o deixei cair no chão . Sim ! Era uma boa preposição , se não fosse pelo o fato de que eu nem sequer havia o tirado de Nathan .

Sai correndo para o outro lado do corredor e bati freneticamente na porta . Nathan não demorou muito para abrir mas a sua aparência era mais do que sonolenta . Ele usava apenas uma cueca box preta o que deixava amostra a sua barriga ... mais do que perfeita . Seu cabelos estava bagunçado e seus olhos estavam vermelhos ...

– Sophia ...- disse ele com a voz rouca .

– Oi - eu disse constrangida enquanto o empurrava para dentro do quarto . Como ele estava sonolento acabou tombando para trás e caindo na cama . - Sei que pode parecer infantil mas ... se importaria se eu dormisse com você ... ?

– O que ? Claro que não - disse ele abrindo espaço para mim na cama . Eu revirei os olhos vendo claramente as suas intenções ... será que ele estava tão cansado que não havia notado o meu estado ?

Me enfiei em baixo das cobertas e apaguei a luz . Sorri ao ser envolvida pelos braços de Nathan , mas eu não deixaria que ele notasse o meu sorriso . Seu rosto estava próximo ao meu e eu pudia sentir seu perfume me envolvendo e me embalando lentamente .

– O que houve Sophie ? - Sussurrou ele em meu ouvido . A sua voz soara tão doce em meus ouvidos que tive de me esforças para me concentrar em suas palavras .

– Tive um pesadelo - eu disse me recusando a me lembrar de cada parte que eu tivera naquela noite .

– Não importa o que aconteceu ... está segura agora - disse ele me apertando ainda mais . E sim ! Eu me senti segura ... eu sabia que estava segura ... por que estava envolvida a única pessoa que poderia me proteger .