Eu não sou o tipo que socializa.

Normalmente eu passava minhas manhãs em uma mesa afastada da cafeteria acompanhado de um livro e um copo de café, mas hoje eu fui surpreendido e puxado para uma mesa repleta de guardiões.

A cafeteria estava mais barulhenta e mais cheia que o normal, os guardiões que haviam voltado da expedição anterior estavam acomodados nas mesas ouvindo fofocas, revendo os amigos e conversando com conhecidos, enquanto os que sairiam amanhã se despediam e aumentavam os detalhes das histórias que passavam de boca em boca.

Apesar dos morois serem os grandes fofoqueiros e faladores da nossa sociedade, havia alguns momentos entre nós em que superávamos o constante perigo ao nosso redor e brincávamos nos divertíamos e obviamente, fofocávamos.

Pra minha surpresa enquanto caminhava na direção de uma das poucas mesas vazias ouvi meu nome ser chamado por várias vozes diferentes, não que eu não tivesse amigos na corte, eu tinha, mas não era muito próximo de ninguém.

Em uma das mesas principais, uma das maiores também havia vários guardiões acenando e me chamando, eles sorriam e riam, contavam piadas e eu mal me sentara e já estava envolvido na conversa.

E surpreendentemente me diverti.

Todos já sabiam que eu estava noivo e inclusive Tatiana expressou sei descontentamento e desaprovação sobre o assunto durante uma reunião do conselho que tinha o objetivo de proibir o casamento entre dhampirs, principalmente guardiões formados.

Seu principal argumento foi que tal acontecimento diminuiria ainda mais o numero de dhampirs, causaria uma quebra na segurança, além de outros inúmeros problemas.

Quando Tatiana terminou de falar isso, Rose que estava sentada ao meu lado saltou da cadeira e voou na direção do pódio, agarrou o microfone e berrou em plenos pulmões que aquilo era a coisa mais ridícula que já tinha ouvido.

Que os moroi não tinham direito nenhum de acusar ninguém principalmente por que eles próprios não estavam cumprindo sua parte no acordo feito a milhões de anos*. Debochou de Nathan Ivashkov, pai de Adrian e rugiu em plenos pulmões que ela mandaria quem precisasse pro inferno pra casar comigo e que se danassem as malditas leis morois.

Fiquei orgulhoso, eu gostaria é claro de fazer algo assim, mas diferente de mim, Rose era capaz de quebrar barreiras e causar revolta de forma pouco silenciosa. E foi exatamente o que ela fez, sem dizer um palavrão, o que me deixou ainda mais orgulhoso.

Depois que ela quase foi arrancada do pódio, os guardiões fizeram fila pra falar e disseram o que estava preso em nossas gargantas há muito tempo. A rainha tentou por diversas vezes encerrar a reunião, mas nós ainda não havíamos acabado.

Janine, Hans, Alberta, que eu nem sequer sabia que estava presente, Stan, eu, e outros centenas de guardiões fizeram criticas a rainha, seu governo e suas decisões e mais que isso declaram sua opinião de uma forma nunca vista.

A lei de idade foi condenada e desaprovada por todos os guardiões que falaram, sem exceções. Assim como a lei que proibia o casamento entre dhampirs. Na verdade vários guardiões experientes e considerados figuras imponentes e importantes até mesmo no mundo moroi depreciaram a atitude mesquinha da rainha que em vez de tentar resolver problemas maiores e atuais estava juntando seu conselho pra rever um caso isolado e incomum.

Mas essa não foi a única surpresa da noite. Os morois se agitaram mais ainda quando Ibraim Mazur apoiou cada palavra dita pelo dhampirs, assim como Cristian Ozera, Ariana Szelsky e finalmente Vasiliza Dragomir.

Quando a rainha estava prestes a se retirar, Lissa subiu no pódio com classe e elegância, delicadamente com uma voz clara e suave chamou a atenção de todos os que segundos atrás gritavam, inclusive Rose, e com seu carisma e inteligência fez com que todos a encarassem e a ouvissem.

Parte da causa disso foi culpa da rainha que acabou enturmando Lissa entre a realeza, fazendo com que eles a respeitassem e lhe dessem uma chance. A outra razão era o encanto que o espirito causava nas pessoas, fazendo com que elas se inclinassem e encarassem a mulher que vestida com elegância, educação e inteligência apoiou os dhampirs, declarou sua opinião, condenou a lei de idade e explicou várias possíveis mudanças que melhorariam o convívio entre nossos povos, além de criticar as atitudes de Tatiana de forma razoável e com perspicácia.

Ao fim do seu discurso o silencio reinava, Tatiana escondia a raiva e o ultraje sob uma mascara fria quase tão boa quanto à de um guardião e espanto e respeito era claro em todos os rotos.

Aquela reunião foi uma das mais longas, movimentadas e importantes de toda a história moroi e daquele dia em diante um brasão do dragão estava presente em cada espaço designado, deixando bem claro que nós reconhecíamos o apoio e não só aceitávamos, mas lutaríamos para que aquelas ideias chegassem ao topo e se tornassem realidade.

A partir daquele dia as coisas ficaram mais tensas na Corte, a rainha pedira um tempo para refletir e fazia quase uma semana que não aparecia em publico.

E nós, guardiões, estávamos esperando a oportunidade de voltar a falar e a exigir, por que depois que nós finalmente abrimos a boca, não a fecharíamos mais.

A única pessoa que senti falta foi Tasha, ela adorava participar de conflitos como aquele, eu não a via desde o dia que reencontrei Roza. E na única vez em que comentei sobre seu sumiço Rose não ficou nem um pouco fiz, aliás ela deixou bem claro que não gostava de Tasha, não a queria por perto e que morria de ciúme dela, o que me divertiu muito.

Ao meu redor os guardiões começaram a fazer piadinhas sobre meu relacionamento com Rose, muitos deles queriam saber como eu havia, palavras deles não minhas, havia pescado aquele mulherão.

Eu em vez de levar as coisas de forma séria como sempre eu entrei na brincadeira e acabei me divertindo muito.

Pude perceber que ao meu redor não havia muitos amigos meus, mas maioria eram dela, e que eles se preocupavam com ela e de certa forma estavam me interrogando, de forma suave, mas estavam.

Ao contrário de Abe que usou ameaças e imagens vividas amedrontadoras, eles tentavam tirar informações de mim e me mandar tomar cuidado de forma mais suave e divertida.

Eu só sorria e aceitava as provocações, me divertindo e causando risadas fortes nos homens a minha volta, até por que eu não pretendia machucar ou magoar Rose, eu a amava e faria tudo ao meu alcance para protegê-la.

E eu tinha deixado isso bem claro para Abe, mas isso não o impediu de dizer várias coisas pouco agradáveis e assustadoras. Assim como Janine que não foi gentil ou compreensiva. Eu esperava um confronto, mas não achava que ela me faria quase colocar o estomago pra fora.

No momento em que em viu, ela me acertou diretamente no abdômen e só não me deu um murro na cara por que a Abe a impediu. De acordo com ele, não havia necessidade de me machucar muito ainda.

Eu obviamente não fiquei quieto e repeti tudo o que dissera para Abe sob o olhar furioso, indignado e cético de Janine.

Ela não estava ainda confortável com minha presença. No dia do jantar ela ficou inquieta encostada em uma parede com pose de guardião mantendo o rosto limpo e só ouvindo as conversas ao redor, mas em alguns momentos em a flagrei com um sorriso pequeno no rosto enquanto olhava pra Rose, deixando bem claro pra mim que ela a amava.

Quanto a Abe o homem agiu como se estivesse na própria casa. Ele se acomodou no sofá e conversou com todos esbanjando seu charme a torto e a direito. Lissa, Eddie, Cristian, e outros amigos que eu e Rose convidamos agiram normalmente apesar de demonstrarem sua surpresa. Apenas Cristian que provocou Roza mais que o normal e a mim também, por que era eu quem estava cozinhando e não ela.

No final da noite quando todos estavam distraídos, Lissa me chamou num canto e perguntou sobre meus pais, minha família e quando respondi me surpreendeu dizendo que não queria que eu dissesse nada a Rose nem a meus parentes pois eles seriam meu presente de casamento. Eu não compreendi muita coisa, mas concordei com ela.

Nós estávamos ouvindo uma daquelas piadas masculinas quando uma velha amiga Lilah, se aproximou da mesa.

Ela era loira, alta, esguia, magra, seu cabelo era curto e seus olhos eram verdes claro. Eu costumava conversar com quando estava na corte, mas ultimamente ela dava em cima de mim e tentava flertar, me convidava pra sair e não importava o quanto eu negasse ela sempre insistia, me deixando extremamente desconfortável.

Ela fazia parte do grupo que voltara da expedição mais recente e pela forma insinuante que se aproximou de mim ou não sabia que eu estava noivo ou não se importava.

Os rapazes ficaram quietos esperando pela minha atitude, provando minha suposição anterior. Eu o mais delicadamente possível e de forma firme a dispensei, mas ela não desistiu facilmente.

Quando eu estava prestes a ser grosseiro ela colocou a mão no meu braço e se aproximou ainda mais de mim. Antes que eu pudesse ter qualquer reação, eu enxerguei uma mulher baixinha com cabelos negros esvoaçantes, punhos cerrados e uma expressão nem um pouco doce vindo na nossa direção e tive certeza que em menos de uma semana faríamos outra cena na cafeteria da Corte.