Draco não estava pensando nela, claro que não estava. Não estava pensando na menina que ele salvara e acabara de deixar sozinha com o Weasley sem orelha, ele não estava preocupado... A quem ele queria enganar? Queria saber se ela estava bem, queria ter certeza que ela estava vestindo roupas mais adequadas para andar pelo castelo, não suportava nenhum olhar masculino sobre ela, nenhum.

O loiro caminhava aristocraticamente pelo corredor quando finalmente chegou a seu destino, avistou o auror que vigiava a porta atrás de si, o homem estava sério, impassível. Encarou Draco da cabeça aos pés, com nojo, fez um breve feitiço de detecção de armas, e finalmente o deixou entrar.

A sala estava mal iluminada, as cadeiras e mesas amontoadas na parede, e os dois indivíduos que lá se encontravam estavam parados majestosamente como se fizessem parte da realeza.

_ Onde você estava Draco? – a mulher perguntou preocupada.

_ Apenas fui dar uma volta, mãe. – revirou os olhos com a preocupação excessiva de Narcisa._ Não se preocupe, ninguém tentou me matar.

Ficaram um momento em silencio. Quando Lucius arqueou uma sobrancelha, enquanto analisava o filho.

_ Onde estão suas roupas Draco? – ele perguntou com desinteresse.

Draco deu de ombros para a pergunta do pai.

_ Estão com uma menina por ai. – riu da cara de desagrado que sua mãe fez e terminou sua explicação. _ Encontrei ela desmaiada na beira do lago, estava ferida e trouxe-a para a enfermaria.

_ E por que ela precisaria de sua camisa? – Narcisa perguntou desconfiada.

O jovem irritou-se com o questionário. Por que sua mãe estava sendo tão insistente em um assunto sem importância?

_ Porque ela é uma sereia, e precisava de alguma coisa para cobri-la. – ele suspirou.

_ Uma sereia? - perguntou interessada. _ Não existe sereias no Lago Negro, apenas os sereianos, mas não são espécies parecidas.

_ Ela não é uma sereiana, mãe. Ela falou que não é daqui, estava andando pelos arredores quando se perdeu.

Narcisa se Lucius se entreolharam, esta era um informação de fato interessante.

_ Então era uma sirena pure? – a mãe do loiro perguntou.

_O que significa isso? – Draco definitivamente não estava entendendo todo esse interesse que sua mãe demonstrava em Arya.

_ Significa Sereia Pura. – disse Lucius em uma voz arrastada. _ Elas são raras, e não gostam de bruxos, então, é estranho uma sereia assim aparecer aqui em Hogwarts.

_ Porque elas não gostam de bruxos? – perguntou Draco incrédulo.

_ As escamas delas são muito valiosas, são usadas em várias poções. E, além disso, elas têm o sangue completamente mágico. Só mulheres se tornam sereias, os filhos homens das próprias sereias não adquirem propriedades mágicas. Para as meninas se tornarem uma Sirena Pure tem que ter o sangue completamente mágico, por isso elas estão praticamente extintas.

Draco olhou espantado para sua mãe. Não sabia que Arya tinha tanto contato com o mundo mágico, ela parecia bem animada ao ver até mesmo Elfos Domésticos.

Lucius encarava Narcisa com um leve sorriso sarcástico.

_ Como sabe tudo isso sobre elas, Narcisa? – perguntou o Malfoy mais velho. _ Tudo o que eu sei é que elas enfeitiçam os homens com sua voz e o beijo de uma sereia salva a pessoa de se afogar.

_ Tinha muitos livros sobre elas na casa de meus primos. – ela disse em um tom neutro._ Li também que muitos anos atrás elas eram procuradas para purificar o sangue de famílias bruxas. – a mulher disse calmamente enquanto virava-se para seu marido.

Draco que até então tentava digerir todas as informações, olhou espantado para sua mãe.

_ Como assim purificar? – ele perguntou em uma voz altiva.

Narcisa cruzou os braços frente a seu corpo antes de terminar sua explicação.

_ Casando a sereia com um homem da família, os filhos tinham o sangue mágico mais puro que já se viu.

Draco arqueou uma sobrancelha com informação.

_ Então todas as sereias são bruxas? – o loiro perguntou.

_ Não Draco, hoje em dia as sereias bruxas estão desaparecidas. Como eu disse, as sereias se mantém afastadas e escondidas dos bruxos, e para nascer uma sereia só é preciso que a mãe seja uma, é como se a habilidade mágica delas consumisse todo o sangue humano trouxa que existe no corpo da menina caso o pai seja um trouxa comum.

Draco manteve-se quieto após a explicação da mãe, era confuso e se tivesse entendido direito, Arya tinha o sangue mais puro que o dele, aquilo era ridículo.

Seus pensamentos foram interrompidos com a porta sendo aberta e uma Minerva McGonagall apressada entrando na sala e encarando brevemente os três ocupantes ali.

Ela pigarreou

_ Bem, creio que vocês não queiram ficar para o funeral, não é mesmo?

Lucius encarava a professora com um olhar impassível, quando Narcisa deu breve aceno com a cabeça.

_ Não queremos. – ela disse altivamente.

Minerva ponderou um momento antes de continuar a conversa.

_ Certo. Então vocês serão escoltados para sua casa. Um grupo de aurores virá aqui explicar as condições de sua prisão domiciliar e tamb...

Foi interrompida por batidas na porta, Minerva virou-se rapidamente, estava com pressa e tinha muitos outros assuntos a resolver.

_ Sim? – ela disse.

A porta abriu-se e viram o auror enfiar a cabeça e olhar somente para a professora antes de falar em um tom baixo.

_ Professora McGonagall, tem uma menina aqui fora que insiste em falar com você.

Ele abriu completamente a porta e Arya entrou timidamente na sala, correu os olhos pelos ocupantes do lugar e se surpreendeu ao ver Draco ali, demorando o olhar no loiro ela encarou a professora que esperava uma explicação.

_ O que está fazendo aqui? – exclamou Draco irritado. Ele ficou surpreso com a entrada de Arya, não esperava ver a menina tão cedo, mas ficou aliviado ao ver que ela estava vestida com um suéter preto, uma calça jeans azul e um tênis também preto, torceu o nariz ao perceber que era uma roupa de trouxas.

_ Senhor Malfoy. – Minerva virou-se para Draco com um olhar de repreensão, um ato que não agradou em nada os pais do menino.

Arya encarava Draco fixamente quando percebeu que os olhares da sala estavam novamente nela.

_ Ah, desculpe interromper, mas gostaria de falar com a senhora Professora McGonagall, estou procurando informações sobre meu pai e acho que ele pode ter estudado aqui. – ela disse esperançosa.

Narcisa e Lucius se entreolharam com a revelação da garota, será que isso era verdade? Pela reação de Draco, aquela era a menina que ele ajudou, aquela era a sereia, e agora ela dizia que seu pai era um bruxo.

_ Quem era seu pai? – McGonagall perguntou com curiosidade enquanto Draco olhava boquiaberto para Arya.

_ Regulus Black.

_ Isso não é possível. – disse Draco de forma debochada.

Arya fuzilou o garoto com os olhos, ele estava sendo tremendamente irritante.

_ Não sei se isso prova, mas me parece uma jóia de família. – disse a menina tirando um colar que estava por dentro de sua blusa. Era um colar simples. Ela tirou o anel que servia como pingente e o entregou a Professora McGonagall.

Minerva analisou o anel rapidamente, não poderia dizer se era uma relíquia Black.

_ Deixe-me ver. – Narcisa se aproximou e estendeu sua mão para o anel de ouro. McGonagall o entregou e voltou a fitar a garota que olhava ansiosa a cena a sua frente.

Narcisa examinou atentamente a jóia, era um anel de ouro com o centro também de ouro e com os dizeres “A Nobre e Mais Antiga Família Black Toujours Pur” e um grande B esculpido em pedra Ônix.

Ela levantou seus olhos do anel e examinou a garota parada na porta.

_ Ela está falando a verdade, esse é um anel passado de geração em geração para os descendentes masculinos. E isso explica a mancha brilhante que sai do nome de Regulus na nossa Árvore Genealógica. O feitiço faz com que apareça o nome dos descendentes assim que eles nascem, mas nesse caso a magia dela fez com que a tapeçaria não conseguisse identificá-la. Regulus sempre disse que o feitiço estava enfraquecendo e que se ele tivesse um filho, ele saberia. – ela riu sem humor.

Narcisa olhou de forma fascinada para Arya e devolveu o anel para ela.

_ E porque você não estudou em Hogwarts? – perguntou Minerva desconfiada.

Arya ficou confusa com essa pergunta, ela sabia que era uma bruxa, afinal conseguia fazer coisas anormais até mesmo para uma sereia, mas não sabia que podia estudar em uma escola assim.

_ Não sabia disso. – ela disse. _ Quando meu pai partiu pela ultima vez, disse para minha mãe não frequentar o mundo bruxo porque eles estavam em guerra. Eu tinha uns dois meses de vida na época, mas minha mãe soube que ele morreu no exato momento em que os feitiços que ele lançou na nossa casa simplesmente sumiram.

_ Mas você deveria ter recebido a carta da escola... a não ser que. – Minerva olhou espantada para a menina. _ Uma criança nascida há 17 anos tinha uma vaga garantida aqui em Hogwarts, mas ela simplesmente não podia ser encontrada.

_ É claro que não podia ser encontrada. – disse Narcisa em tom zombeteiro. _ Aposto que ela estava morando na Kristal Irla quando chegou à hora de vir para Hogwarts.

McGonagall se virou com curiosidade para Narcisa, se o que a Malfoy estava falando fosse verdade a menina a sua frente era uma sereia e isso era extraordinário.

Arya olhava tudo silenciosamente, era estranho que essas pessoas soubessem tanto sobre ela.

_ O que é a Kristal Irla? – perguntou Draco impaciente.

_ Uma ilha onde as sereias e suas famílias moram, ela só pode ser encontrada por quem já esteve lá. – respondeu a Professora McGonagall. _ Até mesmo nós bruxos devemos seguir essa condição e como são poucos bruxos que conhecem a ilha, ela é misteriosa para nós.

Minerva suspirou de desânimo.

_ É uma pena que você não tenha estudado em Hogwarts, começar o ensino bruxo com 17 anos é muito difícil. – disse a Professora para Arya.

_ Eu acho que eu tenho uma boa base, estudei nos muitos livros que meu pai deixou em nossa casa . – ela disse de forma confiante. Afinal, passara horas e horas debruçada sobre aqueles livros encantada com o mundo mágico de seu pai. - Posso demonstrar.

Arya estendeu sua mão e conjurou uma rosa vermelha na mesma, viu o olhar espantado da família Malfoy e de Minerva.

_ Incendio. – ela sussurrou. A rosa pegou fogo e as chamas a consumiram completamente, Arya então fechou sua mão e dissipou as chamas restantes.

_ Isso é impossível. – Minerva engasgou. _ Você fez feitiços com facilidade sem usar uma varinha.

_ Bem, eu não podia conseguir uma facilmente então acabei me acostumando a não usa-las. - a jovem disse envergonhada.

_ Bem, se é assim você pode fazer um teste para determinar o nível de seu aprendizado, se a senhorita se sair bem, pode fazer apenas o sétimo ano. – McGonagall falou em um tom amigável.

_ Isso seria maravilhoso. Obrigada. – disse Arya com olhos brilhando. Seria incrível aprender mais coisas sobre o mundo de seu pai.

_ Quero convidá-la para ficar em nossa casa, esse tempo que você não estará em Hogwarts. – Narcisa falou com um sorriso de canto. – Regulus era meu primo e posso lhe dizer tudo o que quiser saber sobre ele.

Claro que esse momento não era o mais apropriado, a família Malfoy estava nas mãos do Ministério, e Narcisa tinha certeza que Lucius seria condenado para Azkaban, mas precisa pensar no futuro de Draco e aquele era um presente divino, uma sereia que poderia vir bem a calhar para seu precioso filho.

Arya ponderou por um momento, era uma ótima oportunidade, mas ela moraria na mesma casa que Draco e isso poderia se tornar um pesadelo. Suspirou. Não podia perder a oportunidade de que todas as suas perguntas sobre seu pai fossem respondidas.

_ Eu aceito. – ela disse animada e risonha ao ver a cara de incredulidade de Draco.

Regulus Black