Darkness Feed escrita por S A Malschitzky


Capítulo 2
Os irmãos sobreviventes e o vagabundo.


Notas iniciais do capítulo

Ok, a história não fica muito científica a partir de agora mas continua com os ataques e vocês verão ao longo dela.



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Abro os olhos e encaro o teto branco com mofo.

- Bom dia. - Escuto a voz rouca de meu irmão. Abraham. 

- Oi Abe. - digo olhando para o lado esquerdo, observando-o. Seus olhos azuis, a pele branca com queimaduras de sol abaixo dos olhos, os cabelos louros grudados á testa e um corte perto da sobrancelha. Um prato com biscoitos quadrados com geleia de morango. - Onde conseguiu isto? 

Mordo um pedaço pequeno de um dos biscoitos.

O gosto doce da geleia de morango invade minha boca.

- Nate passou no supermercado ontem á noite. - Largo o biscoito em cima do prato. Nathan Parker. O garoto mais rude, grosso, arrogante, machista, egocêntrico e vagabundo de todos os tempos.

- Pare de pensar assim sobre ele. - diz Abe gentilmente. - Nate é legal.

Encaro seus olhos azuis com desprezo e vejo como somos diferentes.

Bem ele é mais parecido com meu pai e eu parecida com minha mãe. Meus cabelos são marrons-avermelhados. Mais castanho do que ruivo e meus olhos verdes dão-me vontade d chorar quando me lembro deles.

- Porque ele ainda vive com a gente? - falo rápido e baixo. - Você disse que ele não ficaria muito tempo.

- Eu sei o que eu... - Nathan entra no quarto com as botas sujas deixando marcas de lama pelo chão. 

Sua aparência é a mais relaxada possivel.

Barba crescida, cabelo curto e  desigual, roupas rasgadas - a mesma maldita blusa vermelha escura com manchas de sangue - e a calça jeans surrada.

- E ai Shan? - Ele empurra minha cabeça e ri, mastigando alguma coisa.

- Shannon. - murmuro corrigindo-o.

- Viram o noticiário? - Nathan pega o controle remoto do chão ao lado da cama e aperta o botão verde na direção do retângulo de vidro rachado, sem sucessor. Ele bate o controle na mão e me encara bravo. - Quebrou o controle? Novamente?

- Não fui eu quem o atirou contra a TV. - digo de braços cruzados. - Atacaram de novo?

- Obvio. - Ele senta-se ao lado de meus pés. - Mas a doença está se espalhando. E eu consegui isto.  - Ele abre a mochila preta suja de sangue e barro e tira três caixas azuis retangulares. Ele joga uma na minha direção e uma na direção de Abe. - Eles quebraram o vidro da farmácia. Ficou mais fácil de entrar, mas não está muito bonito.

Ele tira a sernga e o frasco marrom de dentro da caixa e suga o líquido amarelado do frasco para a seringa. 

Abe e eu nos entreolhamos e encaramos Nathan.

- O que deu em vocês dois? - Ele fura seu próprio braço, soltando um grunhido e apertando a ampola. - Querem virar bichos e matarem o pouco que resta da humanidade? 

Continuo encarando-o. 

- Quanto tempo ficará com a gente? - pergunto.

- Não acha melhor nossa espécie se juntar? 

Dou de ombros e abro a caixa.

Faço o mesmo processo que acontece á quase um ano.

Nathan e Abe são dois anos mais velhos, mas Abe aparenta ter bem mais do que vinte anos. 

Desde que nossos pais morreram, Abe sempre me protegeu. Desde que a doença começou á se espalhar em escala descomunal.

Todos os boa noites, beijos em minha testa, canções de ninar o tornam cada vez mais parecido com meu pai. 

                                                  ++++

Observo-os arrumar a mochila e segurando as armas.

Abe deixa tudo de lado e senta-se ao meu lado.

Abraço minhas pernas cada vez mais forte e o encaro.

- Se eu morrer. - Arregalo os olhos.

- Como assim? 

- Shannon, me escuta. Você sabe que isso pode acontecer. Se acontecer, Nathan cuidará de você. Ok?

Encaro Nathan que levanta seus olhos azuis claros em minha direção.

Levanto-me da cama e chego bem perto de seu rosto.

 - Não deixe meu irmão morrer. Ouviu?

- A última coisa que eu quero, é ficar de babá de você.

Soco seu peito com força e abraço Abe.

- Volta logo. - sussurro.

- Pode deixar. 

                                     ++++

Os trovões fazem melhor papel de iluminador do que as malditas velas. 

Abe e Nathan não voltaram ainda.

A porta começa a bater até que escuto a batida das botas de Nathan. Mas em um ritmo mais lento e com grunhidos.

- Nathan? - pergunto. Me levanto da cama e tiro uma arma da gaveta, mesmo não sabendo atirar direito. Ando na direção da porta de entrada até que vejo Nathan largar algo grande no chão.

- Abe! - Me jogo no chão e deixo a arma de lado. Uma mancha de sangue  se forma em sua camisa azul clara,  escorrendo de uma mordida do pescoço. 

- Shannon. - diz ele com a voz fraca. - Desculpe-me.

Um trovão ilumina a sala e vejo seus olhos ficarem frios e mais escuros que a noite.  

Os abraços confortantes, os beijos na testa e as lembranças de nossos pais.

Tudo se foi.  

Encaro Nathan com lágrimas nos olhos e ao mesmo tempo com raiva dele.

Me levanto e começo a socar seu peito, como se fizesse alguma diferença.

- Eu estou sozinha! Sozinha! - grito. - E é tudo culpa sua! Este foi o único pedido que eu já lhe fiz! 

Ele segura meus punhos e encara meus olhos, me abraçando, sem dizer uma só palavra.

- Shannon. Eu não tenho tempo para seus lamentos sobre Abraham. - Escuto seus socos na porta e abro os olhos para a água barrenta caindo sobre meu corpo.

Sim Abe me deixou com ele. 

Com isso.      

Fecho a torneia enferrujada e me enrolo na toalha azul.

Abro a porta e o encaro.

A barba rala e os mesmos olhos azuis. 

- Achei que havia se afogado. - murmura ele entrando no banheiro e fechando a porta com força. 

Ando na direção do quarto e passo o olhar sobre a porta da frente.

Ainda me lembro de seus cabelos molhados, seu silêncio e seu pedido de desculpas que agora faz sentido. 

Gaz sentido porque agora vivo com o senhor gentileza. 

Ando na direção do quarto e corro atrás de roupas.

Nathan não toma banhos demorados e nossas roupas estão no mesmo guarda-roupas. Claro, Nathan não tem a menor noção de privacidade. Dane-se se uma garota está se trocando. Ele entra a qualquer momento no quarto. Visto a roupa de baixo e consigo abotoar a calça jeans na mesma hora em que a maçaneta gira.

Olho com raiva para ele e seus músculos do abdômen. 

- Admirando a paisagem? - pergunta ele.

- Já ouviu falar em privacidade? - pergunto de braços cruzados.

- Já ouviu falar em blusa? - pergunta ele, cruzando os braços e rindo quando me encolho. Ele tira uma blusa de cima da cadeira e joga em minha direção. 

Coloco a blusa e saio do quarto com uma escova de cabelos na mão. 

Vou para a sala e escovo os cabelos encharcados.

Ando até a cozinha e solto um grito ao ver um corpo esverdeado e contorcido no chão.

Nathan se encosta no vão da parede e olha assustado para mim.

- O que foi? - Ele pergunta passando a camisa pela cabeça. 

- Quantas vezes eu já falei para não trazer  esses troços para cá? - pergunto gritando. 

- Esse troço estava quase arrancando seu braço quando voltei do mercado para trazes a sua maldita geleia de morango. 

Ele anda na direção do corpo e o arrasta para fora da casa. 

Mais um humanos vítima da epidemia. 

Eles não são zumbis. 

São humanos transformados em bichos assassinos. Eles não gostam de carne humana, mas é o único alimento visível para eles.

Nathan vem em minha direção e beija minha testa.

- Por... Porque fez isso? - pergunto pasma.

Ele dá de ombros e abre a geladeira.

- Não era o que o seu irmão fazia todas as manhãs? - A luz da geladeira ilumina seu rosto.

- Você não é meu irmão. - digo grossa.

- Graças a deus. - murmura ele fechando a geladeira com uma caixa de leite vermelha nas mãos. Ele abre a tampa e vira o leite na boca. Reviro os olhos.

- Já ouviu falar em copo? - pergunto batendo um copo na mesa.

- Já ouviu falar em: Dane-se? - pergunta ele voltando á tomar o leite da caixa. Ele solta um grunhido e limpa a boca. - Seu irmão te deu uma arma, certo?

- Quebrou a sua de novo? - pergunto. 

- Só me responda!

- Sim. Para que você a quer? - Observo-o tirar um papel amarelado e dobrado do bolso. - O que é isso?

- Você tem dezoito... Dezenove anos não é? - Ele lê o papel. - Ah - Ele joga um pacote vermelho em minha direção. - Feliz aniversário. - Ele continua observando o papel. - Vamos nos mudar. - Ele sorri, guardando o papel no bolso de trás da calça. 

Abro o pacote e vejo o cachecol vermelho de lã de minha mãe.

- Onde achou isso? Aliás, onde roubou isso? - digo com raiva.

- Porque você sempre pensa o pior de mim? 

- Meu irmão pediu desculpas quando morreu. 

Ele suspira.

- Fui buscar no seu apartamento era da sua... Mãe não era? - Concordo com a cabeça. - E está frio lá fora, então fui buscar para você. 

- Obrigada. - digo ainda brava por ele ter invadido o apartamento.

- De nada. - diz ele andando na direção da sala. - Arrume suas coias. E rápido. 


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