Darkness Feed escrita por S A Malschitzky
Notas iniciais do capítulo
Ok, a história não fica muito científica a partir de agora mas continua com os ataques e vocês verão ao longo dela.
Abro os olhos e encaro o teto branco com mofo.
- Bom dia. - Escuto a voz rouca de meu irmão. Abraham.
- Oi Abe. - digo olhando para o lado esquerdo, observando-o. Seus olhos azuis, a pele branca com queimaduras de sol abaixo dos olhos, os cabelos louros grudados á testa e um corte perto da sobrancelha. Um prato com biscoitos quadrados com geleia de morango. - Onde conseguiu isto?
Mordo um pedaço pequeno de um dos biscoitos.
O gosto doce da geleia de morango invade minha boca.
- Nate passou no supermercado ontem á noite. - Largo o biscoito em cima do prato. Nathan Parker. O garoto mais rude, grosso, arrogante, machista, egocêntrico e vagabundo de todos os tempos.
- Pare de pensar assim sobre ele. - diz Abe gentilmente. - Nate é legal.
Encaro seus olhos azuis com desprezo e vejo como somos diferentes.
Bem ele é mais parecido com meu pai e eu parecida com minha mãe. Meus cabelos são marrons-avermelhados. Mais castanho do que ruivo e meus olhos verdes dão-me vontade d chorar quando me lembro deles.
- Porque ele ainda vive com a gente? - falo rápido e baixo. - Você disse que ele não ficaria muito tempo.
- Eu sei o que eu... - Nathan entra no quarto com as botas sujas deixando marcas de lama pelo chão.
Sua aparência é a mais relaxada possivel.
Barba crescida, cabelo curto e desigual, roupas rasgadas - a mesma maldita blusa vermelha escura com manchas de sangue - e a calça jeans surrada.
- E ai Shan? - Ele empurra minha cabeça e ri, mastigando alguma coisa.
- Shannon. - murmuro corrigindo-o.
- Viram o noticiário? - Nathan pega o controle remoto do chão ao lado da cama e aperta o botão verde na direção do retângulo de vidro rachado, sem sucessor. Ele bate o controle na mão e me encara bravo. - Quebrou o controle? Novamente?
- Não fui eu quem o atirou contra a TV. - digo de braços cruzados. - Atacaram de novo?
- Obvio. - Ele senta-se ao lado de meus pés. - Mas a doença está se espalhando. E eu consegui isto. - Ele abre a mochila preta suja de sangue e barro e tira três caixas azuis retangulares. Ele joga uma na minha direção e uma na direção de Abe. - Eles quebraram o vidro da farmácia. Ficou mais fácil de entrar, mas não está muito bonito.
Ele tira a sernga e o frasco marrom de dentro da caixa e suga o líquido amarelado do frasco para a seringa.
Abe e eu nos entreolhamos e encaramos Nathan.
- O que deu em vocês dois? - Ele fura seu próprio braço, soltando um grunhido e apertando a ampola. - Querem virar bichos e matarem o pouco que resta da humanidade?
Continuo encarando-o.
- Quanto tempo ficará com a gente? - pergunto.
- Não acha melhor nossa espécie se juntar?
Dou de ombros e abro a caixa.
Faço o mesmo processo que acontece á quase um ano.
Nathan e Abe são dois anos mais velhos, mas Abe aparenta ter bem mais do que vinte anos.
Desde que nossos pais morreram, Abe sempre me protegeu. Desde que a doença começou á se espalhar em escala descomunal.
Todos os boa noites, beijos em minha testa, canções de ninar o tornam cada vez mais parecido com meu pai.
++++
Observo-os arrumar a mochila e segurando as armas.
Abe deixa tudo de lado e senta-se ao meu lado.
Abraço minhas pernas cada vez mais forte e o encaro.
- Se eu morrer. - Arregalo os olhos.
- Como assim?
- Shannon, me escuta. Você sabe que isso pode acontecer. Se acontecer, Nathan cuidará de você. Ok?
Encaro Nathan que levanta seus olhos azuis claros em minha direção.
Levanto-me da cama e chego bem perto de seu rosto.
- Não deixe meu irmão morrer. Ouviu?
- A última coisa que eu quero, é ficar de babá de você.
Soco seu peito com força e abraço Abe.
- Volta logo. - sussurro.
- Pode deixar.
++++
Os trovões fazem melhor papel de iluminador do que as malditas velas.
Abe e Nathan não voltaram ainda.
A porta começa a bater até que escuto a batida das botas de Nathan. Mas em um ritmo mais lento e com grunhidos.
- Nathan? - pergunto. Me levanto da cama e tiro uma arma da gaveta, mesmo não sabendo atirar direito. Ando na direção da porta de entrada até que vejo Nathan largar algo grande no chão.
- Abe! - Me jogo no chão e deixo a arma de lado. Uma mancha de sangue se forma em sua camisa azul clara, escorrendo de uma mordida do pescoço.
- Shannon. - diz ele com a voz fraca. - Desculpe-me.
Um trovão ilumina a sala e vejo seus olhos ficarem frios e mais escuros que a noite.
Os abraços confortantes, os beijos na testa e as lembranças de nossos pais.
Tudo se foi.
Encaro Nathan com lágrimas nos olhos e ao mesmo tempo com raiva dele.
Me levanto e começo a socar seu peito, como se fizesse alguma diferença.
- Eu estou sozinha! Sozinha! - grito. - E é tudo culpa sua! Este foi o único pedido que eu já lhe fiz!
Ele segura meus punhos e encara meus olhos, me abraçando, sem dizer uma só palavra.
- Shannon. Eu não tenho tempo para seus lamentos sobre Abraham. - Escuto seus socos na porta e abro os olhos para a água barrenta caindo sobre meu corpo.
Sim Abe me deixou com ele.
Com isso.
Fecho a torneia enferrujada e me enrolo na toalha azul.
Abro a porta e o encaro.
A barba rala e os mesmos olhos azuis.
- Achei que havia se afogado. - murmura ele entrando no banheiro e fechando a porta com força.
Ando na direção do quarto e passo o olhar sobre a porta da frente.
Ainda me lembro de seus cabelos molhados, seu silêncio e seu pedido de desculpas que agora faz sentido.
Gaz sentido porque agora vivo com o senhor gentileza.
Ando na direção do quarto e corro atrás de roupas.
Nathan não toma banhos demorados e nossas roupas estão no mesmo guarda-roupas. Claro, Nathan não tem a menor noção de privacidade. Dane-se se uma garota está se trocando. Ele entra a qualquer momento no quarto. Visto a roupa de baixo e consigo abotoar a calça jeans na mesma hora em que a maçaneta gira.
Olho com raiva para ele e seus músculos do abdômen.
- Admirando a paisagem? - pergunta ele.
- Já ouviu falar em privacidade? - pergunto de braços cruzados.
- Já ouviu falar em blusa? - pergunta ele, cruzando os braços e rindo quando me encolho. Ele tira uma blusa de cima da cadeira e joga em minha direção.
Coloco a blusa e saio do quarto com uma escova de cabelos na mão.
Vou para a sala e escovo os cabelos encharcados.
Ando até a cozinha e solto um grito ao ver um corpo esverdeado e contorcido no chão.
Nathan se encosta no vão da parede e olha assustado para mim.
- O que foi? - Ele pergunta passando a camisa pela cabeça.
- Quantas vezes eu já falei para não trazer esses troços para cá? - pergunto gritando.
- Esse troço estava quase arrancando seu braço quando voltei do mercado para trazes a sua maldita geleia de morango.
Ele anda na direção do corpo e o arrasta para fora da casa.
Mais um humanos vítima da epidemia.
Eles não são zumbis.
São humanos transformados em bichos assassinos. Eles não gostam de carne humana, mas é o único alimento visível para eles.
Nathan vem em minha direção e beija minha testa.
- Por... Porque fez isso? - pergunto pasma.
Ele dá de ombros e abre a geladeira.
- Não era o que o seu irmão fazia todas as manhãs? - A luz da geladeira ilumina seu rosto.
- Você não é meu irmão. - digo grossa.
- Graças a deus. - murmura ele fechando a geladeira com uma caixa de leite vermelha nas mãos. Ele abre a tampa e vira o leite na boca. Reviro os olhos.
- Já ouviu falar em copo? - pergunto batendo um copo na mesa.
- Já ouviu falar em: Dane-se? - pergunta ele voltando á tomar o leite da caixa. Ele solta um grunhido e limpa a boca. - Seu irmão te deu uma arma, certo?
- Quebrou a sua de novo? - pergunto.
- Só me responda!
- Sim. Para que você a quer? - Observo-o tirar um papel amarelado e dobrado do bolso. - O que é isso?
- Você tem dezoito... Dezenove anos não é? - Ele lê o papel. - Ah - Ele joga um pacote vermelho em minha direção. - Feliz aniversário. - Ele continua observando o papel. - Vamos nos mudar. - Ele sorri, guardando o papel no bolso de trás da calça.
Abro o pacote e vejo o cachecol vermelho de lã de minha mãe.
- Onde achou isso? Aliás, onde roubou isso? - digo com raiva.
- Porque você sempre pensa o pior de mim?
- Meu irmão pediu desculpas quando morreu.
Ele suspira.
- Fui buscar no seu apartamento era da sua... Mãe não era? - Concordo com a cabeça. - E está frio lá fora, então fui buscar para você.
- Obrigada. - digo ainda brava por ele ter invadido o apartamento.
- De nada. - diz ele andando na direção da sala. - Arrume suas coias. E rápido.
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