Cartas Para Arthur escrita por Stankovica


Capítulo 5
Carta 4


Notas iniciais do capítulo

Perdoem a demora para postar!
Para compensar a demora, este capítulo é um pouco grande. Espero que gostem.



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Querido Arthur, deve ser um porre ficar recebendo as minhas cartas. Gostaria de agradecer por não ter comentado mais sobre minhas cartas.

O assunto de hoje não poderia ser outro: meus pais.

Meus pais estão separados, eu não comento muito sobre isso, porque eles nunca comentam absolutamente nada comigo sobre este assunto (parece um tabu), eu sou apenas um “erro”, como às vezes minha mãe diz. Sou apenas uma coadjuvante nesta peça de teatro. Na verdade, eles se separaram recentemente.

Atualmente moro com a minha mãe. Eu a amo e acho que ela também me ama. Ela está sofrendo, eu sei que está, pois ela gostava muito do meu pai, mas ele não presta. Amo meu pai, mas por obrigação, creio eu.

É tranquilo morar com a minha mãe, mas, é horrível deitar e ouvi-la chorando calada ou dormir sem saber onde ela está. Minha mãe sofre Arthur, ela sofre muito. Ela sempre trabalhou e se dedicou para a família, lembro perfeitamente. A minha mãe sempre brincou comigo, me levava para passeios, cozinhava sempre com um sorriso no rosto, etc. até que um dia tudo isso mudou, infelizmente, mudou. Um dia eu vi meu pai a traindo, ele falou que não era nada e pediu para que eu não contasse nada a minha mãe (eu inocente, não contei). Eu tinha uns cinco anos. Minha mãe perdeu todo o seu brilho há pouco mais de um ano, ela ficou mais calada, sua comida havia perdido o sabor especial e ela não ficava mais comigo, eu era uma pessoa qualquer. Infelizmente eu descobri o motivo da perda de seu brilho, era meu pai.

Meu pai me mimou muito depois que o vi com aquela mulher e agora parou de me dar atenção, saiu de casa e foi com uma puta qualquer. Eu odeio meu pai por esse motivo! Ele nunca demonstrou nada por mim, talvez, apenas desprezo. Ele apenas me dá dinheiro por obrigação, então, ele não passa de um banco para mim.

É muito chato ver filmes, ler livros, ver amigos, etc. com os pais juntos e felizes. É horrível ver minha mãe sendo quem ela não é. É uma tortura encontrar meu pai.

Em geral não gosto muito de comentar sobre a minha família – pais, avós, tios, primos, etc. – porque eu não me sinto a vontade, aliás, nunca senti. Então, acho que é só. Provavelmente, esta é a carta mais curta, só escrevi para que você entendesse qual é a minha relação com meus pais e nunca comentei isso com ninguém... Até agora.

Com carinho, Jess.”

Como será viver deste jeito? Vivo com a minha mãe e acho tranquilo, meus pais se separaram há anos e eu não lembro direito o motivo, acho que a paixão acabou, porque eles brigavam demais. Hoje eles se encontram, conversam e não há ressentimento, eles são amigos.

Será que a Jess tem irmão ou irmã? Eu tenho uma irmã pequena, mas quase não a vejo, pois, é irmã por parte de pai e meu pai mora em outra cidade.

Como seria se minha mãe perdesse o brilho? Eu não me imagino vivendo sem a minha mãe, pois nós somos muito ligados e além de tudo, ela é minha amiga.

Sentei em frente ao computador, fiquei mexendo nele. O que continha nas cartas começou a me deixar completamente intrigado, não está fácil descobrir quem é a Jessica. Vejo minhas redes sociais e tento descobrir quem que estava mandando as cartas.

Após horas olhando, não tiro conclusão alguma, pois são muitas pessoas diferentes. Nem é possível saber se a tal garota era do colégio, ao menos parecia ser. Inferno! Como saberei quem é essa tal menina que grita por socorro? Ok, eu posso eliminar todas as meninas que tem os pais casados ainda. Era pouco a se eliminar, mas já ajudava bastante. Seria mais sensato fazer uma lista, mas a lista ficaria enorme. Peguei as cartas anteriores e li umas três vezes cada, mas não diminuiu tanto a minha lista, o jeito era esperar por algum milagre divino.

Liguei para a Laura. Ficamos conversando e pedi a opinião dela, mas ela falou que não tinha noção e que era necessário esperar a próxima carta.

Resolvi começar a notar nas garotas que estavam ao meu redor. Ver qual parecia mais tristonha e reservada. Durante uma semana fiquei observando todas, até mesmo a Laura, mas não seria coerente ela estar me mandando àquelas cartas. Por incrível que pareça, a Laura estava mais calada e parecia mais triste, mas não é possível que seja ela que mande as cartas a mim.

Respirei fundo. Havia outra garota que me fitava, ela sempre fora calada e na dela, não me recordo o nome dela. Ela era diferente, não há como negar. Estávamos na aula, então, perguntei ao meu colega o nome dela, ele a olhou com repulsa e disse que o nome dela era Jessica. Devo ter ficado branco, pois ele perguntara se eu estava bem e se eu gostaria tomar um ar, respondi que não e fico remoendo aquilo na minha cabeça. A Laura havia faltado, então, eu iria lá falar com a garota de qualquer maneira. Levanto e caminho em sua direção. Ela me fita até chegar onde estava.

- Hm, oi – falei sem graça.

- Oi? – ela respondeu com voz baixa.

- Você é a Jessica, certo?! – ela estava só. Mas afinal, que merda eu estava fazendo? Iria sair arrependido, mas eu preciso saber se ela é a Jessica.

- Sou. E você é o Arthur – ela me encarou. - O que você quer?

- Ah... Você tem se sentido bem? Como anda sua relação com os seus pais?

- Que merda de pergunta é essa? Eu estou normal e minha relação com meus pais anda completamente normal. E a sua vida?

- Ah, me perdoe. Minha vida está de cabeça para baixo desde que... – peguei a carta do bolso do meu moletom e mostrei a ela. Ela leu, ficou calada durante alguns segundos e depois soltou um riso.

- Então, você acha que essa carta é minha só porque tem meu nome nela? – ela riu com sarcasmo – Meu querido, não tem nada a ver, não sou eu.

- Mas, você é toda calada e tudo mais, não interage nem nada. Pensei que pudesse ser você... – comecei sentir minhas bochechas ficarem coradas.

- Na real? Eu não interajo porque não há com quem interagir. Eu não faria uma coisa dessas, é um tanto ridículo, perdão. Alguém deve estar usando meu nome só de sacanagem. Neste colégio não há pessoas muito interessantes, então, prefiro ficar só e com meu fone, sou só também, porque ninguém vem falar comigo, mas este fato não me importa. Só sei que não sou eu.

- Perdão e obrigado, eu acho. – virei às costas.

- Espera. Olha, só digo uma coisa, essa menina precisa de ajuda.

Voltei um tanto arrasado e envergonhado com o que havia acabado de acontecer.

De tarde ligo para a Laura e vou até sua casa, ela não fora ao colégio, pois estava passando mal. Conversamos e conto o fato ocorrido com a Jessica, ela ri muito. Fora difícil faze-la parar de rir. Então a olhei sério e pergunto se era ela que estava mandando aquelas cartas, o que gerou mais riso. Ela para de rir, me encara e diz em um tom sério.

- Arthur, por que eu te mandaria as cartas? Eu sou sua melhor amiga, eu te conto praticamente tudo.

- Não sei Laura, você anda diferente nos últimos dias, então, não poderia descartar essa oportunidade, que merda.

Ela fica calada e fala umas coisas nada a ver. Mudamos de assunto e conversamos mais um pouco antes de eu ir embora.


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