Cartas Para Arthur escrita por Stankovica


Capítulo 4
Carta 3




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Passara uma semana e eu ainda não havia recebido outra carta da Jessica, provavelmente ela havia desistido de “desabafar” comigo ou tudo não passou de uma simples brincadeira. Houve alguns boatos e a notícia que eu estava recebendo cartas se espalhou.

Sábado, iríamos à casa do Caio. O Nicholas mandou uma mensagem falando que já tinha chegado e que me esperava para irmos lá. No carro estava o Lucas e a Andressa, iríamos apenas buscar a Laura. Logo que chegamos o Caio nos cumprimentou, e fomos para a sala, o Thomas e o Gustavo já estavam lá, ficamos conversando, até que a Eduarda aparece na sala. Ela estava linda, aliás, ela sempre foi linda. Estranho, ela estava sem o namorado dela.

- Olá galera – ela sorri e vai para a cozinha.

A campainha toca e a Duda vai atender a porta.

- Ué Caio, chamou mais alguém? – Nic pergunta.

A princípio pensei que fosse o namorado da Duda, mas eu estava enganado. De repente vejo a Lili e a Ju, estranhei.

- Pessoal essa aqui é a Lili e essa a Ju – Duda nos fala e sorri.

Ela nos apresenta para ambas. Elas nos cumprimentam e sentam em um canto do sofá. Fico surpreso ao vê-las, nunca imaginei que a Duda fosse amiga das duas. Pedimos algumas pizzas, enquanto esperamos ficamos conversando e bebendo. A Ju está conversando com o Nic, apenas observo a Lili que estava só, ela olha para mim e sorri. A Duda vai até ela e as duas começam a conversar, eu fico conversando com o Thomas, que há muito tempo não encontrava. A pizza chega.

- Nós conversamos sempre e eu não sabia que você conhecia a Duda – falo para a Alice que está sentada do meu lado completamente calada. – vocês se conhecem há muito tempo?

- Você nunca questionou – ela me encara. – nós nos conhecemos há dois anos... Desde então, somos bem amigas.

- Mas, você não estava em Portugal?

- Ah, então... Eu fui para Portugal e voltei pra cá depois de um ano, então, eu a conheci por acaso. Passei as férias aqui e voltei para Portugal e foi nessas férias que nos tornamos grandes amigas, mesmo morando longe nós sempre conversávamos e tudo mais. Simples assim.

Assenti com a cabeça. De repente a Andressa pergunta com um tom de sarcasmo sobre a carta da Jessica, se eu tenho recebido mais carta dela, respondo que não, fico um tanto incomodado com a pergunta. É claro que nem todos sabiam do que se tratava a carta, então, tive que explicar. O que gerou risos e algumas piadas, mas durou pouco tempo. Era um tanto constrangedor falar sobre a Jess ao meio de tantas pessoas...

Quando cheguei o porteiro me entregou uma carta. Perguntei se ele sabia quem havia levado, mas ele negou, falou que a carta apenas apareceu na portaria e não sabia quem era. Subi para meu apartamento. Eu estava alegre por causa da bebida. Tiro meu tênis. Escovo os dentes. Coloco meu pijama. Largo a carta em cima da minha escrivaninha e durmo, não estou em condições para ler a carta agora.

Acordo com um pouco de dor de cabeça, minha mãe havia ido trabalhar. Tomo um café e vou mexer no computador, até que vejo a carta que havia recebido. A abro e começo a ler.

Caro Arthur...

Estive pensando muito se realmente devo continuar a escrever as cartas para ti. O que escrevi até agora foram coisas que guardo dentro de mim, no meu íntimo e decidi compartilhar contigo por não mais aguentar, mas de repente eu viro celebridade! Eu queria/quero atenção, mas não esse tipo de atenção. Meus sentimentos viraram assunto da semana. E aí, como eu fico? Sou motivo de piada? Não, obrigada, eu não quero isso. Nem deveria estar escrevendo novamente para ti, mas acho que devo te dar outra chance, aliás, todos nós erramos.

Não sei o motivo de tanta infelicidade. Minha vida seria invejada por muitos que estão ao meu redor, não há como negar, mas há uma melancolia tão grande dentro de mim. Nada me falta, tenho casa, comida e roupas para vestir. Vivo rodeada de pessoas, mas elas nem reparam direito em mim. Tenho pais e não há conflitos na minha família, nunca houve. Mas, meus pais não me veem, eles mal têm tempo para mim, quase não falam comigo. Sinto falta dos meus pais. Eles não reparam em mim.

Ok, na verdade sei o que tanto me aflige... parece bobagem, parece clichê por eu ser uma garota. Eu me acho ridícula! Me acho feia, gorda e o caralho as quatro. Arthur, sabe o que é olhar para o espelho e odiar o reflexo que se vê? Então, você não sabe, pois tu és um garoto e talvez nunca me compreenda! É uma merda você se odiar. É horrível. Odeio meu rosto, meu corpo. Meu corpo cheio de banhas e gorduras. De onde veio tanta gordura? Credo. Claro que tu penses que é paranoia minha, mas simplesmente não gosto e ponto final. E a minha voz? Minha voz é horrenda também, mal sei cantar. Amo música, mas não canto, pois minha voz é igual de taquara rachada, pode rir, eu deixo.  Simplesmente, não me acho bonita.

Por que tudo isso? Porque eu nunca recebo elogios. Porque ninguém nunca me quis ou me quer. É infantilidade, eu sei. Mas, nunca fui dessas de receber um elogio, por nada. Nem por uma boa ação, nem por tirar nota boa, nem por minha beleza, nem por absolutamente nada! Por quê?

Ah, eu não sou bela. Ninguém me nota. Sinto-me completamente invisível. Isso nunca me perturbou, até agora... Desde criança, sempre me achei feia. Nunca me achei o suficientemente bela. O que há de errado comigo?

Todos elogiam a Kath e a Pam! A Pam nem é tão maravilhosa assim, mas muitos rapazes a elogiam. A Kath é sempre linda e não há o que discutir, se ela quiser, ela consegue qualquer garoto. Ok, meninas que conheço são lindas e eu aqui. Parece que sou completamente ridícula perto delas. Amigas, colegas, desconhecidas... até mesmo aquelas que não são deusas gregas conseguem receber elogios e ter alguém. Já eu, nem amor, nem rapaz, nem beleza, nem nada. Não, eu não tenho autoestima, creio que perdi isso quando via os pais das minhas amigas as chamarem de “linda”, “bonita”, “princesa” e meus pais nunca fizerem um elogio assim. Raramente, talvez, quando eu usava uma roupa que eles quisessem e falavam “você ficou bonita assim”. Sei lá.

Sou uma tonta.

Oh Arthur, eu cobri os espelhos de casa e coloquei uma máscara no meu rosto.

Abraços, Jess.”

Não iria comentar com mais ninguém sobre as cartas, fim. Creio que a Jess seja linda, ou não. 


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Notas finais do capítulo

Desculpe a demora, mas está muito corrido. Mal tenho tempo para escrever a fic.



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