Cartas Para Arthur escrita por Stankovica


Capítulo 3
Carta 2


Notas iniciais do capítulo

Perdoe a demora, mas estou sem tempo para escrever. Agora com a volta as aulas, ficará mais difícil.



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Meu despertador toca, resmungo e o desligo. Que lixo, tem aula hoje. Arrumo-me e antes de sair de casa, pego a carta que havia recebido, precisava mostrar aquilo a Laura. Me despeço de minha mãe e vou andando ao colégio. Ao chegar ao mesmo colégio, com os mesmos alunos, mesmos professores, mesma rotina entediante, avisto a Laura de longe que acena pra mim e vem ao meu encontro.

- E aí querido Arthur – ela me abraça. – quanto tempo! Sentiu saudade?

- Claro minha cara Laura. Como foi a sua viagem para a casa da sua avó? Encontrou o seu lindo e amado príncipe encantado montado em uma mula? – soltei um riso.

- Ele não veio montado em uma mula – ela deu um tapa no meu braço. – Foi ótimo na casa da minha avó!

Ela começou a contar como havia sido a semana lá na casa da avó dela. Falou que eu precisava ir um dia lá, que eu iria gostar e nem iria querer sair de lá, pois a fazenda era enorme e ótima. Reencontrou algumas pessoas que não via há um bom tempo, fez trilha, saiu em busca dos lugares que ia quando era criança, e como sua família estava diferente.

O sinal bateu e entramos para a sala. Tirei da bolsa a carta que havia recebido na sexta, ao entregar para a Laura, ela perguntou se era para mim se era para ela, neguei com a cabeça e pedi para ler a carta. Ela leu e releu a carta e depois ficou me fitando com o cenho franzido. Antes que eu pudesse falar algo, a diretora bateu na porta e disse que iria entrar uma aluna nova na nossa sala.

- Deem as boas vindas à nova colega de vocês – a diretora diz para nós. – Senhorita Alice, pode entrar.

            De repente Alice aparece na frente de todos nós, fico um tanto surpreso ao vê-la, ela me olha e abre um curto sorriso. Ela passa por mim, digo bom dia a ela e ela sorri e diz bom dia. A Laura me olha sem entender nada, começa a me caçoar, falando que já estou afim da aluna nova, respondo falando que já a conheço e mudo de assunto. Pergunto o que ela achou da carta.

            - Cara, é uma baboseira! Mas, como essa menina quer desabafar contigo sem citar nomes? É impossível! Que ao menos ela fale alguns nomes, se não você não entenderá nada. Aliás, talvez, seja uma brincadeira. Espere receber outra carta... se receber. – ela hesita. – Pra mim é uma garota carente que precisa de atenção e tratamento psicológicos, precisa do psicólogo dela novamente, por que a criatura parou de ir ao psicólogo? Em certos pontos de vista, concordo plenamente com ela, pois ela tem um bom pensamento. Talvez ela realmente queira desabafar, mas se você quiser ajuda-la, como fará isso? Se nem ao menos tem o endereço dela, sei lá.

            - Laura e Arthur, silêncio, por favor – a professora de matemática falou.

            Ficamos quietos e pensando no que a Laura havia dito. É claro que só poderia ser uma brincadeira ou alguém procurando ajuda, mas quem? Seria alguém que estivesse ao meu redor e me conhece, é o mais óbvio. Era questão de tempo para descobrir quem era a garota que quer desabafar comigo.

            Depois do colégio vou almoçar com a Laura, ficamos conversando sobre a aula, discutimos um pouco mais sobre a carta, ela me contou um pouco mais sobre a sua viagem e eu falei como fora a semana sem ela. Até que ela me perguntou da Alice. Fiquei surpreso com a pergunta e comecei a falar que a conhecia há muitos anos e que havia a reencontrado ontem na casa do Nicholas e que não queria beija-la, pois a Laura ficou me olhando com uma cara de quem sabe alguma coisa. Voltei para casa e o porteiro me entregou algumas correspondências. Joguei minha bolsa no sofá, peguei um suco, sentei e fiquei vendo quais correspondências haviam chegado, todas destinados a minha mãe, contas a pagar, propaganda, até que vi uma carta com o meu nome “Arthur G. Dawson”.  Só poderia ser da tal garota que queria desabafar comigo, a segunda carta. Abri a carta, era mais extensa que a primeira, comecei a ler atentamente.

“Caro Arthur,

Cá estou eu novamente a escrever uma carta para ti. Desde sexta tenho pensado no que escrever para ti, como devo começar a contar, o que devo contar. É difícil, pois são tantas coisas. Acho que devo começar do modo mais fácil, certo?! Eu realmente não gostaria de falar meu nome e nem das pessoas que me cercam, mas seria difícil de entender de quem eu estou falando, então, usarei nomes aleatórios. Resumindo: trocarei o nome das pessoas. Pode me chamar de Jessica, mas acho que Jess combina mais comigo.

            Arthur, você tem amigos? Amigos de verdade, aqueles que reparam em você, que te abraçam e não falam nada, que te apoiam e é seu alicerce? Nem que seja uma única pessoa! Aquela que te conhece por inteiro, até mesmo sabe quando você mente, aguenta seus dramas e toda sua babaquice (não que você seja babaca, é só um exemplo). Todo mundo tem algum amigo assim, que mesmo que você não queira falar, insiste e mesmo que você não diz, essa pessoa fala “Qualquer coisa estou aqui, tá? Pode contar comigo.”, tenho certeza que você tem, mesmo que seja alguém da sua família, não importa. Às vezes nem precisa dizer isso, mas você sabe que a pessoa estará lá para te ajudar. Então, eu não tenho alguém assim, ao menos não sinto que tenho. Pode ser que alguém se importe realmente comigo, mas nunca passei pela situação de estar chorando e alguém me perguntar como estou, a não ser que seja curiosidade. Ninguém repara quando estou mal, precisando de ajuda e mesmo que eu diga que não estou legal, ninguém se oferece para me ajudar, nem mesmo a Katherine!

A Kath é a minha “melhor amiga”... antes queria que ela reparasse quando eu não estava legal, pois as vezes até uma pessoa qualquer perguntava se eu não estava legal, mas ela nem isso fazia. Ela sempre diz que me ama, que sou a melhor amiga dela, mas nunca repara quando estou mal e mesmo quando eu digo, ela simplesmente ignora, nem ao  menos pergunta se quero desabafar (o que geralmente quero). Quando falo de algum garoto e depois que conto alguma coisa (digamos que um podre), ela começa a falar mal o menino e age como uma ignorante! Pior ainda quando começo a gostar do menino... Ah, aí ela voa para cima de mim. É claro que ela quer o meu bem, mas eu não tenho culpa de gostar de alguém, é algo natural. Ela não me apoia com relacionamentos. Ela namora, mas quando estou afim de alguém ela não quer que eu me relacione. Nunca tem tempo para sair comigo, mas sempre tem tempo para sair com os outros, quando vou sair, saio com outras pessoas, me divirto, mas não com ela. Acredita que nunca saímos juntas? Talvez umas três vezes. Ela nunca tem tempo para mim. Ela cobra tanto de mim e não faz nada! Fala asneira e trata as minhas coisas como lixo. Por quê? Será que sou tão inútil? A Kath é linda, completamente linda e todos os nossos amigos sempre disseram que ela é linda, mas nunca falaram isso a mim. Sempre a elogiaram, sempre fora melhor que eu, a atenção sempre fora para ela e nunca a mim, ela sempre junto a mim, sempre precisa de mim, mas na hora de se divertir, nunca precisa de mim, acho que sou apenas uma boneca em sua vida. Por mais que ela seja uma boa amiga, sinto que falta um pouco mais de esforço da parte dela. Talvez, eu esteja fazendo um grande drama... Além disso, a Kath não gosta dos meus amigos, aqueles que não são amigos dela, ela fica brava e fala mal alguns, fala mal e isso me irrita demais!

Eu me sinto completamente deslocada. Não me encaixo em absolutamente nada, não faço parte de nenhum grupo, nunca participei e sou um extraterrestre. Todo mundo tem seu grupinho, eu também tenho o meu, mas não me sinto parte do grupo. Eu posso até sair com alguém, mas nunca estou realmente inclusa em algo, pois não é sempre que me chamam, fico só e calada quando não procuro alguma “rodinha” para conversar. É estranho, parece que não sou bem vinda a nenhum lugar, talvez realmente não seja.

Arthur, às vezes eu penso que ninguém me compreende. Parece que nenhum amigo está disposto a me ajudar, não sei explicar... É que como as pessoas estão acostumadas a me ver sorrindo, é estranho ficar mal e acho que no fim ninguém repara nos meus pedidos de socorros. Quando falo parece que falo com o oxigênio, mas, nunca com alguém. É difícil ter um bom dialogo que flua e não seja asneira, sabe, eu gosto de conversar coisas sérias, diferentes e contar um pouco sobre mim, mas é difícil ter uma conversa assim, pois são poucas pessoas que realmente escutam e falam algo, o resto apenas finge que escuta e logo muda de assunto.

Eu escuto a todos, mas por que ninguém pode me ouvir? Será tão difícil? Será que a minha vida é tão chata e monótona? Só preciso de alguém para escutar minhas lamentações, sonhos e anseios. É pedir demais? O problema é: tenho certo bloqueio para desabafar, acho que sou muito desconfiada, tenho medo que as pessoas com que eu desabafo me abandonem e me ignorem, não sei. Há pessoas que penso só em desabafar com ela, sei lá por qual motivo! Só sei que é completamente difícil eu conseguir contar tudo o que há dentro de mim, é horrível guardar tudo o que sinto, parece que uma hora irei explodir.

Com carinho, Jess.”

Releio alguns trechos da carta. Eu não conhecia nenhuma Jessica, então, a hipótese de alguém estar usando o verdadeiro nome estava completamente descartado. Juro que não estava entendendo o motivo de tais cartas. E é claro que eu tenho amigos, quem não tem amigos?  É claro que não são todos que notam minhas tristezas, aliás, é difícil eu ficar triste, até chego a achar estranho. E se a Kath não dá atenção a ela, é obvio que a Kath não é amiga dela, a não ser que ela não consiga dar conselhos para a Jess. Eu, particularmente diria para a Jess voltar ao psicólogo, pois eu não sou nenhum especialista e não sei como ajuda-la.

Mas, afinal, como eu posso ajudar essa garota se nem tem como eu me comunicar com ela? É impossível que alguém esteja brincando com isso.

Levo a carta para a Laura ler no colégio, ela leu umas cinco vezes e ficou calada, sem dizer absolutamente nada e me olhou sério. Perguntei o motivo dela estar me olhando tão séria, ela continuou calada e falou que mais tarde iria em casa, então, se levantou e saiu. Juro que não compreendi a reação da Laura!

Quando estava saindo do colégio, esbarro com a Lili e ela me diz apenas um oi e sai andando, corro atrás dela e a chamo.

- Oi Arthur? – ela abre um sorriso.

- Oi Lili – aperto o passo para alcança-la. – Você está indo para casa?

- Não, eu vou dar uma volta por aí – ela hesita. – eu acho.

- Posso ir com você? Aonde você vai?

- Acho que vou ao centro almoçar, só. Pode vir sim.

Nós caminhamos lentamente até chegar a um ponto de ônibus. Conversamos sobre algumas aulas e matérias.  Almoçamos, damos uma volta no centro, sem trocarmos muitas palavras, até que meu celular começa a tocar, era a Laura falando que estava me esperando na porta do apartamento. Esqueci completamente que havia marcado de encontra-la para discutirmos sobre a carta da tal garota, chamo a Lili para ir até a minha casa, não faria mal algum ela saber sobre as cartas.

Por sorte o ônibus que passa perto de casa logo passa e chego uns dez minutos após a ligação da Laura. Quando chego a vejo sentada em frente à porta, ela me vê com a Lili e sorri torto. Ao entrarmos a Laura se joga no sofá e fica me fitando. Mostro as cartas a Lili e ela lê atentamente as duas cartas.

- O que você acha? – indago após o termino da leitura.

- Não acho nada. Acho que ela precisa de ajuda e você precisa ajuda-la ou apenas ler as cartas, não sei.

- Eu acho que o Arthur é um babaca. – Laura comenta. – Ele deve ajudar essa menina, mas cara acho um tanto antiético ficar mostrando essas cartas para o mundo, pois e se for verdade? Arthur, você já pensou na gravidade que tem isso? Eu creio que não seja uma brincadeira. Não sei, acho que você deveria fazer alguma coisa. É difícil saber o que fazer nestes momentos...

- O que eu posso fazer? Nada! A menina que veio atrás pedir ajuda, eu nem sei quem ela é.

- Talvez você conheça, seria o mais provável. Por que alguém em sã consciência iria desabafar com um desconhecido? – Lili observou. De repente a Lesse (minha cadela) aparece e pula no colo de Lili que a fica acariciando.

Era uma ótima observação. Ficamos discutindo sobre a carta, até que o Luc, And, Nic e o Caio apareceram em casa, eles entraram na conversa e havia várias deduções sobre a carta. Houve brincadeiras a respeito da Jess e tudo mais. 


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