Cartas Para Arthur escrita por Stankovica


Capítulo 2
Carta 1




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Cheguei em casa era início de madrugada, me joguei no sofá e liguei a televisão. Estava cansado, o filme fora ótimo, fomos ao Mc’Donalds e logo em seguida fomos a um barzinho. Fiquei trocando de canal, mas não havia nada de atrativo para assistir, desliguei a televisão e fiquei deitado pensando em nada, até que me lembrei da carta que havia recebido, peguei-a e fui para o meu quarto. No envelope estava escrito apenas meu nome, abri o envelope e havia uma carta, a caligrafia era bonita e não conhecia de quem era. Logo comecei a ler.

 “Caro Arthur,

perdoe-me lhe incomodar, mas não sei se algum dia você já ficou desesperado, quase sufocado que não aguentava ficar mais calado. Se um dia sentiu-se assim, creio que me entenderá, se nunca se sentiu assim, espero que nunca se sinta assim. Ultimamente ando sufocada com minhas próprias palavras e preciso que haja alguém para compartilhar o que há dentro de mim. Escolhi-te, pois sinto que é um que sabe guardar segredo, espero não ter errado a esse intuito que tive. 

Quem sou eu? Eu sou a bagunça que ninguém vê, o vento forte em um dia ensolarado, mais uma em meio a multidão. Não sou ninguém que você deveria saber.

Essa carta é apenas um curto desabafo e não uma brincadeira. O anonimato é porque hoje ninguém quer mais saber de ninguém, vivemos em um mundo completamente egocêntrico, ninguém se importa com a minha ou a sua dor. Talvez meu ex-psicólogo, mas ele precisa de mim para ganhar dinheiro, apenas isso. Se não há cliente, não há dinheiro e sem dinheiro ele não pode continuar na moda, comer industrializados, e a moda/indústria sem o seu rico cliente – meu ex-psicólogo e a sociedade – irá falir e assim causará – talvez – uma quebra na bolsa econômica e muitos irão viver na “miséria”. É um ciclo. Sem dinheiro hoje o mundo não anda, ninguém quer saber de ninguém, todos olham apenas para o próprio umbigo, a sociedade hoje está cada vez mais alienada e é difícil ter um bom diálogo com alguém. Adolescentes, o câncer de amanhã.

            Não quero que as pessoas fiquem em cima de mim e perguntem como eu estou, quero que uma ou outra pessoa note isso e queira ter uma boa conversa comigo, de modo sincero, não por pura obrigação. Mando-lhe uma carta, pois tu irás ler, não irá simplesmente me ignorar por ser eu ou irá me ouvir e querer me ajudar por ser eu. Você talvez vá querer ajudar uma simples garota sem ao menos conhecer e isso será de coração, não por obrigação. É que assim, vejo que muitas pessoas me procuram quando realmente precisam, não importa se é por causa de um lápis ou por causa de conselhos. Sou do tipo que escuta todos, mas não sou ouvida por ninguém. Meus gritos não tem som. Sou um pássaro sem seu canto...

            Arthur será você a pessoa disposta a ler meus segredos e lamentações?

            Sofro de perturbações e problemas. Tenho a guerra dentro de mim e não há medico algum que irá conseguir me ajudar, pois em primeiro lugar eu preciso pedir ajuda. E agora, talvez seja meu grito de socorro, grito entre os dedos, a tinta e o papel. Grito apenas por um bom leitor que possa guardar meus segredos e me acalmar por sempre saber que haverá um alguém para – talvez – me compreender ou apenas para aturar minhas insanidades.

Um abraço,

Alguém.”

            Reli a carta três vezes para ver se havia alguma coerência naquilo tudo, parecia mais uma simples brincadeira. Por que alguém escolheria a mim para desabafar? Nunca fui bom conselheiro, nem algo do gênero. Aliás, quem era a pessoa por detrás daquela caligrafia bem feita? Talvez fosse apenas mais uma pessoa louca a brincar comigo.

            Troquei de roupa e adormeci. Fora uma noite sem sonhos.

            Acordei, já era quase a hora do almoço. Tomei um banho demorado, ao sair do banho e entrar no meu quarto, vi a carta que havia recebido em cima da minha escrivaninha, fiquei fitando durante alguns segundos. Meu celular toca, era minha mãe falando que estava me esperando no carro para sairmos.

            - Aonde nós vamos almoçar? – perguntei logo que entrei no carro. – Não vamos comer naquele restaurante vegetariano novamente, né?! Odeio lá.

            - Não, nós vamos almoçar no shopping.

            Há muito tempo não almoçava com a minha mãe no shopping. Quando era pequeno, lembro-me de ir sempre eu, ela e meu pai almoçarmos, assistir um filme ou fazer qualquer outra coisa, eu adorava, fazia muita bagunça e depois dormia no colo do meu pai. Minha mãe estava começando a envelhecer, seu rosto era cansado, mas feliz. Ela sofrera muito com a separação, ficava em casa e não queria sair, mas hoje ela já superou, sai com as amigas e vive festando por aí. Sinto uma grande nostalgia. Abro a janela do carro e deixo o vento bater no meu rosto, na rádio toca uma música calma, o que me faz sentir leve.

Logo chegamos ao shopping, vamos direto para a praça de alimentação. Minha mãe vai até um self servisse, eu compro um Mcdonalds, estava faminto.

- Mãe, você sabe quem que me mandou aquela carta ontem?

- Não, por quê? Eu iria lhe perguntar de quem era. Alguma admiradora secreta? – ela riu.

- Claro que não mãe, era só pra saber. – dou um gole no meu refrigerante. – vamos ao cinema?

- Hoje? Nós dois?

- É mãe, a não ser que a senhorita tenha algum encontro marcado e não me contou – a fitei. – se quiser me trocar, tudo bem. Aguento o sentimento de filho abandonado, sendo trocado por um cara qualquer pela minha própria mãe. – dramatizei.

- Chega de drama Arthur, por favor!

Ela concordou e fomos ao cinema depois de almoçarmos, assistimos a um filme de comédia. A tarde foi completamente boa, há muito tempo não me divertia tanto com a minha mãe.

Domingo. Nicholas me manda uma mensagem falando que era para eu ir de tarde à casa dele que iria algumas pessoas lá. Almoço, me arrumo e vou andando até a sua casa. Toco o interfone e logo entro na casa.

- E aí Arthur – Nicholas me cumprimenta. Há duas meninas na sala sentadas, não as reconheço. Uma tem o cabelo bem escuro e a outra tem o cabelo mais claro.

- E aí Nic – vou até a sala acompanhando de Nicholas.

- Essa daqui é a Ju – a garota de cabelo mais claro, diria que é um castanho. Cumprimento-a. – e essa aqui é a Lili – a garota de cabelo escuro. – Meninas, esse é o Arthur.

- Não precisava ter me apresentado a ele – Lili comentou com um sorriso. – Nós já nos conhecemos. Talvez ele não se lembre de mim, mas me lembro perfeitamente dele. Não mudou nada, continua com a mesma cara de bobão.

- Aé? – Nicholas perguntou. – Beleza então, só falta o Luc e a And chegarem. A Laura falou que não vem. Vou pegar uma bebida para nós.

Sentei-me no sofá e a Lili veio ao meu lado, ela tinha o cabelo bem preto e não era muito comprido, usava uma blusa branca, calça, all star vermelho e uma luva de braço. Fiquei a fitando por meio segundo, até que ela falou.

- É sério que você não me conhece?

Hesitei. – Me perdoa, mas não me lembro de você – falei constrangido.

- Alice Mortensen, nós já estudamos juntos, até saímos algumas vezes juntos. Isso foi há uns três ou quatro anos atrás... nem faz tanto tempo.

- Alice! – lembrei-me dela na hora. Havia muito tempo que não a via e não tinha nenhuma rede social dela. Nós saímos algumas vezes quando eu tinha uns 14 anos e ela era muito diferente, depois ela mudou para Portugal se não me engano. Ela não era tão bonita quanto eu me lembrava. – Você mudou muito, nossa. Quando você voltou?

- Mudei um pouco – ela sorriu. – voltei esse mês. E você, continua aprontando? – ela riu. – Aprendeu a fumar?

- Você aprendeu a beber? – retruquei.

- Não bebo mais – ela sorriu.

Nicholas chegou com quatro garrafinhas de cerveja e nos deu. Logo Luc e And chegaram. Passamos a tarde inteira conversando e rindo. Os pais do Nicholas haviam viajado e voltavam apenas de madrugada, então, não poderíamos quebrar a casa, para que o Nic não fosse quebrado depois, mas não houve como não nos divertir. A And contou suas histórias malucas e o Luc fez piadinha das histórias dela – os dois haviam um amor oculto, impossível. – e ela como sempre o xingou.

 Conversei muito com a Alice e relembrei os velhos tempos com ela, fora ótimo. Relembramos das saídas que tivemos. Ela havia mudado, acho que havia amadurecido. Quem diria que aquela Alice Mortensen, loirinha, gordinha e toda desengonçada fosse essa Alice! Ela estava com o cabelo mais negro que a noite, magra e não tinha mais um jeito desengonçado, toda a insegurança que ela tinha se fora com o tempo.

 Depois de beber um monte a Ju pulou para cima do Nicholas e deu um beijo nele, ambos haviam bebido demais; eu estava sobreo, idem a Alice que depois de ver a Ju beijando o Nicholas riu e a puxou para irem embora. Estava cansado, resolvi acompanha-las, mas elas já haviam pedido um táxi, então fui embora sozinho andando de volta para casa. Era meu ultimo dia de férias. 


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