Melody era uma menina diferente das outras, desde pequena admirava as armas de seu pai e sonhava em um da empunhar uma daquelas como uma guerreira da Aliança, mesmo que seja impossível.

Ajudava sua mãe no sustento da casa e dedicava-se ao treinos escondidos no tempo livre. Tornou-se uma mulher exímia no uso das lâminas e , em um belo dia, sua oportunidade de ouro chegou.

A disputa pelo poder batia às portas do País Azul e seus jovens precisavam sair dos campos e se alistar para A Seleção, uma academia de luta onde dali sairá o guerreiro que representará o país. Melody desejava com todas as forças entrar para a academia, todavia, apenas homens podiam se tornar guerreiros, para sua tristeza.

Um forte conflito ardia dentro de si cada vez que seus olhos cruzavam com um dos papiros de recrutamento, sempre fora uma pessoa determinada e não deixaria se abater por uma regra estúpida, mesmo que seja uma tradição de eras.

Fez uma coisa que mudaria sua vida para sempre, não sabia se o arrependimento a tomaria depois já que estava caminhando para a morte por tal afronta, tão pouco pensou em como poderia realizar essa proeza; apenas assinou um nome novo e estranho no documento, o primeiro nome que veio a sua cabeça e que agora seria sua identidade : Telos Karon.

Deu meia-volta e rumou para casa em passos largos, a concentração seria no dia seguinte e precisava se preparar, ocultar-se como uma pérola em uma ostra, agora não seria mais Melody, mas sim Telos, o guerreiro da água.

Com as mãos trêmulas de medo e excitação cortou seus longos cabelos negros na altura do ombro ,o amarrou   e enfaixou seus seios para esconder o pouco volume que tinha. Vestiu então a couraça de seu pai e, com uma capa azul foi para a academia.

Como nenhuma mulher ousaria arriscar sua própria vida para algo tão tolo, o comandante não se preocupava em verificar quem era do sexo masculino ou não, para alívio de Melody que, ostentando o olhar duro e intimidador, respondeu com firmeza :

- Sou Telos Karon e estou pronto para começar os treinos.

- Ótimo, parece que tenho mais um moleque que se acha um homem aqui...vamos ver o que sabe fazer.

Com tamanha violência jogou uma espada e um escudo para ela que com muito esforço não recuou alguns passos, queria parecer forte para seu comandante, digna do título e confiava em suas habilidades.

Todos formaram uma fila, cada um com suas armas, perante o comandante que escolheu os parceiros para uma demonstração de técnicas em luta corporal. Após uma ordem ríspida, todos começaram a lutar sob o olhar atento de seu professor.

Melody demonstrou sua elevada habilidade e rapidamente fez seu oponente ir ao chão para a surpresa de seu treinador que, vendo um promissor guerreiro se aproximou :

- Você tem garra e força apesar de seu pequeno porte físico, porém está muito nua em técnicas. Mesmo que tenha habilidades a inteligência se faz necessária, use a espada como extensão de seus braços e a controle com sua cabeça.

Ela sabia disso, como poderia ter algum tipo de técnica se aprendera sozinha no fundo de um quintal? Apenas assentiu e ajudou seu parceiro que ainda estava no chão a se levantar.

Conforme as semanas se passaram, Melody, que agora era Telos, se destacava mais e mais em seus treinos, nenhum homem, por mais robusto e ameaçador que fosse caia sob o fio de sua espada, entretanto, a solidão e a saudade de sua mãe era imensa, já que não podia se misturar com os outros rapazes por ser uma mulher disfarçada, e seu segredo tornava-se mais perigoso conforme subia de nível e ganhava destaque.

Ao passo de seu parceiro  de treino se tornar o próprio comandante, a luta entre eles era uma dança de lâminas e fagulhas, onde ninguém superava seu adversário; filetes de sangue jorravam pelos cortes pelo corpo e ambos eram vencidos pela fadiga. Assim se passou e Telos se tornou um senhor das armas, conhecido por todos pelos seus feitos e por sua espada mortal. O que ninguém sabia era que por trás daquela máscara se escondia uma doce mulher de coração puro.

O grande dia chegou, o rei Aterius iria pessoalmente escolher seu guerreiro e levá-lo para o palácio onde a cerimônia de título aconteceria perante todos os reis e nobres dos quatro reinos da Aliança. Como era o destino, Telos foi escolhido por ser o melhor daquele lugar e com orgulho o pequeno e ágil guerreiro se curvou perante seu senhor e o acompanhou até o palácio, onde se reuniriam em uma grande festa.

Ao cruzar o imenso salão imperial todos fizeram silêncio e pousaram os olhos em direção a Melody, como sinal de respeito e curiosidade; cada passo a deixava mais perto da glória e de seu sonho, mas também de sua morte. Ajoelhou-se perante seu rei e abaixou o rosto em sinal de submissão, trajava a armadura azul com um símbolo de polvo em seu peito, brasão de seu país. Esperava ansiosamente receber a espada dupla da Verdade. O rei então colocou o elmo em sua cabeça e ao entregar a espada prateada, exclamou :

- Telos, agora és um guerreiro da Aliança! Com a espada da Verdade guiará a nação para a vitória. Levante-se , meu cavaleiro!

Houve uma salva de palmas de toda a nobreza ali presente, quando suas mãos tocaram a espada, ela se transformou em um lindo bracelete com safira para a admiração de Melody.

- A arma é encantada, cada guerreiro tem a sua própria de acordo com a personalidade e essência, não se assuste com a magia pois ela estará em todo lugar durante sua jornada.

- Claro, meu rei.

- Agora vou apresentar seus novos companheiros...os outros guerreiros de cada país, aproximem-se por favor.

E do meio da multidão saíram três homens com trajes reluzentes semelhantes ao seu porém o que a deixou perplexa foi a postura imponente e confiante de cada um deles, com o caminhar firme o guerreiro de armadura vermelha e escudo de leão se aproximou e retirou seu elmo, tirando todo o fôlego que ela tinha com sua beleza. Tinha cabelos loiros e olhos castanhos avermelhados calorosos, pele bronzeada e porte atlético. Com uma voz potente se dirigiu ao recém guerreiro :

- Seja bem-vindo ao grupo, sou Dave e cavaleiro da nação vermelha. Este é Aegis, o guerreiro do reino Amarelo.

Ele apontou para um rapaz de cabelos castanhos bagunçados e olhos azuis que cumprimentou com um aceno, o falcão cinza escuro em seu peito mostrava o poder do reino Amarelo, o que contrastava com o amarelo de seu traje.

- E Ethan, escolhido do reino Verde.

O homem que levava o touro em seu peito cumprimentou com um aperto de mão forte e decidido mas seus olhos verdes escuros expressavam conhecimento  e tranqüilidade;  tinha cabelos negros e pele morena, usava uma armadura da cor de seus olhos.

- Muito obrigado, espero ser um ótimo companheiro para vocês.

Após a cerimônia, houve uma grande festa no palácio com muita música, dança, bebidas e especiarias, a alegria era plena e os corações se enchiam do delicioso sabor do vinho,mas, enquanto as paredes do palácio eram fartas de música e risadas, o rei Negro tramava dentro de sua fortaleza  novas formas para ,enfim, recuperar o Livro Antigo e derrubar de uma vez por todas seus inimigos.

A taça de vinho estilhaçou-se em suas mãos ao ouvir a notícia que um novo grupo de guerreiros se formou, seu furor chegou em seus olhos duros e cruéis, para o infortúnio de seu espião.

- COMO OUSAM? ! DEPOIS DE INÚMERAS DERROTAS PARA MEU EXÉRCITO AQUELES IDIOTAS AINDA TEM ESPERANÇAS? FAREI O QUE MEU FRACASSADO PAI NÃO CONSEGUIU E ESCREVEREI MEU NOME NA HISTÓRIA!

O servo encolheu-se de pavor perante a ira de seu senhor e toda a corte se manteve em um silêncio constrangedor quando as portas se abriram e, em elegantes trajes negros e cinza, os dois príncipes entraram a passos largos ,trazendo notícias da expedição. O mais velho deu um passo a frente e, curvando-se, falou :

- Meu pai, trago notícias ruins  a respeito de nosso exército, ainda não conseguimos passar da floresta de Petije. Aqueles que entram nunca mais são vistos, então não sabemos com o que estamos lidando.

O príncipe mais novo apenas se pôs atrás do irmão, esperando mais uma das explosões de raiva de seu pai em silêncio, alheio a toda aquela cena.

- Vocês são um bando de incompetentes! Como posso ser um grande líder se tenho filhos que não conseguem vencer uma floresta com um exército!

Seu olhar se desviou para o mais novo, o silêncio  e a tranqüilidade fria o irritava profundamente :

- E você? Não falará nada ao seu favor? Ou sua coragem se perdeu no caminho?

- Não tenho nada a declarar, meu irmão relatou toda a situação e agora receberemos nossa punição.

- VÃO! SAIAM DA MINHA PRESENÇA, TODOS VOCÊS!

Sentou-se novamente em seu trono enquanto seus filhos faziam uma nova reverência e se retiravam juntamente com sua corte que rapidamente se dispersou, temendo um castigo de seu rei. Apenas o quadro de seu pai fazia companhia a Erion naquele vasto salão, a pior delas naquele momento; seu manto rubro se agitou ferozmente conforme andava até a parede onde ficava a pintura de seu pai, com o olhar de puro rancor fixado na imagem , sussurrou :

- Eu serei maior que você.