Eu não sei se estava triste por ter derrubado o milk-shake tamanho viking porque ele era muito bom, ou porque não teria mais onde me afogar. Só sei que a blusa de Astrid estava toda ensopada e ela não parecia nada contente. E, Santo Thor, o milk-shake estava formando uma mancha enorme e molhada no tecido da blusa.

Milk-shake mancha? Espero que não, porque aquilo estava realmente feio.

– Me desculpe Astrid! – Falei para ela, com a voz tremula de nervosismo. – Astrid, me desculpe! – Acho que ela havia entendido a minhas desculpas, mas não custava nada repetir. Principalmente se quem estivesse falando fosse uma ameba que derrubou alguma coisa na sua blusa. – Calma, eu vou te ajudar! - Ela suspirou e revirou os olhos, esticando a blusa para ver o estrago feito.

Pensei em pegar alguns guardanapos de cima da mesa pra tentar limpar aquela mancha enorme, mesmo que não fosse nada útil. Meu pai sempre dizia; “O que vale é a intenção”. Certo, mas a minha intenção não era molhar Astrid.

Ou era? Não, acho que não.

Virei-me pra pegar alguns guardanapos e os encontrei, perto do lugar em que estava sentado antes. Peguei um punhado e enfiei no bolso da jaqueta, andando até Astrid, entregando alguns para ela e voltando para buscar mais.

Então percebi que havia uma pessoa a mais na mesa; um desconhecido sentado no meu antigo lugar, conversando com as meninas e se apresentando para Jack.

As meninas riam de algo que ele falava e Jack tomava seu milk-shake parecendo entediado com tudo aqui. Quando ele viu que eu estava olhando para o desconhecido, ergueu os ombros, confuso.

Um desconhecido! Um desconhecido que parece ser bem legal e descolado; Ele usava uma boina sobre os cabelos e tinha um colete sobre uma blusa estampada. E tinha barba de verdade!

Passei a mão pelo meu queixo procurando algum pelo, mas não encontrei nada. Se fosse pela genética, pelo menos, eu deveria ter um cavanhaque já que meu pai parece um macaco de tão peludo.

Porque eu não podia ter uma barba legal também?

– Eai? – Ele acenou pra mim, enquanto pegava o milk-shake de alguém. – Soluço, certo? - Acenei de volta, enquanto ele esticava o pescoço para ver atrás de mim. – Cara, você derrubou sorvete na Astrid.

– É milk-shake. – Nós concordamos com a cabeça e ele esticou de novo o pescoço olhando para trás, tentando ver Astrid.

– Parecia bem... – Uma pausa para completar a frase e eu tentei dizer algo.

– Gelado? – Ele colocou a mão no queixo e acenou com a cabeça de novo.

– Sim, mas parece molhado também. – As meninas riram alto, Jack quase engasgou com o milk-shake dele e o desconhecido e eu demos de ombro.

– Sim! Está gelado e molhado! – Ouvi a voz de Astrid vir de trás de mim, começando a se aproximar, me empurrando para o lado para pegar mais guardanapos. – Babacas! – Ela passou os papéis na blusa, jogando-os em cima da mesa depois.

– É só uma blusa. – O desconhecido disse, analisando o pano molhado. – Você tem outra igual a essa, não tem? Com uma caveira cheia de borboletas e... O que é isso? – Ele apontou pra algo na blusa com uma careta no rosto.

– É uma flor! – Astrid disse, empurrando ele para o lado e se sentando também.

– Uma flor muito feia, por sinal.

– Cala boca Flynn! - Então aquele era o tal do Flynn. Rapunzel e Merida pareciam conhecê-lo há algum tempo e Punzie ficou super contente quando o viu. Ele deveria ser importante. – De qualquer forma, vim aqui convida-los para um show que vamos fazer hoje à noite. – Astrid disse, jogando os cabelos de cima do ombro e se inclinando para o meio da mesa parecendo animada.

Astrid iria fazer um show e estava me convidando? Ok, estava convidando todos ali presentes, mas eu estava junto e ela me convidou! Meu estomago se contorceu como toda vez acontece quando vejo Astrid, mas dessa vez não senti vontade de vomitar.

Obrigado Thor!

Me sentei do lado de Jack e fiquei quieto para prestar atenção na conversa. Pelo que entendi, o show seria em algum bar no centro da cidade, aonde muita gente iria e o salário pelo show seria grande.

– Eai? Vocês vão? – O sorriso de Astrid era lindo e eu queria vê-la sorrir mais daquele jeito, então com certeza eu iria naquele show!

–

– Nem pensar! – O que? Porque? – Você ainda não saíram do castigo por causa de ontem a noite. – Elinor andava de um lado para o outro, gesticulando com as mãos enquanto nós quatro estávamos novamente sentados no sofá. – Você podem até ter dezoito anos, mas ainda moram na minha casa! Nada de shows por enquanto, entenderam?

– Mas mãe... – Merida tentou protestar, até chegou a levantar do sofá para dialogar com Elinor. As duas ficaram frente a frente uma para a outro e pude ouvir Rapunzel suspirando, ainda sentada no sofá.

– Lá vamos nós de novo.

– Nada de mas! É o segundo dia dos meninos aqui e vocês só pensam em leva-los em festas. Sem contar o que aconteceu com Jack hoje mais cedo, vocês pensam que está tudo bem com ele? – Elinor apontou para Jack que tinha alguns curativos no rosto. A ruiva estava com os braços cruzados em frente ao corpo, parecendo muito irritada.

Algum tempo de silêncio dominou o lugar, enquanto meus olhos ficavam presos no chão, procurando alguma coisa interessante para pensar até a brigar acabar. Então senti Rapunzel se mexendo no sofá, se levantando depois de lançar um olhar para mim e para Jack, buscando ajuda.

– Certo. – Ela chamou a atenção das duas enquanto se aproximava amigavelmente. – Eu realmente queria ir no show, porque Flynn vai estar lá e Astrid estava muito animada, mas.. – A loira olhou para Merida e depois para Elinor, suspirando em seguida. – Estou cansada.

– Punzie! – Merida exclamou, parecendo que estava sendo traída pela amiga. – Pensei que estávamos juntas nisso!

– Mas hoje eu quase fui esmagada por caixas gigantes e os meninos não parecem tão animados assim, principalmente Jack! – Punzie disse, apontando para Jack, que suspirou e se apoiou em uma almofada no sofá. Eu queria ir no show, mas não poderia ir sozinho. – Vamos locar um bom filme na locadora aqui perto e faremos pipoca com queijo. – Ela abraçou Merida por trás, tentando convence-la. – Vai ser legal!

– Ah! Façam o que quiser! – Merida disse, se jogando na poltrona próxima depois de se separar de Rapunzel. Por um momento achei que nada estava dando certo; nem o show, nem o filme, mas então ouvi a voz fraca de Merida vindo de trás de uma almofada que ela abraçava – Mas a pipoca com queijo é minha.

– Tudo bem então. - Pude ver Elinor se aliviando e sorrindo para todos nós. Os três gêmeos desceram as escadas correndo com alguns brinquedos em mãos no mesmo momento em que ela tirou do bolso de seu terninho e entregou para Rapunzel algumas notas. – Vá locar os filmes e comprem a pipoca. – Algum dos meninos se esticou em frente dela pedindo colo. – Liguem para Astrid avisando que não irão.

– Pode deixar! – Rapunzel sorriu radiante, girando para nossa direção. – Quem vai comigo? - Todos nós nos levantamos na mesma hora. Talvez fosse só impressão minha, mas um pequeno sorriso apareceu no rosto de Elinor quando viu a cena.

Saímos de casa e paramos em frente à calçada, olhando para a rua ainda movimentada. Partindo em direção à locadora, que segundo Merida, não ficava muito longe.

– Soluço, seu cadarço. – Jack disse, apontando para meu tênis desamarrado. – Lembre-se de que se você bater seu cabeção no chão é perigoso ele rachar.

– Claro, sempre me lembro disso. – Disse, me ajoelhando para amarrar os cadarços. Jack, como sempre, me deixou para trás e foi se apoiar em alguma parede enquanto as meninas conversavam sobre que filme iriam escolher.

Levantei meus olhos para eles, vendo de relance o relógio eletrônico perto do semáforo. Mais quatro horas e meu segundo dia em Corona estaria terminando.

Nesse curto tempo conheci uma garota corajosa de gênero forte. Outra garota que sorria muito e que sempre era gentil. Outra que era talentosa e que cantava em uma banda. E um cara que era descolado e popular.

– Pode ser ou ta difícil? – Merida gritou, colocando as mãos na cintura e me olhando.

– Alguém, por favor, vá ajudar ele a amarrar a droga do sapato? – Jack então disse, suspirando e revirando os olhos. Me levantei e corri até eles, sorrindo um pouco ao ver que tudo que estava acontecendo comigo era na companhia daqueles três.

Enquanto ouvia Rapunzel me perguntar qual filme de terror eu preferiria, vi aquele mesmo cachorro da praça do outro lado da rua. Solto, sem ninguém por perto e parecendo perdido.

Então, como se fosse por mágica, ele me encarou e o sinal ficou vermelho, impedindo os carros de passaram. Os olhos grandes dele se fixaram em mim quando Rapunzel me cutucava tentando avisar sobre ele.

–Soluço, o cachorro da praça. – Ela disse e o cachorro correu, atravessando a rua, vindo em minha direção. Claro, tinha que ser na minha direção. Sempre é assim. Merida a agarrou pelo braço, começando a puxa-la para longe, enquanto eu e Jack nos olhávamos.

– Soluço, porque toda vez que você sai de casa acontece alguma coisa? – Jack gritou indignado enquanto o cachorro se aproximava. – Porque eu sempre tenho que estar junto quando isso acontece? – Ele se virou e começou a correr, sendo seguido por mim.

– Amigos são para isso. – Corria ao lado dele, logo atrás das meninas.

– Calem a boca e corram! – Merida gritou, correndo loucamente e puxando Rapunzel com ela. Os cabelos das duas balançavam para todos os lados, fazendo um belo contraste. Seria bonito ficar olhando, mas havia um cachorro correndo atrás de mim. De novo.

Santo Odin, agradeço por mais um dia junto com meus novos amigos. Só que você poderia parar de me colocar em encrencas, por favor? Obrigado.