Tudo que Vai Volta Ii escrita por kaka_cristin


Capítulo 20
Capítulo 20


Notas iniciais do capítulo

Gente to tão triste com a morte da Brittany, eu adorava os filmes dela :(
Postando antes q minha internet vá embora
bjuss



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Bati a porta de casa, mas ninguém apareceu pra me importunar. A sala estava vazia, e tudo estava silencioso, mas então um barulho na cozinha chamou a minha atenção. Minha mãe estava sentada à mesa socando alho. Ela levantou os olhos com curiosidade, ao me ver voltou a se concentrar no que fazia. Eu a observava usar a faca enquanto picava cebolas, eu não queria pensar naquilo, mas acabei me indagando o que aconteceria se ela se machucasse e acabasse caindo alguma gota de seu sangue infectado na comida. Eu me recriminei por imaginar aquelas coisas. Ela voltou a me encarar, então continuou o que fazia.

- Não se preocupe, eu sempre tive muito cuidado com essas coisas. – Ela me disse como se lesse meus pensamentos. – Eu sempre usei meus próprios talheres, minha própria toalha, sempre lavei minhas roupas separadas, por precaução. – Eu queria dizer que não me importava com isso e que não havia riscos, mas não consegui. – Nunca se sabe o que é verdade ou não sobre o que dizem por aí a respeito da contaminação.

Eu me aproximei da mesa e me sentei na outra ponta, de frente pra ela.

- O fato da Kate estar morando aqui foi por causa disso?

Ela balançou a cabeça em negação.

- O Marcus realmente a traiu e ela saiu de casa. – Ela disse se levantando e despejando os picadinhos de alho e cebola numa panela.

Eu me ajeitei na cadeira, um tanto sem jeito pra fazer aquela pergunta, mas se ela começou então deveria dizer tudo, abrir o jogo comigo.

- Quanto tempo você ainda tem?

- É muito relativo. Eu posso morrer hoje, mas também posso morrer daqui a alguns anos, vai depender de como anda a minha saúde.

Eu abri a boca pra dizer alguma coisa, mas me calei. Me levantei e fui ao quarto da Jessy que estava dormindo tranquilamente. Kate não estava em lugar algum da casa, pensei se ela não tinha ido embora depois de tudo que aconteceu, mas não voltei à cozinha pra perguntar, eu estava chateada e sem fome. Fui pro meu quarto e me deitei na cama. Virei para todos os lados, mas não consegui dormir. Eu queria muito pegar no sono, pois todas as vezes que eu acordava após um bom cochilo eu me sentia melhor. Abri meus olhos e peguei meu celular. Havia uma ligação perdida do Wallace. Fechei o celular e o coloquei de volta debaixo do travesseiro. Eu não queria falar com ele. Toda a minha excitação em sair com ele se esvaiu. Tudo o que eu queria era que nada disso estivesse acontecendo. O que minha mãe queria dizer com talvez não estar certa em afastar o Gerard de mim? Gerard... Eu não queria, mas sinto tanto a sua falta. Peguei meu celular e procurei pelo número dele na agenda. Eu não sabia se aquele ainda continuava sendo o número de seu aparelho celular, mas eu tinha vontade de ligar só pra poder ouvir sua voz novamente. Por que ele teve que aparecer? Por que ele teve que me entregar aquelas malditas alianças? Enfiei minha mão no bolso da minha calça de flanela e puxei a caixinha. Eu abri a pequena caixinha de veludo preto e tirei uma das alianças. “Gerard e Natasha 4 ever”, estava escrito em seu interior. Eu me sentei na cama e avistei a caixa num canto perto da porta. Alguém deve ter colocado ali já que eu não me lembrava de ter feito isso.  Me ajoelhei na frente dela e abri a tampa dela. Não precisei revirar muita coisa pra achar uma foto nossa. Segurei aquela foto com minhas mãos e uma lágrima caiu bem no meu rosto jovem. Passei o dedo secando a lágrima e então passei o dedo pelo rosto do Gerard.

- Onde será que você está agora?

Nova Jersey, aqui estou. De volta à onde eu nunca deveria ter saído. Se eu soubesse onde tudo iria chegar, eu nunca teria pego aquele avião pra correr atrás dela. Nevava quando saí do aeroporto. Coloquei minha mala no chão esperando por um táxi que não demorou muito, quando me aproximei para entrar uma pessoa colocou a mão na maçaneta da porta por cima da minha. No começo fiquei um pouco assustado achando que fosse um assalto, mas no segundo seguinte percebi se tratar de um engano.

- Me desculpa. – Disse a menina de cabelos castanhos e olhos grandes e verdes. – Eu estou tão avoada, não te vi.

- Ah, tudo bem. – Eu disse como se não me importasse.

- Todo seu. – Ela disse apontando pro táxi e recuando alguns passos.

- Pra onde você vai? – Eu perguntei educadamente. Ela parecia um pouco perdida.

- Bom, - Ela passou a mão pelo cabelo parecendo confusa. – Peraí. – Ela tirou um papel de dentro do bolso da calça e me estendeu. – Desculpa, eu nunca estive aqui antes, então estou meio perdida. Isso está muito visível?

Eu dei uma risada estendendo o papel de volta pra ela.

- Nós podemos dividir o táxi. É caminho pra onde eu estou indo e eu te ajudo a não ser roubada. – Então eu diminuí o tom da minha voz. – Os taxistas têm uma péssima mania de fazer os turistas pagarem mais caro a viagem dando voltas desnecessárias pela cidade.

- OK. – Ela concordou animada. Eu coloquei minha mala no porta-malas e ajudei-a com as dela, então nos sentamos os dois no banco traseiro. Eu disse ao motorista onde ela ficaria já que era antes do meu destino, então ele começou a dirigir.

- Então, está aqui por quê?

- Sou modelo. – Ela disse com simplicidade. – E você?

- Morador. – Eu disse sem entrar em detalhes.

- Posso te falar uma coisa? – Ela me perguntou após alguns segundos em silêncio.

- Claro.

- Eu não pude deixar de notar que você se parece muito com aquele cantor, Gerard alguma coisa.

Eu ri sem graça. Aquilo sempre acontecia, mas eu ainda não tinha me acostumado com isso. Eu ficava sem saber o que dizer.

- Então é você mesmo? – Ela quis confirmar.

- Sim. – Eu respondi um tanto sem graça.

- Eu sabia! Eu fui uma das modelos naquele desfile que vocês cantaram, lembra? Você cantou aquela música assim. – Ela fazia o som da música “Teenager” com a boca. Eu achei engraçado. – Desculpa, eu não sei a letra. – Disse ficando sem graça.

- Tudo bem. – Eu fiz que não me importava.

- Nossa, você canta tão bem. Eu confesso que nunca tinha ouvido suas músicas antes, mas eu bem que gostei.

- Obrigado.

- Eu preciso te confessar uma coisa. – Eu continuei a olhá-la esperando a confissão. – Eu fiquei te observando no avião. Eu vi quando se levantou duas vezes para usar o banheiro. Me desculpa a sinceridade, eu não estava querendo bisbilhotar, mas é que eu tinha certeza de que te conhecia de algum lugar. – Ela disse falante. – Nossa, você me dá um autógrafo?

Eu estava achando aquilo tudo muito engraçado. Ela puxou um papel da bolsa que carregava no ombro e então eu pedi uma caneta ao motorista que a tirou do bolso de sua camisa social.

- Pronto. – Eu disse após rabiscar meu nome no papel.

- Ah, pode colocar meu nome? – Ela perguntou impulsiva, então fez uma careta. – Se não for pedir demais.

- Claro que não. – Eu disse fazendo uma dedicatória padrão que eu costumava escrever aos meus fãs.

- Ótimo. A minha amiga não vai nem acreditar. – Ela dizia enquanto guardava o papel na bolsa. – Cara, que legal. Eu nunca ia imaginar que um dia esbarraríamos por aí.

- Pois é. O mundo às vezes parece ser do tamanho de uma caixa de alfinetes. – Eu resolvi interagir.

- Não é? – Ela arregalou os olhos fazendo-os parecerem ainda maiores. – É o que eu sempre digo pra minha amiga. Uma vez eu viajei pro Brasil para o São Paulo Fashion Week e adivinha? Encontrei um vizinho meu passeando por lá. Como eu ia imaginar que algum conhecido meu estaria lá? Esse mundo é mesmo pequeno.

Eu não parava de rir com o jeito dela. Típico para uma adolescente. Tudo bem que ela não devia ter menos que vinte, mas era doidinha como as garotas dessa idade. Admito que ela falava demais, mas isso foi bom, enquanto ela estava no táxi eu me esqueci completamente de tudo que me atormentava. É claro que estou me referindo a Natasha. Ela é a principal causa dessa minha mudança.

Quando o táxi parou em frente a casa dos meus pais eu guardei o papel com o telefone da Betty, era esse o nome da garota falante, dentro do bolso da minha jaqueta, então desci do táxi. Peguei minha mala e então paguei ao taxista que logo depois de contar nota por nota, se foi. É, eu paguei toda a passagem. Betty ainda não era uma modelo muito famosa, e eu sabia como elas sofriam com a falta de dinheiro. Eu sei por que a Jasmine também já tinha sido uma quando mais nova e me contava como era. E além do mais, aquela quantia não me faria falta, não pelo menos por alguns meses até que eu me estabilize e arrume um novo trabalho. Arrastei minha mala de rodinhas até a entrada da casa, então retirei a minha antiga chave de casa do bolso da minha calça. O que eu achava que fosse impossível, já que fazia bastante tempo, aconteceu, meus pais ainda mantinham a mesma fechadura. Quando eu dava a primeira volta para destrancar a porta, outra pessoa do outro lado desta foi mais rápido, quando esta se abriu, a imagem de uma senhora de cabelos esbranquiçados me chocou. Ela ainda parecia a mesma de anos atrás quando decidi me mudar pra Los Angeles, mas agora ela parecia não ligar pra vaidade, seu rosto estava tomado por rugas e junto com o cabelo sua aparência deixava aparentar mais idade do que ela verdadeiramente tinha. Minha mãe abriu os braços com os olhos lacrimejados, então me abraçou quando dei um passo a frente para alcançá-la.

- Meu filho. – Ela disse com a voz embargada.

- Mãe. – Minha voz também estava um tanto embargada pela emoção. Parecia que eu tinha ido por anos para outro estado. – A senhora está bem? – Eu perguntei ao recuar, fazendo uma análise dela.

- Estou meu filho. Ainda mais agora. – Ela falou contente secando as lágrimas que se manifestaram.

- Que bom. – Eu disse abraçando-a novamente. Eu não podia negar que estive morrendo de saudades de vê-la. A última vez que fizemos contato pessoal foi na última vez que eu decidi ir procurar pela Natasha. Depois disso eu pensei em vir visitá-la para contar as boas novas: que eu havia encontrado a Natasha, e que nós iríamos nos casar, mas depois de tudo que aconteceu, o nascimento de Nicole e posteriormente sua morte, antes mesmo que eu tivesse oportunidade de conhecê-la, eu resolvi me isolar de todo meu passado.

- Entre meu filho. – Ela disse preocupada, pois fazia frio do lado de fora, eu tinha quase certeza de que começaria a nevar a qualquer momento. Minha mãe ainda tentou levar a minha mala, sempre prestativa, mas eu tirei seus dedos delicadamente da alça e fiz questão de eu mesmo carregar. Eu não queria dá-la trabalho.

- Não seria trabalho algum. Eu faria questão de carregá-la. – Ela disse após fechar a porta.

- Uau! – Eu exclamei surpreso ao dar uma conferida a minha volta. Tudo continuava a mesma coisa, os móveis, o cheiro acolhedor de jasmim do bom ar, o tapete no centro da sala, até mesmo o telefone, porém, além dos quadros antigos que minha mãe havia pendurado pela parede para enfeitar (alguns pintados por mim), também haviam vários recortes emoldurados de minha trajetória na banda. Meus olhos se encheram de lágrimas ao ver isso e me lembrar do tempo que fiquei sem dar noticias. Todo esse tempo, o único meio de saber sobre a minha vida eram jornais e revistas. Eu me senti tão culpado que senti minha garganta se fechar, e as vistas ficarem embaçadas.

- Viu como nunca nos esquecemos de você? – Ela perguntou com um tom levemente acusativo, mas ao mesmo tempo cheio de orgulho. – Seu pai e eu sempre trazíamos tudo o que encontrávamos na banca de jornal e comprávamos moldura na loja da esquina para pendurarmos na parede da sala. – Ela disse com um sorriso doce nos lábios olhando para cada um dos quadros. – Até mesmo os vizinhos as vezes nos ajudava e enviavam alguns recortes para a nossa coleção. E isso, é só o começo. – Ela disse apontando para a parede.

Nesse ponto eu não conseguia mais segurar o choro.

- Onde está o meu pai?

- Ele foi dar uma saída, mas já deve estar chegando. Não ia demorar.

Eu olhei mais uma vez para os quadros, todos cuidadosamente postos lado a lado, quase que uma espinha de peixe traçada na parede, a respeito da minha vida.

- Sente-se. – Ela apontou para o sofá coberto por uma capa florida. Eu me acomodei nele ao lado dela.

- E como está a Jasmine? – Ela me perguntou preocupada. – Eu soube sobre o meu neto, eu fiquei muito chateada.  

- Jasmine e eu não estamos mais juntos. – Eu disse meio sem jeito. Ela abriu a boca surpresa, então eu emendei, querendo deixar claro de que este não era o motivo para a minha volta: - Já faz algum tempo. Eu já... superei.

- Sim. – Ela balançou a cabeça mesmo que eu sentisse que ela estava um pouco confusa. Minha mãe nunca se acostumou com esse negócio de fim de relacionamentos, ela nunca compreendeu, para ela o amor era pra sempre, assim como o casamento. – E você está bem? – Ela repousou uma mão sobre a minha, solidária.

- Sim. Estou. – Eu disse rapidamente.

Então quando ela pretendia fazer outra pergunta a porta da sala de abriu e meu pai apareceu segundos depois com um chapéu na mão. Eu ri ao ver isso. Somente meus pais para preservar os modos da época em que ainda eram rapazes. Eu me levantei emocionado e fui em sua direção. Eu vi que no começo ele estava espantado, sem entender muita coisa, acho que ele não me reconhecia, apesar de eu achar que não mudei muita coisa nesses últimos anos. Só quando eu disse o quanto senti saudades dele foi que eu senti que ele realmente me reconheceu.

Nós conversamos por horas naquele dia. Eu me sentia como numa das entrevistas, mas ao invés de serem perguntas respondidas à imprensa, elas eram respondidas aos meus pais, e ao invés de mentiras e respostas curtas, eu estava sendo totalmente sincero, como um livro aberto, e aquilo não estava sendo nada desconfortante. No final do dia eu percebi que eles foram e sempre serão as pessoas mais confiáveis que eu conheço e com quem eu terei todo apoio toda vez que eu precisar, mesmo que eu esteja errado, eu sempre poderei contar com a ajuda deles. Eles me fizeram me sentir confortável e muito bem, como se todos os dias longe nunca tivessem existido.              


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