Tudo que Vai Volta Ii escrita por kaka_cristin


Capítulo 19
Capítulo 19


Notas iniciais do capítulo

Eu disse que não ia demorar, tá vendo??? Espero que gostem desse capítulo. Se tiver algum erro, me desculpem pq eu revisei bem rápido pra não demorar mais a postar!
bjus



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Eu pensei em várias coisas ao mesmo tempo quando vi o Gerard. Eu pensei em recuar rapidamente e fechar a porta na cara dele, pensei em insultá-lo e então fechar a porta na cara dele e também pensei em poder voltar ao tempo e olhar no olho de gato antes de abrir a porta. Ta, a terceira opção era algo impossível de se acontecer, mas as duas primeiras não, talvez uma delas fosse a melhor saída. Droga! Era tão difícil verificar quem era antes de abrir a porta? Burra! Por que abri a porta de uma só vez? O que eu faço agora? Ele está bem na minha frente me encarando, ou melhor, ele está encarando a Jessy, para o meu desespero. O que eu faço?

Primeira opção: Recuo e fecho a porta sem dizer nada. Justo quando recobrei minhas ações e já dava um passo pra trás prestes a bater a porta bem na cara dele, ele estendeu uma mão para segurá-la me impedindo de fazer isso. Eu estou ferrada. Ele está com uma cara tão estranha, ele deve ter sacado que a Jessy é filha dele.

Eu pressionei minha filha com mais força contra meu corpo, e segurei sua cabeça como se quisesse escondê-la, e eu realmente queria isso. Pra piorar toda a situação, lágrimas começaram a se aglomerar no canto dos meus olhos. Eu estava me delatando aos poucos. Como eu queria que tivesse mais alguém em casa comigo agora, mas eu estava sozinha. O que eu deveria fazer se o Gerard tentasse levar minha filha de mim? Ele podia fazer isso? Um sentimento de culpa me contagiou. Por que eu não disse logo a verdade antes? Todas as minhas justificativas para omitir a existência dela pra ele pareciam tão idiotas agora. Se ele já soubesse eu não precisaria ficar tão nervosa toda vez que eu o visse. Eu estava com tanto medo de perdê-la que estava prestes a chorar ali na frente dele. Ele não podia fazer isso certo? Ele não podia saber que a Jessy era filha dele só de olhar, eu teria que confirmar essa suspeita, não é? Eu mentiria até o fim. Ele nunca saberia disso, pois eu o queria longe da minha vida agora. Estava tudo indo tão bem antes dele aparecer aqui do nada. O que ele queria?

- Eu só vim te entregar algumas coisas. – Ele finalmente abriu a boca e tudo que eu consegui fazer foi baixar a guarda. Até meus ombros pareciam pesar menos agora. Só então percebi que ele carregava uma caixa em suas mãos. Mesmo depois dele, aparentemente, não ter percebido que a Jessy era sua filha eu continuei pressionando-a com mais força contra meu corpo.

- O que são essas coisas? – Eu perguntei me referindo ao que havia naquela caixa. Antes que ele pudesse me responder, algo inesperado, ou esperado, aconteceu, a Jessy golfou no meu ombro, só aí eu me lembrei que não tinha posto uma fralda pro caso disso acontecer. – Droga! – Eu disse afastando-a do vômito. – Calma, querida. – Eu disse me virando e indo pegar a fralda que estava no sofá, deixando o Gerard na porta. Limpei a boca dela, então a coloquei deitada no sofá enquanto limpava meu ombro. Ouvi um barulho no meu lado esquerdo e quando virei meu rosto, Gerard já tinha entrado na minha casa e encarava a Jessy com o que eu definira como espanto.

- Ah, eu só vou colocá-la no berço e já volto pra falar com você. – Eu disse rapidamente antes que ele tivesse certeza de quem ela era. Subi apressada os degraus da escada e a coloquei em seu berço. – A mamãe já volta. – Eu disse pra ela como se ela pudesse entender alguma coisa.

Quando voltei pra sala, ele estava de cabeça baixa como se estivesse confuso.

– Voltei. O que você queria mesmo? – Eu perguntei normalmente como se nada tivesse acontecido.  – O que tem nessa caixa? – Eu me aproximei dele, praticamente puxando a caixa das mãos dele. Eu estava agindo impulsivamente de tanto nervosismo.

Ele me olhou sem ação com a boca entreaberta, então olhou pra caixa que eu coloquei sobre o sofá.

- Hum. – Eu fiz quando a abri. Havia todas as coisas que ele havia levado da última vez que fugiu. Eu senti uma angustia ao rever tudo aquilo, mas não era hora pra isso. Eu me virei pra ele e perguntei: – Só isso? – Tudo o que eu pensava naquele momento era em como colocá-lo pra fora dali.

- Na verdade tem mais uma coisa. – Ele disse.

Meu coração acelerou. Era a Jessy! Eu tinha certeza disso. E agora? O que eu iria inventar? Então antes que ele tivesse a oportunidade de dizer alguma coisa, eu o detive.

- Me desculpa, Gerard, mas eu não tenho tempo agora por que estou cuidando da filha da Kate enquanto ela saiu com a minha mãe pra resolver algo importante. Você entende, certo? Eu não posso deixá-la sozinha. Você sabe como são as crianças, em um minuto elas estão seguras e no outro, se você se distrair por um minuto, ocorrem tragédias.  – Eu falei rapidamente tocando nele. Eu não queria nem saber que estava tocando nele, eu o virei e o empurrei em direção a porta o enxotando dali.

- A Kate teve outro filho? – Ele perguntou confuso.

- Sim. – Eu disse rápida, abrindo a porta pra que ele saísse, mas então ele me segurou no pulso me fazendo parar. – Gerard, o que você quer? – Eu perguntei nervosa olhando ele segurar meu pulso.

- Eu quero te entregar isso. – Ele disse tirando do bolso da calça uma caixinha, aquela que toda mulher sonha em receber um dia.

- O que é isso? – Eu perguntei pasma, mesmo já sabendo o que continha dentro desta.

- Eu só queria me livrar disso pra não ter mais o que me lembrar de você.

OK. Eu posso ter dito que não queria mais saber do Gerard, mas ouvir aquela frase foi realmente doloroso. Quando você está decidida a ignorar uma pessoa e esquecê-la não quer dizer que seja simples ouvir dessa pessoa que ela está fazendo o mesmo com você.

- Por quê? – Eu disse quase sem voz segurando aquela caixinha. – Por que está me dando isso? Isso nunca me pertenceu.

- Mas ia pertencer. – Ele me respondeu com toda serenidade. Meus olhos já estavam ficando embaçados com as lágrimas. Receber aquela caixinha com as alianças que usaríamos antes dele descobrir a verdade sobre a Nicole foi como receber um balde de água fria em pleno inverno. Todas aquelas antigas lembranças de como éramos felizes juntos voltaram à tona, assim como todo meu sentimento por ele. A Jessy começou a chorar o que pareceu apressá-lo. – Você precisa ir cuidar da... Então...  – Ele me olhou meio sem jeito e disse: - Eu espero que você seja feliz. - Ele ainda tentou sorrir, mas pareceu forçado. – Tchau.

- Tchau. – Minha despedida saiu um tanto trêmula.

Fechei a porta para não vê-lo partindo. Eu já tinha sido torturada o bastante hoje. Olhei para a escada, eu precisava subir, a Jessy estava chorando fazia algum tempo, mas eu permanecia ali, parada, sem conseguir mover meus pés. Passei a mão pelos meus cabelos jogando-os pra trás tentando afastar aquela dor aguda, aquela aflição em meu peito. Eu não podia senti-la, eu precisava ser forte. Eu me concentrei em algumas cenas felizes, seja elas de filmes, ou desenhos, ou até mesmo fatos que aconteceram em minha vida, só pra que aquele choro que subia em minha garganta recuasse. No meio de tantas imagens eu me lembrei da Nicole, então me lembrei da sensação de quando cheguei em casa e o Gerard havia descoberto sobre ela, me lembrei de quando minha mãe me deixou no aeroporto e de quando a vi chorando sobre o volante do carro, me lembrei de quando descobri que estava grávida da Jessy e o quanto foi assustador saber disso, me lembrei do dia do acidente, me lembrei de quando revi o Gerard na empresa, eu me lembrei do Sr. Banks que era um amor de pessoa e até mesmo do esforço dos funcionários da empresa quando voltei ao trabalho depois do meu afastamento, nesse ponto eu já estava soluçando de tanto chorar, qualquer lembranças era um estímulo a mais. Se não fosse pela chegada da minha mãe e da Kate, acho que eu ficaria ali por um bom tempo.

- O que houve? – Minha mãe e a Kate disseram ao mesmo tempo. Kate olhou assustada para a escada ao perceber o choro da Jessy.

- Mamãe, ela está chorando? – Perguntou a filha da Kate enquanto o seu irmãozinho me olhava espantado segurando seu carrinho.

Kate olhou para minha mãe como se as duas combinassem algo e então pegou na mão dos filhos.

- Venham comigo, vamos lá em cima brincar com a Jessy. – Disse Kate às crianças pra me deixar a sós com a minha mãe.

Minha mãe se aproximou de mim com o olhar duro, não era o mesmo olhar de piedade que eu sempre recebia. Ela olhou para a escada observando Kate e as crianças subirem o último degrau, então voltou a me encarar. Eu levei um susto que cortou meu choro totalmente quando ela bateu as palmas das mãos uma na outra fazendo um estalo alto.

- Vamos parar com a choradeira. Acabou. Recomponha-se. – Ela gritou como há tempos eu não a via agir desse jeito. Me lembrou o dia que eu descobri que estava grávida aos dezesseis anos, antes dela decidir por mim que eu viria para Los Angeles morar com a minha tia. – Você não é mais uma criança, Natasha. - Ela disse um tom mais baixo, então se movimentou pela sala indo até a estante e jogando a chave que segurava nela. – Está na hora de parar de agir como uma. Até quando vai ser isso?

- Por que está me tratando assim? – Eu perguntei confusa.

- Por que está agindo feito uma criança, e é assim que se deve tratar uma.

- Você não me entende, não é? Eu estou sofrendo.

- Ótimo, então você é normal. Todo mundo sofre, é a vida.  – Ela olhou para o sofá onde estava a caixa e franziu o cenho. – O que tem nessa caixa?

- O Gerard veio...

- Eu o vi, ele passou de carro por nós. – Ela me cortou.

- Ele deixou a caixa com as coisas que havia levado. – Eu continuei.

- E por isso ficou assim? Não era você quem dizia que ele não devia ter te roubado as únicas lembranças da sua filha? Pois bem, por que está reclamando agora?

- Eu não estou reclamando. – Eu disse entre os dentes.

- Por que o choro, então?

A minha vontade era de retribuir o seu tom ofensivo, mas eu estava me controlando o máximo pra não me estressar com ela.

- Você está me obrigando a dizer coisas.

- Que coisas? – Ela continuou em seu tom autoritário que eu odiava. Aquilo me fez lembrar do quanto eu a odiava na minha adolescência por me fazer largar minha casa, minha cidade, meus amigos, colégio, tudo, pra vir morar com uma tia que eu mal conhecia, tudo pra que ela não tivesse sua imagem manchada.  Ela e meu pai sempre foram tão egoístas, mas eu aprendi a perdoá-los, só que ela estava reacendendo aquele ódio dentro de mim que havia adormecido há anos atrás. Eu não podia suportar mais aquilo, eu tinha que me defender.

- OK, você quer a verdade? Então terá. Você diz isso por que sempre teve a vida perfeita, você nunca teve do que reclamar porque o papai sempre foi um bom homem. Você nunca sofreu de amor e acha que é fácil pra mim também, porque você não sabe como é isso.

Ela espremeu os lábios e me deu as costas se apoiando na estante. Então eu continuei:

- Tudo o que eu fiz foi pensando em você, pra você não me recriminar mais. Eu deixei ele ir pra que você não precisasse mais se “preocupar” comigo. – Eu disse fazendo aspas com os dedos. – Eu tenho que te poupar da dor mesmo que isso me traga dor. Mas se você realmente tivesse sofrido de amor algum dia saberia como é doloroso, mesmo que seja por alguém que não valha a pena. – Eu gritei a última frase irritada.

- É a verdade que você quer? – Ela se virou pra mim irritada. – Então você vai ter a verdade agora também. Você vai saber quem foi seu verdadeiro pai.

- Tudo bem. O que foi que ele fez a você, deixou de te levar pra passear em algum final de semana? – Eu disse no meu tom de sarcasmo.

- Seu pai era um miserável. – Eu a olhei incrédula. Como ela podia dizer uma calúnia dessas?

- Não fale assim dele. Ele fazia de tudo por você.

- Sim, fazia, ele tanto que se preocupou em fazer tudo por mim que me passou essa maldita AIDS.

Ela se calou. Eu fiquei sem ação. Ouvir aquilo foi um choque pra mim. Eu a olhei nos olhos tentando descobrir se aquilo era mesmo verdade. Não podia ser. Ela não tinha nada. Ela estava perfeitamente bem. Ela até saia pra caminhar. Ela...

Eu cambaleei em direção ao sofá e quando o alcancei me sentei, ou então eu teria uma queda no chão da sala. Aquilo não podia ser real. Como ela pôde ter me contado aquilo assim?

- Você tem...? – Eu tentei dizer na primeira. – Você tem...? – Mas a voz falhava toda vez que eu ia pronunciar o nome daquela doença.

- Seu pai nunca foi um bom homem pra mim. Ele sempre foi um conquistador canalha e pra completar, ainda me deu esse presente, se é que posso chamar assim, antes de morrer. – Ela riu ironicamente. – O filho da mãe nunca me contou que tinha essa doença.

Eu ainda a encarava com as vistas marejadas. Nesse ponto já tinha até me esquecido de quem esteve na minha casa antes. Minha mente estava uma confusão. Eu pensava em quanto minha vida foi uma mentira, em como minha mãe conseguiu omitir isso tanto tempo, e que ela ia morrer. Morrer! Nossa! Eu não conseguia imaginar minha vida sem ela. Eu sabia que um dia isso aconteceria, mas não tão rápido.

- Eu não quero pena, Natasha. Não era nem pra te contar isso, mas eu realmente fui obrigada já que você continua sendo a mesma garotinha fraca e mimada. – Apesar das palavras dela eu não senti raiva quando ela disse essas coisas e sim mais pena dela. Eu nunca ia imaginar que meu pai fosse esse canalha. Ele sempre pareceu fazer tudo por ela. Eu ficava tentando me lembrar de alguma situação que o delatasse, mas eu não conseguia pensar em nada errado que ele já tenha feito, ou melhor, que eu já tenha presenciado ele fazer.

- Como é que você agüentou todo esse tempo? Você não iria me contar? – Eu perguntei chocada.

- Pra que? Ia adiantar alguma coisa? Eu nunca gostei muito de expor minha fraqueza.

- E você suportou por todos aqueles anos, mesmo sabendo o que meu pai fazia com você? – Eu não conseguia entender. Eu nunca ficaria com um cara desse tipo.

- E você ainda diz que eu não sei o que é amar alguém. – Ela diz irônica seguida de uma risada.

- Meu Deus, o que eu fiz para merecer tudo isso? Eu devo ter tacado pedras na cruz, é isso. – Eu resmunguei tapando meu rosto.

- Pare de tentar achar explicações pras coisas. O nosso tempo é curto, e não devemos gastá-lo com arrependimentos e tristezas.

- E como eu devo ficar ao saber que você está com isso?

- Normal. – Ela disse como se fosse simples como um piscar de olhos. Mas como agir com naturalidade sabendo que ela ia morrer? – Eu não te contei isso pra que você fique triste, pelo contrário, foi pra mostrar que mesmo com tudo que me aconteceu, eu venci, eu fui forte, eu não deixei que as coisas me abatessem. – Ela se aproximou de mim e sentou-se ao meu lado no sofá. – E eu quero que você aja da mesma maneira. Não importa o que aconteça, não seja fraca. Eu não fui fraca por que você dependia de mim. Você também não deve ser porque a Jessy depende de você. Você viu o que aconteceu? Ela precisava de você enquanto você estava aqui reclamando da vida.

- Mas eu não vou reclamar mais. Eu já afastei meus problemas. O Gerard não volta mais.

- Tem certeza que mandando ele embora estará afastando seus problemas? – Ela me perguntou mais serena. Eu a olhei confusa. Não era isso que eu devia fazer, afastá-lo, se eu quisesse acabar com os problemas da minha vida, já que ele era quem sempre os trazia? Minha mãe continuou me olhando como se quisesse que eu captasse algo, mas por causa da minha expressão de confusa ela pareceu desistir de tentar. – Pense nisso. – Ela se levantou e arqueou o corpo na minha direção, e beijou minha testa antes de subir a escada.

Eu me joguei pra trás recostando-me no sofá. Então mandar o Gerard embora não era o certo a se fazer? Eu não tinha sangue de barata como ela que ficou ao lado do meu pai por todos aqueles anos sabendo de suas safadezas. Eu já teria abandonado o lar há muito tempo se eu estivesse no lugar dela.

Ser forte... Como ela queria que eu fosse forte imaginando essas coisas que estão na minha mente nesse momento? As imagens que estão na minha mente agora é de mais um enterro, e dessa vez minha mãe é que está no caixão. Só em pensar dói demais. Ela não devia ter me contado. Por que ela me contou? Eu não devia saber disso. Ela sabe que eu nunca serei como ela. Tudo o que eu quero agora é uma dose de algo bem forte que me faça ficar inconsciente por um bom tempo. Será que ainda tenho aquela garrafa de vinho guardada no armário?

Eu já pensava em me levantar para verificar o armário quando a Kate desceu. Ela tinha aquele olhar de piedade que minha mãe costumava ter antes de incorporar essa pessoa que havia sumido por uns tempos. Mas peraí, por que a Kate está me olhando assim? Ela nem estaca aqui pra ouvir. Só se...

- Você já sabia? – Eu perguntei sem muita emoção. – Por que nunca me contou antes?

- Ela me fez jurar que nunca falaria nada... Até que ela morresse. – Ela desviou o olhar nessa última parte.

Eu espremi meus lábios e virei o rosto. Minha mãe já planejava sua própria morte. Será que a Kate estava aqui realmente pelo Marcus? Será mesmo que ele a traiu? Essa história me lembrou da festa da revista do momento em que a Kate me mandou agir, assim como minha mãe fez ainda pouco. E sobre o sermão que ela me passou sobre conhecer pessoas que tinham problemas piores, mas que estavam bem hoje em dia, será que ela estava se referindo à minha mãe? Eu já não sei mais o que é verdade ou teatrinho delas.

- Eu preciso de ar. – Eu a informei antes de me levantar e sair de casa. Pro meu alívio, a Kate não veio atrás de mim.

O Chão da rua estava molhado como se tivesse acabado de chover. Para minha sorte nenhuma gota caía do céu naquele momento. Eu não vestia nenhum casaco e estava fazendo bastante frio. Eu só tinha no corpo uma calça de flanela e uma camiseta, nos pés eu calçava um chinelo, o que estava fazendo meus dedos congelarem, mas eu estava pouco me importando com essas coisas. Eu precisava ficar fora de casa por um tempo.

Cruzei meus braços tentando dispersar o frio, então continuei caminhando pra frente, sempre pra frente. Quando aparecia alguma rua à frente, eu atravessava e continuava caminhando reto. Meu pensamento estava vazio, eu estava tão aérea que em uma das certas travessias um carro teve que buzinar pra eu recuar, por pouco não fui atropelada. As pessoas me observavam por onde eu passava, algumas curiosas, outras como quem me criticava em pensamento por estar usando poucas roupas num frio daquele, mas eu continuava andando sem rumo. Cheguei a um ponto que não tinha mais saída, só casa, então voltei. Parei alguns segundos pra dobrar a barra da calça depois de pisar em uma poça e ela ficar toda ensopada, então retomei a minha caminhada. Quando estava há algumas casas próximas da minha, passei por uma vizinha que fazia tempo que não via, ouvi dizer que ela esteve muito doente, e lá estava ela limpando o quintal. Eu olhei pro céu escuro. Ela estava limpando um quintal que provavelmente ficaria sujo novamente quando voltasse a chover. Vai entender. Quando ela me viu, acenou animada, assim como eu me lembrava dela. Eu acenei de volta tendo que descruzar meus braços, mas sem parar para conversar, talvez numa outra hora eu parasse pra perguntar como ela estava, mas não agora. Agora eu precisava ir pra casa.


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