Depois de andar por cerca de meia hora, as ruas de terra batida foram substituídas por asfalto, as casas de campo por prédios e lojas e a luz da lua pelos postes de iluminação. Passava das 4:00h da manhã, então muitas dessas lojas estavam fechadas, criando um ambiente sombrio.

Ao longe, vimos um único estabelecimento aceso em meio a noite escuro e as luzes pálidas dos postes de luz. Quando nos aproximamos, vimos que se tratava de um Centro Pokémon, graças a Arceus! Era bem diferente do encontrado na Rota 1, este tinha um viual mais moderno, feito de concreto com um acabamento em tinta branca e um teto avermelhado que se distinguia bem dos outros prédios na cidade.

Assim que entramos fomos cumprimetados pela Enfermeira Joy deste Centro Pokémon, que nos convidou para ficar.

Joy: Bem-vindos ao Centro Pokémon de Zeon. Vieram passar a noite?

David: Bem, sim. E nós também precisamos curar nossos Pokémons. Acabamos de enfrentar um bando de Pokémons fantasmas no caminho para cá.

Joy: Oh meu Arceus! Deixem-os comigo. Acredito que já estejam acostumados com os acomodamentos: no fundo há camas onde vocês podem passar a noite.

Apolo: Sim, obrigado pela gentileza.

Deixamos nossos Pokémons com a Enfermeira Joy e desmaiamos nas beliches que se encontravam na parte de trás do Centro Pokémon. David estava tão cansado que ao invés de se deitar na cama acima da minha, deitou na cama de baixo da beliche ao lado e começou a roncar antes que eu pudesse cair no sono, mas logo em seguida cai no sono também.

Levantei com o Sol entrando pela janela e batendo no meu rosto. David também estava acordando, mas ainda estava mais dormindo do que acordado. Passei a mão na minha mochila e peguei a Pokédex, eu queria ter certeza de que depois de tanto sufoco, havíamos mesmo chego à Cidade de Zeon.

Apolo: Ah, cara, como assim?! David, acorda!

David: O que foi...?

Apolo: Tem algo errado com minha Pokédex, o visor tá todo esquisito! Ela não pode quebrar, eu uso minha Pokédex para tudo!

David: Vai falar com a Enfemeira Joy, talvez ela saiba onde levar a Pokédex para consertar.

Apolo: Boa ideia!

Corri todo afobado até a parte da frente do Centro Pokémon, o saguão, onde a Enfermeira Joy estava, desesperado por causa da Pokédex. Coitada, nem a deixei terminar seu carinhoso “Bom dia”.

Apolo: Joy, minha Pokédex pifou, o que eu faço!?

Joy: Minha Nossa, o que aconteceu?

Apolo: E-eu não sei, quando eu fui checar ela hoje de manhã, o visor estava cheio de estática.

Joy: Hm, bom... Para sua sorte, a empresa que fabrica a Pokédex tem sua sede aqui na Cidade de Zeon, você pode levá-la lá para ver o que eles podem fazer, mas-

Apolo: Obrigado, Joy! É isso que eu vou fazer!

David finalmente chegou ao saguão já com a mochila nas costas, mas ainda coçando os olhos de sono. Estava meio por fora da situação, então perguntou:

David: E então?

Apolo: Que bom que você já está pronto, nós vamos à... Como chama a empresa mesmo?

Joy: Aipom. A empresa que faz as Pokédex se chama Aipom, mas-

Apolo: Nós vamos à Aipom!

David ainda estava meio dormindo, mas foi na onda. A Enfermeira Joy nos devolveu nossos Pokémons, que ainda estavam com ela. Ela nos disse mais ou menos como chegar na sede da Aipom do Centro Pokémon e seguimos em frente.

Por um lado, como a cidade era grande e desconhecida, era muito fácil se perder ali; por outro, a sede da empresa ficava apenas há alguns quarteirões do Centro Pokémon, então foi muito fácil chegar até lá sem se perder.

A Aipom era um prédio não muito alto, devia ter cerca de 20 andares, em uma contagem rápida, mas esbanjava modernidade. O prédio era todo espelhado com a logomarca da empresa, bem grande, em branco.

Logo na entrada já havia uma grande movimentação, mas havia uma moça em um balcão, que parecia ser a recepcionista. Nos aproximamos e ela nos atendeu.

Recepcionista: Bom dia, em que posso ajudá-los?

Apolo: Uh, b-bom dia. É aqui que fazem as Pokédex?

Recepcionista: Bom, mais ou menos. Aqui é onde desenvolvemos as Pokédexs e seu sistema operacional.

Apolo: Ah, que pena.

Recepcionista: Por que, senhor?

Apolo: É que a minha Pokédex está dando defeito e eu queria consertá-la, mas se aqui não é onde fabricam Pokédex...

Recepcionista: Defeito? Deixe-me dar uma olhada na sua Pokédex, por favor.

Entreguei minha querida Pokédex à moça, pois se ela trabalhava ali devia entender alguma coisa sobre o assunto. Ela pegou a Pokédex em mãos e visualizou a tela cheia de estática. Então desligou a Pokédex, abriou a parte traseira e fez uma cara descontente.

Recepcionista: Hm, isso não é nada bom. O que você fez com essa Pokédex?

Apolo: Como assim? Por quê?

Recepcionista: Bom, pra começar, a bateria queimou, como se ela tivesse recebido uma carga elétrica excessiva.

Olhei com cara feia para David, que estava ao meu lado ouvindo tudo que a recepcionista estava dizendo. Ele deu de ombros e falou com os lábios “Fazer o quê? A minha tá funcionando.”

Recepcionista: E os conectores estão quebrados. Você deixou ela cair no chão?

Eu fiquei meio vermelho, eu realmente tinha deixado a Pokédex cair no chão--e ser torrada por um Thundershock, não uma, mas duas vezes. Apesar da vergonha, resolvi ser sincero.

Apolo: É, ela caiu no chão uma vez e levou uns golpes elétricos de um certo Pichu. Mas então, tem conserto?

Recepcionista: Sinto muito, mas essa Pokédex já era.

Apolo: Ah, essa não! Como eu vou ficar sem uma Pokédex?

Recepcionista: Por outro lado, esse seu modelo de Pokédex já está ultrapassado, viu. Você devia usar a oportunidade para comprar a nova Pokédex 6.

Apolo: Uma nova Pokédex? Uau, e qual a diferença?

Recepcionista: Além de ter todas as funcionalidades da sua Pokédex antiga, a Pokédex 6 também faz chamadas telefonicas e de vídeo.

Apolo: Que demais!

Recepcionista: E também, como você já deve saber, um novo tipo de Pokémon foi descoberto recentemente.

David: O que, um novo tipo?!

Apolo: Ah! Já tinha até me esquecido que você estava aqui, David.

Recepcionista: Sim, pesquisas recentes descobriram que alguns Pokémons possuem imunidade e vantagens a outros tipos que nunca haviam sido cadastradas antes. O novo tipo foi chamado de Fada.

David: Oh, que legal!

Recepcionista: E não é? A nova Pokédex 6 já vem com o hardware atualizado para conseguir identificar esse novo tipo. Este é seu principal atrativo, e nenhum treinador deveria andar por aí com uma Pokédex ultrapassada.

Apolo: E, uh, quanto custa uma Pokédex 6?

Recepcionista: 200.000 Pokédollars.

Apolo: O QUÊ!? Eu não tenho esse dinheiro todo...

David: Não temos dinheiro nenhum, na verdade.

A recepcionista parou um pouco de falar, colocou a mão no queixo e olhou para cima, pensativa. O que ela estava pensando? Será que ia me dar uma Pokédex 6 de graça? Quem dera.

Recepcionista: Oh, é mesmo, acabei de me lembrar!

Apolo: Uh, sim?

Recepcionista: Bom, sendo o local do primeiro ginásio de Greikos, Zeon é muito visitada por treinadores inciantes. Então a Aipom está patrocinando um torneio que vai acontecer amanhã para todos os treinadores que ainda não tiveram a oportunidade de conseguir a primeira insígnia. O prêmio para os três primeiros lugares é uma Pokédex 6, mas hoje é o última dia de inscrição.

Apolo: Uau, agora eu vi vantagem! Onde nos inscrevemos?

Recepcionista: Em qualquer Centro Pokémon!

Deixei minha Pokédex quebrada com a recepcionista, que prometeu se livrar dela do jeito “ecologicamente apropriado” e fizemos o caminho de volta para o Centro Pokémon para fazer a inscrição no torneio. Dava para ver que David estava tão ansioso para ganhar a Pokédex quanto eu.

Chegando no Centro Pokémon, a Enfermeira Joy nos recebeu de volta com um sorriso e quis saber o motivo de termos voltado.

David: Viemos nos increver no torneio que vai acontecer amanhã.

Joy: Ah, sim, o torneio! Eu tentei avisar vocês antes de saírem, mas não me deixavam terminar a frase.

Eu fiquei vermelho de vergonha. É verdade, eu havia cortado a Enfermeira Joy várias vezes enquanto falava hoje de manhã. Mas poxa, eu estava muito preocupado com a minha Pokédex para ter que ouvir alguém falar.

Apolo: S-sinto muito, enfermeira.

Joy: Magina, não tem problema algum! Aqui está a ficha de inscrição.

Ela entregou a ficha para David assinar primeiro. Enquanto isso, bati um papo rápido com ela para saber mais do torneio.

Apolo: Então, é a primeira vez que fazem um torneio assim?

Joy: Não, há desses todo ano para saudar os treinadores que acabaram de sair em jornada. São todos treinadores iniciantes competindo, e o juíz é ninguém menos que o líder do Ginásio de Zeon, Marty.

Apolo: Oh, noss-

David: Apolo, você tem que ver isso!

Agora eu entendia como a Enfermeira Joy se sentia, era mesmo chato ser interrompido enquanto falava. David me mostrou a ficha de inscrição, que continha o nome dos outros treinadores que já haviam se inscrito, mas ele apontava para um em específico, que estava entre os últimos nomes: Kyle Medes.

Apolo: Kyle... vai participar do torneio também!

Por um lado, isso me deixava aliviado, significava que Kyle ainda não havia conquistado a insígnia da Cidade de Zeon e que, afinal, eu não estava tão atrasado assim. Mas por outro lado, me deixava preocupado, era a primeira vez que eu reencontraria Kyle desde que ele partiu de Hestia sem mim.

Eu não tinha certeza se estava pronto ou não para enfrentá-lo mais uma vez. O quanto ele havia ficado mais forte, será que eu poderia vencê-lo de novo? E seu Ralts, já teria evoluído? Eram respostas que eu teria que esperar até o dia de amanhã para serem respondidas.

A noite, dormir foi difícil pela ansiedade. Sem minha Pokédex era pior ainda, pois não tinha como passar o tempo. Em vez disso, fiquei bolando estratégias para o torneio amanhã, que não eram grande coisa, pois com apenas dois pokémons não se faz muito. Queria estar levando a situação numa boa, como David, que já roncava na cama acima. Mas não tinha como, afinal diferente de mim, ele não tinha nada a perder: ainda tinha a Pokédex e não tinha que provar nada a ninguém.

Falando nisso, essa noite, outros treinadores além de nós apareceram para passar a noite Centro Pokémon, provavelmente atraídos até ali pelo ginásio e o torneio. Não tivemos muito tempo de conversar, mas amanhã era um novo dia e quanto mais eu conhecesse meus adversários, melhor.