-- Bom dia. – saudou Joane, sentando-se à beira da minha cama. Concordei com a cabeça, ainda esfregando os olhos e me sentando. Estava mais claro, o quarto estava vazio. – Não queria te acordar, mas as garotas já saíram à mais de dez minutos e se não nos apressarmos você perde o café.

Agradeci depois de me enfiar nas vestes que estavam geladas. As calças ficaram justas, mas não apertadas. A camisa branca de mangas compridas ficou larga, o suéter também. Penteei os cabelos com pressa e escovei os dentes igualmente apressada. Saímos para a Sala Comunal, vazia também, e corremos até o Salão. Estava quase vazio. Deu tempo para que comecemos algumas torradas e tomássemos um suco.

-- A primeira aula que teremos hoje é Adivinhação, com a Grifinória. Caso precise de ajuda posso pedir para a professora que formemos uma dupla, sei que ela aceitaria de bom grado. – Joane disse com uma voz doce. Agradeci com a cabeça e chegamos à sala que já estava quase lotada.

-- Bom dia classe. – ela falou e seus olhos recaíram sobre mim. – Senhorita Malfoy, não sei nada sobre seu conhecimento... Você nunca teve aulas, certo?

-- Na verdade, não. Mas eu tinha alguns livros sobre Poções, Adivinhações, História da Magia e Feitiços que me ajudaram bastante.

-- Ótimo! E já que o dever de hoje será executado em duplas, não haverá tanto problema. Bem, eu quero que os alunos da Grifinória escolham seus parceiros. Andem, não façam essas caras!

-- Eu pego a Malfoy! – ouve um coro de no mínimo três vozes masculinas e não consegui evitar recuar alguns passos. Três grifinórios avançaram em minha direção, saídos só Merlin sabem de onde.

Uma mão envolveu minha cintura e me puxou para o lado, fazendo-me sentar em uma das cadeiras na bancada onde cabiam duas pessoas. Minha primeira reação foi – obviamente – surpresa, afinal aquela mão saíra do nada. E logo em seguida tentei me desvencilhar, mas ele era mais forte.

-- Sinto muito, ela já tem uma dupla. – era James, os cabelos escuros e desalinhados completamente reconhecíveis. – Olá, Malfoy.

-- Potter. – falei sem a menor expressão de qualquer sentimento, a voz neutra. Ele ficou em silêncio por alguns instantes, tentando decifrar aquele tom, mas não conseguiu.

-- Ah, qual é! Abra um sorrisinho e me deixe ver esses dentes lindos! Eu te salvei de um bando de neandertais.

-- É, pra me jogar nas garras de um dinossauro. – rebati seca e ele gargalhou, cutucando a lateral do meu corpo, repetindo o movimento até que eu passasse a rir também. Quando ele finalmente parou e eu recuperei o ar pude dizer - Não era justo, você sabe, fazer cócegas em alguém que está tentando se manter séria.

Ele revirou os olhos teatralmente, jogando os cabelos para trás com um movimento ridículo com a cabeça. Depois depositou um dos cotovelos na mesa e apoiou o queixo na mão, piscando os cílios longos e negros várias e várias vezes. Não consegui conter uma risada esganiçada.

-- E então... – ele continuou piscando os olhos, ridiculamente em minha direção enquanto ao fundo a professora falava coisas sem nexo como ‘busquem seus eus interiores’ e bla bla bla – Sobre o que conversaremos enquanto ela pensa que estamos prestando atenção?

-- Olhe só, se não é o garotinho Potter sendo um mau aluno. – falei também apoiando o queixo em uma das mãos. – Tsc tsc tsc – fiz repetidas vezes, fazendo-o sorrir vitorioso.

-- Qual é, até parece que alguém presta atenção nessa aula. – revirou os olhos e endireitou a postura. – Mas, já que é uma aula de adivinhação, vamos brincar de adivinhas, que tal?

Ele abriu um sorriso malicioso. Levou algum tempo para que eu percebesse que estávamos em um canto mais escuro na sala, os outros alunos ligeiramente afastados de onde nos encontrávamos. Assenti com a cabeça e então ele ficou em silêncio um tempo, pensativo.

-- Hm, deixe-me ver se sou um bom adivinho. Você é filha do Malfoy, isso eu já sei, mas eu estou curioso sobre quem é a sua mãe, e parece que você conhece bem a minha árvore genealógica, já que sabia que eu era um Potter. Sua mãe não seria, hm, Astroia? Pansy?

-- Não, minha mãe está bem mais distante do que estas daí, mas acredite, você não quer conhecer o meu passado. Mas deixe eu adivinhar, você é filho do Potter com a Weasley, mesmo que não seja nem um pouco ruivo. Pela maneira como todas as garotas na sala estão me comendo com os olhos eu diria que você é bem cobiçado aqui, e isso contribui para que você também seja um galinha, não se ofenda...

-- Ei, ei, vá mais devagar com suas adivinhações. – ele me advertiu, e eu gargalhei. Ele parecia realmente afetado, mas assim que eu abri um sorriso ele começou a sorri também. – E você, hein? Acha que vai durar muito tempo aqui? Você vai ser atacada por todos os garotos de Hogwarts. Merda, odeio admitir isso, Malfoy, mas você é gostosa!

-- E quem está indo rápido demais agora? – perguntei fingindo fechar a expressão e colocando as mãos na cintura, fazendo cara de brava. Nós dois demos risadas estridentes. Parte dos alunos olharam em nossa direção, enquanto outra parte revirava os olhos e focava melhor suas mesas.

Era estranho ficar ali e conversar abertamente com ele, estranho por dois motivos. Primeiro: ele era um Potter, seu pai e minha querida mamãe eram melhores amigos, e seu pai também era melhor amigo do Weasley, marido de Hermione. Segundo: eu nem ao menos o conhecia direito, tirando fatos como seu nome, sua idade e sua Casa, James Potter era um completo desconhecido para mim.

E o mais esquisito de tudo: eu me sentia imensamente bem passando aquele tempo ao lado dele, rindo e jogando conversa fora enquanto a professora tentava – sem sucesso algum – dar uma aula.

-- Então, deixe eu adivinhar mais uma coisa sobre você? – ele perguntou, mas agora sua voz estava mais baixa, quase mais intensa. Fiz que sim com a cabeça, e ele apanhou uma das minhas mãos que estavam sobre a mesa. – Você vai estar na frente da Sala Precisa assim que todos os outros alunos estiverem dormindo.

Senti meus olhos se arregalando. James tinha um sorriso presunçoso nos lábios. Os alunos começaram a sair da sala, mas eu estava completamente congelada no meu lugar. Potter se inclinou para mim e depositou um beijo – mais demorado que o necessário, devo admitir – em uma das minhas bochechas. Piscou um dos olhos e saiu apressado.

Continuei ali sentada por um tempo, então percebi que todos já haviam deixado o local, até mesmo a professora. Me coloquei de pé com agilidade, saindo dali. Minha cabeça rodava. Quem ele era para exigir algo daquela forma? E quem era eu para aceitar aquilo? Sentei em um banco que ficava em um corredor vazio e encolhi as pernas próximas ao peito, abraçando meus joelhos.

Mas que merda estava acontecendo comigo? Eu era uma Malfoy, não era? Nada de se sentir intimidada por garotos! Me sentei mais ereta, arrumei meus cabelos, passando-os para apenas um lado de meu corpo. Caminhei com calma e naturalidade até a Sala Comunal da Sonserina, que estava parcialmente vazia, o que era estranho já que teríamos o segundo tempo livre.

O dia passou rápido, as aulas eram extremamente fáceis, e eu sabia de tudo que os professores estavam passando para a classe. Talvez eu houvesse herdado aquilo de Hermione, todos falavam muito sobre a inteligência que ela possuía. Quando, lá fora, começou a escurecer, uma inquietude me atingiu. Por que logo um Potter, Malfoy?