–- Alex? Querida... - Draco estava sentado em uma poltrona ao lado da minha cama. James estava sentado também, mas na beira da cama. Me sentei depressa. O que tinha acontecido?

–- O que aconteceu? - perguntei levando a mão até a testa. Minha cabeça doía como nunca antes, meu estômago parecia estar vazio há anos. As paredes pareciam estar se fechando.

–- Ei, está tudo bem. - James falou quando percebeu meu peito subir e descer mais rápido. Sua mão apanhou a minha que estava largada em meio aos cobertores. - Nós aparatamos aqui depois...

–- Depois que eu estraguei o Natal da sua família? James, eu sinto muito. - mais lágrimas teimosas. Ele as secou com cuidado.

–- Alex, filha... Por favor, pare de chorar. - Draco ajoelhou-se bem ao meu lado. - Não foi sua culpa, Hermione é a culpada...

Sua voz foi diminuindo até sumir por completo quando um barulho fora da casa fez-se mais alto. Alguém aparatara lá fora. Corri até a janela e a visão quase me desmontou. Ali estavam ninguém mais ninguém menos que minha querida mamãe e seu marido, Hermione e Ron.

–- James, não a deixe sair do quarto. - Draco se levantou apressado e correu para fora do aposento, fechando a porta e murmurando um feitiço lá fora.

Tentei correr para fora do quarto, mas James agarrou meu braço e me jogou na cama. Merda, ele era bom em obedecer meu pai. Ele deu uma risada alta, mas eu estava brava.

–- James, por favor... - comecei, já em pé, mas ele me calou com um beijo. Quando seus lábios se afastaram tentei falar de novo. - Ja... - era bem injusto isso de ele me beijar sempre que eu tentasse falar. Não que eu não gostasse.

–- Lexi, para quieta! - ele reclamou quando comecei a me debater, tentando me livrar de suas mãos.

–- TUDO BEM. - gritei em rendição, emburrada e cruzei os braços, me sentando mais ereta na cama. Ele me encarava calmo, quase como se as vozes atrás da porta não existissem. E elas existiam, por mais que começassem a parecer mais baixas e calmas.

–- Assim é melhor. - ele sorriu e eu revirei os olhos. Sua mão acariciou meu ombro. - Não fique brava comigo, está bem?

–- Não, é você quem vai ter de me prometer isso, sinto muito. - a minha varinha estava ao meu lado, embaixo do travesseiro. A empunhei rápida e ágil. - Petrificus Totalus.

As palavras não passaram de sussurros, mas foram altas o suficiente para que James caísse petrificado na cama. Me desvencilhei das cobertas e corri para fora do quarto. Eles estavam no andar de cima, e eu sabia disso porque podia ouvir as passadas ritmadas de Draco enquanto ele andava de um lado para o outro.

-- Você não tinha o direito de abandoná-la, Hermione. - era a voz de Ron. Por que Ron estaria me defendendo? Pensei que ele me odiaria àquela altura, afinal eu era a prova viva de uma traição.

Irrompi pela porta da sala, fazendo com que todos se calassem e me encarassem. Eles pareceram perturbados com a minha presença.

–- Tenho tanto direito de estar aqui como qualquer um de vocês. - declarei antes que pudessem arranjar alguma desculpa para me pôr para fora. Minhas mãos tremiam e suavam frio. Eu definitivamente precisava aprender a controlar minhas emoções.

–- E então, Draco. Temos um acordo? - Ron perguntou algum tempo depois, quebrando o silêncio. Os olhares voavam de Ron para Draco e de Draco para Ron.

–- Por mim está tudo bem se Hermi...

–- Que acordo? - perguntei pouco me importando em ter interrompido Draco. Eles me olharam receosos, com exceção de Hermione que olhava para o chão com olhos marejados. Perguntei novamente. - Que acordo?

–- Você viverá comigo e vai ser como se...

–- Hermione não fosse minha mãe? Ótimo, então não vai mudar quase nada na minha vida. - soltei sem nem ao menos ligar para a presença dela. Na verdade, ela não se importava, então por que eu deveria?

–- Alex. - repreendeu-me Draco, os dedos gelados tocando meu punho.

–- Eu sinto muito. - Hermione desabafou, se erguendo da poltrona em que estava sentada e caminhando até mim. - Eu sinto muito, Alexandra.

Sua mão vacilante tocou meu ombro. Ela deu um mínimo sorriso ante que as lágrimas rolassem apressadas de seus olhos. Assenti com a cabeça e em um movimento rápido ela me deu um abraço. Recuou alguns passos e deixou a sala. Ron cumprimentou Draco e acenou para mim, seguindo sua esposa.

–- Está tudo bem? - meu pai perguntou ao perceber que eu continuava parada, exatamente na mesma posição de antes, mesmo quinze minutos depois de Hermione e Ron desaparatarem. Com um movimento de cabeça positivo segui para meu quarto.

–- James. - ele estava sentado na cama, parado como uma estátua, mas não petrificado. - Sinto muito.

Ele gesticulou com a cabeça e me joguei em seus braços, que me envolveram sem nenhuma hesitação. Encostei a cabeça em seu peito e deixei que as lágrimas rolassem livres por minha face. Ele não me repreendeu, em momento algum. Quando acordei, estava deitada sobre ele, a cabeça descansando em seu peito.

–- Bom dia. – ele me deu um beijo na testa e um sorriso. Teria um jeito melhor de acordar do que aquele? James ali, me encarando todo feliz logo de manhã, as coisas perfeitas exatamente como estavam... Não, não teria um jeito melhor de acordar.

–- Ótimo dia. – o corrigi e nós rimos. Me levantei e escovei os dentes, penteei os cabelos e vesti qualquer roupa. Descemos para tomarmos o café e Draco e Narcisa nos acompanharam na refeição.

Perguntei a James se seus pais não estariam preocupados, se ele não precisaria vê-los ou pelo menos avisá-los de que estava conosco na Mansão dos Malfoy, mas ele me acalmou, dizendo que já havia falado com os pais e que Harry pedira desculpas em nome de todos e que não teria problema James ficar conosco, se não nos incomodasse, é claro.

Mas James nunca incomodava.

Passamos a noite em meu quarto, conversando e comendo alguns doces que Narcisa havia preparado. Era estranho que tudo estivesse tão perfeitamente bem, mas com sinceridade? Eu poderia facilmente me acostumar com aquela sensação...