Eu já aguardava angustiada a mais de duas horas. Meu irmão e meu namorado estavam lá dentro a cerca de duas horas e meia, desde então meu coração palpitava tão rápido que eu o via pular por cima do peito. Tentei controlar minha respiração enquanto andava de um lado para o outro. Acontece que nada me acalmava. 

O simples fato de eu estar em um hospital me deixava nervosa. Eu tinha péssimas lembranças daqueles corredores de cores amenas. Teve a vez que meu pai ficou na UTI antes de morrer, e quando meu irmão John teve um problema no estômago. Eu podia dizer que tinha fobia de hospital, ver as pessoas que eu amo passar por essa experiência horrível doía. Por que não comigo?

Eu já quase subia pelas paredes então resolvi ir até a lanchonete tentar me distrair. Me sentei em uma cadeira de vime na mesa de vidro. Pedi um capuccino e um pão de queijo e coloquei os fones de ouvido tão altos que eu mal ouvia meus pensamentos. Era disso que eu precisava, não ouvir meus conturbados pensamentos.

Eu ouvia Friday i'm in love - The Cure. Tentava me relaxar mas estava difícil. Meu pedido chegou e eu comecei a comer devagar, dava uns goles no café quente. 

Estava tão distraída que me assustei quando vi que alguém se sentou na minha mesa.

-Oi. - Walt disse sorrindo - Nervosa?

-Nem imagina quanto. - falei olhando para a xícara na minha mão.

-Imagino sim. - ele olhou para as mãos que estavam apoiadas na mesa - Eu fui muito covarde quando fui embora. Esse foi um dos motivos de eu ter ido.

-Esse? - perguntei.

-Ver que eu amo assim, sabe? - ele olhou para mim - Eu vi meu pai passar por isso e fui fraco, fugi para não ter que passar por isso de novo mas quando eu soube que o Col estava assim, não aguentei. 

-Como você teve notícias dele? Você se mudou então... - levantei a sobrancelha e ele sorriu.

-Mesmo estando longe, eu me mantinha perto deles. 

E eu mesmo sem entender, apenas assenti. Dei uma última golada no capuccino e observei o resto de chantili no fundo branco da xícara. 

-Eu tenho que ir. - West disse se levantando, eu acenei e ele saiu.

West era um cara legal, mas eu ainda não conseguira dar razão a ele. Abandonar a família é uma das coisas mais desumanas que alguém pode fazer. Eu não teria coragem alguma. Só de olhar para os olhos dos meus irmãos e da minha mãe, já me sinto presa.

Paguei a conta e voltei para a sala de espera que se encontrava ao lado da sala cirúrgica. Quanto mais eu me aproximava daquele lugar, mais minha agonia aumentava. Olhei no relógio, já faziam quatro horas de cirurgia. Suspirei e me sentei em um banco macio ao lado de West e Naoume. 

West olhou para mim e quando ia dizer algo, viu que lágrimas escorriam no meu rosto. 

-Eu queria poder dizer algo para te tranquilizar. - ele segurou minha mão e eu não recuei, precisava de apoio, mesmo que fosse dele - Mas também preciso que alguém me diga essas palavras tranquilizantes.

-Tudo bem. - falei enxugando uma lágrima.

-Vou até a recepção perguntar se os médicos passaram alguma informação. - Noume disse se levantando. 

Meu corpo doía e minha mente também. Antes que eu percebesse já estava adormecendo ali mesmo naquele banco macio ao lado de West. Deixei o sono me engolir. "Quem sabe não amenize minha ansiedade" - pensei.