Parece que eu levo jeito pra ser babá.

Não entendeu? Simples. Basta analisar a minha atual situação: venho pra uma festa, no meio da madrugada, só pra levar o Brian pra casa e acabo me deparando com a Mellany em prantos.

Some problema de um lado, aparece mais problema do outro... Acho que é coisa do destino ou alguém lá em cima não vai mesmo com a minha cara.

- Meu Deus Mellany, porque você tá chorando?

Uma coisa é certa. Pra ela estar desse jeito, ou aconteceu algo muito grave, ou ela bebeu mais do que devia.

- Logan? – ela pareceu reconhecer minha voz.

Quando finalmente olhou pra mim e se deu conta de que era realmente eu, ela me abraçou repentinamente.

- Logan, por favor, me ajuda!

- Fica calma... Vem comigo. - Levei-a até a saída. – Pronto. Agora diz o que houve!

- A Tiffany... – ela não terminou.

E eu comecei a entrar num estado de nervos.

- O que tem a Tiffany?

To fazendo de tudo pra me controlar, mas juro que tá difícil.

- Ela... Ela foi embora e me deixou aqui sozinha. E agora eu não tenho onde dormir. – dito isso ela começou a chorar mais ainda.

Ok. Agora é certo que a Mellany tá bêbada mesmo.

- É só esse o problema? – perguntei só pra me certificar.

Ela assentiu.

- Então tudo bem... – pensei na solução mais óbvia. – Eu posso te levar pra casa.

- Mas a minha mãe não tá lá, e eu não trouxe as minhas chaves.

- Mas... Como é que você sai de casa e não traz as chaves? – eu já to ficando confuso com essa história toda.

- Eu ia dormir na casa da Tiff, mas ela me esqueceu e foi embora. – aí de tristeza, sua expressão passou a ser de raiva.

- Então, eu posso te levar pra minha casa, aí você dorme lá. O que acha?

O fato é que por mais que a minha consciência estivesse gritando para que eu dissesse “não”, porque eu já passei – e ainda passo –pela experiência traumatizante de cuidar de uma pessoa bêbada, o meu extinto protetor falou mais alto. Ela tá precisando de ajuda, e isso eu não nego a ninguém. E também, nunca se sabe quando eu vou precisar dela, não é?

- Sério que você faria isso por mim? – ela sorriu. – Awn, obrigada Logan!

Nossa, fiquei até surpreso com a capacidade que ela tem de mudar de humor tão rápido assim.

Guiei-a até o carro, antes que ela acabasse tropeçando nos próprios pés, e a coloquei lá dentro. Entrei e dirigi pra casa o mais rápido possível. Mas não tão rápido a ponto de não poder ouvir as besteiras que a Mellany foi falando pelo caminho inteiro.

- Você sabia que o sol só é quente porque o sangue dos unicórnios é roxo?

Mas hein? Primeiro que não existem unicórnios – pelo menos eu acho – e se realmente existirem, o sangue deles jamais seria roxo. Não é?

E isso não é nem metade do que ela veio falando, só pra vocês verem o estado da sanidade mental dela. A partir do momento que ela falou que viu uma vaca andando de skate, eu desisti de prestar atenção no que ela dizia e me concentrei no caminho.

- Vem Mellany, desce. – chamei ela que estava abrindo e fechando o porta-luvas freneticamente.

- Já chegamos em Nárnia?

- Nárnia? Mellany, você não tá bem. Vem logo!

Quando ela desceu do carro, quase tomou uma queda. Mas pra sorte dela – e pro meu azar – eu servi como apoio. E se não estivesse sóbrio, com certeza cairíamos nós dois, de cara no chão.

- Tira os sapatos. – pedi apenas por precaução.

Afinal, descalça ela corria menos risco de vida – e menos risco de quebrar o pé também.

- Ah, entendi. – ela começou a sussurrar. – Você não quer que os sete anões nos vejam entrando em casa, não é?

Apenas suspirei e esperei ela me entregar os saltos. No percurso até a porta, ela continuou falando idiotices.

- Hey! – chamou minha atenção.

A olhei esperando uma resposta.

- Eu posso te contar um segredo? – eu apenas assenti. – Mas você não pode contar pro Logan! – me advertiu.

Ok. Ela quer me contar um segredo, mas não quer que eu fique sabendo.

Confuso não? Mas é assim que ficam as pessoas quando estão bêbadas.

- Tudo bem, eu não conto. – menti.

- Olha, eu acho o Logan super lindo! – ela disse e depois suspirou. – Aqueles olhos azuis, o cabelo, o sorriso... Ele é tudo de bom! – ela concluiu.

Mas eu não me aguentei e acabei rindo.

- É isso que você acha dele? – perguntei ainda rindo.

E quem diria que um dia – mesmo bêbada – a Mellany diria que eu sou lindo...

- Acho isso e também acho ele muito gostoso. – ela mordeu os lábios de um jeito super engraçado. - Eu ainda vou seduzir aquele garoto e dar uns pegas nele!

Eu não acredito que escutei isso. Sério, eu poderia esperar de qualquer uma, mas a Mellany dizendo que vai me seduzir e me dar “uns pegas” é surreal!

Bom, mas vamos levar em consideração que ela está bêbada e não tem consciência do que está dizendo.

Por sorte, conseguimos chegar até a porta de casa tranquilamente.

Mas bastou eu abrir a porta, e a Mellany se agarrou em mim.

- Logan, eu to com medo. – ela sussurrou assustada.

Aí vocês se perguntam: medo de quê? Simples.

Medo do escuro. Eu até acharia normal, se não fosse pelo fato dela ter 17 anos e já ser bem grandinha pra isso.

Acontece que todas as luzes estavam apagadas, e quando entramos, a única coisa que vimos foi nada. (Confuso, eu sei.) Afinal, tava tudo escuro.

Antes que a Mellany me esmagasse e acabasse me sufocando, fui até o interruptor e liguei a luz. A sala toda se iluminou, mas a Mellany não me soltou. Foi preciso pedir.

- Mellany, já pode me soltar.

- Lá em cima ainda tá escuro. – ela choramingou como uma criancinha de cinco anos.

- Ok. Eu vou lá me cima e ligo as luzes, tá bom?

- Você volta pra me buscar?

Eu até ficaria com dó da carinha que ela fez, se não fosse pelo fato dela estar bêbada, ter 17 anos de idade, e a situação ser um pouco engraçada.

- Volto sim. – subi as escadas e fui ligando todas as luzes que vi pelo caminho. Antes de descer, pude ouvir a risada alta da Mellany.

“Nossa, pra quem estava com medo de ser abandonada a segundos atrás, ela já tá bem alegrinha.” Pensei sozinho.

- Adorei a piada! – ela ainda ria. – Você é muito engraçado!

Espera aí.

Rir sozinha tudo bem. Mas dizer que adorou a piada e “você é muito engraçado” já abrange outro nível. Afinal – pelo menos até a hora que eu tava lá em baixo – só temos eu e ela aqui em casa. E não, não pensem maldade.

Bom, não podem ser as empregadas. Elas só vêm dia de semana e pela manhã. Um assassino também não poderia ser. Afinal, nenhum maníaco conta piadas antes de fazerem suas vítimas. Ladrões também não. Então...

Antes que eu enlouquecesse pensando nas possibilidades de quem poderia estar lá me baixo com ela, desci correndo. Mas só encontrei ela sentada no sofá, ainda rindo.

- Mellany, com quem você tava falando?

- Com o Barnes.

- Quem é Barnes? – eu já tava me assustando.

- Ele! – e então ela apontou...

Para o controle remoto da televisão.

É SÉRIO ISSO?

Ela tava mesmo conversando e rindo de um controle remoto? E o pior: ela deu um nome pra ele?

Ok. A situação tá critica mesmo!

- Tudo bem Mellany, deixa o Barnes aí e vem comigo. – puxei-a pela mão.

Mas como o esperado, ela resistiu.

- Eu não vou deixar o Barnes sozinho!

- Mellany, o Barnes é só um controle.

- Shhhh! – ela pegou o controle e o apertou contra o peito. – Não fala assim, ele vai ficar magoado!

Revirei os olhos e desisti de tentar argumentar. Eu não vou ficar discutindo com uma garota bêbada, só por causa de um controle remoto. Não vai adiantar em nada mesmo!

- Ele sabe se virar sozinho. – levei-a até o quarto, antes que ela desistisse.

Abri a porta e ela novamente me agarrou. E tudo por causa da escuridão.

Como eu ainda necessito do oxigênio pra respirar, liguei logo a luz. Ela logo relaxou e me soltou. Deixei-a sentada em minha cama e fui lá em baixo trancar tudo. Voltei o mais rápido que pude, mas parece que não foi o bastante. Porque assim que adentrei o quarto, dei de cara com a Mellany tentando entrar...

No meu guarda-roupa.

- Meu Deus Mellany, o que você tá fazendo? – corri até ela, antes que ela caísse e desse de cara no chão, ou então, acabasse com tudo o que tinha no meu guarda-roupa.

- Shhh! – ela me interrompeu. – Eu to indo pra Nárnia!

Ah, claro! Nárnia.

O tão sonhado destino de viagem dela.

- Você não vai pra Nárnia!

- Vou sim!

- Não vai não! – eu já estava perdendo a paciência.

- Ah, por quê não? – ela perguntou brava. – O Príncipe Caspian é tão lindo!

- Mellany, Nárnia não existe! – eu disse com cara de tédio.

- Como você sabe? Você nunca foi lá!

Nossa, e agora? Onde eu enfio a minha cara depois de perceber que a uma garota totalmente bêbada e sem consciência do que está dizendo, acabou de arrumar um argumento melhor do que o meu?

- Mellany, você não vai pra Nárnia, e nem pra lugar nenhum! – a única solução foi bancar o exigente. – Aliás, o único lugar que você vai é pro banho. E agora!

- Você não pode me obrigar! – além de tudo ela ainda é rebelde.

Mereço.

- Posso sim! Tanto posso, quanto vou. – falei e a arrastei para o banheiro.

Não pensem besteira, pelo amor de Deus.

Liguei o registro e coloquei na temperatura fria. Definitivamente, um banho frio ia lhe fazer.

- A água tá fria? – parece que ela leu meus pensamentos.

Apenas assenti e antes que ela dissesse algo, a informei:

- E nem adianta protestar, porque se você não for por bem, você vai por mal.

- Você não seria capaz de fazer isso.

- Quer fazer o teste? – sorri maldosamente e resolvi brincar um pouco com ela.

Peguei-a pelo braço e ameacei colocá-la debaixo do chuveiro de vestido e tudo. E como toda patricinha que se preze, ela fez um escândalo para que eu não molhasse sua roupa de grife. Seu desespero foi tanto que chegou a ser engraçado.

- Logan, você é do mau! – ela fez uma careta super engraçada.

- Awn, tadinho do seu vestido, machucou? – perguntei rindo.

O fato é que mesmo que ela não vá se lembrar de nada amanhã, eu não posso perder a oportunidade de zoar com ela. Afinal, não é todo dia que o nerd tem uma chance de tirar uma com a cara da capitã das líderes de torcida.

Eu acho que seria uma ótima ideia filmar tudo isso e mostrar pra ela amanhã.

“Fofo Logan, foco!” Pensei comigo mesmo e lembrei que meu objetivo principal era fazer com que a Mellany tomasse um banho.

- Então, vai tirar o seu lindo vestido... – sem maldade gente. - ...e tomar banho sem reclamar, ou prefere que eu te jogue em baixo d’água e estrague a sua roupa? – nossa, eu não sabia que chantagear as pessoas era tão legal assim.

- Você é um chato! – ela gritou me dando um tapa.

- Bom saber que escolheu a primeira opção. – sorri cínico. – Agora espera aí que eu vou pegar uma toalha pra você!

A deixei esperando e fui buscar uma tolha limpa pra ela. Peguei a primeira que vi e a entreguei.

- Agora vai, toma seu banho aí enquanto eu vou buscar alguma coisa pra vestir.

Voltei ao quarto indo em direção ao meu guarda-roupa. Bom, eu não uso roupa de mulher, se é isso que vocês estão pensando. Mas é que a Débora costumava dormi aqui – na época em que éramos felizes, se assim posso dizer – e pode ser que tenha ficado algo dela aqui. Que eu ainda não dei sumiço, óbvio.

E como dizem que quem procura acha, com muito esforço, encontrei uma sacola da Victoria’s Secret ainda lacrada. Lembrei que era pra ser um presente para a Débora, mas nós terminamos antes mesmo que eu pudesse entregar o presente.

“Pelo menos não gastei meus quarenta reais à toa.” Pensei sozinho e deixei a sacola em cima da cama.

- Mellany, tem uma lingerie em cima da cama que você pode vestir. Eu vou no quarto da minha mãe procurar uma roupa pra você. Se precisar, me grita! – avisei gritando pra que ela pudesse me ouvir.

Antes que ela respondesse alguma coisa, fui até o quarto da minha mãe. Adentrei seu enorme closet e fiquei abismado – e perdido – com a quantidade de roupas que tinha ali. Certo que também tinham as roupas do meu pai – que eram poucas – mas ainda assim achei um absurdo. E olha que ela levou metade de suas roupas na última viagem!

Observei confuso as prateleiras e fiquei sem saber o que pegar para que a Mellany pudesse vestir. Primeiro porque é muita roupa em um lugar só, e segundo porque eu só preciso de uma simples camisola. E achar algo simples por aqui, tá difícil! Antes que eu terminasse de procurar, ouvi um grito vindo do meu quarto:

- Logan, vem aqui! – obviamente era a Mellany.

Fui até lá pra ver e quando cheguei ao meu quarto, tive a visão super excitante da Mellany com os cabelos molhados e usando apenas a lingerie preta da Victoria’s Secret, exibindo seu lindo corpo.

Certo, dizer que não me senti atraído por ela, agora não dá mais. Porque pelo amor de Deus, eu sou homem e tem uma garota seminua no meu quarto.

Levando em conta de que ela é linda e seu corpo é exageradamente sexy, é quase impossível não se sentir atraído.

Acho que preciso de um copo de água...