P.O.V Logan

Depois de quase babar olhando o corpo da garota em minha frente, resolvi tomar atitude – vergonha na cara, mais exatamente – e parar de encará-la por um tempo.

– O que foi Mellany? – perguntei quebrando o silencio.

– Ah, você tá aí! – ela sorriu ao se virar pra mim. – Sabe, é que eu queria saber onde vou dormir!

– Ah, é só isso?

– É! – ela falou simples e antes que eu pudesse falar, ela me interrompeu aflita. – Mas por favor, só me diz que eu não vou ter que dormir no quarto escuro! Eu morro de medo! – ela tava tão aflita que chegou até a ser engraçado.

Bom, dava pra perceber que ela tinha recobrado um pouco da consciência. Só uns 30%, mas já era um avanço. Sério, amanhã ela vai ficar com uma ressaca enorme. Porque se nem banho frio fez ela voltar ao normal totalmente, é sinal de que ela bebeu pra caramba. Mas pelo menos agora ela não vai falar sobre unicórnios com sangue roxo. Eu acho...

– Relaxa Mellany. Aqui nem tem quarto escuro! – não que eu saiba. – E você pode dormir no quarto de hóspedes. Enfim, vou voltar a procurar algo pra você vestir.

E eu realmente preciso fazer isso, porque ver a Mellany desse jeito não tá me fazendo bem.

Prestes a sair do quarto, fui interrompido pela Mellany, de novo.

– Não precisa. Já achei um vestido perfeito pra mim!

Fiquei até confuso, afinal, onde ela iria encontrar um “vestido perfeito” pra ela, no meu quarto?

Antes que eu fizesse mais alguma pergunta, ela já estava com uma de minhas camisetas em sua mão – não me perguntem onde ela achou – e rapidamente encaixou a peça em seu corpo.

Nem preciso dizer que ela ficou sexy né?

Mas vamos deixar meus pensamentos super inocentes pra outra hora.

– Mellany, eu não sei se você sabe, mas isso não é um vestido

– Então, é... Bom, acho que a gente já pode dormir né? – só então percebi o duplo sentido da frase. – Quer dizer, eu durmo aqui, e você dorme lá no quarto de hóspedes. – tratei logo de me corrigir.

Até porque, Mellany já disse que ia me seduzir e me dar uns pegas, levando em conta o fato de que ela ainda está meio chapada, não dá pra saber de que modo ela pode interpretar a merda que eu disse.

– Porque a gente não dorme junto? – ela perguntou.

Se não fosse pelo fato de ela ter feito uma carinha super inocente – e pelo simples fato de que ela é a Mellany – eu acharia que ela estava pensando em “outras coisas”.

Se é que vocês me entendem.

– Porque... – tentei pensar em uma desculpa em que eu não precisasse dizer que não dormiria com ela porque não sabia se conseguiria me controlar. – Porque você ficará mais confortável lá no quarto de hóspedes. É! É isso.

Comemorei internamente por não ter dito nenhuma idiotice.

Mas mesmo que eu dissesse, não iria fazer diferença. Considerando que Mellany me disse que viu uma vaca andando de skate, conversou com o controle da TV e acabou dizendo que minha camiseta era um vestido perfeito pra ela, nada do que eu dissesse – só se eu quisesse – seria pior do que as baboseiras que ela já falou ao longo da noite.

Levei ela até o quarto.

– Bom, fica a vontade... – acho que nem era preciso ter falado isso, porque antes mesmo de eu ter concluído a frase ela já estava deitada confortavelmente na cama. - ...e se precisar de alguma coisa, já sabe! Me grita, ok? – eu estava me sentindo uma mãe de família.

Comparação ridícula, eu sei.

Antes que eu pudesse sair totalmente do quarto, ela me chamou:

– Logan? – virei encarando-a. – Não vai me dar boa noite?

Suspirei vencido e um sorriso mínimo surgiu nos meus lábios. Se eu disser isso a ela amanhã, com certeza ela não vai acreditar.

– Boa noite Mellany!

– Boa noite Logan!

Apaguei as luzes e voltei ao meu quarto.Olhei de relance para o relógio e pude perceber que eram 03:27 da madrugada.

Nossa, não fui a nenhuma festa, não tive uma sexta-feira decente e ainda por cima, não vou dormir quase nada.

Realmente, sou um cara cheio de sorte. – sintam a ironia no ar.

Eu não sei se vocês sabem, mas tudo o que começa ruim, só tende a piorar. E a julgar pela minha noite de sexta-feira, acho que meu fim de semana vai ser um inferno – como sempre é.

Mas tipo assim, só acho.

Quando me deitei, finalmente pude relaxar o corpo. Suspirei e só aí parei pra analisar tudo o que aconteceu esta noite. E tudo me pareceu coisa de filme, sério.

Aonde que a meses atrás eu imaginaria que eu cuidaria da Mellany enquanto ela sofre de inconsciência alcoólica? Nunca! Se não fosse pelo fato de eu ter acordado as duas da manhã só por causa do Brian – disso eu não irei me esquecer até que eu faça ela me pagar – eu ainda acharia que estava dormindo e sonhando.

[...]

Depois de tanto pensar, desde em minha noite super legal – só que nunca – até em maneiras de como matar o peste do meu irmão por ter me feito perder metade da minha noite pra nada, já estava conseguindo pegar no sono.

Até que ouvi o barulhinho da porta rangendo. Não sei se foi verdade, ou foi só o efeito da sonolência. Mas mesmo assim, eu ouvi. Bom, se eu ainda fosse um menininho nervoso, a essa hora eu já estaria apavorado. Mas já que agora eu tenho 17 anos e sou apenas medroso, não fiquei tão assustado e resolvi ignorar.

Mas aí, a partir do momento que escutei o meu nome sendo chamado em um sussurro, as coisas atingiram outro patamar.

– Logan!

E novamente, eu ficaria apavorado. Se não fosse pelo fato de eu não estar sozinho em casa. Me forcei a levantar e olhei em direção a porta. E confirmei minhas suspeitas: era mesmo a Mellany.

Suspirei cansado, tomei coragem pra perguntar e me preparei psicologicamente para qualquer resposta possível.

– O que foi Mellany?

– Não consigo dormir. – ela disse com uma carinha de assustada.

“Oh céus, ela não dorme, e eu também não!” Pensei sozinho revirando os olhos.

– Fique tranquila. Volte pro quarto, se deite e volte a tentar dormir. – eu queria muito convencer ela de fazer isso, afinal, eu também preciso – e quero com todas as minhas forças – dormir e só acordar depois do apocalipse zumbi.

– Mas eu não posso! – ela insistiu.

Suspirei novamente, já desconfiando do que viria a seguir.

– Vai dizer que tem um monstro no guarda-roupa? – perguntei fazendo pouco caso.

E rezando internamente pra que não fosse isso – e nem fosse nada. Se não eu teria que levantar da minha cama super atraente e confortável e ir até lá “matar o monstro”.

– Não é isso! – antes mesmo que eu pudesse suspirar aliviado ela continuou. – É bem pior! – ela frisou a ultima parte.

E então eu só faltei cair pra trás.

Porque, tipo, o que de tão ruim poderia acontecer a essa hora da madrugada?

“Além de arrombamento de casas, assaltos, homicídios e sequestros?” Ignorei totalmente o meu subconsciente tentando me fazer sofrer por antecipação, reuni coragem e perguntei:

– Então o que foi que aconteceu?

É óbvio que eu não estava nervoso. Eu? Nervoso só de pensar nas possibilidades de coisas graves que poderia acontecer?

Imagina, nem um pouco.

– Tem uma barata enorme transitando pelo quarto!

E então eu só faltei cair pra trás, novamente.

Mas não de nervosismo ou susto, e sim de incredulidade.

Porque é I-N-A-C-R-E-D-I-T-Á-V-EL o fato dela ter me acordado por causa de uma simples barata.

Ela se faz de durona o tempo todo e agora está com medo de uma barata.

Efeito do álcool, só pode.

– Todo esse pânico por causa de uma barata? – perguntei arqueando uma sobrancelha.

– Logan, entenda. Não é só uma barata. É uma barata enorme! – ela deu ênfase no “enorme”, me fazendo revirar os olhos.

Bufei e me joguei novamente na cama, encarando o teto branco e super interessante do meu quarto.

Eu tenho certeza de duas coisas: a primeira é que eu quero dormir tanto quanto o Percy Jackson queria o velocino de ouro. E a segunda é que se eu não for lá e exterminar cruelmente aquela barata, não vou conseguir dormir do jeito que eu tanto desejo.

Como sempre, me dei por vencido e resolvi ir logo resolver aquela palha assada toda.

Cheguei ao quarto de hóspedes e pra minha sorte – pois é, milagres acontecem – a barata estava parada perto da lateral da cama. Fui até lá com um intuito de dar uma pesada nela até esmagá-la completamente.

“Pobre barata, vai morrer só por causa da frescura da Mellany.” Pensei sozinho e me preparei pra cometer um assassinato frio e cruel.

Quando meu pé estava indo de encontro com as costas da coitada, a barata simplesmente correu pra debaixo da cama.

Bom, pelo menos ela foi inteligente e fugiu. E quando eu pensei que estaria livre, Mellany começou a gritar e a correr em círculos pelo quarto.

– Oh meu Deus Logan! A barata ainda tá viva! Ela fugiu! F-U-G-I-U! Agora eu não faço a mínima ideia de onde ela pode estar escondida! E se ela quiser se vingar e me atacar no meio da noite? – pobre Mellany, mal sabe ela que já são quase 4:00 horas da manhã e que a noite já passou a muito tempo.

A expressão de pânico dela era cômica. A situação era cômica. Mas eu estava cansado demais pra achar graça nisso tudo.

– Pelo amor de Deus Mellany, a barata já deve estar lá onde Judas perdeu as botas! Deixe de se preocupar com isso e vá dormir! – ordenei e ia voltar ao meu quarto.

Se não tivesse sido impedido por um garota loira que tem fobia de baratas.

– Logan, eu não posso dormir aqui. De jeito nenhum! – ela suplicou.

Eu queria muito resistir e dizer um sonoro “não me importo”.

Só que eu sabia que se não desse uma solução nisso, não ia dormir tão cedo.

Mas bom, eu estava sem saída. Afinal, o pobre inseto já deve estar lá no quinto dos esgotos e eu não acharia um cadáver de barata para provar a Mellany que eu realmente matei a causadora do seu medo.

Só me restava uma opção.

Mas ia dar merda.

Mas eu acho que não tem mais como piorar.

Certo que minha vida magnífica– ironia - não ajuda em nada. Mas era isso, ou ficar acordado até o sol nascer.

E apesar de que nenhuma das duas opções me atrai, a primeira com certeza é melhor. Afinal, eu poderei, finalmente, dormir.

– Ok Mellany, você pode dormir lá no meu quarto, comigo. – me dei por vencido e a arrastei até lá.

É claro que ela não iria dormir na cama comigo. Mais claro ainda que ela iria dormir no pequeno sofá que tinha ali.

Lhe entreguei alguns travesseiros e um cobertor, e indiquei o sofá a ela.

– Bom, seja feliz e durma! – e logo após me deitei a fim de descansar.

Mas é claro que a Mellany odiou a ideia.

– Logan! Onde está o seu cavalheirismo? – ela perguntou.

– Evaporou, junto com a minha disposição pra ficar acordado e discutir com você. – respondi com o rosto enfiado nos travesseiros.

– Eu não vou dormir aqui!

– Eu só posso lamentar.

Ouvi ela respirar fundo e pensei que ela iria desistir e ir dormir, mas ao contrário disso, só a ouvi dizer.

– Bom, mas eu sei que você me considera uma pessoas super especial... - só que não. - ...e que jamais me deixaria passar a noite aqui nesse sofá duro e hiper desconfortável. – nem um pouco dramática. – Então, vou te poupar de ter o trabalho de me convidar.

Eu até iria perguntar pra que raios eu iria convidá-la, mas não foi preciso. Não depois que eu senti um lado da cama afundar e seus braços finos rodearem minha cintura.

– Eu aceito dormir aqui com você.

E então ela caiu no sono.

Suspirei e desliguei o abajur, fechando meus olhos e me concentrando em qualquer coisa que não fosse a Mellany, deitada ali junto comigo.

Autocontrole, agora é com você...