Batalha Real - Matar ou Morrer! escrita por Stark


Capítulo 16
Observando


Notas iniciais do capítulo

Entre dilemas morais, sede e estresse, os alunos precisam se preocupar também com estratégia. Além de serem observados pelos telespectadores e pelos organizadores, podem estar sendo observados pelos outros participantes.



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11 horas e 56 minutos de jogo...

Lucas estava na cozinha de um pequeno apartamento no quadrante C-4, esquentando água na chaleira para preparar um café. Acordara um pouco enjoado, mas estava relativamente feliz com sua situação, o apartamento em que passara a noite era indiscutivelmente confortável se ele fosse comparar à situação dos alunos da edição anterior do Programa. “A maioria deles ficou no meio do mato, caçando uns aos outros, foi tão horrível a primeira noite... Eu apostei no garoto 15 eu acho... Aquele menino da submetralhadora... Morreu de infecção...” Ele se lembrava, olhando triste e feliz ao mesmo tempo para o seu arco e flecha, era impossível esquecer aquela menina do porquinho da Índia.

Desligou o fogão e despejou a água na xícara já com café. “Será que eu deveria matar?” Ele se perguntava. Havia se perguntado isso desde o momento em que recebera sua bolsa e deixara a sala de aula. De fato, achava que já teria matado se Delhidiani não tivesse lhe impedido. Deveria odiá-la ou agradecê-la? Honestamente não sabia. Olhou para o relógio e viu que eram 10 horas da manhã, o sol já estava no alto.

Escutou barulhos na rua e com cautela, olhou pela janela. Em frente ao posto de gasolina ao lado do prédio onde estava, no meio da rua, Gabriel caminhava com dificuldade. “Mas que merda esse cara tá fazendo?” Lucas pensou, observando o colega andar pela rua aos tropeços e cair no chão, derrubando o próprio revólver metros à sua frente. “Será que ele tá fugindo de alguém?” Lucas pensou. Mas ninguém se aproximava.

Lucas não sabia se dava risada ou se sentia mal pelo colega, que agora estava caído no meio da rua, embaixo do sol e sobre um asfalto fumegante. Cogitou pegar o seu arco e flecha e atirar para matar, mas não garantia que fosse acertar daquela distância, e caso alguém estivesse se aproximando, ele entregaria sua posição. De repente, no alto de um prédio em frente ao posto de gasolina, do outro lado da rua, um soldado erguia um pequeno paraquedas. O soldado soltou o paraquedas e ele desceu com uma leveza impressionante até o meio da rua, ao lado de Gabriel. “Patrocinadores... Merda! Esse bosta tem patrocinadores?”

***

Gabriel estava caído no meio da rua no quadrante C-4, estava cansado e morrendo de sede, literalmente. Passara a noite toda acordado vagando pela cidade, com a adrenalina ao máximo, que se esquecera de beber água. Ele bebera um pouco da água de sua garrafa à noite e usado outra parte para jogar no rosto, se arrependia amargamente dessa decisão. Aliás, se arrependia de ter passado a noite em busca de outros alunos, poderia ter perfeitamente entrado em qualquer prédio e bebido um pouco de água. Sua boca estava seca como nunca e sua cabeça doía muito.

Era um alvo fácil, parado ali no meio da rua. Ele se esforçava para alcançar o pequeno paraquedas ao seu lado. “Patrocinadores... Eu tenho patrocinadores? ... Sim... Tomara que seja água... Água...” Ele pensava, e não se decepcionou ao conferir que acabara de receber algo melhor que uma simples garrafa com água, ele havia recebido um energético “Obrigado Deus! Muito obrigado Deus!” Ele pensava, bebendo de uma só vez, quase toda o energético da garrafa, quando percebeu um pequeno bilhete que veio junto com a garrafa. "Acreditamos em você, não estrague tudo". Gabriel conseguiu ler.

***

Olhando pela janela, ao alto, Lucas analisava a situação descrente enquanto observava Gabriel se levantar com dificuldade, apanhar seu revólver do chão e continuar a caminhar. Precisava se lembrar de como funcionava o sistema de patrocínio. Aquela única garrafa de água deve ter custado milhões, ainda mais considerando o fato de que a vida dos alunos valia praticamente nada para o Governo. Mas tudo aquilo fazia parte de entreter o público, que a essa hora devia estar dividido entre animados e aborrecidos com a sobrevivência de Gabriel.

“Isso! Sobreviver! Agora eu lembrei... Você só pode receber a dádiva dos patrocinadores se você estiver correndo risco de vida, mas não pode receber armas, só mantimentos, eu acho... E as pessoas precisam gostar de você... Ou devem, ter apostado muito em você...” Lucas pensava, imaginando se alguém estaria apostando nele agora.

***

Gabriela chegou até o quadrante F-9, onde encontrou o monumento da cidade, uma grande estátua de um santo local. Segurando sua faca militar, daquela altitude ela tinha uma ampla visão da cidade inteira, e agora observava cada rua atenta como um falcão buscando sua presa.

***

Daniel estava no segundo andar do prédio da farmácia, no quadrante F-5. Era uma sala onde deveria funcionar alguma espécie de escritório, com muitos livros. Ele posicionou uma mesa no centro da sala, onde colocou sua bolsa e sua espada. Sentado ao lado da mesa e olhando para as ruas da cidade, a única coisa que ele conseguia pensar era em que merda ele se havia metido. No que se tornou a vida de sua turma? Estava começando a ficar frustrado, lutou contra sí mesmo o tempo inteiro para se convencer de que teria chances de sobreviver e que conseguiria manter a calma.

Será que ele conseguiria mesmo vencer? Seria moleza, se ele tivesse recebido um fuzil como o Gustavo. Mas com a sua katana, as chances não estavam muito à seu favor. E supondo, que mesmo se tivesse recebido uma arma excelente, conseguiria matar seus próprios colegas? O Felipão? O Vinícius? A Helia? Será que ele, conseguiria olhar no fundo dos olhos dessas pessoas e apertar um gatilho? O pensamento lhe perturbava, começava a imaginar ele mesmo, matando cada um de seus colegas. Suspirou, se levantou e olhou a rua pela janela, precisava manter o foco, ou acabaria enlouquecendo.

***

Luana continuava dentro do carro no estacionamento da concessionária no quadrante D-3, onde passara e noite e vira Diego passar por ali com o seu machado. Escutou o nome do colega no anúncio da manhã e se perguntava quem o teria matado. E será que ele matou alguém? Era impossível saber. Olhava para a bomba que recebera e se perguntava qual seria a melhor maneira de usá-la. Não, não iria matar. Se recusava. Se matasse, estaria sendo condizente com tudo o que o Governo impôs ao país. Se transformaria em apenas mais uma peça nos jogos, da mesma forma como alguns de seus colegas se transformaram.

Se lembrou dos seus colegas, alguns deles já haviam matado uns aos outros. Isso lhe dava nojo, como eles conseguiram se deixar levar pelas regras? “É o medo, se deixaram levar pelo medo. É tudo uma questão de medo. Eles nos controlam, devem ter estudado a nossa turma por algum tempo, e já devem saber as respostas emocionais que alguns de nós teríamos. Malditos!” Luana pensava, escondida dentro daquele carro, ali ela se sentia segura. “Merda!” Ela pensou, quando viu Giane entrar no estacionamento e começar a conferir carro por carro, abrindo as portas dos veículos procurando alguém.

***

Izabela caminhava pelo quadrante B-3 segurando um galão de gasolina que conseguira no posto do mesmo quadrante e uma caixa de fósforos que encontrou em um mercadinho, onde passou a noite. Havia saído da escola sem sua bolsa, e agora que tinha um plano, isso já não lhe incomodava mais. Não era um plano para matar seus colegas, ao contrário, se recusava a matar e era completamente contra a política do Governo, aliás, a essa altura, todos os seus colegas também. Mas Izabela fazia questão de deixar isso claro, falando volta e meia para as câmeras o quanto odiava o sistema e a ditadura. Não tinha mais medo deles, o que eles poderiam fazer de pior? Já estava condenada à morte.

Já fazia algum tempo que não escutava tiros, o ritmo do jogo estava diminuindo e agradecia por não ter encontrado nenhum assassino frente a frente até essa altura. Ela poderia sim chegar até as finais, no final sempre sobram os barras pesadas e os sortudos, e os barras pesadas, inevitavelmente acabam ganhando. E com certeza não seria diferente com a sua turma, não haviam motivos para ser diferente. Carregando o galão de gasolina e uma caixa de fósforos no bolso, ela imaginava, quem de sua turma já teria matado alguém, e se agora o corpo de outro aluno estaria abandonado sem vida, em alguma das ruas da cidade.

***

Tainá havia deixado o Supermercado e agora se encontrava em um apartamento no quadrante J-8. Era um prédio razoavelmente alto e se encontrava exatamente ao fim da rua, dali ela conseguiria ver perfeitamente se alguém se aproximava e avaliar a situação, analisando se poderia ou não eliminar o participante que aparecesse naquela por ali. Estava em uma das sacadas mais altas quando viu um movimento na rua, era um aluno. Imediatamente reconheceu aquela cabeleira loira correndo cansada pela rua, vindo em direção ao prédio onde estava.

“Helia! O que ela tá fazendo? Por quê ela tá vindo pra cá? Merda... Ela só pode ter mudado de ideia e agora está vindo aqui me pegar. Ela está vindo me matar!” Tainá pensava, olhando para a colega, correndo na rua em sua direção. Helia agora acenava para Tainá com a arma, a outra mão segurava a alça da bolsa. “O que ela tá fazendo? Tá acenando pra mim? Pra outra pessoa? Será que tem mais alguém aqui nesse prédio? Merda... Eu devia ter conferido antes, ela deve estar dando sinal pra outra pessoa vir aqui me matar...” Tainá se desesperava, quando percebeu que os braços da colega, que agora corria o mais rápido que podia, faziam movimentos para a frente, como se a mandasse fugir.

“Ela quer que eu corra? Mas... O quê? Ela quer que eu me esconda! Por quê?” Tainá se perguntou, quando viu Helia, que agora já estava em frente ao prédio, se jogar para o meio das árvores ao lado do edifício e deslizar cambaleando em um barranco na beira do rio. Em uma fração de segundos, viu na rua, alguém se aproximando, armado com uma espingarda. Não quis ficar mais nenhum segundo ali na sacada, exposta, e sem reconhecer quem se aproximava, entrou de volta no apartamento.

***

Cícero corria com muita dificuldade pela rua do quadrante J-6, havia levado dois tiros, um no braço e outro no ombro esquerdo, sentia dor, as balas ficaram alojadas e qualquer movimento com o braço atingido era um enorme sacrifício. Mas agora corria por um motivo, um excelente motivo. Havia deixado a casa em que matara Bruna e passara a noite, e ao chegar na praça em frente à Igreja avistou Helia, não chegou a vê-la de rosto, quando a avistou a garota já se encontrava em disparada, mas aqueles cabelos louros eram inconfundíveis. A seguiu com muita dificuldade pela rua, mas agora, ao chegar ao final da rua e olhar para todos os lados, se deu conta de que a perdera de vista. Frustrado, ele atravessou a pequena ponte que dava acesso à Avenida da cidade e continuou sua busca, ela não poderia estar muito longe dali.

***

Luana continuava escondida dentro do carro, Giane também estava no estacionamento e abria um carro de cada vez, e não iria demorar para a garota abrir o carro em que ela se encontrava. Clanc. BLAM! Clanc. BLAM! Luana escutava Giane abrindo as porta dos carros e as fechando com raiva. Faltava apenas mais um carro e logo Giane a encontraria, no banco traseiro daquele carro. “Que arma ela tem? Tomara que não seja algo cortante... Por favor... Seja apenas um BANG e fim... Sem sofrimento... Acabou pra mim.” Luana pensava quando Giane se aproximava do carro onde estava. Clanc. Giane abriu a porta traseira.

– Oii... – Giane disse para Luana, sorrindo.

Sobreviventes: 22 e contando...




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Notas finais do capítulo

Estão gostando da história? Comentem! O próximo capítulo sairá o mais breve possível.



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