Carmilla escrita por camila schwert


Capítulo 7
Não pare agora - Parte 2


Notas iniciais do capítulo

Desculpe a demora para postar. A semana foi cheia e eu mal consegui escrever decentemente... no final de semana eu prometo mais postagens. Boa leitura.



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Ela estava no quarto, deitada com a cabeça pra baixo, caindo da cama; os cabelos caiam da cabeça dela como um riacho negro, tocando o chão com as pontas mais claras. Ela estava ouvindo música, o som das canções do "Forever Halloween" enchendo o recinto com suas notas musicais perfeitamente ritmadas, a voz de John O'Callaghan melodiosa e a de Kennedy Brock logo atrás, mas não menos importante. Ela cantarolava os versos de "Run", e não ouvia o barulho insistentemente chato do telefone tocando. No intervalo de alguns segundos entre uma música e outra, ela ouviu o toque estridente. Diminuiu o volume do rádio e atendeu o telefone, sem imaginar quem poderia ser. Continuou de cabeça para baixo, com os cabelos ainda batendo no chão enquanto ouvia a voz da mãe começar a falar. Ela sorriu.
- Carmilla? Como você está? - Ela perguntou. Alana Karnstein nunca foi do tipo que contém a raiva, ou o rancor, ou a emoção. E agora ela estava se esforçando muito para não parecer desesperada. Mas não estava funcionando.
- Bem. - Ela foi direta. Não perguntou como a mãe se sentia; não se importava. Lembrou do dia em que a mãe mandou que fosse embora morar na casa do pai, longe de tudo e todos. Ela simplesmente não conseguia apagar o rancor de dentro de si. A mãe respirou fundo do outro lado da linha.
- Eu queria que você voltasse. - Ela disse. Carmilla levantou as sobrancelhas, em um sinal evidente de surpresa. A mãe estava com a voz aguda, prestes a chorar. Ela estava com saudade, estava claro.
- Não quer mais? - Carmilla respondeu novamente. Ela não queria saber o que a mãe estava sentindo, se estava bem, mal, feliz ou triste. Não fazia diferença saber o que a mãe sentia.
- Quero. Venha. Volte. Por favor. - Alana pediu. Carmilla pôde ouvi-la chorar, uma lágrima e um soluço, nada mais. Não se deixou abalar. Colocou o celular no viva-voz e o jogou na cama, levantando-se. Desligou o rádio e começou a jogar cadernos aleatórios na mochila, colocando também as chaves do carro e alguns documentos que não eram necessários. - Veja, você... Você faz falta aqui. - A mãe disse, mas mesmo assim, não obteve efeito nenhum sobre a filha. Ela não queria saber, de verdade.
- Olha, você que me desculpe, mas eu tenho que ir. - Carmilla disse. Jogou o cabelo para trás, tirando-o do rosto, e começou a caminhar para fora do quarto. Colocou o celular na orelha, agora em modo normal de voz. A mãe estava suspirando quando ela chegou à porta da casa. O pai não estava.
- Eu só queria que você estivesse aqui. - Alana tornou a dizer, na esperança vã de que a filha quisesse voltar para casa. Mas ela não queria, e não voltaria. Ambas tinham plena consciência disso.
- Não quero ouvir versos de nenhuma música do Pink Floyd agora. - Ela já estava no subsolo, as portas do elevador se abriram e ela saiu. O Lexus estava ali, preto, do jeito que ela havia deixado há algumas horas. Ela sorriu. - Tenho aula agora. Tchau. - Desligou o telefone, cortando a conversa com a mãe no meio.
O estacionamento estava praticamente vazio. Haviam poucos carros - efeito da manhã de uma quarta-feira. O aroma do estacionamento era sempre o mesmo: aquela mistura de gasolina com carro novo e asfalto queimado. Abriu a porta do carro e se sentou no banco do motorista, jogando a mochila no banco ao lado. "Bleach" ainda estava no rádio, então ela apenas ligou e aumentou o volume, balançando a cabeça ao som das músicas. Pensou na desculpa que inventara para se livrar da mãe - foi a mesma desculpa que usou com o pai e Lucian. Esperava não tornar disso um hábito, mas o que podia fazer se todos queriam arrumar confusão? Estava animada enquanto dirigia para fora do condomínio, mas também cansada, de modo que dirigiu muito lentamente até a escola, enfrentando todo o trânsito caótico da manhã, e então ficou impaciente. Estava com os pés doloridos de tanto dançar - colocara um tênis macio que a deixava à vontade. Tudo de que não precisava agora era caminhar mancando pelos corredores da maldita escola. Vestiu um short desfiado e uma camisa social branca. O tempo estava bom, bastante sol e um céu límpido e sem nuvens. Ela gostava assim. Suspirou enquanto entrava na escola, o estacionamento já totalmente lotado. Dirigiu fazendo voltas e mais voltas pelo estacionamento procurando por uma vaga disponível. Por fim encontrou, e deixou o carro ali - do outro lado da escola, bem longe dos prédios de aula.
Caminhava pelas calçadas da escola como se estivesse em um desfile da Chanel. Olhava para a frente, nunca para baixo ou para o lado, os olhos verdes mirando os prédios de salas; era uma classe natural, estava impregnada em seus ossos, em seu sangue. Ela estava com o horário das aulas em mãos novamente, procurando pela maldita sala de química. Pensou em voltar para o carro e ouvir alguma outra coisa, um CD indie, talvez, mas não tinha vontade de caminhar até o estacionamento. No meio do caminho, quando ela estava caminhando entre o prédio 3 e o 4 à procura da sala de aula certa, o sinal bateu, alto e insistente. Já eram 9:15 e ela tinha que entrar em sala de aula, e nem ao menos a havia encontrado ainda - e então alguém esbarrou nela. Ela deixou cair o papel com o horário de aulas no chão após o atrito, mas quem quer que havia batido nela com o braço já estava bem longe naquele mar de gente mal vestida. Ela tinha até nojo de se abaixar para pegar o maldito papel - até que alguém o fez por ela.
Uma mão branca e esguia com dedos longos pegou o papel do chão, erguendo-o para perto dela. O garoto que estava parado à sua frente era louro, extremamente louro, o cabelo aparado nas laterais e com uma espécie de franja falsa que caía em seus olhos verdes, tão verdes quanto os dela própria. Ele puxou as mechas para trás e sorriu, um sorriso cativante que quase a fez querer sorrir também. Ela pegou o papel da mão dele, e ia continuar caminhando atrás da porcaria da sala de aula, mas ele a impediu, segurando seu braço. Sua mão era fria, um pouco gelada demais.
- Você é nova por aqui - Ele disse, a voz grave. Ela assentiu com a cabeça, sorrindo de canto. - Posso te ajudar? - Perguntou, virando a cabeça de lado para olhar para ela.
- Quem sabe... - Ela o avaliou da cabeça aos pés muito lentamente, de maneira que ele percebeu que ela o estava encarando. Ele vestia uma calça jeans preta, do tipo skinny, caída no quadril. A camiseta dele era preta, com a estampa da banda "Ramones", e acabava alguns poucos centímetros acima da calça, de forma que a cueca e uma pequena parte do quadril eram visíveis. - Eu preciso encontrar a sala vinte e dois. - Ela disse. Ele sorriu, e desceu a mão pelo braço dela, até o pulso, e depois até a mão. Ele subitamente a puxou para o lado oposto, fazendo-a quase cair no chão com a força que aplicou.
Caminharam pelos corredores cheios juntos, ele na frente, caminhando rápido - ou aquele era o passo normal dele, considerando que era incrivelmente alto - e ela logo atrás, sendo puxada pela mão gelada dele. Algumas pessoas olhavam torto para eles, como se nunca tivessem visto uma garota sendo puxada por um loiro de um metro e oitenta. Ele caminhava pelos corredores como se tivesse crescido entre eles, entre as paredes cheias de cartazes e as portas com avisos. Eles subiram algumas escadas, e logo os corredores já estavam vazios, cheios de papel de bala e outras coisas inúteis. Ela sentiu nojo só de pisar os pés naquele chão.
- Chegamos - O garoto ainda sem nome disse, sorrindo. Indicou com o dedo polegar a porta fechada de uma sala qualquer, e ela soltou a mão dele, e então, subitamente, ele abriu a porta e entrou na sala. Ela o seguiu, e ao entrar na sala tudo o que viu foram alunos dormindo e um professor corrigindo alguns papéis. Ele bateu com um dedo na perna dela e seguiu caminhando por um corredor, e se sentou em uma cadeira; ela sentou atrás dele. O professor não os viu entrar, de  imerso que estava naquela papelada toda. Alguns alunos estavam acordados, fazendo contas em calculadoras ou desenhando nas mesas. O louro virou-se para Carmilla e sorriu. - Meu nome é Jonathan. - Ele estendeu a mão para ela, que o cumprimentou sem sorrir; sua mão era inteiramente gelada, o pulso também, e ela imaginou se o resto do corpo dele também seria frio.
- Carmilla. - Ela sorriu torto apenas após proferir seu nome, e ele abriu mais o sorriso.
- Bem vinda. - Ele piscou o olho e se virou para a frente. Ela sorriu sem deixá-lo ver.
A aula inteira de química - aproximadamente cinquenta minutos - foi resumida a silêncio. O professor corrigia papéis e fazia anotações, e nenhum aluno parecia interessado em estudar, muito menos permanecer acordado naquele silêncio infernal. Carmilla colocou a mochila sobre a mesa e dormiu, enquanto Jonathan ficou desenhando alguma coisa qualquer em cima da mesa. Quando o sinal bateu, havia alunos totalmente aturdidos, tropeçando pelas cadeiras empoeiradas e depois pelas mesas. Ela não queria nem saber de levantar, sentar ou sequer acordar. Jonathan puxou seu cabelo com força para que ela realmente despertasse do sono - ela estava cansada, com cada partezinha do corpo doendo, os pés latejando e a cabeça zunindo. A outra turma já estava na sala, e assim todos viram Carmilla sair com cara de sono e o cabelo bagunçado, mas ela não se importou - Jonathan inclusive parecia incrivelmente consciente deste fato, tanto que saiu rindo. Carmilla encontrou a próxima sala sozinha - o garoto louro se separou dela assim que saíram da sala de aula. Um aviso na porta da sala indicava que não haveria nada na sala hoje - o professor não se sentia bem ou qualquer coisa do gênero. Ela saiu dos corredores ensolarados caminhando devagar, tendo em mente que não teria mais aula até o meio-dia. Estava estranhamente animada, talvez porque já tivesse dormido um pouco e agora já não se sentia tão cansada. Lucian passou por ela pela calçada vazia, a viu e deliberadamente a ignorou. Ela quase foi atrás dele para ao menos chutar seu estômago, porque depois de ele ter pedido para que ela ficasse na maldita biblioteca na frente de uma lareira quente demais e ela ter ficado (quando podia muito bem ter ido para casa dormir), ele ao menos deveria ter fingido que ela era alguma coisa além de uma garota com um corpo maravilhoso. Ela caminhou alguns passos mais rápido para chegar até ele, mas lembrou a si mesma que não valia a pena. Ele era só Lucian. Ela não sentia nada por ele.
Dirigiu sem pressa - o trânsito estava tranquilo por conta do horário. O sol batia no vidro do carro, dos prédios, nas janelas quaisquer das casas e lojas - a visão era bonita, e ela apreciava. Nem todos sabiam ver o mundo como Carmilla - ela conseguia enxergar através da poeira, da sujeira, das coisas ruins, e enfim encontrar alguma coisa boa em cada lugarzinho desprezível. Mas só quando queria, é claro. Não valia a pena ver a verdade do mundo o tempo todo; a visão da realidade podia matar. Por fim, descobriu que até a visão do prédio onde morava era bela - as janelas dos apartamentos, todas límpidas e quadradas, sem um sinal sequer de sujeira. Os prédios tinham a mesma cor, o mesmo tamanho, a mesma imponência - e a visão de fora era bonita, é claro. A luz do sol batia nas paredes e o brilho voltava como um arco-íris de concreto.
No subsolo do prédio, quase bateu o carro em um pilar enquanto estava cantando os versos de "Bleeding out". O quase acidente a fez respirar fundo com medo, apavorada com a possibilidade de o Lexus ficar com um arranhãozinho sequer. Ela era assim - não se importava com saúde, com família, muito menos com amor. Mas se algo acontecesse as seus bens materiais... seria uma tragédia. Carmilla depositava todo o amor, todo o respeito, todo o carinho que deveria ser destinado aos amigos e à família em carros, jóias e coisas do gênero. Talvez por isso ela fosse tão inquebrável.
Subiu para o andar onde morava cantarolando os versos de "Aneurysm". Quando a porta do elevador se abriu e ela saiu, esbarrou em um homem alto, extremamente branco, com olhos incrivelmente acinzentados, de um tom tão claro que era quase branco. Ela imediatamente tremeu, um movimento involuntário do corpo; um medo estranho, anormal, sem razão. Ele vestia um terno bem cortado, provavelmente feito sob medida. Seus cabelos eram compridos e muito escuros, da cor do mármore mais puro; compridos até os ombros e lisos, penteados para trás. Ele só fez uma pequena troca de olhares com ela, não durou nem um segundo inteiro, mas ela sentiu um pavor absoluto, e em seguida, algo ainda mais apavorante para ela: reverência. Ela podia ver que nele, seja quem fosse, havia uma classe dominante, como se ele fosse o dono do mundo. Como se ele fosse o homem que havia vendido o mundo.
Ela só recuperou o fôlego no corredor, caminhando a passos lentos para não tropeçar. Abriu a porta ainda tonta e entrou em casa, praticamente se jogando contra a porta para fechá-la. Era ridículo se sentir assim por causa de um homem; ela não era mais uma menininha, uma reação dessas era típica de uma garota de quatorze anos, não de uma garota de dezessete. O pai estava na sala, foi a primeira coisa que ela viu. Vestia uma roupa social, um terno acinzentado e o cabelo estava bagunçado; a mesa de centro a sua frente estava cheia de papéis, relatórios, canetas espalhadas e várias xícaras. Ela deixou a mochila sobre a mesa de jantar e foi até lá - o pai estava parecendo um zumbi, com olheiras arroxeadas sob os olhos, o cabelo escuro totalmente errado na cabeça. Ele olhou para a filha, mas não sorriu.
- Angel morreu. - O pai começou a dizer. Alex raramente se importava com a vida ou a morte dos funcionários, mas agora estava atônito. A garota morta tinha apenas vinte e dois ans, uma vida inteira pela frente, e ele teria que fazer um discurso no funeral dela. Ele sequer sabia o sobrenome da menina. - Ela era a minha secretária. - Alex esclareceu, porque Carmilla parecia não saber quem era o cadáver. Ela se sentou em uma cadeira, longe do pai, para ouvir o que ele tinha a dizer. - Ela foi encontrada morta em um beco qualquer. Droga, o cabelo dela... ela sempre estava com ele solto nas reuniões informais da empresa. Ela mal tinha a porcaria do cabelo quando eu a identifiquei! Droga! - Ele estava bravo, nervoso, irritado e assustado. Alex era frio na maior parte do tempo, e não só calculista, mas também extremamente egocêntrico. Mas agora, com a morte da menina, estava ridiculamente exposto. Sua respiração estava entrecortada de tanta apreensão. - Eu não tenho uma secretária tão eficiente desde que abri aquela empresa. Eu... merda, eu não acredito. - Ele colocou as mãos na cabeça, o cabelo escuro caindo para a frente do rosto. Carmilla nunca tinha visto o pai daquele jeito, e começou a ficar nervosa. Quanto aquilo duraria? Ela teria que organizar aqueles papéis todos?
- Existem muitas outras secretárias mais qualificadas por aí, com cabelos melhores e até apliques. - Ela disse, sem se deixar realmente abalar. Ela desejou, por um curto espaço de tempo, realmente ter conhecido a funcionária, mas não se ateve à ideia. Ela era apenas uma funcionária. - Promova alguma outra garota. - E assim ela saiu, indo diretamente para o quarto.
Jogou a mochila no chão e caminhou tirando as roupas que usava, deixando-as atrás da porta do banheiro. O banho em si não demorou muito mais do que dez minutos - ela só queria molhar o corpo, na tentativa de a água quente fazer com que ela se sentisse melhor e aliviasse a tensão dos ombros. Lavou o cabelo com os dedos, massageando o couro cabeludo com paciência e sem força. Deixou a espuma correr pelo corpo, esbranquiçada e cremosa. Algo estava errado, e não era com ela. O tempo estava mudando - o sol já estava atrás das nuvens, jogando sua luminosidade por entre as frestas entre elas. Ela podia sentir a chuva que viria, e uma melancolia ridiculamente infantil invadiu seu peito. Era só a chuva. Era só a droga da chuva.
Ela vestiu uma blusa que caía nos ombros e tinha as mangas compridas até as pontas dos dedos, uma calça jeans e um Converse de cano alto. Se olhou no espelho, observando as pontas dos cabelos pingando. Parecia uma adolescente - estava igual a quando tinha doze anos. Uma ânsia incontrolável a encheu de um sentimento estranho, algo como nojo de si própria. Suspirou. Ela teria de mudar alguma coisa. De verdade. Correu até o banheiro e alcançou a  tesoura que ficava na caixa da farmácia, onde ela guardava remédios e coisas do tipo. Cortou as pontas do cabelo, e depois decidiu cortar mais - diminuiu as mechas até o ombro, fazendo uma pilha de cabelo escuro na pia. Depois, simplesmente cortou a lateral do cabelo. Quando olhou seu reflexo no espelho, gostou do que viu. Ela sorriu. Deixou a água da torneira correr para levar os longos fios embora, e bagunçou os cabelos para se livrar dos fios cortados.
Caminhou de volta para a cama e pegou o telefone enquanto ele tocava. Atendeu antes que pudesse cair na caixa postal, deitou-se na cama e ficou mexendo nos cabelos, enquanto ouvia a água correndo na pia do banheiro. O céu estava escurecendo por causa da chuva que viria. Ela podia sentir o cheior da água concentrada nas nuvens chegando acima dela.
- Oi. - Ela disse. Não sabia quem era, o número não estava em sua agenda.
- Oi. - Carmilla não precisou pensar para distinguir de quem era a maldita voz: Lucian. Ele estava em um lugar silencioso, silencioso demais, provavelmente seu quarto. Ela fechou os olhos e evitou sorrir ao imaginar o quarto dele... a cama quente... Lucian ali, esperando por ela.
- O que você quer? - Nenhuma imaginação do mundo poderia faze-la deixar de ser estúpida com ele. Não depois de ele ter a ignorado. Ninguém, nenhum homem ou mulher, Lucian Montgomery ou não, ignoraria Carmilla Karnstein sem se arrepender profundamente.
- Eu queria me redimir... - Ele começou, mas foi impedido de continuar pela risada alta dela.
- Se redimir? Eu não o desculparia nem se cortasse sua garganta. Você deveria saber disso, Lucian. - Ele respirou fundo, o som atravessando a ligação e fazendo-a tremer. Era como se ele estivesse ali.
- Eu não quero que me desculpe, porra, eu só quero que me ouça. - Ele começou, e ela agora não o interrompeu. - Eu não estava me sentindo bem, então... mas que bosta. Eu não posso ficar com você, Carmilla. - Ele disse, a voz áspera cheia de dor. Ela pôde sentir na voz dele o lamento verdadeiro de quem sofria, mas não se importou. Respirou fundo, o coração batendo mais rápido.
- Então por quê você ainda está falando comigo? - Ela perguntou. Era a única coisa que queria saber, agora que ambos não poderiam mais conversar. Agora que ela havia decidido esquecer a existência do moreno.
- Porque eu não quero ir embora. - Ele sussurrou. Não foi um sussurro qualquer: ele se demorou nas palavras, como se não quisesse dize-las.
- Mas você vai, Lucian. Você vai. - Ela disse. Fechou os olhos e deixou uma única lágrima cair, levando consigo toda a dor mínima que ela havia sentido até agora. Se ele quisesse ir, que fosse. Não seria ela quem pediria para que ele ficasse.
- Não pare agora, Carmilla. Não pare agora. - E então ele desligou, a voz cheia de promessas ocultas e significados indistinguíveis, e a chuva caiu.


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Notas finais do capítulo

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