Carmilla escrita por camila schwert


Capítulo 3
Um breve clichê - Parte 3


Notas iniciais do capítulo

Última parte do capítulo! Esse terceiro post é bem menor (apenas 1.418 palavras), e o final remete ao título.
Espero que gostem! :D



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A escola era dotada de um imenso jardim – dois hectares, no mínimo. Carmilla observou as construções de pedra, os prédios altos e com grandes números indicativos marcando suas paredes brancas, com corredores cobertos ligando uns aos outros, e imaginou o quão frio seria dentro daquelas salas. Os prédios continham aproximadamente cinco andares cada um e aparentemente duas salas por andar. Ao longe ela pôde observar a área de jogos dividida em três campos: um para o vôlei, com a rede, outro para o futebol e mais um totalmente aberto e sem paredes, contendo materiais para ginástica. Apenas um espaço de um metro dividia cada um desses campos, e ela pensou se aquilo seria realmente organizado. Suspirou e ligou o rádio, deixando o ritmo de “My party” encher seus ouvidos, a voz de Caleb Followill tranquilizando-a como sempre. Enquanto houvesse música, o quão entediante as coisas poderiam ser?

O caminho que seguia era como uma estrada pela os confins da escola. O chão por onde o carro seguia era todo de pedra escura, a única área do chão que não continha grama incrivelmente aparada. Percebeu que um estacionamento ficava ali ao lado, quase no final do terreno, mas pela pequena quantidade de carros, imaginou que fosse um estacionamento privativo para professores. Seguiu mais adiante, lembrando a instrução do segurança da entrada da escola. Por fim, quando já estava cogitando a possibilidade de parar de estudar e viver à custa do pai, encontrou o setor das matrículas. Não era exatamente um setor específico para matriculas – era uma secretaria, com tal indicação escrita na fachada. Uma secretaria enorme.

O prédio era da mesma altura que os outros, com janelas cobertas por cortinas azuis. Parou o carro na frente do prédio sem pensar duas vezes – sua personalidade não permitia tempo para pensar, e ela só queria uma cama para dormir. Pouco importava se o local era proibido. Mas, se realmente era, ela não era a única infratora – não que isso tivesse algum nível de importância para ela – uma Ferrari preta estava estacionada ali. Sorriu ao pensar em um possível dono – tamanho bom gosto deveria refletir um rosto realmente divino.

Caminhava pelo corredor como se fosse a sua passarela particular, e era o que realmente parecia, com algumas pessoas aqui e ali olhando para ela como se fosse alguma deusa digna de adoração e sacrifícios humanos. E era, e provavelmente aceitaria o sacrifício humano. Mas ela preferiria nadar em sangue animal. Nua.

Abriu a porta com a escrita MATRÍCULA sem bater – Carmilla não precisava de nada disso. Apenas ao vê-la mais de perto qualquer um cairia em adoração a ela e agradeceria só por estar ali. Ficou parada no balcão por alguns segundos, até que uma senhora apareceu. Trajava um vestido vermelho que fez com que Carmilla considerasse o senso de moda daquela mulher. Sorriu para ela com dentes perfeitamente alinhados.

– Posso ajudar? – Perguntou a voz suave. Suas unhas eram quadradas e também pintadas de vermelho. Carmilla pensou em mil repostas em menos de três segundos que poderia dar a ela. Todas elas continham alguma piadinha sarcástica.

– Creio que sim. – Carmilla disse, por fim. Entregou a pasta com o histórico escolar e sorriu. Um sorriso falso, cheio de malícia, mas trajado de tanta beleza que parecia incrivelmente sincero. Como sempre.

– Oh, sim... Vejamos, o período escolar já começou, é claro. Mas podemos dar um jeito de encaixá-la em uma turma, com certeza. – A mulher sorriu e pegou a papelada, levando para detrás do balcão e fazendo anotações, depois lendo algo no computador e anotando os dados dela.

– Ei, Georgia, pode me dar uma solicitação de aulas extras? – Alguém perguntou, atrás de Carmilla. Sua mente revirou à procura da lembrança de um nome. Ela já havia escutado aquela voz antes.

– Matou aula de novo? – A senhora, Georgia, perguntou. Ela não se virou para olhar o aluno, que manteve a porta aberta e, assim, rajadas de vento frio entravam por ali. Carmilla odiava frio. Para uma garota que morava na praia, frio era algo praticamente desconhecido para ela. Outra rajada de vento frio entrou na sala, fazendo os pelos do braço dela se eriçarem.

– Pode fechar a porta? – Carmilla se virou, sem pedir o famoso “por favor”. Estava acostumada a situações onde as pessoas simplesmente obedeciam, quer ela fosse educada ou não. E então, em meio a um frio desconcertante e incomodativo, ela o viu.

– Vejamos quem está por aqui. – Ele manteve a porta aberta. Vestia uma roupa diferente, agora a calça jeans não era rasgada e o tênis era vermelho. A camiseta era de uma banda que ela não conhecia e não fez questão de pensar a respeito. Ela não se importava. – Está com frio? Posso resolver esse problema. – Lucian disse, sorrindo tão maliciosamente quanto Carmilla sorriu há apenas alguns minutos. Ela viu seu sorriso refletido no dele e o xingou mentalmente. Jamais havia encontrado nenhuma outra pessoa que fosse capaz de sorrir com tantos outros sentidos ocultos quanto ela. Até agora.

– Creio que o que você pode fazer não será o suficiente para me manter quente. – Notando que ele não fecharia a porta, ela mesma saiu do lugar onde estava e a fechou, mantendo-se a menos de 20 centímetros do rosto dele. Sentiu nele a mesma audácia que ela própria possuía, e então sorriu, sabendo que ele compartilhava a opinião. Era aterrorizante encontrar alguém que fosse como ela – e ela sabia os motivos, mas aquilo não deixava de ser excitante.

A princípio ele não acreditou. Quando viu aquele cabelo caindo nas costas o reconheceu imediatamente, tamanha a atração que sentira pela garota. Mal conseguiu formular uma frase sem gaguejar. Ela virou-se e ele teve certeza. De tão feliz que estava quase obedeceu à ordem dela. Mas nenhuma garota no mundo o faria se curvar diante de uma ordem. Nem que a garota fosse incrivelmente gostosa e nem que ele quisesse ficar com ela. Era ele que estava no comando, e sempre foi assim. Sempre seria. Quando ele olhou diretamente nos olhos dela, teve a certeza. Ela era tão ruim quanto ele e isso era aterrorizante. Ele entristecia só de pensar na dificuldade que seria para que ela cedesse a ele. Ele entendia perfeitamente – ele próprio não planejava ceder a ela, da mesma maneira que não cederia a nenhuma garota.

Ambos ficaram observando um ao outro durante apenas alguns segundos, mas ambos sentiram como se tivessem se passado horas. Ele sentia mais do que ela, e sabia disso. Evitou pensar na possibilidade de amar alguém – afinal, ele nem sabia o nome dela, apesar de seus esforços para descobrir. Olhou para Georgia, para ver se ela estaria observando-os. Quando viu que estava ocupada, voltou a fitar a garota misteriosa. Ela estava olhando para a boca dele, sem nem se importar em esconder a vontade que sentia de beija-lo. Ela era uma jogadora. Como ele.

– Com licença, senhorita... Carmilla. – A garota se virou imediatamente para a secretária, os olhos pegando fogo. Ele sorriu, rapidamente compreendendo o motivo da raiva dela. Ele agora sabia o seu nome.

Normalmente ele se sentiria vitorioso – ele sabia o nome de uma garota linda e podia usar isso a seu favor. Mas, por algum motivo que desconhecia, sentiu que apenas um nome não seria suficiente com ela. Carmilla. Saboreou o gosto doce do nome dela. Um nome peculiar, assim como a garota que o possuía. Escorou as costas na parede e a fitou enquanto ela assinava uma papelada – então era um fato. Ela ficaria no Instituto. Pensou se ali era o lugar para alguém como ela. Não conseguiu uma resposta.

Aproximou-se do balcão e pegou o papelzinho que Georgia lhe dera. Observou Carmilla por mais alguns segundos: aproveitou para ver novamente o traço da mandíbula dela, a maneira como movia os olhos enquanto lia as regras da escola. Imaginou se ela realmente cumpriria alguma delas. Muito provavelmente não. Ela assinou uma última página e então pegou o horário das aulas. Sem pensar duas vezes, foi atrás dela, deixando a porta bater com força atrás de si.

Lá fora, o vento era gelado. As árvores do imenso jardim balançavam, suas folhas caindo no chão a todo momento. Ela caminhava rápido, obviamente tentando escapar dele. Mas ele não a deixaria ir assim tão fácil. Carmilla já estava bem perto da porta do carro – um Lexus incrível – quando ele a pegou. Puxou seu braço, mas ela não parou. Então Lucian simplesmente colocou o pé na frente dos pés dela, e ela caiu.

Perfeitamente em seus braços.


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Notas finais do capítulo

Gostaram do final? Conversem comigo :p



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