A Escolha Do Guerreiro escrita por Yui


Capítulo 2
Primeira Viagem


Notas iniciais do capítulo

Olá, desculpem a demora. Esqueci de avisar no capítulo anterior, os primeiros capítulos são a infância e adolescência de Tigresa, tudo bem?
Lembrem-se que nessa fic o Tai Lung é bonzinho kk

Espero que gostem, boa leitura.



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Tigresa chegou junto à sua mãe a uma turma da idade dela, turma de iniciantes.

- Alunos, essa é minha filha Tigresa - apresentou a menina -, ela vai treinar junto com vocês de agora em diante. Agora, pra quem chegou há pouco tempo e ainda não sabe, nos deixamos cada um prosseguir de acordo com seu nível de comprometimento e consequentemente de qualidade na técnica que for passada.

- Sim, mestre.

- Mam... ah, mestre? - Chamou Tigresa e Ming-Yue a encarou - Shaohanna e Seyoung podem treinar aqui também?

- Hm, se a mãe delas concordar com isso, elas podem sim e começando amanhã porque agora o seu treino que vai começar. Vamos, vamos alongar e quando for hora do almoço eu aviso.

- Sim, mestre - Tigresa curvou-se para a mãe.

O treino seria com Ming e começou como disse ela, com alongamentos, uma corrida leve para soltar os músculos. Pararam e fizeram exercícios de respiração. Enfim o treino iria começar.

Todos da turma já sabiam as posturas e ataques básicos como os primeiros chutes e socos, então agora aprenderiam as defesas básicas.

Tigresa estava completamente entusiasmada mas procurava focar no que sua mãe dizia. Ficou maravilhada com as demonstrações como ficava ao assistir o treino. Na verdade, estava ainda mais porque executaria tudo aquilo que já viu.

A pequena felina demonstrou muita habilidade, agilidade e talento nato para as artes marciais. E assim foi até a hora do almoço.

- Muito bem, intervalo para o almoço. Comam sem pressa para não fazer mal, bebam uma boa quantidade de água e descansem para não virem ao tatame de barriga cheia.

- Sim, mestre - responderam todos os pequenos tigres.

Assim, Tigresa foi almoçar, sozinha no banco do refeitório da academia. Algumas das demais tigresas a olhavam como se quisessem desvendar algo. Os meninos faziam brincadeiras entre si, então não davam atenção a mais nada a sua volta.

Ela não gostou de ser encarada daquele jeito pelas outras fêmeas, cochichavam entre si e isso a irritava. Então Tigresa lançou um frio olhar para elas seguido de um grunhido.

Voltando ao salão de treinamento, a mãe de Tigresa juntou todos os alunos e lhes deu uma série de exercícios.

Assim foi o primeiro treinamento de Tigresa. Estava tão cansada que nem foi treinar com suas amigas. Era mais puxado do que estava acostumada, mas ficou feliz com a nova rotina que teria.

Os dias de treinamento foram passando com a pequena felina se dedicando sempre como podia, ou seja, totalmente, à cada dia melhorando suas habilidades.

- Bem, hoje vamos aplicar tudo o que vocês já sabem.

- Onde vamos fazer isso, mestre? - Perguntou uma tigresa branca.

- Já vamos lutar? Ah iah! - Gritou um tigre-do-sul entusiasmado e lançando golpes ao ar o que fez Tigresa rir.

Ming-Yue olhou para a filha, não com um olhar duro, mas sim com expressão de espanto. A pequena felina não costumava agir assim nos treinos. Tigresa parou de rir e voltou à postura séria.

- Não, ainda não. Vão fazer o mesmo que tem feito essas últimas  duas semanas, vão treinar ali - a Grã-Mestre apontou - naqueles sacos de pancada, depois alguns mestres ou alunos mais experientes vão me ajudar a treinar a defesa e bloqueio de vocês e se eu ver que estão avançando bem, vão passar para os guerreiros de madeira. Mas isso dificilmente acontecer hoje.

Todos os dias era o mesmo, só que agora, acrescentando a experiência com alunos mais velhos e outros mestres, antes, só praticavam defesas e bloqueios com tigres de sua turma.

- Ah, já quero lutar... - resmungou o mesmo tigre que havia falado antes.

- E vão, mas não agora. Comecem a série.

Os jovens tigres iniciaram seus exercícios. Alguns tinha dificuldade em focar nos pontos demarcados no saco de pancada, deveriam ser mais precisos. Outros tinham facilidade nos golpes básicos, um por vez. Tigresa respirou antes de começar e desde o primeiro golpe, demonstrava muita agilidade e força.

Os outros alunos e mestres observavam-na, extremamente focada para uma tigresa de apenas dez anos.

Ao fim da série, os outros mestres que não tinham alunos no momento foram ao encontro da turma de Tigresa. Cada um dos mestres ficou encarregado de testar bloqueios e defesas de dois alunos de cada vez. Uma das tigresas que fofocou sobre Tigresa, foi acertada em cheio no focinho quando se distraiu vendo a filha da Grã-Mestre se defendendo e bloqueando com perfeição, assim como o outro tigre do qual o mestre se encarregou de testar.

- Muito bem. Acabou essa parte para alguns de vocês... An, Tigresa, Genji e Xi-Wang, parabéns pelo desempenho. Vocês vão seguir com o mestre Wu para os guerreiros de madeira.

Mestre Wu era um tigre branco já de idade e descendente do guerreiro que foi homenageado com seu nome na academia. Ele recusou o posto de Grão-Mestre de Zhuang Wu por não se achar digno. Pensava que havia muito mais do universo do kung fu para conhecer, mas sua aparência não demonstrava as verdadeiras habilidade e força que tinha.

Ele viu como esses quatro guerreiros se destacaram e principalmente Tigresa. Parecia que já treinava essas coisas antes, mas segundo Ming-Yue, ela ainda não havia ensinado tudo isso.

"De onde será que essa pequena tirou tanta habilidade?", se perguntava Wu.

O macho An e as fêmeas Tigresa, Genji e Xi-Wang se juntaram a ele e o tigre demonstrou como seria com os guerreiros.

- Se esquivem. Cada vez que o golpear, a parte vai se mover e voltar para te acertar, então, se... esquivem... entenderam?

- Sim.

- Comecem.

Nas primeiras tentativas, todos eles levaram golpes das partes móveis dos bonecos, mas não foram fortes o suficientes para derrubá-los. Exceto quando chutavam a parte móvel inferior que representaria a cauda de um inimigo, recebendo em troca uma boa rasteira. Mestre Wu era gentil e ao ver as crianças segurando o riso, resolveu se permitir rir também para relaxar o ambiente. Os filhotes estavam muito tensos.

Depois de algum tempo caindo e sofrendo golpes, os quatro conseguiam se esquivar o suficiente para não mais serem alvos de si mesmos.

- Tem que tomar cuidado com o que fazem, porque pode se virar contra vocês, como agora. Saibam, sintam a quantidade de força que estão usando. Às vezes é necessário apenas um sopro, outras é necessária sua força total - disse ele golpeando um boneco, destruindo-o, deixando os alunos atônitos - viram? Eu tive um propósito, quebrar o boneco.

- Está bem, mestre - respondeu An.

- Vamos prestar mais atenção da próxima vez - disse Tigresa.

Wu fez o cumprimento a seus alunos e os dispensou. Já era hora de ir pra casa.

O velho tigre estava do lado de fora dos portões esperando para falar com a Grã-Mestre assim que ela fechasse a academia. Ming estava trancando o portão quando ele se aproxima.

- Mestre.

- Olá Wu, pode me chamar apenas de Ming-Yue aqui fora - respondeu ela. Desde que Tigresa nasceu, ela se tornou mais amável e compreensível, até mesmo com seus jovens alunos.

- Está bem Ming. Gostaria de falar com você sobre Tigresa.

- Tigresa? Há algo de errado com ela ou seu treinamento?

- Não, não, não... muito pelo contrário. Vejo nela um grande potencial e eu gostaria de ter sua permissão para treiná-la, exclusivamente. Ela tem um grande talento para o kung fu e parece gostar muito.

- Sim, ela gosta e eu não sei de onde ela tira essa vontade toda.

- Então, posso treiná-la?

MIng pensou por um momento. Wu era um grande guerreiro, quase comparado à Oogway em técnica e capacidade de ensinar, ainda que não fosse tão sábio e buscasse aprender mais para ser como a velha tartaruga, a quem nem mesmo Mestre Yao se comparava, embora fosse um mestre mental no kung fu.

- Bem, se acha que pode aumentar a capacidade dela, eu permito. Mas preciso saber uma coisa... por que vai ajudar alguém de outro clã? Você é um tigre branco e ela é um tigre-do-sul.

- Minha querida amiga, você ainda é muito jovem pra entender que essa batalha na qual o descendente dos líderes e o mais forte do outro clã estão presos, é mera bobagem. Não seria necessário um acordo se não houvesse medo. Somos todos irmãos e esse tolo tratado deve importar menos ainda quando alguém nasce com o talento e a vontade dessa menina.

Ming sorriu e deu adeus ao novo mestre de sua filha. Chegando em casa se juntou a ela e ao marido para o jantar. Anunciou à Tigresa o que havia decidido e a pequena ficou feliz.

Curiosamente, as amigas de Tigresa, as gêmeas Seyoung e Shaohanna entraram correndo pela porta principal da casa, sendo seguidas por sua mãe que tentava fazê-las parar de correr, provocando risos em todos.

- Mamãe, me solta! - Reclamou Seyoung que foi pega pela cauda.

- É, mamãe, larga a gente! - Resmungou Shaohanna se lançando ao chão para que Ah-Kum soltasse seu braço.

- Desculpe por isso, Ming - rio Ah-Kum nervosa - elas querem ficar com Tigresa hoje. Mu está indo ao Palácio de Jade há dois dias e elas estão agitadas desde que ele foi.

- Está tudo bem, Ah-Kum, pode deixar. Tigresa, vá com elas pro seu quarto e depois vocês vem fazer um lanche antes de se deitar.

- Tá legal, mãe.

- Aê! - Comemoraram as gêmeas em uníssono correndo escada acima junto à Tigresa.

Ah-Kum olhou incrédula suas filhas se comportando daquela maneira. Toda vez que um dos pais ia trabalhar, elas ficavam assim. Odiavam se separar deles. Conversaram durante algum tempo sentados e tomando um delicioso chá.

- Ah-Kum?

- Sim? - A felina encarou Ming-Yue.

- Gostaria que suas filhas treinassem na academia?

- Nossa, está brincando? Claro que sim! Elas adoram kung fu tanto quanto Tigresa. Obrigada, Ming-Yue.

- Não tem problema algum.

Chegando ao quarto, as três felinas se atiraram na cama de Tigresa ofegantes e ainda assim, tentando rir.

- Ti?

- Fala, Shaohanna - a pequena a encarou.

- Amanhã vamos no nosso esconderijo?

- Claro. Hoje não fui porque o treino foi muito puxando e não tô acostumada ainda.

- Ah, tá - suspirou Seyoung - queria treinar lá também.

- E eu também.

- Minha mãe deve estar falando com a mãe de vocês pra deixar.

- Sério? - Perguntaram as duas em uníssono se sentando na cama com um enorme sorriso.

- Sim.

À partir daí, as três começaram a treinar o que já sabiam e o que tigresa aprendeu, em pleno quarto, sem se importar com barulho ou que às vezes tropeçavam no tapete. Se divertiram àquela noite, no dia seguinte, os sonhos de luta das três pequenas guerreiras começaria.

Mais tarde, no quarto dos líderes tigres, Feng e Ming-Yue, conversavam sobre seu dia. As pequenas já haviam adormecido então a casa estava tranquila.

- Acha mesmo que será bom levar Tigresa junto nessa viagem? É tão nova, mal sabe kung fu, pode se cansar, machucar, pode acontecer alguma coisa com ela...

- Fique calma, Ming - respondeu Feng rindo, mas parou quando viu que sua esposa o encarava friamente - mas... ah... acho que sim, aliás, vai ser sim. Ela adora kung fu e conhecer mestres de estilos diferentes será bom pra ela.

- Hm, talvez... esteja certo - respondeu Ming relaxando.

Ela já estava quase dormindo enquanto Feng pensava se deveria tocar em um assunto delicado. Abriu a boca uma e outra vez, sem que saísse som algum, até que...

- Como Tigresa vai ficar quando souber porque tem que aprender kung fu?

- Hm, eu... não sei, querido. Acho que não reagirá mal, ela adora kung fu e quer ser uma grande guerreira, é esforçada...

- Mas, ela vai saber que junto à isso vem as responsabilidades da guerreira que é herdeira do clã que lidera.

- Feng - ela encarou o marido com cansaço - ela é apenas um filhote, tem só dez anos. Não vamos falar ainda dessa responsabilidade de carregar um povo nas costas, é muito jovem. Colocar um peso desses pra ela é a mesma coisa que pedir que ela cresça antes da hora.

- É que comigo não foi assim e tenho receio de como ela vai reagir.

- Eu cuido disso - disse ela para logo beijar o marido - vamos dormir. Boa noite.

- Bons sonhos.

-

Quatro dias mais tarde no Vale da Paz, Mu observava a vida pacata daquele lugar. Ao menos ali no centro do vale não haviam tantas casas como em sua província e os que habitantes o encaravam com curiosidade. Claro que já viram outros tigres, mas ainda assim... era uma criatura que não aparecia muito por ali porque ficavam mais em suas terras. Segundo os mestres do Palácio de Jade, eles eram seres que preferiam o sul ou o sudeste do país por ser uma parte na qual se adequavam bem.

O tigre de pelagem alaranjada chegou aos pés das escadas do Palácio de Jade, onde deveria entregar um aviso e ajudar a preparar a vinda de seu líder e a filha dele.

"Que escadaria enorme!", pensou ele olhando com certo desespero para as escadas. "Bem, vamos lá."

Ao chegar ao topo estava esgotado e depois de se recuperar, dirigiu-se aos grandes portões. Bateu para que o atendessem e um porco trabalhador do palácio o recebeu, pedindo que entrasse.

Depois de dizer que gostaria de falar com Mestre Oogway e Mestre Shifu, o porco pediu a Zeng que os chamasse de onde quer que estivessem e então levou Mu até o Salão Sagrado dos Heróis para esperar. O deixou sozinho e voltou a seus afazeres enquanto o tigre observava os detalhes daquele lindo lugar. Suas colunas com dragões de jade, os artefatos antigos e significativos para a história do kung fu, a piscina da reflexão e refletida nela, o dragão dourado com um pergaminho em sua boca. Certamente, o Pergaminho do Dragão.

Sabia que o pergaminho havia sido negado à Tai Lung que esteve à ponto de destruir o vale e tudo o mais que encontrasse pelo caminho para consegui-lo, mas rendeu-se seja lá por qual motivo e foi perdoado pelo Grão-Mestre Oogway e seu pai e mestre, Shifu.

Mu estava parado à frente da piscina observando o pergaminho acima dela quando ouviu as portas do salão se abrirem. Ao se virar, encontrou três seres: uma velha e conhecida tartaruga, um sorridente leopardo das neves e um sério panda vermelho.

- Mestres - inclinou-se em respeito aos mais famosos mestres e educadores da China.

- Olá - responderam todos curvando-se também.

- Quem é você, meu jovem?

- Mestre Oogway, eu sou Mu, um guerreiro de Guangzhou e trago essa mensagem de meus líderes - estendeu a pata com um pequeno pergaminho com o selo em forma de garra para os mestres.

Oogway tomou e leu para abrir um terno sorriso. Ficou feliz com a notícia de que um líder e mestre do estilo tigre visitaria o palácio, o filho de seu aluno e com a princesa.

- Bem, veja isso, Shifu, parece que teremos visitas.

O panda vermelho tomou o pergaminho e o leu junto a seu filho. Shifu esboçou o mesmo sorriso de seu mestre e Tai Lung deu de ombros, eram só mais visitantes.

- Vamos enviar uma carta em resposta dizendo que já podem vir. Uma visita de alguém de sua idade vai alegrar minha nova aluna.

- Está bem e eu pretendo ajudá-los a preparar sua chegada.

- É, quem sabe assim, ela me deixa em paz e para de me pedir pra dançar - comentou o leopardo das neves fazendo a velha tartaruga  e o tigre rirem.

- Você tem que tomar conta sem se rebaixara à idade dela, só tem onze anos, é uma criança..

-

No dia seguinte em Guangzhou, Tigresa levantou-se o mais cedo que pôde e antes de se levantar, olhou novamente para o boneco de tigre branco com listras negras que sua avó lhe dera quando nasceu, foi de sua mãe. Olhou por sua janela e correu para se trocar.

Enfaixou as próprias patas para que sua mãe não notasse. Aos oito anos de idade, ela começou a socar árvores para ficar mais forte, mas foi pega por sua mãe que ameaçou não deixá-la treinar mais. Na época, ela era apenas uma iniciante como foi por esses longos dois anos. Desde então, começou a enfaixar-se para disfarçar seus machucados.

Saiu de casa e se enfiou no bosque para chegar a um lugar entre algumas grandes árvores já marcadas por seus intentos de força. Foi com isso que ganhou sua pontaria, já que o resto, tinha por natureza, nascera com isso, inclusive com seu amor pela arte marcial.

Começou a golpear as árvores e depois algumas pedras, ficando com as mãos doloridas e arranhadas. Passou algum tempo assim até ouvir o gongo de sua casa soar.

- Onde você estava?

A filhote parou bruscamente seu caminho para a escada sentindo um calafrio correr suas costas quando ouviu a voz sonolenta de seu pai.

- Bom dia, pai... eu...

- Brincadeira, eu sei onde você foi, filha - disse Feng rindo - vá trocar essas bandagens antes que sua mãe veja. Ela está fazendo exercícios e se alongando no quarto, vá logo - acrescentou ele empurrando Tigresa escada acima.

O dia passou como de costume: os treinos de Ming, os trabalhos de Feng e a dedicação da filha de ambos. Ela só treinaria com Mestre Wu quando voltasse de sua viagem, se é que iria.

No escritório de Feng, ele recebeu uma carta do palácio, a qual o ganso Zeng foi portador.

- Ótima notícia! Obrigada.

- Não agradeça, mestre - o ganso curvou-se e alçou voo de retorno à casa.

Chegando a noite, Feng contou à Ming e Tigresa sobre essa viagem. Nada poderia estar melhor para a princesa: treinaria com um grande mestre, o festival de lutas estava próximo e viajaria com seu pai para conhecer os três melhores guerreiros de seu país. Partiriam logo cedo, nem teria tempo para seu treino de calejamento matinal.

Ao amanhecer, Feng levantou-se da cama com Tigresa pulando em cima dele e de Ming. A menina ronronava para os pais à cada carinho que faziam e a agarraram para que ela ficasse entre eles na cama, abraçados. Depois de um beijo na testa que recebeu de cada um, ela levantou e correu para tomar café da manhã, seguida por seus pais. Sua mala já estava pronta, não levaria muita coisa, apenas algumas trocas de roupa e um cobertor vermelho, seu favorito. Seu pai lhe disse que lá havia armas e um salão de treinamento no qual ela poderia treinar enquanto ficassem lá.

O pai dela tinha que tratar de um assunto muito sério com os mestres. O temia que houvesse uma revolta por conta do tratado de paz que deu origem ao festival. Deixou um pouco esse tormento de lado quando viu sua pequena se aproximando dele com uma mochila nas costas.

- Vamos pai.

- Vamos.

- Hey, não vai me dar tchau não? - Perguntou Ming-Yue com irritação fingida e patas nos quadris.

- Hehe, tchau mamãe - Tigresa abraçou sua mãe.

- Tchau, filha - disse ela se liberando do abraço - se cuide, tome cuidado e não se canse por besteira - acrescentou ao dar um beijo na testa da filha segurando com firmeza suas patas enfaixadas.

Tigresa, que se esforçava para não demonstrar dor e deu um sorriso à mãe.

- E você - disse dirigindo-se ao marido -, deveria levar guardas pra proteger vocês.

Agora Feng a olhava com o mesmo olhar incrédulo que ela fazia, uma sobrancelha levantada e braços cruzados sobre o peito.

- Tigres-do-sul-da-China precisando de proteção... ninguém ataca tigres, sabem que não precisam ter medo mas que não devem fazer isso com nenhum do nosso povo. Tchau, amor. Logo voltaremos - disse ele beijando a esposa.

Assim, pai e filha partiram ao Vale da Paz.

Pelo caminho de quatro dias, viram belas montanhas e um bosque denso, a floresta imensa e os lagos cristalinos. As visões que a pequena tigresa tinha no caminho que seu pai havia escolhido eram mais lindas que seus sonhos. Ela já havia sonhado com alguns lugares estranhos à ela, desde que se lembrava, mas resolveu ignorá-los porque nunca significavam nada, nada acontecia.

No caminho passaram por vilarejos de artesãos e artistas, e em um deles o pai de Tigresa pagou por uma pintura de ambos. Viram algo que não agradou, o orfanato de Bao Gu. Feng anunciou que estavam perto do Vale da Paz.

Eles pararam como todos os dias da viagem para jantar justo no momento do pôr-do-sol para dormir horas mais tarde.

Feng contou a ela como ele e sua mãe se conheceram e se apaixonaram, coisa que parece até um pouco boba e sem graça por não ter tanto o que dizer, mas que para ele significava muito e Tigresa sorriu quando soube de tudo.

- Mamãe, a guerreira mais forte, valente e durona da província de Guangdong se apaixonou? - Ela parecia surpreendida - e, pode acontecer isso?

- Claro que pode. Ela pode ser guerreira, mas não precisa ter o coração de pedra, se a alma for forte, um guerreiro pode ter emoções porque nos fazem crescer. E com sentimentos fica bem mais fácil fazer alguma coisa melhor. Você, ama kung fu - disse tocando a ponta do focinho de Tigresa com seu dedo - se você ama, vai se dedicar a fazer o melhor que puder.

- É verdade - disse ela rindo pela brincadeira do pai.

Em seguida, ambos dormiram próximos como faziam nessas últimas noites. Teriam ainda um caminho à percorrer e logo chegar à seu destino final.

Acordaram na manhã do quarto dia ao nascer do sol. Se espreguiçaram e tomaram o café para então guardar seus pertences nas mochilas e seguir viagem.

- Quanto tempo falta?

- Ah, espera - disse ele pegando o mapa - bem, falta... não falta muito, não. Algumas horas e chegamos.

Dito isso guardou o mapa no bolso e puxou sua filha para mais perto de si.

Passaram por entre a floresta de bambus e ao atravessá-la totalmente, avistaram a entrada do Vale, ainda a alguns metros. Chegando mais perto a estrada que levava à rua principal e com casas simples, porém lindas e bem cuidadas. Dali mesmo, olharam para o final da rua e seguindo a escadaria com os olhos, encontraram o Palácio de Jade no topo.

Começaram a entrar com Feng segurando a filha pela pata. E viram logo que a população se tratava de apenas gansos, porcos e cabras, à primeira vista. Atravessaram uma ponte para prosseguir. À cada passo que davam sentiam os olhares em si. Como Tigresa detestava isso... assim como algumas colegas da academia, imaginou que a julgavam e assim era, ao menos comentavam entre si o que dois tigres-do-sul faziam aqui e os aguçados ouvidos da felina souberam captar, acalmando-a. Felizmente não estavam falando nada que a magoasse.

Sentiram um cheiro delicioso de sopa de macarrão ao passarem por uma entrada e ambos felinos não puderam evitar de parar e observar.

- Quem quer que seja esse Senhor Ping, faz uma comida com o cheiro muito bom.

- Certamente é melhor que a de sua mãe, ela sabe fazer venenos e remédios, mas não sabe cozinhar - comentou Feng rindo junto à filha

Ali era um restaurante, Restaurante do Senhor Ping. Viram um ganso de roupas vermelhas atravessando o salão com uma boa quantidade de clientes para entregar seus pedidos.

Iam continuar andando, mas um ruído os deteve. O estômago de Tigresa o havia feito e ela olhou para o pai com um sorriso  de desconcerto.

- Bem, podemos parar para comer antes de subirmos, já está na hora do almoço. E vamos precisar de energia pra subir, ein? - Disse ele olhando por um momento para as escadas - já estou cansado só de olhar.

Entraram com um sorriso no rosto e tomaram assento numa mesa ao canto, próxima à porta da cozinha. Todos os olharam novamente curiosos, era difícil verem tigres por aqui.

- Olá, meu nome é senhor Ping, o que gostariam de comer? - Perguntou o ganso em tom amável.

- Por favor, dois pratos da melhor sopa acompanhado de um chá de jasmim e... - disse, depois virando-se para a filha que estava um pouco distraída.

- Hm, de crisântemo, se tiver.

- Tem sim, jovem. Esperem só um minuto que já trago - disse sorrindo para sair para a cozinha gritando - Po! Prepara mais chá!

Ambos tigres olharam para o ganso, se assustando com o grito.

- Tá bom, pai - respondeu alguém na cozinha, que era o que estava distraindo a felina.

Ela havia tentado enxergar o que era o vulto que viu lá dentro, mas ignorou, ficando em silêncio com o pai. Tigresa estava de costas para a porta da cozinha quando um braço negro passou ao lado do corpo da felina com uma tigela de macarrão quente e que parecia  muito apetitoso, para logo colocar a tigela de seu pai e os copos de chá. Ao olhar, ela viu uma criatura da qual já havia ouvido falar, um panda.

- Espero que gostem - disse ele - se quiserem mais alguma coisa, me chamem, meu nome é Po - e pousou seus olhos nos da felina.

- Obrigado - disse Feng e pegou seus palitos para começar a comer.

Ficaram se olhando. Ele jamais havia visto um tigre e ela jamais havia visto um panda. À medida que ela o encarava curiosa com aqueles belos olhos âmbares, segundo a mente de Po, ela o analisava e o panda ficava com as bochechas mais vermelhas e seu olhar fugia para várias direções, esperando que ela dissesse, pedisse ou fizesse algo. O olhar examinador dela o intimidava um pouco.

Tigresa, por sua parte olhava o urso que parecia ser quase de sua mesma idade. Era como qualquer outro urso que já viu, mas tinha a pelagem tão diferente. Ela achou legal as cores preta e branca como nos tigres brancos de Guangzhou e ainda ele estava com um avental amarrado com o desenho de macarrão bordado. "Engraçado e... fofo haha parece meu boneco", pensou a felina, abriu um sorriso ao olhar de novo nos olhos de jade do garçom, como um agradecimento, para depois virar-se para seu prato.

- Po! O que o seu boneco do Oogway tá fazendo na caçarola? - Gritou o ganso da cozinha, fazendo com que todos os clientes o olhassem, inclusive os tigres e o pai

- Ah, com licença hehe - despediu-se ele e se dirigindo à cozinha - pai, eu... eu não sei como isso veio parar aqui, deve ter sido quando o senhor tentou arrumar meu quarto.

"Pai?!", pensou Tigresa que soltou seus palitos no prato e virou-se para ver o panda entrando na cozinha

- Você leva pratos quando come à noite e eu tenho que buscar, não é? Se não, como vou servir os clientes se você quase come os pratos também? Ainda bem que não são de bambu.

- Pai!

Feng olhou para a filha com a mesma expressão, rindo um pouco por conta do que o pai falava ao panda.

Com a ansiedade de Tigresa para terminarem de comer e subir logo as escadas, depois de pagar pela refeição, os dois felinos deixaram o restaurante para chegar enfim ao palácio.


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Notas finais do capítulo

A imagem de capa é do: bk-kam no DeviantArt

An: Paz;
Genji: Ouro;
Xi-Wang: Esperança.
Calejamento é quando você deixa alguma parte do seu corpo imune à dor, ou quase.

Capítulo enorme, ein? Enfim, espero que a fic esteja agradando vocês e deixem seus comentários. (:
Até mais. o/



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