Recostou-se no sofá, pensativo.

Muitas pessoas diziam que ele era impulsivo. Que não pensava direito antes de agir. Que se apressava demais e por isso acabava ficando para trás.

Idiotas. Todos e cada um deles.

É certo que se deixava, às vezes, levar pela emoção mas...

Não, não estava tentando justificar suas ações, isso é perda de tempo. Apenas aqueles que não acreditam na legitimidade de suas ações fazem esse tipo de coisa.

Não. Não mesmo. Ele jamais hesitou. Jamais hesitaria. Anos depois, isso apenas se tornaria mais e mais claro, um traço marcante e fatal de sua pessoa.

Mas, por enquanto, não vem ao caso.

Levantou-se. Já tinha definido, precisamente, seu objetivo, o qual perdera brevemente com aquela conversa idiota de Near. Uma conversa em parte em silêncio, em parte em ações e em parte em suposições. Mas, afinal, era mais do que suficiente.

Odiava isso. Eles se entendiam. Simplesmente. Talvez por serem as duas únicas pessoas de mentalidade próxima naquele lugar, talvez por serem quase que iguais, se entendiam.

Sabia. Sabia perfeitamente bem que se trabalhassem juntos seriam os melhores.

E odiava o fato.

Pegou uma barra de chocolate do bolso da calça preta que se avolumava em dobras ao redor dos seus tornozelos.

Saiu da sala.

.

.

Alguém passou por eles. Deu uma olhada em dúvidas, recebeu um sorriso, e seguiu seu caminho.

Engraçado... Sabe quando você uma coisa e tem certeza de que não era para ser DAQUELE jeito, mas simplesmente não consegue dizer COMO deveria ser? Olhou os dois que se afastavam, ainda pensativa. Via o ruivo. Via a blusa de listras. Via os óculos. Via uma blusa preta qualquer.

Via... Tudo.

         .Tudo que devia estar ali, estava.

                         .Tudo, tudo.

                                          .Em...Seus devidos... Lugares?

.

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Entrou na sala. Inquieto. Curioso.

Olhou pensativo para o telefone que repousava, solene e silencioso sobre sua mesa. Não estava entendo nada. Quer dizer, entendia um pedaço, mas isso não era o bastante.

Pegou o aparelho, olhando o registro de chamas.

Apagou todo o histórico, tranquilamente.

Seguia ordens.

Uma criança bateu na porta antes de entrar.

Deu-lhe algumas informações interessantes. Algo que não previra, na verdade.

Agradeceu, e pediu a ela que saísse.

Pegou novamente o telefone, e apertou um botão.

Esperou, até que ele atendesse.

Ouviu pacientemente as instruções, sem se esforçar em entender.

.

.

Nada mais fazia sentido. Não fazia ideia do que estava acontecendo.

- Near? Near, cê tá legal?

Não. Não estava ‘’legal’’. Enfiou os dedos atrapalhadamente por baixo do elástico dos óculos que Matt lhe emprestara. Precisava tirar aquelas coisas incomodas.

Irritabilidade.

Sentiu o material emborrachado grudando ao seu cabelo enquanto era puxado com firmeza pelo ruivo.

Sentiu sua franja caindo de volta sobre o rosto enquanto suas pálpebras se fechavam contra sua vontade.

O mundo começou a diminuir. Sua visão se turvava e mal conseguia manter quietas as mil listras da blusa que Matt lhe emprestara. Não.

Elas bailavam, tresloucadas, ensandecidas, caóticas.

Ouviu, a voz cada vez mais distante se aproximando enquanto um vulto negro avolumava-se diante de seus olhos.

Queria dormir.

Queria se manter consciente.

Sabe. Sabe quando você está para dormir e então algum pensamento, saído sabe-se lá de onde, surge do nada? Como se fosse um pingo de sanidade que, em meio à loucura e febre do sono soa como a mais mais lúcida e verdadeira constatação jamais pensada?

- Não... Deixe... o Roger ver...

Alguém gritou seu nome enfurecido, enquanto sua mão era fechada em garras.

A dor. A dor familiar.

E então, nada.