"Você não parece muito confortável, querida" - Jose pergunta terminando de fechar a última algema das mãos.
"Acho que sua intenção está sendo cumprida, então... mestre" Juvia diz a última palavra com nojo.
"Sabe, você deve encarar sua experiência com as fadas como uma academia. Não perder a forma enquanto sua casa estava em reformas" Vendo a jovem revirar os olhos ele prossegue "Infelizmente, seu novo lar não pode ter o mesmo nome que o antigo,por questões...burocráticas" O modo com que Jose gesticulava fazia Juvia querer jogar todo o almoço para fora.
"Eu não entendo por que você a quer aqui. Eu não sou tão importante assim" Diz girando os pulsos e puxando as correntes, sem sucesso algum. Além da sensação de impotência, aquelas algemas estavam apertadas demais e pinicando também.
"Você está errada querida. Mas você é realmente bem burrinha, não?" Jose se aproximou da garota, naquela pequena sala mal iluminada e vazia e, a segurou pelo queixo a forçando a olhá-lo nos olhos. "Você, era minha. E eles me tiraram tudo. A minha aliança, o posto, Gajeel, minha melhor equipe. Sabe quanto tempo eu demorei para reerguer tudo?"
"Não" Ele continuava segurando-a. "Mas espero que tudo seja destruído o mais rápido possível dessa vez" E nada foi dito por ele. Apenas a bofetada no rosto da jovem fora sua resposta. E ela resolveu não falar mais nada. Sabia como seria pior se resolvesse continuar.
"Melhor assim." Ele se sentou no chão perto da porta de saída, em um pose elegante e arrogante de frente para a moça "Eu pensei em trazer Gajeel de volta, ele é bem mais forte, sem ofensas. Mas ele tem um espírito rebelde indomável ridículo que me atrapalhou bastante. Pensei em chantageá-lo, pegar a maga das runas ou algo assim, mas ainda assim acho que ele não cederia. Então só sobrou você. Para passar com você pela frente deles e mostrar que eu estou de volta, mais forte que antes. Sem meu título, sem Gajeel, mas com você. No final das contas, eles perderam também."
"Não vai poder me exibir se eu estiver presa aqui. E se virem com estou fraca e machucada andando com você, eles vão desconfiar. Podem achar que é reflexo de uma missão, mas podem não acreditar nesse argumento. Eles não são idiotas, Jose."
"Eles não, mas você... Às vezes penso que foi perda de tempo fazer isso. Eles não fizeram nada. Nem tentaram impedi-la.Só olharam a intrusa finalmente indo embora. Tenho certeza de que se fosse a Heartphilia ou a McGarden a postura deles seria diferente."Juvia queria gritar 'Não é verdade! Não é verdade!' mas no fundo ela acreditava em tudo o que ele dizia. "E você só queria protegê-los. Juvia como é tonta! Eles dariam um jeito, até eu sei disso. Mas isso só prova que você não é realmente uma fada, não acha. Você não sabe trabalhar em grupo. Você não sabe se comunicar direito com os outros. Afinal,o que é que você sabe? Ceder a chantagens imbecis para se sentir uma boa menina? Posar de heroína? " A garota o fitava com os olhos ardendo de raiva. Não queria acreditar em nada do que ele dizia, mas ele só era a voz externa daquilo que sua mente dizia todos os dias.

Ela era uma menina malvada. Ela não merecia o paraíso. Não merecia asas.

"De qualquer forma, acho que você não vai querer que nada aconteça como anteontem, vai?"
"Como sabe sobre isso, Jose?" A moça perde as forças nas pernas e só não cai por ficar sustentada pelas correntes dos braços
"Achei que estivesse com saudades. Fiz mal?"
'Fez péssimo', era o que ela queria dizer. Mas não sabia como abrir a boca. Esqueceu como se respirava, onde estava e quem era. Os olhos continuaram ardendo, por outro motivo agora. A garota estava tremendo em pânico.
A visão já embaçada pelas lágrimas faziam a menina só enxergar um borrão a sua frente.

"Eu poderia ficar olhando você por toda a noite. Fica tão linda assim, vulnerável"
A garota fez uma careta em descontentamento, queria cuspir na face do homem, mas ele estava na parede oposta. E de qualquer forma, não teria forças para tal. Até que percebeu algo que ele disse.
"Já é noite?" Questiona assustada.
"Perdeu a noção do tempo, doce?"
"Pare com isso,Jose!" Gritou com a voz embargada, constrangida e ultrajada.
"Ou...?"
"Ou eu arranco sua boca de palhaço fora!" Juvia e Jose se viram na mesma direção e veem bem na porta do cômodo, Freed Justine, com uma espada nas mãos e um rosto inexpressivo.
"Quem é esse, Juvia?"
A moça estava sem reação. Por que logo ele?
"Freed..." Ela sussura
"Parece que eu tive a sorte de encontrar a donzela perdida. Vamos tirar você daí" Freed ignora Jose e vai até Juvia. Já o outro, se levanta num supetão e corre até o outro lado do quarto, mas antes de chegar até o rapaz, tem o ombro apertado fortemente.
"Gajeel..." A garota novamente sussurra.
"Acha mesmo que eu não conheço essa idiota, Jose? Nós dois sempre soubemos que essa aí" Aponta para ela "É uma péssima mentirosa."
Juvia sabia que uma luta se desenrolaria ali, queria ajudar seu melhor amigo com Jose, mas mesmo que sua força de vontade fosse grande, os zumbidos na sua cabeça eram maiores.
Muito maiores.
Teve que passar o braço pelo ombro de Freed para conseguir ficar de pé e foi andando para fora do quarto, cambaleante.
"Você não ficou feliz com isso?" Ela perguntou quando eles finalmente saíram da nova sede,Phanton King, e que Freed a colocou sentada em uma grande pedra para esperar que os outros fossem comunicados da recuperação da jovem.
"Por que eu ficaria?"
"Você disse que eu sempre seria um fantasma." Responde cabisbaixa.
"Ah, por isso?" Ela assente "Eu sabia que ficaria instável ao ouvir isso, não é como se eu acreditasse no que estava dizendo"
" Eu acho que você não está falando sério"
"E eu acho que só existe uma pessoa que não te aceita no meio das fadas" Na mente da menina se passavam vários rostos em sequência e ela não pode evitar que uma lágrima escorresse de seus olhos. "E é você."
"Eu não acho isso. Eu machuquei vocês"
"Eu também. E eu não me sinto mal com isso, sei que não vou mais fazer e que fui um babaca. Mas só."
"E como você se sente?" Juvia pergunta curiosa. Freed demora um pouco a responder.
"Perdoado. É assim que eu me sinto."
"Então me sinto perdoada também!" Fala com um sorriso que logo se desfaz. "Mas vou voltar a ser um fantasma. Eu não posso ir pra casa."
Freed solta uma gargalhada seca.
"Você diz que tem uma alma de fantasma, mas chama de casa a Fairy Tail. Bem que Gajeel disse assim que as portas fecharam que você estava mentido. Você é realmente péssima." Dessa vez, Freed realmente riu.
"Eu não posso . Eu não... Se não vai voltar. E puxar meu cabelo. E vai gritar. E as roupas..." A menina sussurra tudo sem muito sentido e, Freed lembra do que ouviu atrás da porta antes de entrar na saleta onde ela e encontrava.
"Juvia, ele tem algo a ver com o estado que você chegou na Guilda, não tem? Era sobre isso que ele estava falando, não era?" Juvia assentiu calada e se escondeu com os joelhos chorando mais alto, e cada vez mais alto.
"Se eu voltar pra casa, acontece outra vez"
"Nós não vamos deixar, Juvia. Fique calma" Ele diz a abraçando de lado e acariciando sua cabeça.
"Eu não consigo ficar calma! Se não for comigo, vai ser com outra pessoa. Ele quase pegou a Wendy! A Wendy é tão...tão pequena" Ela grita novamente batendo na própria cabeça. "Eu tenho que voltar, Freed. Desculpe." E ela corre em direção ao casarão, até o quarto onde estava a alguns minutos atrás.

Chegou ao local, e encontrou Gajeel e Jose exaustos, porém, Gajeel estava de pé.
"O que é que você está fazendo aqui ainda, garota?" Ele briga com a moça.
"Eu vouficar" Fala baixinho
"Hein?!" Enquanto Gajeel parecia furioso, ninguém observou o sorriso de Jose. "Você não vai não!" Gajeel levanta Juvia e a joga por sobre seus ombros e a carregava como um saco de batatas. Já a menina se sacudia a gritava com o mesmo implorando para descer. "Pare com isso, Juvia! Você não é tão leve quanto a baixinha"
"Além de tudo, eu sou gorda?! Solte, Gajeel, eu tenho que ficar!"
"Não tem coisa nenhuma!"
"Eu nem sou uma boa garota, Gajeel. Não sou como a Levy, a Erza. Eu sou só a Juvia. Malvada e assustadora como um fantasma"
Gajeel, já farto de ouvi-la, a coloca no chão bruscamente a segurando pelos braços.
"Escuta aqui Juvia, você faz o que você quiser, tá? Mas já chega de drama. Você fez coisas erradas, ok. Eu também, um monte de gente fez. Isso não te faz menor do que ninguém. O que importa é que seus erros te fizeram melhor. Se você não fosse boa, não tentaria recomeçar, se não fosse boa, não se sacrificaria pelos amigos, se não fosse boa, não teria pedido a Makarov para me convidar para aliança. E sim, eu sei que foi você. Quem mais se importaria comigo naquela época? Se você não fosse boa, você não seria incrível assim. Se você não fosse boa, não seria minha melhor amiga, entendeu?!" Ele ainda gritava e a menina já estava chorando, mas dessa vez, movida por um outro sentimento. Ele nunca perceberia a grandeza de suas palavras afinal. Gajeel era assim mesmo. Freed chegou ao quarto correndo ofegante.
"Está louca?! É claro que você vai pra casa." Freed dizia enquanto Juvia envolvia Gajeel cada vez mais com seus braço e ele a apertava contra si com força. "E para você" Freed aponta para Jose no chão não tão sorridente agora, vendo a cena que achava patética. "Nem tente mexer com ela, ouviu? Ouviu!" Grita chegando mais perto com as espada a poucos centímetros do homem."Nem mesmo tente tirá-la de nós. Ela sempre vai ser a mulher da Fairy Tail."
Juvia sempre quis ouvir aquilo. A mulher da Fairy Tail. Se sentia muito bem, totalmente o oposto do que sentiu ao ser chamada de a mulher da Phanton pela mesma pessoa.
"Freed...Obrigada"
"Eu que devo agradecer por não sentir rancor" E o dois sorriam cúmplices.
" Eu quero ir pra casa Gajeel." Ela diz olhando para cima alcançando o olhar do rapaz sem desfazer o abraço.
"Nós vamos"
"Mas..."
"Não precisa ficar com medo,ok? Nós vamos dar um jeito"
"Está bem" Ela disse sem certeza.
"Então é isso, nada como uma boa adrenalina pela noite. Vai ser fácil dormir, estou cansado" Diz Freed.
"Você não fez nada, imbecil!"
"Ei, fica calmo aí Gajeel. Ele fez sim. E de qualquer forma, tudo isso é estressante"
"É sim, você me estressa muito" Ele ri
"Gajeel!" Ela resmunga.
"Que é? Quando quiser um dia animado, me chame pra fazer uma missão, não precisa disso." Ela revira os olhos "Ah, toma" Ele lhe estende uma flor. Um lírio do campo."Você tentou me ensinar esse negócio de flor,lembra? Treco chato. Que essa quer dizer? Estava ali" Apontou para um canteiro afastado.
"Volta para felicidade" Ela sorri "Faz sentido. Estou indo pra casa."