Acordo com a voz de Glitts me avisando que estaremos na Capitol em uma hora. já que nasci lindo, me arrumar não é problema, em meia hora estou pronto. Vou até o vagão-cozinha, onde todos, já estão tomando café. Sem mim! Quanto consideração viu!

–Bom dia... E muito obrigado por esperar por mim!- Todos me olham mas ninguém fala nada, são todos tão educados que chega a doer. Volto meus olhos para a mesa. Nunca, em toda a minha existência, nem mesmo no meu distrito, vi tanta comida assim. Não sei Clove, mas isso aqui me alimentaria por uma semana. Penso. Essa anã come que nem gente grande. Gente muito grande! Grande pros lados. O pensamento me faz rir e todos olham para mim.

–Que foi?

–Ah, nada. Nada não ué. Você ta rindo sozinho, feito um idiota.- Clove faz uma pausa.- Super normal isso!

Preparo meu psicológico para responder, mas a imagem da Capitol, que visualizo ao olhar sem querer pela janela do vagão, simplesmente me deslumbra. E apesar das roupas e formas ridículas dos moradores, o que realmente me chama atenção é a grandeza de tudo. O lugar é simplesmente gigantesco, com arranha-céus e edifícios enormes.

Quando descemos, na enorme estação, tenho a certeza de que somos os tributos mais aguardados, o que não me surpreende. Mal da para se movimentar la dentro. Flashes e luzes vem de todos os lados, embaçando minha visão, e me levando quase a tontura, que obviamente não demonstro. Afinal, sou um lutador, sou treinado para matar e gosto disso, não serão umas luzinhas que vão me abater. Apenas uma coisa, ou melhor pessoa, ou melhor anã pode fazer isso. Clove. Tento convencer a mim mesmo, de que nem ela pode. Mas sera mesmo que não?

Pouco tempo depois, já estou sendo torturado. Rodeado por paredes brancas. Deitado em uma mesa extremamente gelada, enquanto três figuras ridículas, me ajeitam "Barra" torturam.

–Você esta em muito bem cuidado e em ótima forma garotão.- A voz vem de Lumns, a mulher de cabelos roxos ao meu lado. Imagina se não estivesse. Penso. Mas não digo nada. A tortura não dura muito mais tempo. Logo, estou a só na sala, deitado nu na mesa fria, a espera de minha estilista. Que não tarda a chegar, seus cabelos são amarelos; não louros como os meus, mas sim um amarelo artificial; e tem tatuagens douradas por todo o corpo, juro que se a luz do sol batesse nela, eu ficaria cego!

–Olá Cato! Acho que já te disseram que serei sua estilista... Meu nome é Pluton.

–Oi.- Digo a ela. Pluton me levanta da mesa, puxando-me pela mão.- O que eu vou vestir na abertura?

–Calmai campeão! Deixa eu te examinar primeiro.- Ela anda em torno de mim, me cutucando como seu eu fosse um pedaço de carne exposto no no açougue. Mesmo sabendo que tenho um físico incrível, estar nu na frente daquela mulher não é das coisas mais confortáveis, queria cavar um buraco e meter minha cabeça la dentro. Pluton, enfim, me entrega o roupão, e uma mesa cheia de comida nos espera, mas mesmo comendo, ela não para de falar! Chega a ser nojento, simplesmente tomei raiva de sua voz. Por um momento, chego a desejar que ela também fosse um tributo na arena, não hesitaria em mata-la.

Por fim, quando estou a ponto de manda-la calar a boca, ela me veste com uma roupa dourada, que praticamente adorei, por que valoriza todos os meus músculos, e na minha humilde opinião, me deixa mais gato do que já sou. Pluton pode ser chata mas não deixa a desejar como estilista. Sou levado a um andar inferior do Centro de Treinamento, estou fascinado em minha beleza, quando chega a única pessoa que pode-se comparar a mim. A roupa é bruta e pesada para alguém pequeno como ela. Mas Clove é assim não é? Bruta. E eu gosto.

–Quer um lencinho?- Ela me pergunta em tom de deboche. Tipico.

–Hã... O que?- Pergunto meio desconcertado pelo que vejo.

–É que você esta babando!

–Nem estou. Afinal não tem um espelho aqui.- Clove revira os olhos. - Que foi? É a mais pura verdade.

–Ahan...

–Você esta negando Clove?- Ela balança a cabeça afirmando. Vou pra cima dela e começo a fazer cosquinhas.- Diz que eu sou lindo!

–Não!- Ela grita estéricamente entre risos. E sei que pelo menos naquele momento Clove esta feliz. E se ela esta feliz, então eu também estou.- Não digo!

–Eu não vou parar enquanto você não confessar que eu sou lindo!

–Você vai parar sim! Anda, as carruagens estão esperando!- A voz de Enobaria toma conta do lugar, e vejo Glitts, Brutus e Pluton vindo logo atrás dela. Os outros tributos chegam e nos colocam nas carruagens, seguindo a ordem numérica dos distritos. Só percebo que já começamos a nos movimentar quando me desequilibro. Clove me segura bruscamente.

–Olha só, vê se presta atenção porque eu não estou afim de ficar sozinha aqui valeu!- Ela grita mas sua voz sai como um sussurro, devido aos gritos do publico que nos aguarda.

–Então quer dizer que você precisa de mim?- Não ouço sua resposta. As pessoas vão delírio quando nos veem, vibram como loucos e gritam nossos nomes. Não era para menos, estamos incríveis! Qualquer patrocinador em sã consciência vai querer patrocinar a nós. Penso. Mas de repente os nomes gritados mudam, não são mais o meu e o de Clove. Olho para um telão de Tv a minha frente. São os tributos do 12. A magrela, que desde o começo Clove não foi com a cara, e o garoto ao lado dela. Sinto meu sangue ferver e uma vontade louca de descer daqui e poder acabar logo com os dois. Basta um troca de olhares com Clove para que eu perceba que ela pensa o mesmo. Eles estão roubando o brilho que era para ser nosso.

Quando tudo acaba e voltamos para o lugar de inicio. Vejo os tributos do 12 e sua equipe conversando, acho que percebem que estou reparando na conversa porque eles se retiram. Nós fazemos o mesmo em seguida. Como somos do distrito 2, ficamos no segundo andar. Que é incrível, mas estou com tanto ódio da magrela que não reparo em quase nada no andar. Glitts pede para que Clove e eu nos lavemos para jantar. Seguimos até nossos quartos em silêncio. Consumidos pelo ódio. Pelo que aconteceu no desfile. Quando volto para a sala de jantar Clove, Enobaria, Glitts e Brutus estão a minha espera. Eles pedem para que os Avox venham nos servir... Avox?

–O que são Avox?- Pergunto confuso.

–Eles são tidos como traidores da Capitol, tem suas linguas cortadas e são mandados para cá para nos servir. Vocês não devem, em hipótese alguma, falar com eles. Vai ser ruim tanto para eles quanto para vocês... E creio que vocês não querem se prejudicar, certo?- Balanço a cabeça afirmativamente. Mas Clove não diz nada, o que me faz olhar para ela. E quando olho fico assustado com sua expressão; ela esta assustada, paralisada com os olhos fixos a algo no fundo da sala, me viro e vejo um Avox, já bem idoso. Clove se segura a cadeira como se quisesse sair correndo em sua direção, seus olhos estão vermelhos, como se quisesse chorar, qualquer que seja o motivo sei que ela não fará isso. Não vai chorar. Não aqui. Não agora. O homem nos serve com os olhos fixos nela e ela nele. Ela nem sequer pisca. Tento entender a situação, e antes que eu consiga, Clove se levanta e corre em direção ao seu quarto. Vou atras dela desesperado. O que esta acontecendo aqui?

–Clove, pelo amor de Deus abre essa porta!- Grito enquanto soco a porta.

–Sai daqui Cato! Me deixa sozinha! Ou será que você não consegue?!- Ela grita de volta.

–Não! Não consigo!

–Me deixa em paz!- Ouço Clove chorar. Ela deve estar se odiando por isso. Sei que ela não gosta de chorar.- Vai embora! Mas que droga!- Ela grita entre soluços. E sei que ela precisa de um tempo a só. Conversarei com ela pela manhã. Já que perdi a fome, vou para o meu quarto, que é logo em frente ao dela. Retiro a blusa e me jogo na cama. Totalmente confuso. São tantos pensamentos e hipóteses, que não consigo desembaralha-los para chegar a uma conclusão. Devido ao cansaço desse dia e a loucura que esta minha mente. Adormeço antes que eu mesmo me de conta.