Eclipse Lunar escrita por httpsdiamandis


Capítulo 8
Capítulo 8 - A terceira esposa




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“Essa foi a história dos espíritos guerreiros”  o Velho Quil começou numa voz de tenor.

“Essa é a história do sacrifício da terceira esposa. Muitos anos depois de Taha Aki ter desistido de seu espírito lobo, quando ele já era um homem velho, um problema começou ao norte, com os Makah. Várias mulheres jovens da tribo deles haviam desaparecido, e eles colocaram a culpa nos lobos das redondezas, a quem eles temiam e desconfiavam. Os homens-lobo ainda podiam ouvir os pensamentos uns dos outros enquanto em sua forma de lobo, assim como seus ancestrais haviam feito enquanto estavam na forma de espíritos. Eles sabiam que nenhum em seu grupo era o culpado. Taha Aki tentou pacificar o chefe de Makah, mas havia medo demais. Taha Aki não queria ter uma guerra em suas mãos. Ele já não era um guerreiro pra liderar seu povo.  Ele encarregou seu filho lobo mais velho, Taha Wi, de encontrar o verdadeiro culpado antes que as hostilidades começassem. Taha Wi liderou os outros cinco lobos em seu bando em uma procura pelas montanhas, procurando por alguma evidência sobre o desaparecimento das Makah. Eles se depararam com uma coisa que eles nunca haviam visto antes - um cheiro doce, estranho na floresta que queimava seus narizes a ponto de doer.”

Eu fui um pouco mais pra longe de Jacob. Eu ví o canto da sua boca vibrar com o humor, e o braço dele se apertou ao meu redor. Será que se ele descobrisse oque eu era me odiaria?

“ Eles não sabiam que criatura podia ter deixado aquele cheiro, mas eles o seguiram” O Velho Quil continuou. Sua voz tremendo não era tão majestosa como a de Billy, mas havia um estranho tom de urgência penetrante nela. O meu pulso acelerou quando as palavras saíram mais rápidas. “Eles acharam traços fracos de cheiro humano, e de sangue humano, pela trilha. Eles estavam certos de que esse era o inimigo que eles estavam procurando. A jornada deles os levou pra tão longe ao norte que Taha Wi mandou metade do bando, os mais novos, de volta pra o porto pra avisar Taha Aki. Taha Wi e seus dois irmãos não retornaram. Os irmãos mais novos procuraram pelos seus ancestrais, mas só encontraram silêncio. Taha Aki lamentou por seus filhos. Ele desejava vingar a morte dos filhos, mas ele já era velho. Ele foi ao chefe de Makah ainda com as roupas da manhã e o contou o que havia acontecido. O chefe de Makah acreditou em seu pesar, e as tensões acabaram entre as tribos. Um ano depois, duas donzelas de Makah desapareceram de suas casas na mesma noite.

Os Makah chamaram os lobos Quileute imediatamente, que encontraram o mesmo fedor doce em todo lugar no vilarejo dos Makah. Os lobos foram caçar de novo. Apenas um retornou. Ele era Yaha Uta, o filho mais velho da terceira esposa de Taha Aki, e o mais novo no bando. Ele trouxe algo consigo que nunca havia sido antes pelos Quileute - um cadáver estranho, frio de pedra, que ele carregava aos pedaços. Todos aqueles que tinham o sangue de Taha Aki, até mesmo aqueles que não eram lobos, podiam sentir o cheiro forte da criatura morta. Esse era o inimigo dos Makah. Yaha Uta descreveu o que havia acontecido: ele e seus irmãos haviam encontrado a criatura, que se parecia com um homem mas era duro como um pedra de granito, com duas filhas de Makah. Uma garota ja estava morta, branca e sem sangue no chão. A outra estava nos braços da criatura, a boca dele em seu pescoço. Ela podia estar viva quando eles chegaram na cena odiosa, mas a criatura rapidamente quebrou seu pescoço e jogou seu corpo sem vida no chão enquanto eles se aproximavam. Seus lábios brancos estavam cobertos com o sangue dela, e seus olhos brilhavam vermelhos. Yaha Uta descreveu a força feroz e a velocidade da criatura. Um de seus irmãos rapidamente se tornou uma vítima quando subestimou aquela força.

A criatura o partiu como se fosse um boneco. Yaha Uta e seus irmãos foram mais cautelosos. Eles trabalharam juntos, chegando nas criaturas pelos seus lados, manobrando-a. Eles tiveram que atingir o limite de sua força e de sua velocidade de lobo, coisa que eles jamais haviam testado antes. A criatura era dura como pedra e fria como gelo. Eles descobriram que seus dentes podiam machucá-lo. Eles começaram a rasgar a criatura em pequenos pedaços enquanto lutavam com ela. Mas a criatura aprendeu com velocidade, a logo estava compativel com as manobras deles. Ele pôs as mãos no irmão de Yaha Uta. Yaha Uta encontrou uma abertura em seu pescoço, e atacou. Os dentes dele arrancaram a cabeça da criatura, mas as mãos continuaram apertando o seu irmão. Yaha Uta rasgou a criatura em pedaços irreconhecíveis, rasgando os pedaços numa tentativa desesperada de salvar seu irmão. Ele estava atrasado, mas, no final, a criatura foi destruída. Ou assim eles pensaram. Yaha Uta espalhou os pedaços para os anciões examinarem. Uma mão destroçada estava ao lado de um pedaço do braço de granito da criatura. Dois pedaços se tocaram quando os anciões os uniram com pontos, e a mão foi em direção ao braço, tentanto se unir novamente. Aterrorizados, os anciões tocaram fogo no que restou. Uma grande nuvem de fumaça forte, vil, poluiu o ar.

Quando ja não haviam nada além das cinzas, eles separaram as cinzas em pequenos sacos e os separou a grandes espaços uns dos outros, uns no oceano, alguns na floresta, alguns nas cavernas dos penhascos. Taha Aki usava um dos saquinhos em seu pescoço, pra que ele pudesse ser avisado se um dia a criatura tentasse se juntar de novo.”

O Velho Quil pausou e olhou pra Billy. Billy puxou uma fita de couro do seu pescoço. Preso na ponta havia um velho saquinho, escurecido com o tempo. Algumas pessoas ofegaram. Bella estremeceu e eu arfei.

            “ Eles o chamaram de O Frio, O Bebedor de Sangue, e viveram com medo de que ele não estivesse sozinho. Eles só tinham mais um lobo protetor, o jovem Yaha Uta. Eles não tiveram que esperar muito. A criatura tinha uma parceira, outra bebedora de sangue, que veio até os Quileute em busca de vingança. As histórias dizem que A Mulher Fria era a coisa mais linda que os olhos humanos já haviam visto. Ela parecia com a deusa do alvorecer quando entrou na vila naquela manhã; o sol estava brilhando pelo menos dessa vez, e ele cintilava na pele branca dela e iluminava seu cabelo loiro que chegava nos joelhos. O rosto dela era mágico em sua beleza, os olhos eram pretos em seu rosto. Alguns caíram de joelhos pra adorá-la. Ele perguntou alguma coisa em uma voz alta, penetrante, em uma linguagem que ninguém nunca tinha ouvido. As pessoas ficaram abobalhadas, sem saber o que dizê-las. Não havia ninguém com o sangue de Taha Aki entre as testemunhas a não ser um garotinho. Ele se apertou a sua mãe e gritou que o cheiro estava machucando o nariz dele. Um dos anciões, que estava a caminho do conselho, ouviu o garoto e se deu conta do que havia chegado pra eles. Ele gritou pra que as pessoas corressem. Ela o matou primeiro. Haviam vinte testemunhas da chegada da Mulher Fria. Dois sobreviveram, apenas porque ela ficou destraída com o sangue, e parou pra saciar sua sede. Eles correram pra Taha Aki, que estava no conselho com os outros anciões, seus filhos, e sua terceira esposa. Yaha Uta se transformou em seu espírito lobo assim que ele ouviu as notícias. Ele foi sozinho combater a bebedora de sangue. Taha Aki, e sua terceira esposa, e seus anciões seguiram ele. No inicio eles não conseguiram encontrar a criatura, só as evidências de seu ataque. Corpos estavam quebrados, alguns completamente sem sangue, espalhados pela estrada por onde ela havia aparecido. Aí eles ouviram os gritos e correram para o porto. Vários Quileute haviam corrido para os navios para se refugiarem. Ela nadou atrás deles como um tubarão, e quebrou o casco do navio deles com sua incrível força. Quando o navio afundou, ela agarrou aqueles que tentaram fugir a nado, e quebrou eles também.

 Ela viu o grande lobo na costa, e esqueceu dos nadadores flutuando. Ela nadou tão rápido que se transformou num vulto, pingando e gloriosa, ela veio ficar de pé na frente de Yaha Uta. Ela apontou para ele uma vez com seu dedo branco e fez outra pergunta incompreensível. Yaha Uta esperou. Foi uma luta apertada. Ela não era tão boa lutadora quanto o seu parceiro havia sido. Mas Yaha Uta estava sozinho, não havia ninguém pra distraí-la da fúria com ele. Quando Yaha Uta perdeu, Taha Aki gritou em desafio. Ele tropeçou para a frente e se transformou em um lobo ansião, com pêlo branco. O lobo era velho, mas esse era o Espírito Homem de Taha Aki, e sua raiva o tornou forte. A luta recomeçou. A terceira esposa de Taha Aki havia acabado de

ver seu filho morrer diante de seus olhos. Agora o seu marido lutava, e ela não tinha esperanças de que ele pudesse vencer. Ela havia ouvido cada palavra que a vítima havia dito no conselho. Ela havia ouvido a história da primeira vitória de Yaha Uta, e ela sabia que a distração de seus irmãos haviam salvado ele. A terceira pegou uma faca do cinto de um dos filhos que estava ao seu lado. Eles eram todos filhos jovens, ainda não eram homens, e ela sabia que eles morreriam quando o seu marido falhasse. A terceira esposa correu em direção à Mulher Fria com a adaga erguida.

A Mulher Fria sorriu, pouco destraída da sua luta com o lobo velho. Ela não tinha medo de uma mulher humana fraca e nem da faca que não causaria nenhum arranhão em sua pele, e ela estava prestes a dar o golpe de misericórdia em Taha Aki. E aí, a terceira esposa fez algo que A Mulher Fria não estava esperando. Ela caiu de joelhos aos pés da bebedora de sangue e enfiou a faca em seu próprio coração. O sangue escorreu pelos dedos da terceira esposa e espirrou na Mulher Fria. A bebedora de sangue não pôde resistir à luxuria do sangue fresco que estava deixando o corpo

da terceira esposa. Instintivamente, ela se virou para a mulher que estava morrendo, por um segundo inteiramente consumida pelo sangue. Os dentes de Taha Aki se fecharam no pescoço dela. Aquele não foi o fim da batalha, mas agora, Taha Aki não estava mais sozinho. Vendo a mãe deles morrer, dois filhos mais novos sentiram tanta raiva que se lançaram para a frente como seus espíritos lobos, apesar de ainda não serem homens.

Com seu pai, eles exterminaram a criatura. Taha Aki nunca se reuniu à tribo. Ele nunca se transformou em homem de novo. Ele deitou por um dia ao lado do corpo da terceira esposa, rosnando toda vez que alguém tentava encostar nela, e aí ele foi para a floresta e nunca mais retornou. Problemas com os frios eram raros e aconteciam

de vez em quando. Os filhos de Taha Aki guardaram a tribo até que seus filhos fossem velhos o suficiente pra ficarem em seu lugar. Nunca houveram mais de três lobos de cada vez. Era o suficiente. Ocasionalmente um bebedor de sangue aparecia por essas terras, mas eles eram pegos de surpresa, sem esperar os lobos. De vez em quando um lobo morria, mas eles nunca foram dezimados de novo como da primeira vez. Eles haviam aprendido como lutar com os frios, e eles passaram o conhecimento de lobo pra lobo, de mente de lobo pra mente de lobo, de espírito pra espírito, de pai pra filho. O tempo passou, e os descendentes de Taha Aki já não se transformavam mais em lobos quando atingiam a idade adulta. Só muito raramente, se um frio estava por perto, os lobos retornavam, e o bando continuava pequeno. Um grupo maior chegou, e os seus próprios bisavôs se prepararam pra lutar contra eles. Mas o líder falou com Ephraim Black como se fosse um homem, e prometeu não machucar os Quileute. Os seus estranhos olhos amarelos davam alguma espécie de prova do que ele dizia sobre eles não serem iguais aos outros bebedores de sangue. Os lobisomens estavam em menor número; não havia necessidade dos frio pedirem um acordo sendo que eles podiam ter vencido a batalha. Ephraim aceitou. Eles cumpriram com a sua parte, apesar de que a presença deles tendia a puxar outros. E o número deles forçou o bando a atingir um número que a tribo nunca havia visto” o Velho Quil disse, e por um momento em seus olhos pretos, afundados nas rugas e na pele dobrada ao redor deles, pareceram parar em mim e em Bella . “Exceto, é claro, no tempo de Taha Aki”  ele disse, e então suspirou. “E então os filhos da nossa tribo carregam novamente o fardo e dividem o sacrifício que seus pais suportaram antes deles”.

Tudo ficou em silêncio por um longo momento. Os descendentes vivos da magia e das lendas olharam uns para os outros através do fogo com tristeza nos olhos. Todos menos um.

“Fardo” ele zombou em uma voz baixa.  “Eu acho que é legal” o lábio inferior de Quil ficou um pouco pra fora.

Do outro lado do fogo, Seth Clearwater - seus olhos estavam arregalados de adulação pela fraternidade dos irmãos protetores da tribo - balançou a cabeça concordando. Billy gargalhou, e a mágica pareceu desaparecer nas brasas brilhantes. De repente, era apenas um círculo de amigos de novo. Jared jogou uma pedra pequena em Quil, e todo mundo sorriu quando isso fez ele pular. Conversas baixas murmuravam ao nosso redor, zombeteiras e casuais.

            Os olhos de Leah Clearwater não se abriram. Eu achei ter visto alguma coisa como uma lágrima brilhando na bochecha dela, mas quando eu olhei de volta um momento depois já não estava mais lá.

Nem Jacob nem eu falamos. Ele estava tão imóvel ao meu lado, a respiração dele tão profunda e uniforme, que eu pensei que ele devia estar perto de dormir.

Olhei Bella do outro lado, seus olhos quase se fechando, então percebi que Jacob me fitava, corei e levantei, indo em direção ao penhasco. Havia uma pedra e me sentei, olhando a lua, que brilhava, era noite de lua cheia. De repente algo me tocou.

“Posso me sentar também?” Jacob pediu. Apenas assenti sorrindo, olhei para Bella, que dormia com o rosto levemente pousado em um tronco.

“Então...É lua cheia e você é lobo” fiz uma piadinha. Jacob revirou os olhos. “Mas, que cor você é? Sabe, como lobo?” perguntei, incapaz de esconder minha curiosidade.

“Um dia eu te mostro, aposto que você queria ser assim, tão maneira” murmurou ele presunçoso. Bocejei e, não resistindo, posei minha cabeça em seu pescoço, e ele passou um braço em volta de mim.

            Alguém assobiou, eu e ele nos viramos para olhar, era Paul, Jacob grunhiu para ele, mais eu o acalmei, e voltei a colocar minha cabeça em seu ombro. Adormeci.


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