A Garota da Profecia escrita por Ray chan


Capítulo 9
Capítulo VIII - Cardápio do dia: panquecas e vozes


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoaaaaal o/ Há quanto teeempo!! Eu estava morrendo de saudades de todos. Desculpem a demora, perdoem, perdoem >.< Ultimamente eu estava meio viciada em um jogo novo e acabei demorando para digitar o capítulo :P Mas estou aqui agora, finalmente de volta, com um capitulo fresquinho para vocês, queridos s2
Nesse capítulo, Lya vai contar um pouco mais da história dos Cyrans e também ficará um pouco mais próxima de Sieghart, então eu espero que gostem ^^
Boa leitura.



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Capítulo VII - Cardápio do dia: panquecas e vozes

Manhã do dia seguinte, segunda feira, por volta das 7:00 da manhã

– Então,---------, estou o deixando responsável por ela até voltarmos. Assim está bom para você?

A voz que falava era de uma mulher, mas a dor de cabeça de Lya somente deixava que ela suspeitasse ser da comandante daquele grupo de jovens que a acolhera na base deles.

– Assim está ótimo.

Já esta voz masculina incorporada a um sorriso divertido, Lya tinha mais certeza ao pensar ser de Sieghart. Um moreno possuidor de uma personalidade duvidosa.

Ah... A inconsciência estava lhe puxando outra vez, pesada demais para a garota resistir.

– Se é assim que você quer... – a mulher voltou a falar – Estaremos de volta daqui há algumas horas.

Essas foram as últimas palavras que Lya escutou antes de apagar novamente.

–------- . --------

– Hn... Ouch... My head... (Ai... Minha cabeça…)

– Acordou?

Lya ouviu a voz e tentou ao menos se sentar, ainda um pouco tonta e com dor de cabeça. Abriu os olhos, a visão borrada e sensível a luz tentou se acostumar devagar, distinguindo um corpo masculino a alguns metros, bem na direção em que a luz era mais forte.

– Hm... Eryon...? – ela arriscou, passando a costa da mão nos olhos, sem se dar conta do idioma da voz.

Não houve resposta.

Lya apertou os olhos por um longo momento antes de tentar abri-los outra vez, a luz que incomodava amenizou e ela aproveitou o momento. Mas assim que os abriu, Lya se assustou em ver um rosto bem perto do seu, encarando-a com seus olhos prateados penetrantes.

Sieghart.

Lya percebeu depois de um momento de surpresa.

Ele estava olhando fixamente para a morena, com um sorriso provocante enquanto apoiava um dos joelhos no colchão de Lya e uma das mãos no encosto de ferro da cama para inclinar-se sobre a garota.

– Bom dia, bela adormecida.... – Sieghart sibilou as palavras lentamente, cheio de malícia.

Naquela posição Sieghart podia facilmente roubar um beijo de Lya, não que ela achasse que ele fosse fazer isso de fato, mas foi o primeiro pensamento que lhe veio a cabeça, fazendo-a corar e empurrar o moreno de cima de si.

– Será que você não pode dizer “bom dia” como uma pessoa normal...?! – ela se alterou, lembrando-se de traduzir.

– Quem sabe assim você pare de me confundir com esse tal “Eryon”... – ele retrucou com um sorriso de escárnio, voltando a se sentar no balcão extenso, colado a parede que tinha uma única janela.

Lya estranhou o tom nocivo na voz de Sieghart, mas, pensando bem, era sempre assim quando se tratava de Eryon, embora o moreno sequer o conhecesse.

– Desculpe por isso. – a morena falou, seja qual fosse o motivo da acidez do moreno, era melhor se desculpar – Esqueci por um momento que... – Lya se interrompeu, desviando o olhar para as próprias mãos, pensando nas palavras certas, mas não achou nenhuma que evitasse acrescentar outra ferida em seu coração, por isso mudou de assunto – O que aconteceu? Eu desmaiei?

–... – Sieghart não respondeu de imediato, apenas analisou a Cyran ainda claramente sensível quando se tratava dos recentes acontecimentos. Sieghart então cruzou as pernas para falar – De acordo com a Tammy... Você teve uma síncope vaso-vagal.

Lya contraiu a expressão sem compreender nada e Sieghart entendeu que ela precisava de uma explicação, do mesmo jeito que a enfermeira explicara para ele mais cedo.

– Em outras palavras: o choque emocional que você teve em conjunto com o seu corpo ainda em recuperação alterou a sua frequência cardíaca e provocou uma queda da sua pressão, o que a fez desmaiar.

–... – o olhar da Cyran desceu para os lençóis da cama – C-choque emocional...? – ela murmurou hesitantemente – Mas eu não... Eu estou bem... – disse, embora ela mesma não parecesse acreditar no que dizia.

– Sim, tão bem quanto disse estar antes de desmaiar. – Sieghart ironizou.

–... – Lya apertou as mãos – Eu...

– Deixe pra lá. – Sieghart a cortou, fazendo-a fitá-lo enquanto ele descia do balcão – Não é como se você pudesse evitar se sentir assim pelos seus companheiros perdidos. Isso é normal. Talvez eu... – ele baixou um pouco a voz, parecendo que falava mais para si –... Tenha exagerado um pouco ontem, falando daquele jeito... – depois voltou a falar normalmente, passando a mão por entre os fios de cabelo casualmente, como se soubesse exatamente do que ela estava passando – Uma hora ou outra essa dor vai amenizar. Com o tempo. E aceitar isso é o primeiro passo. Você não precisa se forçar a fingir que nada está acontecendo. Esse tipo de comportamento só vai contribuir para que você estenda a sua estadia aqui, na enfermaria.

E mais uma vez Sieghart estava certo. Lya sabia disso, que estava sofrendo ainda e que sofreria por um bom tempo. Já havia decidido lidar com isso de algum jeito – sem fugir como estava fazendo quando Sieghart lhe dera aquele sermão. Mas ainda precisava dessas palavras, era só o que precisava ouvir de alguém, saber que alguém a compreendia, pois assim ela saberia que já não estava mais completamente sozinha.

– Que sorrisinho é esse? – Sieghart perguntou, pegando de surpresa Lya, que nem havia se dado conta que estava sorrindo – Pensando em mim? – ele sorriu, aproximando-se.

– Até parece...! – Lya corou levemente e mudou logo de assunto – Onde estão os outros?

Sieghart apoiou o peso do corpo sobre uma perna, entediado com a mudança de assunto.

– Saíram por algumas horas. Os Orcs ficaram rebeldes outra vez. – o moreno rolou os olhos em desaprovação – E, como você pode ver – ele apresentou a si mesmo – Deixaram-me para trás como sua babá.

– A comandante lhe deu essa ordem? – Lya perguntou, pressentindo algo estranho.

– É, aquela mulher me adora. – Sieghart riu.

Deixando de lado a ironia do moreno, Lya sentia que ele não estava falando a verdade. Tinha a impressão que Lothos não havia ordenado que Sieghart cuidasse dela, mas que ele mesmo havia se voluntariado... Quase como se Lya tivesse escutado isso.

Mas isso não fazia sentido, não é? Afinal, Sieghart não parecia ser o tipo de pessoa que se submeteria a ser “babá”, como ele mesmo disse, de alguém.

– Hm... Strange... (Estranho...) – Lya murmurou para si.

– O que? – Sieghart indagou.

– Estou com fome. – Lya disfarçou, tirando o lençol quente de cima do seu corpo e, sem querer, esbarrando na agulha do soro que imediatamente começou a inchar e deixar o local do braço da morena com uma coloração escura – Ai...! Aah...! O que eu fiz? Isso tá inchando! – ela sacudiu o braço e balançou como se assim fosse parar de inchar.

– Fique quieta. Pare com isso. – Sieghart segurou o braço dela, imobilizando-o no colchão – A agulha só saiu do lugar.

Sieghart olhou o inchaço por um momento, então se virou para o fio ligado à bolsa de soro e interrompeu o fluxo lento das gotas; em seguida, ele tirou a agulha da pele, que começou a voltar ao normal; pegou um par de luvas esterilizadas de uma caixa sobre o balcão e as calçou, também pegou um saco com algodão e uma garrafinha com álcool, então voltou para Lya, que observava tudo o que Sieghart fazia, quieta, pois o braço não doía mais.

– O que você vai fazer? – Lya perguntou, vendo Sieghart juntar tudo o que pegara em uma bandeja metálica e sentar-se na beira de sua cama, tomando-lhe o outro braço.

– Tammy exigiu que você ingerisse a bolsa de soro inteira, então vou colocá-la de volta, mas no outro braço. – Sieghart respondeu, virando o álcool em um pedaço de algodão.

– E isso aqui? – Lya ergueu o outro braço – Começou a sangrar.

Sieghart olhou o filete de sangue que saia pelo pequeno ferimento e murmurou um “droga, esqueci”, então pegou outro pedaço de algodão e pingou pouco álcool nele, esticou o braço e limpou o sangue de Lya, depois pressionou o algodão e moveu o braço da Cyran de modo que ela o pressionasse com o próprio braço.

– Fique assim até estancar o sangue. – Sieghart instruiu.

E voltou para o braço livre de morena. O imortal limpou o lugar a perfurar, amarrou um elástico acima e enfiou a agulha em uma veia mais aparente.

Lya estreitou os olhos com a picada.

– Pronto. – Sieghart tirou o elástico e jogou-o na bandeja – Agora tente não fazer movimentos bruscos com esse braço.

–... Como você aprendeu a fazer essas coisas...? – Lya perguntou, admirando o bom trabalho do moreno.

– Anos de experiência em campo de batalha ensinam algumas coisas na marra. – respondeu simplesmente.

– Você fala como se fosse tão vivido... – Lya sorriu, achando engraçado – Mas quantos anos você tem? Dezoito? Dezessete, talvez?

De costas para a morena, Sieghart sorriu, ele terminou de guardar as coisas no balcão e se virou de volta para Lya.

– Quase isso. – respondeu, achando graça internamente – Errou por alguns... 600 anos.

Lya arregalou levemente os olhos, surpresa, ficou sem reação por alguns segundos, mas depois pensou melhor e ficou cético, considerando a personalidade dele, deveria estar brincando com ela.

– Isso não é verdade. Você não parece nem quatro anos mais velho do que eu que tenho dezessete.

Sieghart, nada surpreso que Lya não acreditasse nele, sentou-se sobre o balcão folgadamente.

– Eu não pareço mais velho, porque parei de envelhecer há muitos anos quando me foi concedida a imortalidade.

A descrença tingida de dúvida no rosto de Lya acabou fazendo Sieghart contar à ela sobre a sua história de como um exímio espadachim foi reconhecido pelos deuses e se tornou o “maior herói de Vermécia”.

E logo o soro havia terminado.

– Nossa... Quer dizer que você é bem velho! – Lya brincou.

– Depois de tudo o que eu disse, foi isso que você concluiu...? – Sieghart falou sorrindo enquanto tirava a agulha do braço da morena e a descartava junto com a bolsa de soro vazia.

Lya riu, satisfeita em descobrir algo que poderia usar contra o imortal, já que era a única que saia perdendo quando a conversa entre os dois perdia o teor sério – graças a Sieghart.

O moreno procurou por curativos para a perfuração de ambos os braços, terminando todos os cuidados necessários com isso.

– Pronto, de novo. – ele anunciou, levantando-se da cama e ficando a fitar Lya – Como você se sente? Algum sintoma que eu precise saber?

– Hm... – Lya analisou o próprio corpo de cima a baixo – Creio que não. Obrigada, Sieghart. Você até que é legal, apesar de tudo. – ela agradeceu, sorrindo adoravelmente.

– “Apesar de tudo”... – Sieghart soltou um riso abafado – Então, ainda está com fome?

– Um pouco... Posso levantar? – perguntou, embora já estivesse saindo da cama.

Sieghart assentiu, embora não fizesse diferença. Depois saíram da enfermaria e o imortal a guiou à sala de jantar.

– Então – Lya puxou assunto – Se todos saíram, significa que você sabe se virar na cozinha?

– Não. – Sieghart esticou o canto direito da boca em um sorriso divertido – Significa que temos uma ótima cozinheira, não é, Mary Jane?

Lya se virou para a figura feminina chamada Mary Jane – vestida de maid e com uma expressão impassível – prostrada na entrada da cozinha.

– O seu elogio é uma honra para mim, senhor. – Mary Jane agradeceu com uma educada reverência.

– Poderia servir alguns dos pratos que serviu no café da manhã, Mary? – Sieghart pediu, sentando-se folgadamente à mesa das refeições – A senhorita aqui resolveu trocar os horários do almoço pelo café.

Lya revirou os olhos.

– Claro, senhor.

Mary Jane se retirou para o interior da cozinha. E Lya se sentou ao lado de Sieghart. Em poucos minutos, Mary Jane voltou e ela trazia panquecas, torradas, duas taças de salada de frutas, café, leite e achocolatado. Arrumou tudo sobre a mesa e saiu outra vez.

À vontade, Sieghart encheu uma xícara com o café e tirou uma torrada do prato, comendo sem pressa, então espiou do que Lya se servia, porém ela apenas olhava as panquecas à sua frente com um olhar crítico.

– O que você está fazendo? Esperando a comida criar vida? – ironizou o moreno.

– É que... Eu nunca comi isso... – Lya admitiu, receando comer algo que nunca vira antes.

– Panqueca? – Sigehart indagou, surpreso – Nunca comeu isso? – ele apontou para a massa para ter certeza.

Lya confirmou balançando a cabeça.

– Vocês não tinham isso lá, na sua dimensão?

Lya confirmou novamente.

Isso era uma surpresa para o moreno, cuja comida era comum para ele; Sieghart então pegou uma faca e a enfiou em um par de panquecas, colocando-o no prato de Lya, que o fitou com uma sobrancelha erguida.

– Prove. – ele falou, tomando um gole de café.

Lya encarou a panqueca e a panqueca a encarou.

Não faria mal provar, afinal, o máximo que poderia acontecer era não gostar, certo?

Sendo assim, ela pegou a faca e cortou um pequeno pedaço, inspecionou-o criticamente por alguns segundos – o que fez Sieghart rir baixo – e então colocou na boca. Lya mastigou devagar e hesitante, fazendo a sua analise.

– Hm... É... – ela engoliu – Doce...!

Animada, Lya falou para Sieghart, como se fosse uma boa surpresa para ele também.

– Prove com isso também. – o imortal despejou uma colher de calda de morango sobre uma parte da panqueca da morena – A Arme gosta.

Lya acatou a sugestão, adorando a mistura doce, e logo ela já tinha comido mais panquecas com todos os acompanhamentos disponíveis; Sieghart também apresentou à Lya, que não gostava de leite, como ficava a mistura do leite com o pó de achocolatado – que também não tinha em Cyrus – e ela também apreciou; terminando com a salada de frutas – esta Lya conhecia – deixando a morena satisfeita.

– Obrigada, Mary Jane. – ela agradeceu quando a mascote veio retirar os pratos da mesa – A comida dessa dimensão é muito boa, lá, em Cyrus, são poucas as comidas doces. – disse para Sieghart, parecendo bem mais disposta depois de se alimentar – Esta deve ser a dimensão que tem as melhores comidas de todas que eu já fui.

– O seu povo costuma viajar entre as dimensões? – perguntou Sieghart, interessado.

– Ah, sim. Ou melhor, antes da guerra, sim. Era comum que vários Cyrans que conheceram outras dimensões se apaixonarem pelo lugar e resolverem viver por lá. Isso acontecia mais antigamente, o que espalhou vários Cyrans por diversas dimensões, por causa disso algumas gerações sequer tinham Enns, pois nunca haviam ido a Cyrus, que é o único lugar onde as essências dos Enns aparecem.

– Aparecem? – Sieghart indagou.

– Sim, pense em... Fissuras entre dimensões. – Lya tentou explicar – Cyrus e a dimensão onde os Enns vivem, Enea, são dimensões paralelas. Os Enns não podem sair da atmosfera de Enea, porém, fissuras naturais entre as dimensões permitiram que as essências dos Enns fossem para Cyrus, onde pessoas como eu – ela apontou para si mesma – Cyrans, encontraram e firmaram contratos com a nossa magia, permitindo que os Enns permanecessem em outra atmosfera sem nenhum dano aos seus corpos em troca dos seus poderes.

Sieghart prestava atenção, escutando interessado na história da Cyran. E ela continuou.

– Mas isso faz muito tempo, acontecendo até então. Foi a natureza compatível que Aisha, nossa deusa criadora, formou entre nós: Cyrans e Enns. Entende, agora?

– Sim. – respondeu Sieghart, pensando por alguns segundos se criá-los separados teria sido propositalmente, por Aisha talvez saber que, juntos, Enns e Cyrans, acabariam entrando em colapso como agora estavam – Então, o que você estava dizendo sobre as viagens...

– Sim, bem... – Lya procurou palavras para retomar ao assunto – Quando os Cyrans que se mudaram para outras dimensões tinham problemas, era comum eles pedirem aos seus Enns para que estes pedissem ajuda à outros Cyrans através dos Enns deles, já que todos os Enns vivem em uma única dimensão. E, desse jeito, nós conhecíamos várias dimensões.

Sieghart pareceu pensar por um momento.

– Resumindo: Vocês viajavam para encontrarem outros dos seus, e mediados pelos Enns. – Sieghart disse.

– Bem, sim. Mais ou menos isso. – Lya sorriu levemente do pensamento resumido do moreno – Mas quando a guerra estourou... Todos os Cyrans aptos à luta foram convocados para proteger Cyrus e o povo contra os rebeldes.

– Inclusive crianças como você? – Sieghart perguntou.

Crianças como eu... – Lya mudou o tom de voz ao falar “criança”, claramente contra essa qualidade aplicada a si – Se voluntariaram para lutar. Só aqueles acima dos dezoito anos e com experiência foram convocados, eu tive que me voluntariar. Claro que a minha família foi contra... Totalmente contra. – a expressão de Lya adquiriu um tom de nostalgia – Mas quando a guerra agravou, não os deixei muita escolha. Eu não conseguia ficar só assistindo.

Sieghart conseguia imaginar facilmente a insistência de Lya, querendo lutar por aqueles que ela prezava, até que os pais cedessem. Ele sorriu com isso.

– Mas... – a voz de Lya adquiriu um tom sombrio – A guerra era... Horrível. – os olhos dela se fecharam com pesar, balançando a cabeça em negativa – Eu nunca pensei que fosse boa... Mas era ainda pior do que eu pensava. Vi tantos morrerem, tanta dor e sofrimento... – os seus olhos escuros estavam no passado, revivendo todo o horror vivido – Mas eu não podia fugir disso. Evitei confrontos em busca de palavras; não queria a guerra, queria a paz. Mas... Nem todos pensavam como eu, né...? – um sorriso melancólico tomou os lábios da morena.

–...

Uma criança.

Sieghart sabia disso. Lya era apenas uma criança para ele, mas já havia passado por tanto coisa, visto tanta coisa e sofrido... Mas ainda assim ela colocava um sorriso no rosto e seguia em frente, sempre procurando um jeito de resolver as coisas, uma a uma, sempre levantando ao cair... Agora ela estava no chão, mas Sieghart sabia da força dela, tinha certeza que ela levantaria, nem que ele precisasse ajudá-la para isso.

Ficou silêncio por alguns segundos, Lya parecia de um tempo para se recompor de suas lembranças, mas de repente alguém os interrompeu, uma voz feminina alterada e preocupada soando audivelmente.

– Senhorita Lya! De novo fora da cama?!

Os dois se viraram para a porta de entrada da sala de estar, de onde vinha a voz, e viram todos os heróis, a comandante e a enfermeira Tammy – que havia sido quem havia falado – entrando pelo cômodo, voltando depois de controlarem os Orcs de toda a região e a comandante ter de lembrar-lhes que deveriam manter a paz – embora ela não duvidasse que eles logo esqueceriam disso.

– Olá, Tammy. – Lya falou, passando uma das mãos no cabelo para poder esquecer um pouco a conversa que havia tido. Já havia dado preocupação demais à Tammy, mesmo agora ela ainda estava preocupada com a sua saúde, mas desta vez a morena estava realmente se sentindo melhor.

– Lya...! Como você está? Espero que a minha magia tenha ajudado um pouco. – Arme se aproximou, falando amigavelmente enquanto era rodeada por uma pequena fada azul que a ajudava em batalha, a mascote Pixie.

– Arme, não é? – Lya perguntou, recebendo um aceno positivo – Obrigada por perguntar, eu estou bem melhor, por isso você não precisa se preocupar desta vez, Tammy. – acrescentou para a enfermeira que estava bem inquieta. O que era exagerado na opinião da Cyran, já que estava se sentindo bem.

– Mas e o soro? A senhorita ao menos terminou o soro, não? Diga que sim.

– Quanto a isso está tudo certo, Sieghart fez questão de secá-lo até a última gota. – Lya respondeu, sorrindo tranquilamente.

– O Sieghart? – um garoto alto de cabelos azuis que Lya não conhecia indagou, parecendo surpreso – Não sei o que é mais estranho: Sieghart cuidar de alguém ou alguém deixar Sieghart responsável por uma pessoa. À propósito, eu sou Ronan. – ele tomou a mão de Lya, o sorriso cavalheiro natural aos lábios, e a beijou – Muito prazer.

Lya piscou meio atordoada, era comum à ela, sendo membro de uma família importante e influente em Cyrus, que a cortejassem dessa maneira frequentemente, mas não se lembrava de nenhum que parecesse mais natural ou mais bonito que esse garoto à sua frente, Ronan.

– Prazer...

– Ei. Eu ainda estou aqui, Erudon. – Sieghart reclamou, só não dava pra saber se era pelo que o azulado havia dito ou pelo beijo, mas quebrando o clima de qualquer jeito.

Depois disso, Lire deu um passo à frente.

– Se eu fosse você, evitava ficar no meio desses dois, Lya. É como ficar no olho de um furacão, só não é pior que o Sieghart com o Dio e a Lin com a Elesis.

Elesis, Lin, Sigehart e até Dio limparam a garganta, fazendo um “ran-ran” como se dissessem: “Ei, estou aqui e estou ouvindo”.

– Foi mal... Mas é verdade... – ela acrescentou baixinho, fazendo Lya rir, então sorriu e estendeu a mão – Eu sou a Lire, prazer.

Assim, em alguns minutos, Lya já sabia o nome de todos os heróis; Lothos ordenou que Mary Jane preparasse o almoço e alguns se retiraram para os seus quartos. Tammy não interferiu enquanto Lya conhecia os garotos e garotas, mas assim que alguns começaram a se retirar, ela incentivou os outros a fazerem o mesmo, sugerindo que fossem descansar da missão, tomar um banho... Qualquer coisa que liberasse a sua paciente para voltar ao seu quarto na enfermaria.

E logo Tammy conseguiu dispersar todos, sobrando apenas Lya, Sieghart, ela mesma e uma gosminha dourada que o elfo Ryan havia levado para a missão e que se afeiçoara à Lya, fazendo um “kyu kyu” adorável enquanto a morena fazia carinho nela.

Mas antes que a enfermeira verbalizasse o pedido para Lya voltar a descansar, a animação sumiu do rosto dela, e Tammy temeu que a morena estivesse tendo outro colapso.

– Lya? – a gosminha chamou pela garota, estranhando a falta da carícia.

–... – Lya apertou os olhos e massageou as têmporas.

– O que você está sentindo, Lya? – Tammy perguntou sem saber o que deveria fazer.

Sieghart colocou-se atrás de Lya, precavendo uma queda caso ela desmaiasse outra vez.

– Lya... – a gosminha chamou novamente, preocupada com a expressão sofrida da garota, voando do colo dela até perto do rosto.

– Não é nada... – Lya tentou sorrir para tranquilizar a mascote, mas a sua voz saiu tremida – Só uma dor de cabeça.

...

– Ai...! – ela apertou os olhos outra vez e pressionou ambas as mãos na lateral da cabeça, chegando a curvar-se sobre o próprio corpo com a intensificação da dor.

Tammy estava falando alguma coisa e a gosma dourada também, mas Lya não conseguia entender, parecia que algo invadia e preenchia a sua cabeça de tal forma que tudo ao redor parecia vago e indistinto.

...L...

Era como se alguém estivesse tentando falar algo diretamente na sua mente, forçando as palavras pelo seu crânio, torcendo a realidade... Mas, embora as vozes das mascotes fossem inúteis, Lya conseguia sentir. Sentia o calor preocupado de uma mão em seus ombros, grande demais para ser de qualquer outro ali, só podia ser Sieghart.

...Ly...

–...!! – a morena se encolheu.

Outra fisgada de dor. Outras palavras incompreensíveis.

A Cyran agarrou a mão de Sieghart – os olhos apertados não a permitiam ver a surpresa surgir no rosto dele. Não estava enlouquecendo. Sieghart estava ali. Então ela também estava. Mesmo que ninguém além dela mesma parecesse escutar o que escutava, o toque de Sieghart era real, o que estava acontecendo era real. Alguém estava...

...L...Y...A...

Lya

...A chamando.

–...! – Lya se ergueu em um sobressalto.

No instinto, as mascotes se afastaram.

Os olhos de Lya se arregalaram com um brilho de entendimento, então segurou mais firme a mão de Sieghart e, sem esperar, disparou pelo corredor, puxando o imortal atrás de si.

– Espera. Lya! O que você...?

– Eu ouvi! – Lya o cortou, sem diminuir o passo – Eu...!

Lya...

– Ai! – ela pressionou a mão livre na cabeça com o novo latejar.

– Lya, pare de correr, você não está se sentindo bem, não é? – Sieghart tentou pará-la, mas, seja o que fosse que a impelia e dava forças, fazia com que a morena conseguisse puxá-lo e fazê-lo continuar – E por que você está me puxando junto?!

– Eu não sei! – devolveu sinceramente, recompondo-se da dor de cabeça – Mas eu ouvi de novo! Tem... Alguém me chamando!

– Alguém? – Sieghart franziu o cenho – Quem?

– Vem daqui!

Ignorando a pergunta, Lya passou pelas portas duplas da enfermaria, quase jogando Sieghart de encontro à parede. Deslizou pelo corredor conhecido repleto de cortinas que delimitavam um quarto cada até a sua própria ala. Vasculhou o quarto claramente a procura de algo, detendo-se em um banquinho baixo de madeira encostado a parede onde o casaco com o qual Lothos a achara naquela madrugada estava dobrado.

Lya

–...! – a morena trincou os dentes. A cabeça latejou.

– Lya, já chega. Volte para cama. – a voz agora mais firme de Sieghart ordenou, desentrelaçando suas mãos e segurando o pulso de Lya. Arrastaria-a para a cama se necessário.

– Não! Você não entende! – Lya gemeu as palavras, uma mistura de agonia, dor e ansiedade.

O olhar dela implorava e suplicava por algo que Sieghart não sabia o que era, mas que depois de vê-la, ele não conseguia mais segurá-la. O moreno deixou seus dedos deslizarem para longe da pele dela. Lya o fitou por um momento, o peito subindo e descendo rápido pela respiração acelerada, e então ela disparou para o banco, agachando-se em frente ao casaco.

Não sabia o que estava procurando, ou melhor, imaginava, mas não queria se permitir chorar depois por falsas esperanças, mas a voz que latejava em sua cabeça a atraia para esse lugar; a fonte era esse lugar. Foi então que um quase imperceptível brilho amarelo refletiu nos olhos verdes de Lya.

Dois passos distantes, Sieghart observava a Cyran tatear o interior do casaco avidamente, não sabia o que fazer, e embora isso o irritasse, ele continuou a apenas observar, pois parecia importante para Lya.

– Please... (Por favor...) – Lya murmurou sem se dar conta disso.

E então seus dedos esbarraram em algo pequeno e sólido, esférico, como uma mini-gema. Lya se levantou lentamente, o olhar fixo na mão direita fechada. Estava com medo do que veria, com medo de não ser o que queria ver, mas aquele parco brilho amarelado, aquela voz latejando o seu nome... Ela abriu a mão.

A esfera tirou as palavras da Cyran por alguns segundos, o mundo ao redor pareceu tão insignificante que ela sequer percebeu Tammy e a gosminha de Ryan entrarem no quarto. A cor, a nuance fracamente amarelada, o incompreensível ao fundo... Não, não era incompreensível para Lya, as letras flutuavam formando o nome...

– Eryon...

Fim do capítulo VIII


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Notas finais do capítulo

Opa, e isso é tudo pessoal! Não me matem por eu parar justo nessa parte xD

O que acharam? Eu achei uma infelicidade suprema existir uma dimensão onde comida doce é coisa rara '-' (Eu sei, fui eu que criei assim, mas é pelo bem da história lol)

Mas, em fim rsrs Gostaram? Acharam uma droga? Querem mais? *-* Qualquer coisa é só mandar um review, espero ansiosamente pelos seus comentários, seus lindos s2 (todo leitor meu é lindo e fim de papo u.u)

Bjs, até a próxima (que eu prometo tentar não demorar tanto '-')

Ray chan.



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