You're My Summer, My Winter. escrita por Jane Rivelli


Capítulo 18
Memorial


Notas iniciais do capítulo

oi gente! mais um capitulo novinho para vocês e lembrem-se do "Projeto: Faça um autor feliz!" Deixe seu review no final, não custa nada! Obrigada!



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...” I miss everything we do, I’m half a heart whitout you”...

Primeiro dia em Albert Hill sem Liam. Não era como se ele tivesse faltado. Por que quando alguém falta ninguém saia colocando velas em frente a escadaria da escola, na entrada principal. No ônibus me sentei onde eu costumava a me sentar com Liam, todos me olhavam esperando que eu tivesse uma crise de choro a qualquer momentos, a maioria preferia ficar quieta apenas olhando, já outros iam até mim dizendo “Sinto muito”. Uma semana depois tudo parecia extremamente diferente. Desci do ônibus e caminhei até a entrada principal, eu queria ir direto para a sala sem me expor muito, não gostava de pessoas me olhando com aquela pena isso me irritava, mesmo que elas estivessem certas a respeito de meu sofrimento. Enquanto eu caminhava pela entrada principal de cabeça baixa, podia ver as pessoas olhando para mim e cochichando com as que estavam perto. Esperavam que eu sofresse na frente de todos, o ser humano espera dor, ele gosta de aprecia-la aprendi isso durante os momentos que passei. Caminhei por todo o campus e quando fui subir as escadas a dor tomou conta de meu peito de novo e eu sentia meus olhos ardendo, ou melhor, pegando fogo. Na escada em absolutamente todos os degraus, havia flores, fotos e velas. Eu me senti mal por não ter trazido nada, nem uma flor, nem uma vela, nem um retrato. Fiquei ali parada vendo as mensagens que foram escritas, as fotos dele sorrindo, as velas lutando contra o vento, as flores brancas que ele tanto achava cafona. Havia uma grande foto pendurada em uma das pilastras que dizia: “Saudades eternas, Albert Hill ora por você”. E entramos de novo na questão de saudades eternas que já havia mencionado com ele uma vez... Em baixo havia um retrato um pouco menos, era o time de futebol levantando Liam que sorria, ou melhor gargalhava com o troféu do campeonato do ano passado nas mãos. Havia foto dele com pessoas que eu nem sabia que ele conversava. Tirei uma folha do caderno e peguei uma caneta e apenas escrevi “Eu te amo muito, espero que não esqueça disso do lugar de onde você está”. E depositei atrás de seu retrato pendurado na parede.

–Os pais dele se mudaram para Paris. – Harold sussurrou ao meu lado. –Achei que gostaria de saber.

–Isso tudo é muito estranho. –Eu disse apontando para todo aquele memorial na escada. –É como se fosse uma pegadinha, mas não é! É doloroso Har! Dó ver isso, dói saber que ele não está aqui para ver isso. Para ele ver como era... como ele é amado.

–A diretora me pediu para falar hoje lá no campo, eles vão fazer uma homenagem para Liam no campo de futebol de noite. Queriam que eu falasse, e queriam que você falasse também.

–Eu não consigo!- O pânico tomou conta. –Todo mundo está aqui, ou melhor todo mundo vai esperando que alguém desabe lá na frente! Todo mundo espera ver a dor, Harold eu não posso!- Eu estava gritando e praticamente chorando.

–Eu sei, calma, calma, eu sei. Vem comigo. –Ele me puxou para dentro da escola, tirando-me dos olhares de todos.

–----

–Liam Thomas Cartter Baker. –A diretora começou. –Era um excelente aluno. Aplicado, bem organizado, criativo, muito amado. Albert Hill inteira irá sentir falta dele, de seus pulos pelo corredor com o time de futebol, do seu assobio durante as peças de teatro, de seus sorrisos pelos corredores. Albert Hill perdeu um ótimo aluno, o time de futebol perdeu um excelente jogador, amigos perderam seu parceiro... sua namorada perdeu sua metade. –Todos olharam para mim que me encontrava no fundo da arquibancada, bem perto da saída, para que a qualquer momento eu pudesse sair correndo.

–Liam Cartter era um nome que eu costumava a gritar bastante aqui. –Começou o treinado de futebol. –“Liam Cartter substitua fulano!”, “Liam Cartter pegue a bola”, “Liam Cartter dê voltas para pagar sua risadinha”, “Liam Cartter pare de rir e se concentre”, “Liam Cartter você é um gênio”. Acho que não vou conseguir dar os treinos sem mencionar esse nome. Esse menino é muito especial, amado por todo mundo, creio eu. Orgulho do time, orgulho da escola, orgulho do amigos. Eu não tenho palavras para descrever o quão incrível ele foi. Realmente só quem conhecia e convivia com esse cara sabe o quão incrível ele foi.

–Esse “ele foi” está me matando. – Sussurrei para Harold e ele me abraçou de lado enquanto eu fazia o possível para controlar as lagrimas, mas foi em vão.

Chamamos agora Harold Dizzie, Josh Milk e Jessica Thompson, para fazer uma homenagem a Liam Cartter. – Olhei para Harold em pânico, ele apenas sorriu e disse “Você consegue”, e descemos a arquibancada.

–Lembro me de quando eu me mudei para Albert Hill no jardim de infância. –Harold começou. –Eu era o único vestido de Batman na sala no dia dos heróis. Fui muito zoado pelo meu super herói não ter poderes. –Ele para e ri. –Mas então um menininho de olhos castanhos e cabelo ralo se aproximou também vestido de Batman e disse para mim em tom de deboche: “Não liga para eles, pelo menos a gente tem um carro bem legal”. –Ele enxuga a lagrima que escorre pelo seu rosto. – Depois disso eu ganhei um amigo para a vida toda desde os quatro anos de idade até agora. Um amigo que me levou para a casa depois do primeiro porre. Posso pular a parte que foi ele que me deu o primeiro copo também. –A arquibancada soltou uma risadinha misturada com choro, assim como eu. – Mas era bom saber que todas as cagadas que eu fazia, ele iria me ajudar, mas sem passar a mão na cabeça, ia me repreender ia me ajudar. Sinto sua falta bro. Obrigado por tudo, e sei que esse não é o discurso que você esperava. –Ele olhava para o céu. –Eu te amo cara, te vejo algum dia.

–Quando eu me mudei para Albert Hill. –Começou Josh. –Tinha 10 anos. Conheci dois caras completamente idiotas correndo pelos corredores com pantufas porque diziam que era “Radical”. –Ele olhou para Harold com aquele sorriso de choro. – Eu me sentei quieto, por que bem, eu não sou de falar. Olha o que eu faço por você cara. –Ele apontou e olhou para o céu. – Mas então esses caras vieram e se sentaram comigo olhando bem em meus olhos e falando “oi, você parece ser legal, que entrar para o time das pantufas?” Sério podem rir. Mas eu entrei para esse grupo. Com um pacto de “sangue”. –Harold começou a chorar de cabeça baixa e eu permaneci imóvel escutando historias que até então eu não sabia. – Só que o sangue era pintar o dedo de guache vermelho e colocar sobre um sulfite branco. E eu tenho essa droga até agora. –Ele chorava. – Bro, obrigada por estar sempre comigo, sempre que eu precisei, e quando não precisei. Você foi meu melhor amigo, e agora sei que é meu anjo de pantufas, quer dizer, agora não mais, agora você usa Nike.- Ele riu. - Te amo cara. –Ele acenou para o céu. E em seguida olhou para mim esperando que eu caminhasse até o microfone, mas meus pés travaram, e Harold segurou minhas mãos firmemente e soltando rapidamente.

–Não sei muito bem o que falar aqui. –Comecei gaguejando e vi Harold dar um passo para o meu lado. –Ao contrario dos outros dois, -Apontei para Harold e Josh. –Eu nunca tive uma conversa sobre: “o que eu vou dizer no seu funeral?” com Liam. Liam salvou minha vida, pra quem não sabe. E eu não tive a chance de salvar a sua. –Gaguejei e Harold colocou as mãos sobre meus ombros. – De todos presentes aqui, ele foi o único que estabeleceu contato e me mostrou o quão bonita a vida é se abrirmos a janela para a esperança e o recomeço. Sempre falávamos de recomeço, esperança, felicidade... e hoje eu acho que a melhor pessoal para falar em um funeral desses seria... ele mesmo. Sempre sabia o que falar, seja lá o momento, ele sempre tinha boas palavras para dizer, para acalmar, ajudar. E agora eu, os amigos, vocês, não temos mais o precioso jogador, o precioso amigo o precioso amor. –Eu desabei em um choro e Josh tirou o microfone da minha frente, me impedindo de falar mais eu o puxei de volta.

–Uma vez, Liam me disse que acreditava em anjos e em Deus.–Continuei. – E eu disse que era bobagem porque anjos não existiam assim como Deus, por que se Deus fosse tão a favor da humanidade, amasse tanto esses seres humanos não faria as tragédias que tem feito com a vida de todos. Mas quando eu percebi o papel de Liam na minha vida, na minha situação, eu comecei a acreditar em anjos. Aquela faísca reacendeu, ele foi colocado com um objetivo: me reviver. Olha eu não sei onde você está agora, mas eu queria que estivesse aqui sabe. –Olhei para o céu assim como todos. – Você dizia que não queria ver ninguém chorando em sua morte por que era sinal de fraqueza e de saudades, mas o que quer que façamos? Estamos fracos sem você, e sentimos sua falta! Só queria que visse todos aqui, todos estão aqui por você. Nós te amamos Cartter, eu te amo. –Soltei o microfone e virei para trás caindo nos braços de Josh e me afundando em um choro profundo e sem pausa.

Agora vamos soltar os balões com as velas para encerrar a cerimonia. – Disse a diretora com a voz embriagada. Josh voltou ao palco para soltar os balões enquanto Harold estava comigo perto da saída do campo. Um a um os balões foram sumindo e iluminando o céu escuro. Se Liam estivesse aqui ele iria me abraçar, dizer como os balões são lindos em contraste com o céu escuro. E então ele iria dizer para eu escolher um, e ele outro e começaríamos uma disputa de “qual chegava mais alto primeiro”. Mas faríamos isso, se isso não fosse de fato, um funeral.

–-----

–Eu realmente acho que essas lideres de torcida são um grande grupo de patricinhas arrogantes. – Derek reclamava enquanto estávamos sentados na arquibancada junto com Harold, Julia, Josh e Amanda, assistindo os ensaios finais das lideres de torcida para o campeonato escolar. Passou uma semana desde que houve o funeral de Liam naquele mesmo campo, e ainda era possível sentir o cheiro de vela nos lugares mais fechados. Eu estava encostada na arquibancada observando os treinos, mas naquela viagem, onde seu olhar pousa sobre algum ponto e você fica assim por um bom tempo até alguém te acordar do transe.

–Vem até a lanchonete comigo ou não?- Harold me encarava sério, não era a primeira vez que ele estava perguntando.

–Vou. –Respondi e me levantei indo atrás do Harold.

–Jess, você está horrível.- Harold parou de frente para mim e falou com a maior sinceridade.

–Obrigada. –Disse sorrindo.

–Que olheiras são essas? –Ele parecia chocado. –Você emagreceu, você não dorme, não come, não fala. Eu sei o porque, mas por favor, se cuida tá? – Fiz um gesto com a cabeça, e segui pelo corredor vazio na aula vaga junto a Harold.

SAI, SAI, NÃO É POSSIVEL, NÃO É REAL!- Alguem gritava no corredor de trás, e logo trombou com Harold. Era Lohanna, ela estava descabelada, e berrou quando Harold segurou em seus braços, forçando-a a parar.

–O que raios está acontecendo com você?- Harold perguntou e ela olhava para trás.

–Eu não estou bem, preciso ir ao banheiro, sai da frente!- Ela empurrou Harold e saiu correndo, na direção oposta ao banheiro. Ela olhava para trás e corria cada vez mais rápido.

–Louca. –Sussurrei.

–Totalmente. –Harold completou e ambos rimos.

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–Qual a diferença entre uma lagoa e uma padaria?- Josh já tinha um largo sorriso no rosto enquanto contava. –A diferença é que na lagoa há sapinho, e na padaria assa pão.

–Pra mim já deu. –Me levantei rindo da arquibancada. –Quase meia hora escutando isso, vou dar uma volta.

–Companhia?- Harold sorriu para mim.

–Você está se divertindo, Josh precisa de um publico. –Sussurrei para Harold e ele fez um joinha com as mãos e voltou a rir com as piadas ridículas de Josh.

Não que eu estivesse os julgando, mas é que eles pareciam ter superado tudo, e eu ainda estava naquele “É mentira” de toda aquela situação. Eles pareciam bem, enquanto eu estava em ruinas. Eles pareciam felizes enquanto eu parecia desabar. Era estranho. Entrei no banheiro para lavar o rosto e me deparei com Lohana sentada no canto de uma das cabines do banheiro, abraçada com suas pernas, encolhida num canto, assim que ela me viu ela soltou um berro gigantesco e começou a chorar.

–Mais que raios está havendo com você?- Mesmo a odiando a ajudei a levantar e se apoiar sob a pia.

–Não é da sua conta. –Ela se soltou bruscamente de meus braços e saiu andando pelo corredor. –Fica longe de mim, você me dá azar. Ao som do salto agulha de Lohana tocando o chão, o corredor ficou vazio. Sai do banheiro e andei pelo corredor. Abri meu armário e organizei os livros pela sétima vez no dia, a foto de Liam atrás da porta de meu armário ainda estava ali. Bem clichê ter uma foto do namorado no armário, mas era bom poder olhar para ele. Me perdi um pouco nos pensamentos imaginando no que ele estaria fazendo, onde ele estaria, ou se ele estaria mesmo em algum lugar. Pensei no acidente, no hospital, na minha casa, na festa de espuma, Los Angeles, no teatro, no hospital, na minha casa... Foram rápidos flash backs olhando a foto dele sorrindo. Era ele com um pé em cima da arquibancada, segurando a bola em baixo dos braços, o capacete na outra mão e um enorme e largo sorriso no rosto. Era um foto espontânea, era linda. Uma lagrima caiu pelo meu rosto mas limpei-a assim que escutei passos perto de mim. Fechei o armário e me virei pronta para dizer a Harold que eu não estava chorando, mas me deparei foi com o vazio. Ninguém, não havia ninguém além de mim. Realmente eu estava precisando de algumas horas de sono, além de tonta eu também estava ficando surda.

–----

–O que está acontecendo com Lohana? –perguntei a Harold enquanto estávamos sentados no refeitório. –Ela parece perturbada.

–Ela é perturbada. –Ele disse e ambos rimos mas em fração de segundos Lohana passou correndo por nós e tropeçou no meio do nada. Lohana correndo em publico era algo difícil. Todos olharam e ela começou a gritar mandando pararem de gritar. –Realmente ela é perturbada. –Ele concluiu.

Lembrando que nesse fim de semana acontecerá o baile de verão! Para encerrar as aulas, formem suas duplas e vamos dançar! Nesse sábado a partir das dez horas da noite! Contamos com todos os alunos! – O anuncio foi transmitido através dos autofalantes do pátio.

–Ah, quer ser meu par?- Harold olhou para mim sorrindo, e parecia debochar.

–Não sei se quero ir. –Disse e baixei a cabeça disfarçando um riso pela cara de decepção de Harold.

–Acho que seria legal você ir. –Ele disse e me fitou esperando mesmo uma resposta. –Promete ser um par legal. –Ele sorria.

–Olha, eu não vou carregar ninguém de volta para casa. E eu nem tenho carta pra dirigir que nem você tem! –Eu disse e ele alargou o sorriso me fazendo rir também.

–Acho melhor escolher um vestido bonito, não levo baranga para o baile. –Ele disse e eu o soquei no ombro, o fazendo rir.

–Obrigada por isso que você está fazendo por mim. –Disse para ele e ele baixou a cabeça dando um pequeno sorriso.

–Estamos junto nessa. –Ele me abraçou e beijou o topo de minha cabeça.

–Olha Har. –Comecei. – Só vou ao baile com uma condição. –Disse e ele olhou espantado.

–Lá vem você e suas condições... Fala.

–Você vai tirar esse bigode. E escolher uma roupa descente! Promete?- Ele gargalhou e acenou que sim. –otimo.

–-----

–Tia estou saindo com Harold! –Gritei descendo as escadas.

–Onde vai?- Bruce apareceu no topo da escada com a escova de dentes nas mãos.

–vamos comprar as roupas para o baile e depois vamos sair. –Respondi já da porta.

–Se cuida hein. –Ele disse e o se cuida era algo como “camisinha hein” ai por favor.

Entrei no carro de Harold e ele vestia uma camiseta com gola “V” preta, com alguns botões abertos e uma camisa jeans por cima, em contraste com seu jeans preto. Ele sorriu para mim de maneira encatadora.

–Tá vendo?- Ele perguntou quando o carro avançou.

–O que?- Eu perguntei espantada.

–Tirei o bigode. –Ele sorriu e eu dei risada. Acho que era a primeira vez que eu ria de maneira natural depois das coisas que haviam acontecido.

Chegamos na enorme loja de roupas de gala havia uma parte para mulheres e outras para homens, me separei de Harold e fui escolher um vestido, algo que não chamasse muita atenção, ainda mais porque eu nem tinha intenção de ir nesse baile. Passei algum tempo escolhendo entre vestidos curtos, puxados para o verde agua, sem brilho, se eu pudesse usaria um preto com um véu sobre o rosto. É, muito masoquista eu sei. Mas geralmente as pessoas escolhem um vestido pelo seu sentimento, que demostre alegria, beleza, e eu não tinha nada de alegria muito menos de beleza no momento. Era um salão oval no meio havia algumas poltronas e ao redor as paredes eram dividas por cores, e o salão era inteiramente coberto pelos vestidos. Agora eu tinha que achar uma cor, e um tamanho certo. Preguiça. Me sentei no sofá central e fiquei olhando para os vestidos, imaginando as criticas que Liam faria se estivesse ali comigo. “Esse é feio. Esse é curto. Esse é ridículo! Esse é cor de vomito. Esse é bonitinho. Muito decotado. Jeitozinho. Adorei. Vai com esse!”

–Já escolheu um?- Harold disse entrando no salão e me tirando do transe. –Você nem começou a escolher. –Ele baixou a cabeça e se sentou ao meu lado.

–Como você me disse... “Eu sei que dói” Mas Jess, vamos lá. Você consegue. É você que vive falando que não quer que as pessoas sinto pena de você. Não dê motivos para elas sentirem. Solidariedade é uma coisa, pena é outra.

–Eu sei, eu sei. –Eu limpei as lagrimas que já escorriam por meu rosto. Dei uma longa respirada e me levantei. –Me ajuda? –Eu sorri e ele se levantou procurando algum vestido assim como eu. Escolhi um vestido preto de mangas longas de renda e um decote com renda. Sem brilhos inteiramente fosco. Já Harold escolheu um dourado, com brilho. Eu ficaria parecendo um globo de luz com aquilo. Ele escolheu um verde com brilho eu acabei descartando, eu realmente preferia o meu preto.

–Está difícil. Esta difícil. –Ele passava as mãos pelo cabelo e prendeu o cabelo com uma chuquinha. E eu comecei a chorar de rir com aquilo, literalmente eu chorava de rir.

–Harold, você está com uma chuquinha!- Eu me sentei e ele colocou as mãos sob a cintura, só vendo a minha cena. –Está ridículo!

–Que que tem? Tá bonitinho! –Ele ria também. –Mas eu corto o cabelo amanhã, não vou precisar usar chuquinha no baile.

–Graças a Deus!- Eu me deitei no sofá de tanto que eu ri. Ele se sentou ao meu lado e começou a gargalhar junto comigo.

–Eu gosto de quando você ri assim. Continua assim tá bom?- Ele sorriu e eu concordei, parando o riso, me lembrando dos acontecimentos passados. Me levantei e continuei a escolher um vestido. Harold saiu dizendo que iria procurar uma camisa enquanto eu escolhia um vestido. Achei um outro vestido inteiramente preto com alguns detalhes em perola. Era bem justo a parte de cima e a saia começando um pouco abaixo da costela era como uma saia de bailarina. As costas eram nuas e com os detalhes em perola.

–Horrivel. –Harold entrou e se sentou no sofá novamente. –Não levo você no baile se você vestir isso. Voltei e peguei o outro vestido no promavador. Dessa vez era um tecido cinza mesclado com um azul fosco, com a parte de cima totalmente com brilho que iam se espalhando ao longo do vestido. Era bonito, porem chamativo.

–Bonito, mas com maquiagem vai ficar parecendo um travesti. –Harold disse e eu o olhei chocada, e acabei rindo de seu comentário sincero.

Peguei um outro vestido, dessa vez verde agua sem nenhum detalhe, apenas uma quantidade de pano trançada no busto, ele era bem ajustado na cintura, e o pano era leve. Havia um outro vestido, um vermelho puxado para o rosa, tomara que caia e com uma saia repleta de babados, mas chamava muito atenção. E o outro era um azul escuro no busto, que acabava ficando em degradê até chegar em um roxo claro.

–Não sei qual. Verde agua ou o azul. –Eu disse colocando o tênis de volta nos pés.

–Me surpreenda. –Harold disse. –Embrulha um pra ela, e lhe dê a sacola e me passe o preço. –Harold deu as ordens a vendedora que saiu buscando uma sacola.

–Eu pago. –Eu disse com a maior autoridade.

–Eu te convidei para o baile, eu pago. –Ele resmungou e foi saindo.

–Harold!- Eu impus seu nome. –Eu pago!

–Eu pago, acabou a discussão. –E ele saiu andando. –Se quiser me ajudar preciso de uma opinião para o meu vestido. –Ele riu e saiu andando.

Quando entrei na sessão masculina Harold lutava com a gravata. Ele estava realmente muito bonito. Estava com calça social preta, blazer preto, uma camisa social branca e uma gravata preta.

–Quer ajuda?- Perguntei me aproximando e arrumando sua gravata. –Minha mãe me ensinou a dar nós em gravata. Ela dizia que se ela partisse antes do meu pai, alguém teria que dar nós nas gravatas dele. –Ele deu um leve sorriso. – Está elegante senhor Dizie.

–Obrigado senhorita Thompson. –Ele sorriu. –Posso mandar embrulhar então?

–Pode sim. –Eu disse saindo, esperando Harold na saída. No fim Harold me entregou uma sacola com meu vestido embrulhado dentro de um pacote, e me perturbava tentando saber que vestido eu havia escolhido: o verde ou o azul em degradê. Mas eu insistia dizendo que precisava manter o mistério.

Harold me levou de volta para casa, mas antes passamos juntos num bistrô comer chocolate que era um de nossos interesses em comum. Harold estava sendo muito bom para mim nesses últimos dias, mas ele e todos precisariam entender que companheirismo ajuda sim, mas não tira a dor. Nada, nem risadas, nem bailes, nem festas, nem álcool tiraria a dor da perda de Liam, que ainda estava bem evidente dentro de mim. Uma dor que era impossível de esquecer, já que em todos os momentos ela me lembrava de estar ali.

Antigamente eu estaria sentada no bistrô com Harold e Liam, depois de termos escolhido ternos e Liam ter zoado a maioria dos vestidos. Estariamos rindo, se divertindo e enchendo a barriga de chocolate e chá. Mas não era eu e Harold num profundo silencio, dentro daquele bistrô com cheiro de doce e coisa velha. Vendo a chuva cair e molhar a janela do lado de fora. Vendo o céu chorar, assim como eu chorava por dentro.


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Notas finais do capítulo

Amanhã tem mais!



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