You're My Summer, My Winter. escrita por Jane Rivelli


Capítulo 17
Amor & Dor


Notas iniciais do capítulo

ai ai ai.... mais um capitulo como combinado! vem bomba por ai! Não esqueçam dos reviwes no final!



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... “My faith in you was fading when I meet you on the outskirts of town”…

–Preparada?- Harold me mandava as roupas por cima da cabine de trocas.

–Nem um pouco. Estou mega nervosa e Senhora Ali quer comer meu fígado por ter faltado nos últimos 3 ensaios. Lohana que fez Julieta acredita?- Disse enquanto colocava um corpete ridículo. –Me ajuda.

–Acha mesmo que eu sei fechar um corpete?- Harold disse debochando e eu o olhei séria. –Melhor eu tentar.

–Cacete Harold! Eu preciso ter passagem de ar ainda!- Berrei e segurei na cabine enquanto ele ria e terminava de amarrar. –Obrigada.

–Fica calma. Não é porque você e Liam não tem se falado nos últimos 4 dias que você vai falhar lá no palco. –Ele disse.

–Obrigada mesmo por me lembrar desse detalhe.

–Jessie... Esqueça tudo. Sejam um casal, pelo menos nessa peça, ATUE. Depois disso você faz o que bem entender. E lembre-se eu vou estar na primeira fila pronto para te aplaudir de pé. –Ele sorriu de forma encantadora.

–Boa sorte Julieta. –Ele me deu um beijo na testa e saiu andando rumo ao anfiteatro.

–Vamos Jessica, respire, você consegue atuar só essa vez, lembre-se não olhe para os olhos dele, não olhe para a boca, para o rosto, para as mãos, não inale o perfume dele, não sinta o cheiro do shampoo, não sinta nada, atue, apenas atue Thompson. –Dizia para mim mesma atrás da coxia antes de entrar nos arredores do palco.

1,2,3 AÇÃO. Caros pais e convidados esse ano a turma do terceiro ano avançado apresentará Tarzan, um clássico desenho animado. A turma do segundo ano apresentará Viagem ao Centro da Terra, uma historia incrível cheia de mistérios. E por fim mais não menos importante o primeiro ano, que apresentará a emocionante historia de amor de Romeu e Julieta, um clássico do drama. Fiquem a vontade, que as peças irão começar. No fim de cada peça teremos um intervalo de 10 minutos para que os alunos possam se organizar. Ao lado do anfietetro há lanchonetes para que vocês possam fazer um breve lanche antes da próxima peça. Silencio por favor, e vamos a peça do terceiro ano: Tarzan!. Boa noite a todos.

Fiquei sentada ao lado do palco ouvindo a peça e rindo de algumas bobeiras, estava com a cabeça baixa, tentando me mantar calma o suficiente, tentando compreender que em poucos minutos eu estaria frente a frente com ele novamente. Assim que Romeu e Julieta foi anunciado como a próxima peça, eu me levantei na coxia e fiquei de frente para o palco. Do outro lado do palco, bem a minha frente na outra coxia, estava meu Romeu. Ele me olhava nos olhos e parecia tão nervoso quanto eu. Ele não sorria, ele não demonstrava expressão nenhuma, apenas me olhava nos olhos. Eu sorri para ele, tentando diminuir o clima tenso, eu realmente não sei o porque de ter feito isso.

Com vocês, Liam Cartter como Romeu e Jessica Thompson como Julieta. Com vocês o sucesso Romeu e Julieta!

A peça já tinha alguns minutos e até agora eu não tinha tido nenhuma espécie de contato com ele. Por enquanto era só eu e os outros, o que era muito mais fácil. Eu apenas falava dele, não tinha contato com ele, o que era bem melhor. Pelo menos até agora.

Mas ele é tão lindo. Ele é tão amoroso, gentil, essa guerra com a família dele precisa acabar. Eu preciso dele e é isso que importa. Nosso amor vai ser maior.

–Você está se arriscando muito para uma jovem e delicada moça. –Liam apareceu no palco enquanto eu conversa com minha ama. –Pode ser perigoso. –Ele deu uma piscadinha para mim. Ele estava incrível, as roupas de época que lhe serviram como uma luva ele estava lindo.

Ro-Ro- Romeu!-Eu disse após recuperar o folego. –Eu posso me arriscar quantas vezes eu quiser por você.

–Jura mesmo Julieta, esse mundo, isso entre nós parece ser muito perigoso. Quero você longe disso. Mas não posso te deixar de lado. Você se tornou uma necessidade para mim, como ar.

–Eu sempre te falei que estou disposta a encarar toda essa guerra entre as famílias para ficar junto com você. Para nos casarmos e vivermos nossa vida feliz, JUNTOS.

–Eu te amo Julieta.

–Eu te amo Romeu.- Estavamos frente a frente agora ele me olhava nos olhos e eu olhava nos dele, era como se eu pudesse ficar ali para sempre olhando para seus olhos, mesmo sabendo de tudo que ele já havia feito.

–A hora do beijo!- Senhorita Ali sussurrava para nós ao lado do palco. Então e Liam demos um breve beijo, deveria se sem emoções mais não havia como. A plateia soltou uns gritinhos e nós não conseguimos não sorrir.

Oh Julieta, meus pecados agora passaram para vocês através de meus lábios! Você está impura! Espera! Você roubou meus pecados!

–Seus pecados passaram assim para meus lábios.

–Devolva meus pecados julieta!

–Pegue-os de mim então Romeu. Pegue de volta seus pecados. – E mais um beijo.

A peça continuou entre frases e mais frases, eu já estava quase sem forças. Não conseguia beija-lo sem emoção, não conseguia olha-lo sem demostrar sentimento, eu queria abraça-lo ama-lo, mas com tanta raiva que eu sentia era praticamente impossível fazer isso. Enquanto a briga entre as famílias rolava a solta no palco eu estava na coxia pronta para me trocar para a ultima cena, a mais dramática da peça, o clímax de tudo aquilo ali.

–Jessica?- Liam pareceu atrás da cortina do meu camarim.

–Liam. –Eu disse e me virei para ele. – O que está fazendo aqui?

–Eu queria te pedir desculpas.

–Eu sei disso e eu não sei se eu consigo Liam.

–Só me desculpa, eu não posso terminar essa peça sem você. Sem duas desculpas.

–Por que não?

–AGORA, VOCÊ ENTRA AGORA! –Me empurram para o palco e assim que eu olhei para Liam ele tinha os olhos extremamente marejados. Eu quis chorar.

Tomei aquela agua num frasco e fingi meu desmaio, podia sentir meu corpo sendo transportado através do palco. E colocado sobre uma superfície dura, era o gran- finale!

Julieta? Julieta você está ai? Pediram para eu te encontrar aqui. Onde você está? –A voz dele se aproximava. –JULIETA?- Senti suas mãos sobre meu corpo.

–Oh Julieta por favor, acorde, me diga que você não está morta! Me diga que você não considerou o amor após a vida! JULIETA ACORDE POR FAVOR! –Abri um pouco meus olhos so para olhar nos do dele e ele chorava de verdade. Voltei a fecha-los.

Sendo assim, não vejo outra opção. Se eu ficar vão me acusar, e eu terei você longe. Por favor não me xingue quando eu chegar do seu lado, eu apenas quero te ver, te ouvir de novo. Quero te abraçar e te beijar. Eu já te encontro minha amada. Só precisa saber que eu a amo mais que tudo, e nunca quis que isso acontecesse, que nós ficássemos longe, que nos separassem. Eu apenas queria conseguir seguir em frente e te esquecer, mas como já disse você se tornou uma necessidade. Eu te amo. – A partir do “só” não estava no roteiro, eu estava pasma. Ele se declarou e ninguém sabia disso. Em seguida um forte barulho se deu e era evidente que era o corpo de Liam caindo no chão. Assim que se passou 15 segundos como o combinado eu levantei.

Romeu? ROMEU O QUE VOCÊ FEZ ROMEU? COMO NÃO TE AVISARAM? ROMEU, POR FAVOR ROMEU VIVA, POR FAVOR. ROMEU, ROMEU! –Eu berrava sacudindo seu corpo mole estendido no chão, ele apenas suspirou e sua cabeça caiu sobre minhas mãos.

Sendo assim. Eu te vejo do outro lado meu amor, nada vai nos separar nem aqui nem em nenhum outro lugar. Eu te amo. –Peguei o falso punhal e enfiei em meu peito, escorrendo aquele falso sangue. Deitei ao lado de Liam me enrolando em um de seus braços e fechei os olhos, encerrando a peça, escutando os aplausos e a cortina sendo fechada.

–UFA! Graças a Deus isso acabou. Eu disse e tentei me soltar de seus braços. –Liam, pode por favor soltar? –Disse empurrando seu braço mais estava pesado. –Liam? Liam serio não tem graça. Me solta por favor. Liam, Liam?- Eu puxei seu cabelo e ele não demonstrou nenhuma reação. Sua cabeça apenas tombou para meu lado, sua boca estava semiaberta e seu peito não tinha movimentação nenhuma. Desespero tomou conta.

Coloquei meu ouvido em seu peito e eu não ouvia nada. Nenhum misero batimento cardíaco. Um tremor tomou conta do meu corpo, lagrimas involuntárias começaram a cair de meus olhos, eu não tinha ar, minhas mãos estavam tremulas, minha voz não saia, ele estava sem pulso. Seu coração não batia.

–Socorro. –Sussurrei.- SOCORRO!- Eu dei um baita berro obrigando minha voz a sair e algumas pessoas a olharem para nós, umas não davam bola riam achando que ele estava brincando, outras olhavam preocupadas, e poucas correram para ajudar.

–SOCORRO PORRA! ALGUEM AJUDA PELO AMOR DE DEUS ALGUEM!- Eu berrava até que Josh simplesmente surgiu dos bastidores e me tirou de baixo do braço de Liam. Eu cai em cima de seu corpo e comecei a soca-lo com muita força. Eu apenas chorava e muito.

–ELE NÃO TA!... O CORAÇÃO DELE... –Eu berrava. –ALGUÉM PELO AMOR DE DEUS FAZ ELE FUNCIONAR DE NOVO! PELO AMOR DE DEUS!

–JESSICA? O QUE ESTA ACONTECENDO?- Harold me puxou pela cintura me tirando as forças de perto dele.

–O CORAÇÃO HAROLD! O CORAÇÃO DELE NÃO TÁ... NÃO TA BATENDO!- Eu chorava. Eu chorava muito. Minha visão ficou embaçada, meus braços doíam de tão forte que Harold os segurava garantindo que eu não chegasse perto de Liam. As turmas se aglomeraram em volta vendo a gravidade da situação que não se tratava de uma brincadeira e era evidente que algumas pessoas faziam massagem cárdica no peito de Liam e também gritavam por socorro. Todos me olhavam e tampavam a boca, outros choravam, uns gritavam por socorro enquanto Lohana olhava tudo de longe, chorando também e falando no celular, saindo pela saída de emergência e eu chorava, assim como Harold, que ainda assim tinha forças para me segurar. Eu gritava, eu implorava para que Liam voltasse mas a voz não saia a dor era tanta que até minha voz se calou para que a dor saísse com maior facilidade. E então, eu apaguei.

–----

–Jess?- Harold me chamava. Eu estava em um quarto branco com um azul acinzentado havia barulhinhos de equipamentos eletrônicos, bipis estranhos, coisas grudadas em mim, batimentos cardíacos monitorados e tudo mais. –Jessie?- Ele insistiu e eu abri novamente os olhos.

–Oi Har.- Eu sussurrei e ele deu um leve sorriso. Assim que olhei para ele percebi que seus olhos estavam extremamente inchados e vermelhos, seu rosto estava inchado, seus lábios estavam inchados e vermelhos. Má noticia: tudo isso não tinha sido um sonho. –Foi real. Tudo isso... foi real... Liam... –Eu disse e minha respiração começou a falhar. Podia escutar os batimentos aumentando, e enfermeiras chegando e colocando doses de calmantes em meu soro.

–Har... foi real?- Eu perguntei entre lagrimas e Harold baixou a cabeça respirando fundo, podia ver suas costas tremendo da sua forte respiração misturada com o forte choro que ele demostrava ter chorado. Ele apenas me olhou mordeu os lábios fortemente, fechou os olhos deixando meia dúzia de lagrimas escaparem e balançou positivamente a cabeça. Em seguida baixou a cabeça soltando minhas mãos. Ele se levantou e foi em direção a janela, passando as mãos pelos cabelos enquanto eu apenas encarava o teto sentindo um enorme vazio.

–Precisamos que você fique calma Jess. –Josh apareceu na porta, com a mesma aparência cansada e chorosa de Harold. –É importante que você fique bem. –Ele começou a chorar e saiu do quarto.

Bruce e Tess estavam no quarto também mas logo saíram falando alguma coisa pra Harold e saindo do quarto.

–Eu fico com ela. –Ele respondeu e se sentou novamente ao meu lado da cama, segurando minhas mãos. –Hey. –Ele deu um leve sorriso, mas que estava coberto por uma longa camada de choro.

–Me conta o que aconteceu depois. Har. Me conta. –Ele me fitou. – me conta o que aconteceu, depois que eu apaguei.

–Jess eu acho melhor não. Você esta nervosa ainda.

–Melhor contar agora enquanto eu tenho socorro depois eu vou dar trabalho do mesmo jeito. Eu sou forte Harold, eu sou forte. –Suspirei engolindo o choro.

–Depois que você apagou, eu a levei para um dos cantos do palco, tirando você de toda aquela confusão mais de forma que eu pudesse ver o que estava acontecendo. Amanda veio ajudar a cuidar de você assim como Josh. Então chegou a policia, e os bombeiros, eles olharam Liam... –lagrimas começaram a rolar pelo seu rosto pálido e ele respirou forte. –Fizeram alguns testes e olharam direto para mim que estava com você viram o seu estado e balançaram negativamente a cabeça. –Ele concluiu e depois se levantou de novo, indo em direção a janela novamente continuando seu choro.

–E então?- Eu solucei fechando os olhos fortemente.

–Colocaram seu corpo em uma espécie de caixa metálica e o tiraram dali, e então socorreram você. – Ele colocou as mãos sobre as janelas e terminou o choro deixando o quarto em silencio. –Desculpa Jessica eu não consigo falar direito ainda.

–Eu sei. –Eu disse. –Ele não sobreviveu. Ele se matou? Por que ele se matou?

–Estão dizendo que ele foi assassinado. – Ele se virou para mim.

Assassinado? –Eu engoli em seco e as lagrimas começaram novamente a rolar sem meu consentimento. –Harold é impossível, todos amavam ele, não, eu não... eu não consigo acreditar que isso seja verdade, Harold não!

–Calma. –Ele se sentou em cima da cama ao meu lado, que era bem larga para uma cama de hospital e me abraçou, colocando minha cabeça contra seu peito tremulo. –Estão investigando todas as hipóteses. Vão descobrir.

–E cadê o corpo ?- Eu desabei em um choro e ele me abraçou de novo. – Onde ele está eu preciso vê-lo eu preciso desculpa-lo.

–Desculpa-lo?- Ele indagou com a voz firme.

–Quando entramos atrás da coxia ele pediu que eu o perdoasse porque ele não podia terminar aquela peça sem o meu perdão, e eu disse que não sabia se seria capaz de perdoa-lo. Eu preciso Har... eu preciso perdoa-lo, ele precisa saber que eu o perdoei. –Eu chorei. Chorei como no dia que meus pais se foram, era a mesma dor. E eu não lembrava que doía tanto.- E pra onde ele foi levado? –Falar dessa maneira era como se uma bomba se explodisse dentro de mim a cada palavra dita.

–Paris. Ou no mesmo cemitério de seu pai. Não nos informaram. –Ele disse.

–E como você sabe disso?- Perguntei erguendo a cabeça e olhando em seus olhos.

–É o que ele sempre quis, ele falou isso uma vez. – Um mar se formou em seus olhos de novo.

–Quando eu saio daqui?-Perguntei a enfermeira que tinha acabado de entrar no quarto.

–Hoje ou amanhã Thompson, seja paciente. –Ela disse.

–Eu vou ficar aqui com você. –Harold disse e me abraçou de novo, eu segurei em seus braços e afundei minha cabeça em baixo de seu pescoço, sentindo sua pesada respiração.

–---

Quando acordei Harold estava com o sofá extremamente colado em minha cama, ele estava deitado virado para mim com a cabeça virada para o encosto do sofá e com a boca semiaberta. Uma de suas mãos estava entre as pernas enquanto a outra segurava uma de minhas mãos. Assim que ele percebeu meu movimento ele rapidamente se levantou.

–Está tudo bem?- Ele perguntou meio assustado.

–Depende de como você define bem. Minha saúde está ótima. Meu humor e sentimentos... devastados.- Uma lagrima escapou. E ele deu uma puxadinha de lábio, aquilo não era nem um sorriso, sorrir seria difícil nos próximos meses.

–Você já está com alta. Pode se trocar que eu te ajudo a ir até a recepção. –Disse a enfermeira.

–Ele me ajuda. –Eu disse me referindo a Harold e ela apenas saiu do quarto. Coloquei uma blusa larga e um jeans, amarrei o cabelo em um coque e Harold me ajudou a chegar a recepção. Os corredores passavam como borrões. Passei em frente a um quarto conhecido, o quarto que eu fiquei depois do acidente. Havia uma menina deitada lá dando risadas com um homem mais velho enquanto via bob esponja. Então eu desacelerei e fiquei olhando aquela cena, e deixando que as lagrimas caíssem o quanto quiserem por meu rosto.

–Por que você está chorando? –Harold disse com a voz embriagada logo atrás de mim.

–Nesse quarto que eu “conheci” ele. –Eu solucei. –Ele apareceu na porta rindo do bob esponja, e então se apresentou como o meu salvador. E eu reconheci aqueles olhos. Eu não vou ver mais aqueles olhos. –Eu desabei encostando na parede e ele me ajudou a levantar me levando de volta a recepção. Meus tios deram carona para ele, que garantiu que iria em casa nos próximos dias enquanto a escola tirou 1 semana de luto em homenagem a ele. Era doloroso, para todos.

–----

Era o segundo dia em casa e não havia conseguido sair da janela. Parece tolice, mas a qualquer momento eu tinha a impressão que eu iria vê-lo subindo as escadas correndo, com aquele físico, e depois acendo as luzes de seu quarto e ficando na varanda conversando a distancia comigo. Esse é o tipo de lembrança que doi e muito.

Eu vestia sua camiseta do Nirvana que havia pego uma vez. Eu estava com um álbum de fotos na mão, e com o colar, nosso medalhão em meu pescoço. Eu olhava aquela tatuagem em meu tornozelo e parece que doía ainda mais. Era cinco horas da tarde e eu estava na mesma posição desde as oito da manhã. Era uma dor estranha. Uma dor que você não precisa forçar porque as lagrimas já caiam involuntariamente pelo rosto. Lábios, olhos, rosto inchados, cabelo bagunçado. Era uma dor horrível.

Quando você sente saudade porque está longe é uma coisa. Você pode até chorar mas você sabe que vai voltar e ver quem você tanto deseja, que um dia não muito longe vão se ver. Mas a dor de morte... a dor de morte é a pior. Por que você não pode fazer absolutamente nada para mudar. Não é uma foto, um telefonema, uma mensagem que vai fazer sua dor parar. Nada... porque não vai ter nada que faça essa dor passar a não ser o tempo. E tempo era o que eu menos queria agora. É uma dor parecida com a do desparecimento, aquela dor que você fica “E agora onde ele pode estar?”.

–Era uma das camisetas preferidas dele. –Harold entrou em meu quarto e fechou a porta. Eu apenas virei de volta para a janela. Harold puxou meus pés do assento da janela e se sentou, colocando meus pés sobre suas pernas. –Dava para ver ele daqui.

–Seria bom se ele aparecesse ali, assim do nada. –Disse fracamente.

–Tem o cheiro do perfume dele essa blusa. – Harold engoliu em seco.

–Tem, tudo aqui tem algo dele. Até eu tenho. Fotos, roupas, cheiros. Harold eu não vou suportar. Para onde eu vou agora? Fugi de Ashford porque perdi duas pessoas que amava, vim para Londres perdi alguém que me ajudou a superar tudo... eu vou fugir para onde agora Har? Eu não tenho para onde fugir. –Eu desabei de novo e ele ficou em silencio.

–Achei que seria bom ler isso. –Ele me entregou uma carta e se levantou indo em direção ao banheiro, onde eu podia ouvir claramente os seus suspiros de choro.

Jess,

Primeiramente gostaria de lhe pedir desculpas por todas as vezes que eu fiz você chorar, por todas as vezes que eu não dei toda a atenção que você precisava, por todas as vezes que coloquei coisas bobas a sua frente. Não sei direito porque estou escrevendo isso. Isso não é uma carta de suicídio ou algo do tipo. Queria apenas liberar meus pensamentos de uma maneira menos dolorosa que um vídeo ou um telefonema gravado. Sei que os dias em seguida desse vão ser muito dificieis, mas como eu sempre disse eu estou fazendo isso por você. Descobri que rezar para que tudo melhore tira uma parte do peso de minhas costas. Fiquei noites em claro tentando compreender o que seria melhor para você e melhor para mim, para todos. Mas toda vez que eu tento pensar no que é melhor, eu só consigo enxergar NÓS. Fiquei perdido no tempo lembrando das nossas risadas, amores, carinhos, nossos cheiros, seu cheiro. Suas fotos espalhadas pelo meu quarto não me ajudam nem um pouco a concentrar. Eu não tenho o que confessar já que tudo que diz a respeito de nós ou de você eu já te contei. Quero te agradecer. Por tudo que já fez. Por mim, claro. Agora eu não vou estar mais ao seu lado por uma questão de proteção, mas um dia a gente vai estar junto de novo. Harold vai cuidar de você, eu sei que ele vai. É a missão dele cuidar de você, se eu não estou, ele está. Não se torture vendo nossas lembranças antigas, ou indo em minha casa. Você é o xodó de todo mundo, vais ser muito bem cuidada. É difícil esquecer, eu sei, não peço que me esqueça, não peço que não sinta. Mas peço que siga. Siga, corra para longe o quanto você puder, como o dia que corremos na praia em Los Angeles. Se a saudade apertar olhe para o céu, de dia ou de noite como fazíamos. Estique as mãos e de onde eu estiver eu vou segura-las. Você pode sentir isso, eu também posso. Me desculpe por tudo isso que estou fazendo você passar Jess. Mas eu te amo muito.

Com muito mas muito amor mesmo,

Liam Cartter”

Joguei a carta no chão e segui para a varanda, onde eu ergui as mãos para o céu o máximo que eu pude e soltei um grito gigantesco que seria capaz de acordar muita gente, continuei gritando e chorando ao mesmo tempo até Harold me segurou e me levou praticamente em seu colo para dentro do quarto.

–IDIOTA! IDIOTA! VOCÊ ESCREVEU UMA CARTA MAS NÃO SE DESPEDIU? EU TE AMO SU FILHO DA PUTA, CADÊ VOCÊ AQUI PARA DIZER QUE VAI FICAR TUDO BEM? ALIAS NÃO TERIA O QUE FICAR BEM SE VOCÊ NÃO ESTIVESSE MORTO! FILHO DA PUTA! SEU IDIOTA EU TE AMO MUITO, VOLTA PRA MIM PELO AMOR DE DEUS LIAM! VOLTA, DE ONDE VOCÊ ESTIVER PELO AMOR DE DEUS VOLTA PRA MIM! PORQUE VOCÊ ME DEIXOU? O QUE EU TE FIZ? O QUE VOCÊ FEZ? ATÉ QUANDO EU VOU FICAR DORMINDO COM SUAS ROUPAS? ATÉ QUANDO ESSAS LEMBRANÇAS VÃO ME MATAR? LIAM! VOCÊ ESTÁ ME OUVINDO? NÃO ME IGNORE EU ESTOU FALANDO COM VOCÊ! LIAAAAAAAAAAAAAAAM!- desabei um choro continuo com Bruce, Elliot e Tess na porta de meu quarto, ambos chorando, enquanto eu estava jogada no chão nos braços de Harold que também não havia segurado o choro.

–Eu não vivo sem você Liam. Eu não consigo fazer isso sozinha. Eu não consigo. –Sussurrei com as mãos levantadas para o céu, esperando sentir qualquer tipo de toque. Qualquer tipo de carinho. Qualquer Liam Cartter segurando minhas mãos.

–------

Desci as escadas sentindo meu corpo pesar mais a cada passo cheguei a cozinha e Bruce que estava na porta pronto para ir trabalhar deu uma boa olhada em mim e arregalou os olhos, Tess que cuidava dos gêmeos no sofá da sala também me olhou, e Elliot pegou a mochila e simplesmente saiu batendo forte os pés sem olhar para trás. As empregadas que estavam servindo o café me olharam de forma espantada e olharam uma para as outras em seguida.

–Vem comigo. –Harold surgiu do nada do meio da sala e me puxou para meu quarto de novo.

–Que foi? –Disse cansada.

–Você é mais bonita que isso. –Ele me virou para o espelho e eu estava totalmente acabada. O rosto marcado pelo rímel que escorreu e pelas lagrimas que marcaram a base. O cabelo preso num coque totalmente bagunçado e feio. A boca seca e parte cortada. A má postura e as roupas largadas. Eu estava ainda pior que antes. –Não deixe que percebam sua fraqueza. Não deixe.

–Não vou deixar. –fechei os olhos e comecei a chorar de novo. –Harold eu não consigo fazer isso. Não dá. Ele me jurou que nunca iria sair do meu lado... ele que me tirou de todo o lado fraco que eu tinha, ele estava sempre comigo nas minhas tristezas... e agora eu estou sofrendo pela partida dele. Harold eu não aguento mais perder ninguém.

Ele apenas ficou sentado comigo na beirada da cama enquanto eu chorava. Li em algum lugar que chorar faz com que parte da dor vá embora, é como um desabafo para você mesmo, como se parte da dor saísse pelas lagrimas e você ficasse livre de toda aquela angustia.

Mas até quando eu iria chorar por ele? Até quando essa dor me tomaria... até quando eu iria ver alguma coisa e lembrar dele... até quando nossas lembranças iriam atormentar meus sonhos, meus pensamentos? Até quando eu iria ficar longe dele? Até quando eu iria viver? Até quando eu suportaria essa dor?


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Notas finais do capítulo

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