Remexi-me pela cama incontáveis vezes até que por fim, me deixei por vencer. Estava exausta, podre para ser mais exata. Peeta e eu havíamos brigado e eu me sentia horrível por tê-lo tratado assim, sem se quer ter um motivo. Eu havia gritado com ele, eu havia o tratado como se ele fosse Marvel, mas ele não é. Sabia que ele não queria me forçar a nada, muito menos a fazer-me querer que eu fizesse tudo de certa maneira. Sabia que ele jamais seria como Marvel. O que eu disse mesmo a ele?

O que você vai fazer? Vai me bater? Fique à vontade!

Por que eu havia dito algo assim a ele?

Já era de tarde e minha cabeça parecia que iria explodir se eu pronunciasse alguma palavra. Mas não era uma simples dor de cabeça que passaria com um simples analgésico. Eu estava com remorso, estava sentindo algo no ar.

O tempo estava quente e nublado, odiava isso. Me fazia lembrar de Kentucky, ou seja, me recordava de Marvel. Odiava mais ainda sentir essa tensão. Esse negócio de sentir algo ruim e sentir que logo vai acontecer. Era como se eu tivesse uma premonição e ela já estivesse se preparando para acontecer.

Merda, eu precisa demais de Peeta agora. Mas eu havia agido de forma estúpida demais. Ele ainda deveria estar chateado comigo.

– Vai ficar tudo bem – ouvi a voz de Glimmer de repente. Ela estava nos primeiros degraus da escada. Ela estava toda suada e vestindo uma roupa de academia.

– Meu deus, da onde você veio?

– Estava correndo por aqui – disse Glimmer – Sabe, eu costumo sempre correr mesmo o tempo estando assim, quente e nublado o que eu pessoalmente odeio. Mas como sou uma pessoa azarenta, acabei ficando toda suada e com o cabelo bagunçado, mas parece que estou melhor que você. Aliás, está deprimida?

Ela subiu os degraus e abri espaço para que ela se sentasse ao meu lado.

– Peeta e eu brigamos ontem à noite.

– E o que mais?

– Eu disse algo horrível para ele.

– Você se desculpou?

– Não – digo – Ele foi antes que eu pudesse fazê-lo. Eu deveria ter feito alguma coisa, mas não fiz. E agora...

– O que foi? Você acha que é tarde demais? – disse Glimmer – Nunca é tarde demais para fazer o que é certo. Vá até lá e fale com ele.

– E se ele não quiser me perdoar?

– Então ele não é quem você pensou que fora – falou ela. Vendo minha careta, Glimmer me deu um tapinha na perna – Qual é Katniss, ele vai querer te ver mesmo estando um pouco irritado. Vocês precisam passar por algumas briguinhas, sim. Mas apenas para saber como vão sair delas.

– Isso me parece papo de psicólogo.

– Na realidade é. Mas é a mais pura verdade. Relacionamentos longos, os únicos que têm importância, são aqueles que conseguem resistir a altos e baixos. E você ainda está pensando em ter um relacionamento longo, não é?

– Sim – digo, assentido – Estou, sim. E você tem razão. Obrigada.

Glimmer deu um sorriso e piscou enquanto se levantava para descer os degraus. – Amigas são para essas coisas, certo?

Levantei-me também. – Você quer uma xícara de café? Posso preparar uma se quiser.

– Hoje não. O dia está fervendo. Preciso é de um copo enorme de água extremamente gelado e de um banho frio. Sinto-me como se estivesse prestes a derreter.

– Ah, sim. Eu também.

– Agora Katniss, vá até a casa de Peeta e faça o que você tem quer fazer, antes que você mude de ideia.

[...]

Resolvi pedalar até a loja que, aliás, estava cheia hoje. Ao longe vi Johanna no caixa anotando algumas coisas. Ao me ver, ela sorriu.

– Boa tarde, Katniss.

– Você viu Peeta por aqui?

– Ele está lá em cima com as crianças. Você sabe onde ficam as escadas, não?

– Sei, sim. Obrigada.

Subi as escadas e hesitei antes de bater na porta. Quando a porta se abriu, Peeta estava à minha frente.

– Oi – digo.

Ele assentiu e me olhou com uma expressão impossível de ser decifrada.

– Eu queria lhe pedir desculpas pelo o que falei ontem. Eu estava errada.

– Está tudo bem. Obrigada por se desculpar – falou Peeta.

Por um momento, ficamos em silêncio e eu senti que não deveria ter vindo aqui. – Eu posso ir embora se você quiser. Só preciso saber se quer que eu fique com as crianças hoje à noite.

Novamente ele não disse nada. Em meio do silêncio, balancei minha cabeça e virei-me para sair. Mas desta vez, suas mãos me puxaram.

– Katniss... espere. O que você disse ontem...

– Eu disse sem pensar – disse – Não sei o que deu em mim. Eu estava preocupada com outras coisas e acabei descontando em você.

– Eu fiquei um pouco incomodo, sim. Não tanto com suas palavras, mas sim por você achar que eu fosse capaz de fazer aquilo.

– Eu não acho que você seja capaz de fazer algo assim. Eu nunca pensaria dessa forma de você.

Peeta sorriu. – Eu quero que você saiba que eu valorizo muito que temos e, principalmente agora. Desculpe-me por fazer com que você sentisse contra a parede, ou pressionada. Não era aquilo que eu estava tentando fazer.

– Ah, estava sim – falei sorrindo – Pelo menos um pouco. Mas está tudo bem. Afinal, quem sabe o que o futuro nos reserva, não é? Principalmente hoje à noite, por exemplo.

– Por quê? O que vai acontecer hoje à noite?

Me apoiei contra a porta. – Bem, depois que as crianças estiverem dormindo e, dependendo da hora que você chegar, você pode me encontrar deitada em sua cama...

Peeta levou as mãos para o queixo fingindo estar pensando. – Isso seria um dilema.

– Por outro lado, pode não ter muito trânsito e você chegue em casa o cedo bastante para me levar de volta.

– Geralmente eu dirijo com segurança. Não gosto de correr muito.

Apoiei-me em seu peito e sussurrei. – É muito prudente de sua parte.

– É, eu tento ser – sussurrou ele, antes de nossos lábios se chocarem. Quando nos separamos, havia algumas pessoas olhando – Quanto tempo você levou para ensaiar esse discurso?

– Eu não ensaie, não. As palavras simplesmente surgiram em minha boca.

– Já tomou café da tarde?

– Não.

– Gostaria de comer cereal comigo e as crianças? Antes de sairmos?

– Comer cereal com vocês é uma ideia deliciosa.