Armin narrando:

Caminhei em direção ao pátio. Para minha surpresa, Shiemi estava lá. Ela parecia triste. Sentei-me ao seu lado e a cumprimentei.

- Bom dia, Shiemi. Você está bem?

Ela hesitou antes de me responder.

- Sim, estou bem. E você?

Assenti com a cabeça, porém não senti firmeza em suas palavras. Queria muito que ela fosse sincera comigo.

- Por que você mente pra mim? -Falei baixo, olhando o chão.

- O que? Não, eu não... - Shiemi me olhou e respirou fundo antes de continuar. - Desculpa. Eu não gosto de expôr meus problemas.

Coloquei minha mão sobre a dela. Ela se assustou, então eu tirei. Virei-me para ver seu rosto, e sorri. Ela retribuiu o sorriso, timidamente, e se levantou. 

- Preciso comer alguma coisa. Acordei muito cedo e não como nada desde ontem.

- Tudo bem. - Levantei-me e fiquei de frente para ela. - Tchau.

Antes que ela pudesse sair, lhe dei um beijo em sua bochecha. Ela sorriu e corou imediatamente, o que me fez rir um pouco. Logo ela se foi, me deixando sozinho com meus sentimentos.

*****

Shiemi narrando:

Oh, céus. Então, Armin estava gostando de mim. O que eu faria agora? Não posso ignorá-lo, seria muito ruim de minha parte, apesar de que eu precisava fazê-lo abrir os olhos. Eu não era a pessoa certa para ela. E nem sei se algum dia poderia ser. Estava tão perdida em pensamentos que bati de frente com Rosa.

- Até que enfim te achei, desastrada. Fiquei preocupada quando acordei e não te vi no quarto. Você está bem?

- Desculpa, eu perdi o sono.  E sim, estou bem. - Não gostava de mentir, mas não poderia simplesmente contar toda a gigantesca história e ainda, de brinde, dizer que Armin sentia algo por mim, sentimento que eu não retribuía. 

- Vem, vamos tomar o café da manhã.

À caminho do refeitório, notamos um grupo de pessoas na frente do quadro de avisos. Curiosas, empurramos os alunos até chegarmos em frente ao quadro, onde um papel estava pregado, avisando sobre as datas das provas do segundo bimestre.

- Como assim? As provas já são semana que vem? Isso é um absurdo! - Exclamou Rosalya, pondo as mãos na cintura.

- Teremos pouco tempo para estudar. Pelo menos as férias estão próximas. - Rosa concordou e saímos do meio dos alunos, retomando nosso caminho para a lanchonete.

*****

Kentin narrando:

Sábado. Mais um fim de semana entendiante. No entanto, este dia está diferente. Há um clima ruim em volta de mim. Seria por causa da briga com Shiemi? Não, claro que não. Ela é a culpada. Ela me ignorou, ela me fez ficar bravo com ela. E Nathaniel tem uma grande parcela de culpa também. Ah, se ele não tivesse se mudado para nossa escola. Tudo seria tão diferente. E a história que eu tentava esquecer veio a tona, assim que eu o vi andando com Shiemi, dois dias atrás, na frente da escola.

Talvez ela não seja tão culpada assim. Ela precisava de alguém para ajudá-la em seu problema com a turma, e digamos que eu também tinha o mesmo problema. E de pensar que agora eu poderia protegê-la, porém ela não precisa de mim. Conseguiu fazer amigos sozinha. E também conseguiu pessoas na cola dela. Aqueles gêmeos, por exemplo. Vivem juntos com Shiemi. Não é que eu tenha ciúme, mas ver a menina que eu gostava tão próxima de outros garotos... É, sem dúvida, estranho.

*****

Shiemi narrando:

- O Leigh disse que o Lysandre te achou legal. - Rosa disse, comendo um pedaço de seu pão integral com queijo branco.

- Eu também gostei do jeito dele. Gostei das roupas dele. - Eu ri, e Rosalya me acompanhou. - Os poemas que ele escreve também são bonitos. Um pouco "picantes", mas bonitos. - Ri novamente.

- Vocês poderiam namorar. Seria legal. Minha melhor amiga namorando com o irmão do meu namorado. Meio confuso, porém interessante.

- Deixa de ser boba, Rosalya. - Reclamei, dando um tapa de leve eu seu braço. - Já não basta saber que Armin gosta de mim e você ainda faz essas brincadeiras sem sentido.

Rosa esbugalhou os olhos, soltou seu sanduíche na bandeja. Só então eu notei que tinha falado coisas que não deveria. Coloquei minhas mãos sobre meu rosto, sentindo minhas bochechas esquentarem e iniciei uma discussão interna. Por que eu sempre tenho que deixar escapar alguma coisa que eu quero esconder?

- O Armin... Ele... Gosta... De você? - Rosalya gaguejou, e eu fiquei confusa por um momento.

- Sim, eu sei que estranho. Mas por que toda a surpresa?

- Não sei... O que você acha dele? - A expressão chocada de Rosa deu lugar a curiosidade.

- Eu gosto dele como amigo. 

Ela entortou a boca, em sinal de reprovação e suspirou. Rosalya sabia como ninguém que eu nunca soube lidar com os "paqueras". Mas já estava mais do que na hora de eu cuidar de meus próprios problemas, se é que isso é um problema. 

Decidi que conversaria com Armin.