Meus primeiros dias numa nova escola sempre foram ensolarados, algumas vezes era sufocante, outras vezes o vento era tão forte que apenas me preocupava em manter minha saia e meu cabelo no lugar.

E aqui estou eu, novamente em um primeiro dia de aula. Continua ensolarado, mas não devo me preocupar com a saia levantando, nem meu cabelo ficando bagunçado. Assim não há nada para tirar a atenção do meu nervosismo. Estar rodeadas de garotos, e fingindo ser um, realmente não ajuda em nada.

Bem, acho que toda garota já sonhou uma vez na vida de estar rodeada de rapazes, como em um harém, inclusive eu. E posso garantir que não vão querer experimentar.

Aquela coisa de abrir a porta , damas primeiro, suco no copo, educados e limpos? Pura enganação. É por isso que existe tantos divórcios depois de apenas algumas semanas casados. Porque é quando a mascara cai.

Vejo um amontoado de gente, e decido ir ver o que está acontecendo. Tenho uma horrível mania de entrar em filas mesmo não sabendo do que se trata, o mesmo com grandes quantidades de pessoas amontoadas em um só lugar.Uma pena todos terem o dobro do meu tamanho.

Sempre achei que fosse alta. Ou estivesse na média. Ou quase.

Dou um jeito de me esgeirar entre eles, até ver uma tabela cheia de nomes e números. Não entendo o que é, mas acho meu nome. Luca Heartfilia, ao lado de Natsu Dragneel ambos ao lado do número 47.

Reparo que depois de verem a tabela, alguns seguem em frente ao corredor e outros sobem a escada. Descido seguir o fluxo, subindo as escadas. Havia um longo corredor com diversas portas, e em cima delas números começando no 38. Ando até encontrar o 47, a última porta do corredor.

Bato duas vezes, sem resposta. Então simplesmente abro. Era um quarto. E nele havia duas camas. Há alguma chance dela ter sobrado, e tiveram que por no "meu" quarto?

Ouço um ruido, e vejo que havia outra porta dentro do quarto. E nela um garoto me olhava com curiosidade. Tenho uma ótima suposição sobre o que tem dentro da porta, e sobre quem é ele.

Estava somente com uma calça de moletom, uma toalha azul sobre os ombros largos, e seu cabelo rosado pingava. Por mais que tentasse, não conseguia me impedir de acompanhar as gotas, que desciam da nuca, para os ombros. Algumas eram absorvidas pela toalha, e outras escapavam descendo para barriga lisa, desaparecendo.

Seus olhos me fazem lembrar de como meu cão me observava quando sabia que eu carregava algo comestivel, ou simplesmente mastigavel. Brilhavam do mesmo jeito, e a cor era tão escura que tornava quase impossivel diferencia-la da pupila. Os lábios estavam curvados levemente, em um suposto sorriso.

– Eles colocaram você como meu colega? - pergunta duvidoso e apenas concordo.

– Qual delas é a sua? - Ele aponta para a da direita, então jogo minha mochila sobre a da esquerda, deitando sobre ela, logo sentando para encara-lo. - Luca.

– Natsu Dragneel. - sorri. - Desculpa, é a primeira vez que tenho um colega de quarto. - Sua sombrancelha levanta, mas duvido que tenha percebido.

– Bem, então somos dois.

– A água do banho ainda está quente. Tenho que acertar umas coisas, então agente se vê na aula. - Vem em minha direção e bagunça meus cabelos, jogando sua toalha sobre minha cabeça. - Melhor não se atrasa- - Ele começa a despir a calça, então corro para o banheiro sem ouvir o restante da frase, com meu rosto queimando. Vou ter que me acostumar com isso.

Fico poucos minutos, e me seco usando uma pequena toalha. Não usaria aquela azul nem morta. Coloco apenas a roupa intima, sem as bandagens no peito ou roupa por cima, já que ele disse que iria sair antes, não deve ter problema sair assim. Seria bom ter trazido algumas toalhas...

– Achei melhor te esperar, por que se não iria se perder... V-você... - seus olhos se arregalam e seu rosto estava ainda mais vermelho que o meu, dou um grito, puxando o lençol da cama e me cobrindo com ele.

– Porque você tá aqui? - grito, me enrolando ainda mais. Acabou. Eu sabia que um dia iriam me descobrir, mas não esperava ser tão rápido.

– ... é uma garota? - grita e corro até ele, tropeçando no lençol, caindo sobre ele, mas conseguindo tampar a boca dele.

– Não grita! - sussurro, e percebo que meu lençol havia se perdido, estando apenas como sai do banheiro, numa posição nada agradavel sobre ele. Pulo agarrando o lençol novamente e me encolho sentada na cama. - Você não viu nada né? - choramingo.

– N-não. - Mente ainda corado, e visivelmente mentindo. Não vou mais poder me casar... - Espera. O que você tá fazendo aqui? Não, você deve colocar uma roupa antes. - Ele desabotoa sua camisa, e me entrega, se virando de costas. Me atrapalho um pouco nos últimos botões, mas decido deixar como está.

– Pronto. - murmuro. Ele ia se virar mas o impeço, segurando seus braços. Seria muito vergonhoso encara-lo de frente. Mas para minha surpresa, ele se vira do mesmo jeito, segurando meus pulsos com força e me olhando com desdém.

– Quem é você?– Sua voz saiu alta e intimidadora, me fazendo encolher.

– Olha eu posso explicar! Por favor não conte a ninguém! - digo tão rápido que me atropelo nas palavras. Ele me solta, deixando marcas vermelhas onde ele havia segurado, e da um sorriso.

– Tudo bem. - Seu sorriso rápidamente some, e me fuzila com o olhar. - Você conta.