Clichê. Mas Nunca Igual. escrita por Biscoita Bis


Capítulo 24
Coragem


Notas iniciais do capítulo

Decidi dividir o ultimo capitulo em duas partes. Espero que gostem, até as notas finais.



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POV MEL

O acidente havia sido pior do que eu imaginava. Eles voltavam da casa de seus avós no campo e o carro caiu da montanha capotando muitas vezes até cair no meio de uma mata fechada. O resgate demorou cerca de uma hora para conseguir tirá-los de lá. Um galho de árvore ultrapassou o vidro do lado do passageiro. Isso explica o rosto desfigurado.

Através do vidro eu via as duas macas, uma do lado da outra, com duas pessoas totalmente inocentes. Ver Matt daquele jeito doía meu coração. Aquele rosto angelical tinha hematomas e cortes por toda parte. Seu lábio inferior estava inchado. O vidro do pára-brisas que foi estilhaçado por um galho de árvore acertou o corpo de Matt afundando em sua pele. Ele estava sem camisa expondo todos aqueles cortes que agora tinham uma textura espessa e roxa. Os aparelhos ao seu lado emitiam aquele "pi" das batidas do coração e a cada soar uma lágrima escapava dos meus olhos.

Como eu pude ser tão rude e idiota? Se por um milagre ele se salvar eu só queria ver aqueles olhos azuis novamente. Mesmo que eles me fuzilem de raiva, ou que eles me repreendam. Nem que ele me olhe com ódio, desprezo ou dó. Eu preciso ver aqueles olhos azuis de novo. Eu preciso ver aquele sorriso fofo e ao mesmo tempo malicioso que tanto me faz bem. Eu necessito daquele abraço que me cobre por inteira me protegendo de tudo. Quero ouvir aquela voz rouca dizendo "Melzinha" em tom de deboche novamente. Preciso daqueles polegares que por muitas vezes secaram minhas lágrimas.

Eu amo aquele jeito metido e egocêntrico que só Matt Evans tem. Eu quero vê-lo novamente pingando de suor após um jogo de basquete com uma linda medalha de ouro no peito e comemorando com seus amigos.

Eu quase perdi tudo isso por ser tão Melanie. Por ser tão egoísta e por não confiar nas pessoas.

Acordei dos meus devaneios quando uma enfermeira saiu do quarto e me deu sinal dizendo que eu poderia entrar.

Fui até o hospital sozinha. Minha mãe havia trabalhado a noite toda e estava em casa descansando. Jared também estava fora, e voltaria no fim da tarde para o plantão da noite.

Hesitei em girar a maçaneta. Como eu poderia ser tão medrosa? Coragem! Abri a porta e fechei-a com cuidado. Caminhei até a maca e vi aquele rosto dormindo profundamente e então desabei a chorar novamente.

Segurei sua mão. Estava frio lá fora. Era inverno, e minhas mãos estavam geladas. Mas no quarto havia aquecedor e a pele dele estava quente. Entrelacei meus dedos nos dele e deitei minha cabeça no colchão e fiquei ali admirando aquele rosto que, mesmo com todas aquelas feridas, continuava lindo.

Flashback do Matt On

— Anda logo Claire, vamos chegar atrasados para a formatura. - disse bufando andando de um lado para o outro.

— Já vou Matt! Nossa como você é chato! – Claire gritou do andar de cima com tom de raiva.

Ouvi passos descendo as escadas e virei-me para olhar. Claire andava com cuidado em cima de um salto que a deixava quase do mesmo tamanho que eu. Um microvestido que cobria pouco mais que um palmo da sua perna e era totalmente colado no corpo e com um decote que se fosse dois centímetros maiores chegaria ao umbigo.

— Você não vai assim! - disse com autoridade.

Ela me olhou cínica e retrucou:

— Por que não? Está com ciúmes? Seus amiguinhos vão olhar demais pra mim?

Rolei os olhos e puxei-a pelo braço arrastando-a até o carro. Coloquei-a lá dentro e continuei meu sermão:

— Você acha que está indo pra onde Claire Jones?

Ela veio em minha direção debruçando-se sobre mim e tocou meus lábio com o dedo indicador.

— O que foi? – disse ela fazendo biquinho – Você sabe que tudo isso é seu não é?

Empurrei-a na hora e dei partida no carro. Faltava apenas vinte minutos para a formatura. Claire havia se atrasado tanto para por um pedaço de pano que nem cobria seu corpo todo.

— Ponha-se no seu lugar. Você é uma criança!

Olhei-a pelo canto do olho e ela tinha o ódio estampado nos olhos que estavam cobertos de maquiagem preta.

— Tenho quase dezesseis anos Matt Evans. Sou uma mulher. Será que é difícil você me ver assim? - a essa altura ela gritava e as lágrimas escapavam pelos seus olhos.

Uma neve fina ia caindo na estrada fazendo com que o asfalto ficasse mais escorregadio. Eu tinha poucos minutos para chegar à formatura. Acelerei mais o carro vendo o ponteiro chegar a cem por hora.

— Você é minha irmã Claire. Será que não entende? – gritei enfurecido.

— Eu não sou sua irmã. Eu te amo Matt! Olha pra mim. Eu preciso de você. Mas tudo que você sabe fazer é olhar pra aquela maldita da Melanie. Ela nem te dá bola, abra os olhos!

— Você é a cobra da história. Pare de ser ciumenta. Eu amo a Mel do jeito que ela é, e isso há muito tempo. Fiz coisas ruins para atrair a atenção dela e você faz com que eu brigue com ela por causa de uma mentirinha besta que você e sua alcateia inventou. - respirei por alguns segundos e continuei - Engula suas palavras agora Claire. Retire o que disse!

— Eu te amo mais que ela Matt. Eu quero me casar com você. Eu mereço você muito mais que ela. Minha mãe te adotou por dó. Eu que cuidei de você esse tempo todo. Ela não liga pra isso. Seus pais morreram, por isso ela te sustentou esse tempo todo.

— Cala a boca!- a essa altura as lágrimas escorriam pelos meus olhos e eu soltei todo o peso do meu corpo no acelerador ignorando a curva saliente que havia à frente.

Pneus derrapando e um clarão, tudo que eu vi.

Flashback do Matt Off

— Matt, eu te amo. - sussurrei perto de seus ouvidos e me afastei no mesmo instante.

Senti os dedos de Matt se apertarem à minha mão. Fiquei assustada e chamei a enfermeira.

— Não é possível - disse ela analisando os dados no painel de um dos aparelhos. Ele não se mexe há três dias.

— Eu senti – disse entre lágrimas – Senti seus dedos apertarem entre os meus!

A enfermeira analisou mais alguns dados e saiu do quarto.

Eu passei o dia todo ali. Dedos entrelaçados nos dele e cabeça apoiada em uma parte da maca. Os resultados sobre sequelas sairiam hoje quando Jared voltasse para o plantão. Pensei por mais um tempo e enfim adormeci.

Já era por volta das oito da noite quando acordei com a porta se abrindo e uma maca saindo do quarto. Tudo que vi foi um cabelo loiro esvoaçante caindo pela lateral da maca e então a porta se fechou quando Jared entrou no quarto.

— Olá Mel – disse ele em meio aquele sorriso lindo.

— Olá – respondi forçando um sorriso.

— Tenho boas notícias. A cirurgia do dia anterior foi um sucesso e pelos resultados dos exames ele não terá nenhuma sequela.

Sorri involuntariamente. Soltei a mão de Matt e corri abraçando Jared. Senti aquele perfume. Eu me lembro dele. Tenho certeza que já senti aquele cheiro antes. Eu com certeza já tive algum contado com Jared quando era menor, eu tenho certeza disso. Envolvi meus braços em sua cintura e ele passou os braços por mim. Ele parecia não se importar com o fato de que eu estava encharcando seu jaleco com lágrimas.

Soltei-o e engoli em seco, olhei em seus olhos que era de cor idêntica ao meu e então disse sorrindo:

— Obrigada... Papai.

Minha mãe entrou no quarto vestida em seu uniforme branco e rabo de cavalo no alto cabeça e viu eu e Jared abraçados. Ela olhou para nós e sorriu no mesmo instante tendo imaginado o que havia acontecido.

— Mel, você precisa descansar. A tia dele está ai e vai passar a noite com ele.

Eu não queria sair dali. Por mais que a tia dele tivesse o direito de ficar com o sobrinho, eu queria ficar perto dele a cada minuto que eu pudesse. Assenti abaixando a cabeça e minha mãe me abraçou despedindo-se de mim.

Encontrei a tia do Matt no corredor do hospital abalada. Ela chorava e parecia perder todo ar em meio aos soluços e um homem – que eu deduzi ser tio de Matt – ele a consolava com um abraço. Passei por ela e então ela me viu chamando-me para perto.

— Sinto muito – disse com a voz trêmula.

Ela se esforçou para cessar os soluços e então começou a falar:

— Obrigada por passar o dia aqui Mel.

Sorri um pouco envergonhada e assenti com um aceno de cabeça e então desviei o olhar dela. De repente ela segurou em meus ombros e disse olhando dentro dos meus olhos:

— Eu não vou poder passar a noite com Matt, preciso preparar um velório.

Não entendia o que ela queria dizer. Ela estava adiantando a morte do Matt? Como ela poderia imaginar que ele morreria? Fiquei frustrada. Eu tinha cem por cento de certeza que
Matt ia sobreviver. Por que ela estava assim tão desacreditada? Espera ai... Claire não estava no carro também? Mas, ela não estava ali no quarto agora. E pensando bem havia duas macas no quarto quando eu entrei, mas quando saí, havia apenas uma.

Levei minha mão à boca e as lágrimas arderam atrás dos meus olhos. Não era possível. Claire tinha... Morrido?

Mariana começou a chorar novamente e eu abracei-a na mesma hora. Claire poderia ter feito tudo aquilo e mais um pouco, mas ela era apenas uma garota. Ela tinha uma mãe, um pai e um primo que acima de tudo a amava. Meus olhos ardiam mas nenhuma gota escapou deles. Como eu posso ser tão fria?

***

Depois de ficar duas horas no corredor recebi a notícia de que poderia passar a noite com Matt. Senti um alívio no mesmo instante e entrei no quarto. Havia uma poltrona do outro lado da sala. Com um pouco de esforço puxei-a até ao lado da maca e sentei-me ali. Entrelacei meus dedos nos de Matt e observei seu rosto machucado novamente. O cabelo negro que estava maior do que no último mês pousava em sua testa caindo sobre seu olho. Passei meus dedos entre os fios e coloquei-os de lado.

— Matt, por favor. Você precisa sair dessa – comecei a chorar novamente – Eu prometo que você se salvar eu nunca mais bato em você. E juro que nunca mais te ignoro. Eu preciso de você aqui Matt, por favor. Em algum lugar da sua cabeça eu sei que você me ouve. Tente se mexer Matt!

POV Matt

O que está acontecendo comigo? Eu estou te ouvindo Mel! eu posso ouvir a sua voz. posso sentir o seu cheiro, mas as palavras não saem pela minha boca. Você precisa me ajudar. tudo que eu consegui fazer foi apertar seus dedos por uma fração de segundos e nada mais que isso.

Quando eu ouvi aquelas palavras saindo da sua boca, mesmo sem te ver, eu pude sentir a sinceridade e eu sei que ao contrário de mim você nunca faria nada para me machucar.

Eu te amo Mel, te amo do meu jeito errado e egoísta. eu preciso de você. Arrume um jeito de me ouvir. Faça alguma coisa para que meu corpo reaja.


POV MEL

Observei seu rosto e suas sobrancelhas arqueavam como se estivesse tentando fugir de algo ou algum lugar. Como se estivesse preso. Nesse momento eu tinha certeza que ele poderia me ouvir.

— Matt – disse me aproximando dele – Você pode me ouvir? Eu sei que você pode Matt! Como naquela vez em que você apertou meus dedos, eu senti. Eu vou te ajudar a sair disso, eu prometo.

Apertei a campainha para chamar uma enfermeira. Por sorte minha mãe veio até mim.

— Mãe. Chame meu pai, eu sei que Matt está me ouvindo, traga-o aqui.

— Pai? Mas quando vocês...

— Mãe! Tratamos disso depois. Chame ele.

Minha mãe saiu do quarto e minutos Jared entrou no quarto. Ele veio até mim e Matt e olhou no aparelho que media seus batimentos cardíacos. Era uma média de setenta por minuto.

— Hoje de manhã – comecei meio sem graça – Eu disse uma coisa pra Matt e ele reagiu apertando minha mão.

Jared olhou pra mim e eu corei na hora. Como eu poderia dizer aquilo agora, com meu pai me olhando? Era constrangedor demais pra mim. Mas eu precisava provar que Matt estava consciente de tudo mas não comandava seu corpo.

Respirei fundo e me aproximei do ouvido dele. Falei o mais baixo possível para o meu pai não distinguir mas alto suficiente para Matt ouvir.

— Eu te amo Matt – sussurrei e então seus batimentos pularam pra cem por minuto.

Jared arregalou os olhos e viu os dados no painel mudarem. Ele ficou boquiaberto. Aproximou-se de mim e me abraçou.

— Eu cheguei tarde demais. Um cara já roubou o coração da minha princesinha. Perdi a fase mais linda da vida de uma pessoa. Perdi seus primeiros passos. Perdi sua primeira palavra, perdi tanta coisa. Mas ao mesmo tempo ganhei. Você e sua mãe – as duas mulheres da minha vida. Está tudo bem Mel, você não é mais uma criança. Eu entendo perfeitamente.

Ele soltou o abraço suavemente e então eu entendi o que ele queria dizer.

Aproximei-me de Matt de novo e sussurrei próximo aos seus lábios:

— Eu te amo, preciso de você aqui.

E então colei meus lábios no dele. Segundos depois suas orbitas azuis estavam arregaladas e então eu me afastei.

Fiquei tão feliz de ver aqueles olhos abertos e então ouvi sua voz novamente dizendo com dificuldade:

— M- Mel?


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Notas finais do capítulo

Adorei o capitulo, ultimamente estou gostando mais do que escrevo. É provável que o próximo capitulo saia semana que vem. Vou aproveitar a deixa e apresentar a minha nova fic pra vocês.
É mais um romance (yaaaaay) espero que vocês gostem da mesma forma que gostaram de CMNI.

http://fanfiction.com.br/historia/397377/Nobody_Said_It_Was_Easy