Enquanto o Sol se Pôr escrita por murilo


Capítulo 9
O Amor


Notas iniciais do capítulo

O capítulo me ensinou bastante, e me faz refletir toda vez que o leio. É bom, meio parado, mas... também educa. Espero que gostem, e reflitam. Ok? BeiJo... (LÊ ATÉ O FIM)



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O amor é uma coisa que não se mede, que não se explica, não se vê. Só se sente. O amor não faz escolhas, não escolhe hora ou pessoas. Ele só aparece, assim quando se menos espera. É imprevisível. Não vê cor, raça... ou até sexo. É puro, inocente... ele não liga para essas complicações, para as regras que as pessoas costumam seguir. Ele só quer ser sentido.
     O amor é puro, como uma criança, sem preconceitos. É tão lindo...As pessoas que vêem com maus olhos, cheios de maldade, ditando o certo e o errado no amor. Não existe o errado na hora de amar. O amor, quando sentido pelas duas partes, só traz coisas boas. Amar não é pecado, nunca foi... Não prejudica ninguém, não nos prejudica... Só nos faz amar...
     Estávamos sentados na cama de Rodrigo, ele e eu, olhando o nada, talvez o futuro. A porta estava fechada, então podíamos nos abraçar. Já fazia duas semanas que estávamos vivendo segundo o que pedia o nosso coração. E eu me entregara, assim como se ele fosse a única pessoa no mundo que existia pra mim. Eu estava realmente entendendo o que a vida estava me proporcionando. Estava escuro, já a noite, e estávamos ali trancados desde depois do almoço. Eu não queria sair dali nunca.
     _Rodrigo. –Eu disse, puxando o seu queixo _Sabe, você sabe que eu gosto muito de você... mas eu não queria que ficássemos nessa... fugindo das meninas, eu ainda gosto muito delas.
     Eu ainda não tinha dito que beijara Maria, ele nunca iria entender... Talvez fosse a única coisa que eu escondera dele. Havíamos nos prometido, alguns dias atrás, absoluta sinceridade e transparência em tudo que se passasse com a gente. Mas eu não tinha coragem de falar aquilo com ele. Para mim algumas coisas deviam ficar escondidas, para preservar o nosso amor, o nosso relacionamento. Eu podia estar errado, mas... sinceramente, aquele beijo pra mim nada mudara, mas para ele podia significar muita coisa. Me traria aborrecimentos, então... era melhor que ficasse só entre Maria e eu.
     _Eu sei que você gosta delas, sim... E eu aceito isso. Marcos, você ainda tem saído com elas, não tem? – Ele respondeu sorrindo
     _Tenho, Rodrigo, tenho sim... Algumas poucas vezes. Mas sei lá... somos muito amigos, e eu não quero sair com elas e deixar de te ver, e depois sair com você e elas não saberem por onde eu to. Não dá pra fazer isso tudo junto? Nós quatro...
     Rodrigo fez uma cara de quem não entendia uma palavra sequer:
     _Marcos. – Ele me olhou nos olhos _Eu não estou te entendendo, tem alguma coisa que você está com medo de perguntar?
     Eu abaixei a cabeça. Tinha... Uma só, que me tomava algumas noites de sono e algumas horas em que eu não pensava nele. Eu iria dizer, mas não conseguia encara-lo nos olhos...
     _Rodrigo... – Parei, olhava para a cama, como se ela me desse forças para falar _Olha, você tem ciúmes da Maria?
     _Não. – A resposta veio rápida e sincera
     _Mas.. você gosta dela... assim, você... se sente bem perto dela?
     _Eu gosto sim. Marcos o que você quer saber realmente? – Ele disse, num tom mais alto
     Eu suspirei:
     _Mas então porque ela não gosta de falar no seu nome, porque ela não vem na sua casa, ela não gosta de você? Aconteceu alguma coisa que eu não sei? Rodrigo, seja sincero comigo.
     Rodrigo analisou as estrelas do teto, atrás de uma resposta digna. Passou as mãos pelo cabelo, confuso, pensativo.
     _Marcos, realmente...- Ele procurou meus olhos _... que eu saiba não.
     Mas havia de ter. Maria sempre era estranha quando falávamos de Rodrigo, ou de qualquer coisa que lembrasse seu nome. Não insisti, só procurei o beijo de Rodrigo mais uma vez, aquele beijo que me tirava o fôlego, sempre.
     Batidas fortes na porta. Pulamos, como se o teto estivesse caindo.
     _Rodrigo! – Era seu pai, gritando como nunca, sempre me dava um frio na barriga quando escutava aquela voz, não o mesmo frio de quando Rodrigo me olhava no fundo dos olhos, um frio diferente, ruim _Abre a merda dessa porta!
     Me ajeitei na cama, sentado. Rodrigo levantou passando a mão pelo cabelo, desarrumado. Abriu a porta. Seu pai olhou-o com um olhar de reprovação, cheio de malícia. Ficaram calados, alguns segundos, um olhando o outro. Eu já me acostumara com o fato daquele homem não me olhar nunca.
     _Agora você vai morar nesse quarto? Num tem mais nada pra fazer? Aquela menina cagando a casa toda, sua mãe sumindo, alguém tem que cuidar de alguma coisa. Não tem mais nada pra comer, você já viu isso? Ce ta me ouvindo, muleque?
     Rodrigo o olhava, encarando-o, não parecia intimidado com a expressão raivosa de seu pai.
     _Acontece que eu trabalho, e que tenho pouco tempo pra descansar... aí quando realmente eu paro pra descansar...
     _Você aproveita e fica de agarração com um afeminadinho. – Aquelas palavras saíram forte demais, e tudo que aconteceu depois foi tão rápido que mal posso descrever, e mesmo assim, talvez eu erre a ordem dos fatos
     Rodrigo soltou um som agudo da boca, e empurrou o peito de seu pai. O homem mal saiu do lugar. Um estalo cruzou o quarto, Rodrigo levara um tapa no rosto, que o forçara a rodar a cabeça, num ritmo extremamente perigoso. Eu só consegui abrir a boca, nada mais. Outro estalo, agora mais grosso e alto. A porta se fechara.
     Rodrigo socou a porta, como se ainda estivesse na briga. Os olhos escondendo algumas lágrimas, tímidas. Corri para acudi-lo, afastando-o da porta. Ele tremia um pouco, eu também. Abracei-o, ao meu colo, como que o protegendo. Ele chorava, um choro contido, pedindo desculpas. Mas ele não era culpado de nada, não era ele quem deveria estar pedindo desculpas. Nos calamos, os últimos soluços de Rodrigo se misturavam aos passos fortes do seu pai na parte debaixo da casa.
~ // ~

     Já se passava da meia-noite, eu ainda na janela, vigiando a rua, sozinho, antes de ir dormir. O silêncio por ali era predominante, a rua parecia vazia. Foi quando surgiu aquela criatura, na calçada, andando, apressada, um pouco desengonçada. Era Cláudia.
     _Desce! – Ela mexeu a boca, a voz não saía, com medo que alguém acordasse, talvez
     Fiz um sinal positivo, e corri para abrir a porta do quarto. Meu pai não estava em casa, minha mãe tinha a mania de dormir cedo. Desci as escadas na ponta dos dedos, atravessei a sala e destranquei a porta. Abri. Cláudia permanecia onde eu a vira antes, me olhando.
     Corri até ela.
     _O que foi? – Perguntei já próximo à ela
     _O que foi? – Ela repetiu a pergunta, irônica _Se decide, meu filho... e a Maria, Marcos, o beijo que vocês deram? Vai ficar só nisso?
     Eu assustei:
     _An? – Mas é claro que ela iria saber do beijo, eu achando que era um segredo meu e da Maria
     _Eu quero saber a sua decisão logo, Marcos, a gente... neh? Porque você fica nessa aí, a gente vai perdendo tempo. Olha, tem muitos caras correndo atrás da Maria aí, você não faz idéia! – Ela me dizia, mexendo os braços
     Franzi um pouco a testa juntando as sobrancelhas:
     _Ela pode ficar com quem ela quiser, a gente... num tem nada, até onde eu sei, não é?
     _Ah é? – Ela pareceu espantada _Sinceramente não dá pra te entender, só to aqui te dando um toque, a essa hora, porque, sinceramente, a Maria gosta de você, talvez não seja amor, mas carência...
     _Você ta doida? – Eu a interrompi _A Maria carente? Maria é a menina mais bem resolvida que eu já conheci. Ela não tem problema nenhum, Cláudia. Você conhece ela melhor que eu.
     Cláudia deu um sorriso amarelado:
     _Você que acha, Marcos. Maria é forte, madura... Mas por trás disto tudo, não passa de alguém que também precisa de ajuda, Marcos. Tem que ser muito bobo para não ver isso. Ela faz os outros felizes, mas precisa de alguém que também faça isso por ela.
     _Ela não precisa. – Eu falava, tentando me convencer também
     Cláudia segurou uma das minhas mãos:
     _Marcos, eu já vi Maria chorando centenas de vezes, sem explicação. Sem motivo aparente. E desde que você a beijou, ela havia parado com isso... Mas você a esqueceu, e ela voltou a sofrer como antes. Marcos, ela tem problemas sim... Pode não parecer, mas tem.
     Eu olhei para trás de Cláudia, no fim da rua, a casa de Maria, apagada à esquina. Então Maria sofria. Para mim as palavras Maria e sofrimento não cabiam na mesma frase, eu estava errado. Eu estava confuso, me senti triste por Maria, me senti perdido, sem reação, sem saber o que fazer.
     _Marcos. – Cláudia me olhou nos olhos _Eu me importo muito com ela, eu sei que você também. Ajude-a, não por mim, mas por ela... Veja você mesmo isto nela, repara... Olha Marcos. Você passou aqueles dias trancados na sua casa, por doença talvez, mas por achar que a sua vida era péssima também... Cheia de problemas. Agora me escuta, problemas todos nós temos. Uns maiores, outros menores... Mas todos temos, sempre há alguém que sofre mais do que a gente, você vai ver Marcos, que não devemos chorar, e nos inconformar com a nossa vida, porque com certeza alguém está passando por algo pior do que a gente. Pode ser o caso de Maria, pense nisso.
     Eu iria falar alguma coisa, mas só pensei. Ela estava sofrendo só por minha causa, aquilo tudo que Cláudia falara, essa tristeza, era culpa minha? Não podia ser, deveria ter algo mais. E eu queria saber o que era.
     Cláudia ainda falou algumas coisas comigo, antes de ir embora, se despedindo com pressa. Fiquei parado na calçada, pensando, olhando a rua... escura, vazia, silenciosa, até Cláudia sumir...
     Aí escutei o barulho de um carro, que vinha no fim da rua, os faróis fracos, amarelos. Parei olhando-o de longe. Ele parou, lá na frente. E a porta do carona se abriu, num estalo baixo. Recuei um pouco, para o jardim, não querendo ser notado.
     Foi quando vi descer do carro, com passos rápidos, Maria, passando as mãos pelo cabelo. Correu para sua casa, sem olhar para trás. Franzi um pouco os olhos, o carro não saiu, ficou parado, com os faróis ainda baixos. Eu quis chegar mais perto, mas não daria certo sem que eu fosse notado. Esperei, e nenhum sinal de que o carro iria sair. Entrei para minha casa, com Maria na cabeça.

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Notas finais do capítulo

Reviews? Aceito sim, obrigado.... pode caprichar na dose. NÃO PAGA!



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