Logo quando o sol nasceu Bella levantou-se da cama. Jason ainda dormia cheio de cobertas, e não parava de rolar na cama. Bella fez sua higiene matinal, depois vestiu-se normalmente e prendeu os cabelos em uma trança que caía sobre o ombro. Pegou uma barrinha de cereal que estava em cima do criado mudo ao lado de sua cama, e saiu do chalé um apressada. Hoje seria sua primeira aula de voo em pégaso, com o professor que Percy havia lhe falado. Ela estava um pouco nervosa, afinal, não conhecia esse tal professor. Fazia um pouco de frio no Acampamento, já que era cedo. Tudo estava silencioso; não se ouvia barulhos de metais se chocando, ou espadachins gritando, ou arco e flechas acertando alvos... O clima no CHB era totalmente pacífico, – o que era estranho, vindo de um lugar de treinamento – e Bella achava aquilo tudo muito esquisito. Sem campistas em treinamento, sem competições, sem nada. Somente, paz.

Quando chegou a floresta, Bella andou entre as árvores, em direção à clareira, onde havia sido combinado de encontrar com seu professor. Ela ajudava-se com os braços, tirando as árvores de sua frente e caminhando. Ouviu um relincho vindo de um pouco longe, e agora sabia para que direção seguir. Mais uma vez ouviu o som, e continuou seguindo-o até finalmente encontrar o local de onde ele vinha. Havia encontrado a clareira, e bem ali, estava uma pessoa encapuzada com um casaco preto. Ela estava de pé, acariciando um pégaso preto, - provavelmente o que relinchava – e não havia se virado para Bella, até ela se aproximar e começar a dizer:

- Olá... – Ela tocou levemente com o dedo o ombro da pessoa – Você é o meu professor?

A pessoa virou-se devagar, e foi tirando a capa de seu rosto, e então, com clareza, Bella conseguiu ver quem estava à sua frente.

Não sabia ao certo como seu rosto estava, mas ela havia ficado muito surpresa e sentiu-se enganada. Abriu a boca para falar, mas as palavras simplesmente não saíam de sua boca. Ela não sabia o que dizer, ou como reagir. Como eu não imaginei isso?, ela se perguntava enquanto observava a “pessoa”. Finalmente, conseguiu dizer algo como:

- Eu... Ér... Hã... Gáh. – Foi tudo que conseguiu dizer.

A “pessoa” suspirou, e abriu um sorriso torto. Passou levemente as mãos pelos cabelos castanhos, e observou Bella com seus olhos verde-mar. Seus olhares se encontraram, criando uma conexão entre eles.

- Eu sei que devia ter dito que... – Começou.

- Então você é meu professor? – Perguntou Bella franzindo a testa.

- Sim. – Disse – Sou eu mesmo, Percy Jackson.

Bella conteve um sorriso. Não poderia mostrar felicidade, ou qualquer outra coisa do gênero. Percy lhe mostrou um sorrisinho e apontou para o pégaso preto, voltando a acariciá-lo.

- Parece que você gosta muito dele. – Observou Bella.

- Ah, sim. Ele é meu pégaso pessoal, se chama Blackjack. – Disse Percy – Eu o salvei quando estava embarcado no Princesa Ândromeda alguns anos atrás. Desde então, ele tornou a ser meu.

Amiga nova, chefe?  A voz de Blackjack soou na cabeça de Percy, e ele não pôde conter o sorriso.

- Sim, Blackjack. – Respondeu.

Bella olhou-o, depois olhou para o pégaso. Ela se perguntava se ele podia entender o que o cavalo relinchava.

- Você deve estar se perguntando se eu posso falar com ele, não é? Na verdade eu posso sim. – Ele sorriu – Meu pai é o criador dos cavalos, o que me permite poder conversar com eles. A voz deles soa dentro da minha cabeça, e eu posso respondê-los mentalmente ou assim, desse jeito.

Bella achou aquilo maravilhoso. Por um momento, desejou ser filha de Poseidon só para poder ter esse poder. Mas, logo pensou que teria que ser meia-irmã de Percy, e isso seria completamente estranho e perturbador.

Ela é bem bonita, hein chefe. É sua namorada?  Disse Blackjack fazendo Percy corar.

- O que ele está dizendo? – Perguntou Bella analisando o pégaso.

Percy não sabia o que dizer. É claro que não poderia dizer que Blackjack havia achado-a bonita e perguntado à ele se era sua namorada. Seria vergonhoso demais, e ele não estava a fim de passar vergonha. Inventou algo rápido.

- Hã... E-Ele disse que... – Gaguejou um pouco – Que seu anel é bonito.

Bella sorriu. Realmente o anel era lindo, mas também, como não ser, já que fora produzido por um ciclope muito talentoso?

Eu não disse isso, chefe! Blackjack protestou. Mas o anel dela realmente é bonito! Foi o senhor que fez, chefe?

- Não, Blackjack. Deve ter sido comprado, ou sei lá. Mas isso não importa agora, você veio aqui para treiná-la, certo? – Disse Percy.

Ah, claro, chefe! Vamos começar o treino agora mesmo!

- Então... Vamos começar a treinar? – Percy perguntou.

Bella apenas assentiu. Percy começou a explicá-la sobre como voar em pégaso. Depois, ajudou-a a montar nele e montou na frente dela. Não tinha como ele treiná-la sem entrar no treinamento também, por isso teria que voar em Blackjack junto dela.

- Mas... Você também vai? – Perguntou Bella um pouco incomodada.

Ela não era contra Percy, o problema era que ela tinha um namorado e deveria se controlar, ou acabaria fazendo besteira. Ela não podia negar que sentia alguma pequena coisa por Perseus, mas sabia que nunca seria correspondida, e que nunca daria certo.

- Ah vou sim. – Ele apressou-se em dizer – Tenho que ir também, para poder te ensinar, tudo bem?

- Claro. Tudo bem.

Blackjack relinchou alto e levantou voo. Bella não poderia dizer como sentiu-se naquela hora. Era uma mistura de liberdade, com felicidade e alegria que não saíam de dentro dela.

- Você pode segurar em mim se quiser... – Disse-lhe Percy – Sabe, eu não mordo.

Os dois riram. Ela hesitou um pouco, mas logo criou corajem e envolveu seus braços por volta da cintura de Percy. Não estou fazendo nada de errado, ela pensava. Realmente não estava, ainda.

Blackjack foi voando cada vez mais alto, até que eles não conseguiram mais ver o Acampamento. Percy abriu os braços, deixando o vento balançar-lhe os cabelos, e Bella se agarrou mais a ele. Não pôde conter um sorriso. Enquanto eles voavam, Percy dizia a ela como o voo em pégaso funcionava. Disse que ela deveria dizer ao pégaso aonde queria ir, e segurar bem firme a ele, mostrando-lhe que confia no mesmo.

Bella gritou um “Uhul” e Blackjack foi voando cada vez mais rápido e mais alto. Em um sobressalto, ele desceu como se estivesse mergulhando, e quando estava a ponto de bater de cara com o chão, deu meia volta e voltou a voar alto. Aquilo havia sido fantástico! Bella nunca se sentira tão maravilhada em toda sua vida.

(...)

Quando Blackjack pousou, Percy desceu do pégaso, e estendeu a mão para ajudar Bella a descer. Ela ia descer do animal, mas acabou se desequilibrando, e ia cair e bater de cara no chão, se Percy não a tivesse segurado. Eles ficaram frente a frente, com o filho de Poseidon a segurando nos braços, e a filha de Zeus respirando ofegantemente, completamente nervosa. Estava sem saída. Não tinha como fugir agora. Eles se olharam nos olhos, criando novamente aquela conexão de olhares. Bella viu Percy se aproximando de seu rosto, e quase pôde sentir sua respiração. Sabia o que viria a seguir. Will nunca a perdoaria. E quando eles estavam a ponto de selarem os lábios, algo inesperado aconteceu.

- O que é isso?

Bella soltou-se de Percy na mesma hora. Virou-se para onde vinha à voz, nervosa, e viu seu mundo desmoronar. Estava perdida. Não tinha mais como voltar à trás. Ela fechou os olhos, fazendo uma expressão de “Droga!” no rosto. Caminhou até o dono da voz, sabendo que estava perdida, e tentou explicar:

- Will... Não é o que você está pensando... Eu juro!

Ele bufou, coçando a nuca, – como sempre fazia quando estava nervoso – e tentou dizer sem se desesperar:

- Por que Bella? Por quê?

Percy parou ao lado dela, tentando entender como Will se sentia naquele momento.

- Não foi culpa dela. – Ele disse.

Bella o encarou na mesma hora. Estava chocada. Percy havia acabado de defendê-la? Isso era novidade!

- Não se chateie com ela à toa, Will. A culpa foi minha. Eu devia ter parado quando percebi o clima.

Will estava tentando se convencer de aquilo era verdade. Porém, a imagem de sua namorada quase o traindo não saía de sua cabeça de maneira nenhuma.

- Acredito em você, Bella. – Disse Will – A culpa sempre é desse cara. Vamos, já está na hora do café da manhã.

Will andou até Percy, parando em frente à ele. Colocou o dedo na ponta de seu nariz levemente, como se estivesse fazendo-lhe uma ameaça. E de fato, estava.

- Fique longe da minha namorada, seu peixe fedido.

Percy estremeceu. Mas mesmo assim, assentiu. Não queria pôr Bella em mais problemas.

- Vamos Will. – Bella disse.

Ele se afastou de Percy e foi até Bella, dando-lhe um abraço. Depois, deram as mãos e saíram dali deixando Percy sozinho.

(...)

Depois do café da manhã, Will e Bella foram chamar os campistas que iriam participar do Torneio – a pedido de Quíron – e depois de reuni-los, foram ao encontro do centauro, no anfiteatro.

- Muito bem semideuses, – Começou Quíron – hoje nós vamos ter nosso primeiro treinamento com vocês, que foram escolhidos para participar no 358° Torneio Semideus.

Todos aplaudiram euforicamente. Quíron fez sinais com as mãos, pedindo para que “abaixassem o volume” para ele voltar a falar. E assim todos fizeram.

- Bem, o treinamento de hoje vai começar com a divisão de dois grupos. Um grupo vai lutar com espadas e o outro vai treinar voo em pégaso. O grupo A é: Bella, Chris, Piper, Katie e Percy. – Todos os cinco se posicionaram em um lado – O grupo B é: Will, Jake, Annabeth, Clarisse e Pólux. Podem começar. Os pegasus estão logo ali – apontou Quíron – e vocês do grupo A, podem lutar ali naquele espaço – ele apontou para outro lado – e boa sorte a todos!

Eles obedeceram. O grupo A começou com suas lutas. Eles fizeram uma dupla (Katie e Piper) e um trio (Bella, Percy e Chris) e foram lutando. O grupo B se alternou; Will começou primeiro, treinando em um pégaso. Logo em seguida, Jake, depois, Annabeth, e assim por diante.

Na opinião das pessoas do grupo B, era difícil treinar com Clarisse, porque ela parecia uma filha de Afrodite maluca com aquela maquiagem exagerada. Eles se perguntavam o que poderia ter acontecido com a durona La Rue. Pensaram até na possibilidade de ela ter endoidado da cabeça e ficado débil mental, mas prefiram acreditar que ela havia renovado seu estilo.

- Ér... Clarisse? – Disse-lhe Jake, tentando segurar o riso.

- O que é?

- Você tomou um banho de maquiagem...? É que você parece uma Barbie, sabe? Então eu pensei que...

- VOCÊ QUER SER UM HOMEM MORTO, MASON? – Gritou Clarisse completamente irritada. Jake fez que não com a cabeça, agora amedrontado – ENTÃO CALE ESSA BOCA! E SE VOLTAR A REPETIR ISSO, PREPARE SEU CAIXÃO!

Jake assentiu, com medo de que ela lhe espancasse, mas Clarisse apenas fez uma cara de “homem mau” e voltou a treinar. Os outros riram depois dela estar mais longe, fazendo Jake corar de vergonha.

O resto do treinamento ocorreu bem. Logo depois que o grupo A terminou a luta de espadas, eles trocaram de lugar com o grupo B, e estes, começaram a treinar a luta. Quíron estava orgulhoso por ver todos tão bem assim, e não tinha dúvidas de que eles se sairiam muito bem no Torneio, por mais que apenas um vencesse.

***
Depois que o treinamento com os dez semideuses acabou, já era noite. A trombeta já havia soado, e todos se dirigiam para o Pavilhão. Will estava recolhendo as armas utilizadas, enquanto Percy levava os pegasus para os estábulos, e Bella ajudava o namorado.

- Eu não gosto daquele cara. – Comentou Will, enciumado.

- Relaxa Will, você sabe que não temos nada. – Tranquilizou Bella sorrindo – E além do mais, é de você quem eu gosto!

Will se sentiu mais confiante e tranquilo. Não pôde deixar de abraçar Bella, e sorrir com sua resposta. Ele se despediu dela, dizendo que já ia para o Pavilhão, encontrar os irmãos. Ela continuou ali, pegando as últimas armas que restavam. E foi quando Percy chegou, se decepcionando ao ver que não havia mais ninguém ali – exceto Bella.

- Ué... Todos já foram? – Ele disse.

- Foram. – Ela respondeu – Faz pouco tempo.

Will havia visto quando o filho de Poseidon chegara. Ele não podia sair sem antes ouvir o que os dois conversavam. Escondeu-se atrás de uma árvore, bem em frente de onde eles estavam. Prestou atenção em tudo, sem tirar o olho deles.

- Então... – Começou Percy, nervoso – Foi mal por hoje mais cedo.

- Tudo bem. Você sabe que não fizemos nada de errado, é só que... Will é bem ciumento. – Eles riram.

- Eu percebi. – Disse o garoto – Mas... Eu não queria que você levasse culpa por algo que não fez, apenas isso.

- Tá tudo bem, ok? – Ela disse abrindo um sorriso – Ainda podemos ser amigos.

Bella não pôde deixar de corar com o que dissera. Percy levantou o olhar, conseguindo encará-la nos olhos. Ele sorriu, assentindo com a cabeça, como se dissesse “Podemos sim!”. E de fato, queria mesmo dizer isso.

- E você acha que Will vai gostar disso? – Ele perguntou.

- Não sei, mas eu não ligo. Não há nada de errado em ser sua amiga.

- É verdade.

Aconteceu novamente. A troca de olhares, a conexão entre os dois. Will não suportava ver aquilo. Queria ir lá, e dizer que nunca deixaria Bella ser amiga daquele cara, mas não podia. Ela nunca o perdoaria por espioná-la dessa maneira. Mas ele não conseguia se conter. Tinha que impedir que coisas ruins acontecessem, ou seria tarde demais.

Percy estava se virando, para ir ao Pavilhão. Bella o conteve, dizendo algo como “Hã... Percy?”, o que o fez virar na mesma hora em que ela dissera.

- Eu... Eu preciso te dizer uma coisa. – Ela falou, totalmente nervosa.

- Sou todo ouvidos.

Will ficou mais nervoso. O que ela diria à ele? Era o que ele tentava decifrar. Se perguntava se ela iria se declarar, ou dizer que não gostava mais de Will e que queria ficar com ele. Isso o corroia. Ele a amava demais, e não suportaria perdê-la para um bobão filho de Poseidon. Não aceitaria perdê-la, nunca.