Depois que o raio sumiu de cima da minha cabeça me senti mais calma. Mas não fui salva dos olhares e comentários de quase todos os semideuses do Refeitório. Olhei para a mesa principal, procurando as expressões de Quíron e sr.D e logo as vi. Eles estavam chocados assim como a maioria dos meio-sangue dali. Meu olhar então, se fixou em Travis e Connor que também estavam espantados com o que acabaram de presenciar. Naquele momento percebi que eu já estava em pé desde que o objeto apareceu em minha cabeça. Me sentei novamente, e o chão começou a parecer interessante. Fitei-o ainda apreensiva e nervosa. Derramei uma pequena lágrima que logo limpei com o dedo. Minha cabeça e meu coração estavam a mil por hora.

Por que eu estava assim?

–Não chore Bella. –Disse Connor parecendo compreensivo- Isso é uma coisa boa!

–Mais ou menos né? –Completou Travis sorrindo torto- A boa notícia é que você tem um pai... E a má é que... Ele não devia ser seu pai.

Vocês não estão ajudando. Era o que eu pensava. Não conseguia conter as lágrimas, por mais que quisesse muito. Era bom saber que eu tinha um pai, mas era ruim saber que eu não deveria estar viva. Que sou um erro.

Travis e Connor me confortaram o máximo possível, mas ainda assim eu não me sentia confortável. Como alguém poderia ficar feliz sabendo que nunca deveria ter nascido. Nesse momento eu pensava em muitas possibilidades, sendo filha de Zeus. Então pensei em Thalia Grace. Ela fora perseguida por uma legião de monstros até morrer. E se acontecer o mesmo comigo? Eu não conseguirei fazer o que ela fez. Passar por tanta coisa... Se transformar em um pinheiro, ser envenenada, e depois ser salva pela pessoa que eu mais detesto e que sei que em nenhuma circunstância chegaria a pelo menos querer me salvar. Eu estava com medo.

Levantei da mesa de Hermes sem me despedir dos Stoll. Só queria ficar sozinha e derramar minhas lágrimas sem que alguém as limpasse. Eu deveria estar feliz, pelo menos sei que tenho mesmo um pai... Mas não dava. Era impossível a felicidade entrar em mim agora.
Quando passava pelas mesas dos Chalés os olhares se voltavam para mim constantemente. Simplesmente abaixei a cabeça e continuei andando até ser parada por alguém. Me virei. Era Quíron que me olhava generoso. Ele devia saber que eu não estava me sentindo bem naquele momento.

–Eu sinto muito, Bella. –Começou ele- É bom saber que você tem um pai, mesmo também sabendo que é um erro isso ter acontecido.

Não respondi. E não pretendia responder nada sobre esse assunto. Agora eu só queria ficar sozinha em um canto de qualquer lugar do Acampamento.

–Eu sei que você deve estar se sentindo mal agora. Não te culpo, você tem toda a razão em estar assim, querida. Mas, saiba que, se Zeus te reclamou é porque ele se importa com você. –Ele sorriu- É muito raro um semideus ser reclamado, levando em conta que os deuses são ocupados... Então, meus parabéns.

Obrigado. Pensei, mas não falei em voz alta. Apenas sorri torto e abracei o centauro. Ele retribuiu e depois sorriu. Eu voltei a andar e logo já tinha saído do Refeitório.

Fui até o lugar que eu mais gostava em todo o Acampamento. A praia. Mesmo não sendo filha de Poseidon, eu gostava de ficar lá. Era lá que o vento soprava mais forte e um ar gostoso era inspirado. Como sempre fazia me sentei na areia fixando meu olhar nas águas. De imediato, meus pensamentos foram só nele. Mas não queria pensar no filho do deus do mar agora. Infelizmente, isso não deu muito certo. Uma figura humana apareceu e se sentou ao meu lado. Sabia exatamente quem era, só não queria olha-lo e ter aquelas sensações estranhas que eu sempre tinha quando o via ou quando olhava tempo demais para seus lindos olhos.

–O que faz aqui? –Eu disse fria.

–Sempre venho aqui. Esqueceu de quem sou filho?

Engoli em seco. Pelo visto ele estava bravo comigo pelo ocorrido mais cedo.

–Eu quero ficar sozinha.

–Essa praia é pública. –Retrucou Percy Jackson sem me olhar.

Bufei. Que culpa eu tinha se ele tinha namorada e eu não podia fazer com que ele a traísse? A culpa era dele por ter pensado em beijar outra garota, tendo uma namorada. Pensei em levantar dali, para não ter que dividir o mesmo espaço com Perseu, mas eu não podia. Alguma parte dentro de mim queria ficar ali. E eu não conseguia desobedecê-la.

–Olha, me desculpa, mas eu não tenho culpa se você está insatisfeito com o seu namoro e por isso fica tentando me beijar! –Eu disse como se tivesse acabado de tirar um peso das costas.

Encarei-o e ele se virou para mim. Aquilo aconteceu de novo. Tentei não me perder nos seus olhos azul-piscina. Ele suspirou e deu uma risada estranha. Eu franzi a testa, completamente confusa.

–Por que está rindo? –Perguntei ainda franzindo a testa.

–Eu não ia te beijar! Jura que você chegou a pensar isso? –Ele respondeu ainda rindo.

–Pois pra mim parecia que você ia me beijar, sim. Por pouco você não traía a sua namorada.

–Você acha mesmo que eu faria isso? –Ele parou de rir- Eu só ia entrar no buraco que estava atrás de você.

Eu franzi ainda mais a testa. Então ele não ia me beijar? Parecia que não... Mas aquela história de buraco não havia me convencido nem um pouco. Balancei a cabeça tentando esquecer aquilo tudo e voltei meu olhar pra água do mar. Percy Jackson fez o mesmo.

***
Os deuses estavam em uma discussão no Olimpo. Zeus não tinha mais moral para falar nada. Estava sentado em seu trono na Sala de Tronos enquanto observava os deuses brigando uns com os outros. O que ele poderia dizer? Não havia explicação para o que ele tinha feito. Ele não tinha mais nada a dizer.

–Você quebrou o juramento... Três vezes! –Dizia Poseidon pensando na desonra do irmão- O que acha que Hades vai pensar disso? Ele não vai gostar.

–Pai, como você pode ter feito isso? Eu já estava começando a aceitar Thalia e Jason e agora parece mais uma? –Disse Atena decepcionada com a atitude do pai.

–ELA TEM QUE MORRER! –Disse Hades chegando na Sala de Tronos. Mesmo não sendo bem vindo no Olimpo o deus não se conteve em acabar com a fama do irmão.

Zeus suspirou. Sabia que estava errado. Mas uma parte dentro dele não queria que a filha morresse, mesmo sabendo que ela nunca devia ter nascido. Ele tinha que salvar a vida da filha, afinal, ela não tinha culpa alguma disso tudo.

–Ela não vai morrer... –Começou Zeus.

–... O único jeito de ela viver é provando que é uma heroína, mas levando em conta suas ações isso não irá acontecer. –Disse Hades segurando o riso.

–Eu posso provar que ela é uma heroína. O torneio de semideuses está chegando. Se ela vencer, ela vive. Esta é a minha decisão final. –Zeus falou certo de sua decisão.

–Você não tem mais direito a decisão nenhuma... -Começou Hades, mas foi interrompido.

–Cale a boca. –Disparou o deus do mar- Vamos ver como a filinha de Zeus irá se sair no torneio. Se ela vencer, ela ficará viva, mas se perder, terá uma morte longa e dolorosa.

Hades se convenceu e sorriu pensando na morte da filha de Zeus. Imagine o que ele seria capaz de fazer, sendo o deus dos mortos, com a filha do irmão que odeia. Ela não duraria dois segundos nas mãos do Rei do Mundo Inferior. Ele gostava disso.

–Vai ser difícil ela vencer. Meu filho vai estar nessa competição. Percy é o melhor. –Gabou-se Poseidon.

–Seu filho? Ele perde fácil para Annabeth. Isabella não terá chance contra minha filha. –Retrucou Atena também se gabando pela habilidade da filha.

Poseidon a olhou furioso e desafiador e todos os deuses já sabiam que uma longa discussão entre o deus do mar e a deusa da sabedoria iria começar. Afrodite puxou Atena antes que ela avançasse em Poseidon, e este, foi puxado por Hermes.

Zeus deu um berro que espantou todos os deuses e disse que a Reunião havia acabo por hoje. Todos se retiraram da Sala de Tronos e Hades voltou para o Mundo Inferior. Agora o problema maior de Zeus era fazer com que sua filha vencesse o torneio semideus.