Ás 10 horas as garotas tinham o direito de ficar livremente na sala de recreação. Faltavam 5 minutos, segundo o relógio exposto na parede.
Não lembro bem dessa área, pelo pouco que me recordo era um cômodo grande com jogos de cartas e tabuleiro, sofás e mesas, uma TV, um aparelho de som e um piano. Seria interessante se não fosse trágico eu estar ali.

Marcos, o enfermeiro moreno que conheci mais cedo, vem até mim e diz:

-Vamos para a parte divertida desse lugar, você vai ver que aqui não é tão ruim assim Srtª Florence-ele sorrir como se eu realmente tivesse problemas mentais.

- Não tem nada divertido aqui, e não me chame assim. O sobrenome de solteira da minha mãe não me foi dado e não me agrada nem um pouco. Me chame de Taylor, esse é o meu nome.

Levanto e sigo as garotas, entro na sala e nem me dou o trabalho de olhar ao redor. Vou até o piano e dedilho notas desconectadas.
Fecho os olhos pra sentir melhor a musica e deixo o som entrar na minha mente. Talvez as pessoas ao redor estejam me olhando, mas são todas loucas e talvez nem percebam minha presença.

Depois de apenas 15 minutos no meu novo templo musical, sinto uma mão em meu ombro e paro de tocar bruscamente.
Olho a garota que senta-se ao meu lado.

-Você está assustando as outras garotas - ela diz rindo. Seus olhos arregalados me encaram.

-Me desculpe – limito me a dizer.

-Tudo bem, só toque coisas mais leves. A musica influencia muito nesse meio - ela levanta.

-Vou tentar – digo antes que ela se afaste.

Pego um caderno na mesa ao lado do piano e tento escrever um pouco. Talvez eu começasse um conto, ou talvez uma fábula. A faculdade teria que esperar mas eu não ia ficar parada por tanto tempo, falta mais de 40 dias pro natal e minha fuga, então nada melhor do que me distrair.
Até a hora do almoço consegui escrever bastante, eu não fazia isso há tempos. Os meus horários estavam cada vez mais apertados. Faculdade, estagio, trabalho comunitário e garotas, hahaha, a melhor parte.