Aquele Professor É Um Lobisomem escrita por Lady Pompom


Capítulo 9
Capítulo 08: Sob a luz da Lua Minguante




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Mais uma manhã raiou nos céus claros da cidade. E os alunos do colégio Nieyama, exclusivamente os três alunos do clube de ocultismo discutiam em particular, nos jardins da escola...

— O quê? Você viu o quê Alícia? –perguntou o único rapaz dentre os três-

— Estou dizendo, sabia que existiam vampiros na cidade e eles estão tramando algo, temos que descobrir o que é, eles podem ser perigosos às vezes.

— Alícia, entendo que acredite em lobisomens, nosso professor é um... Mas está certa quanto aos vampiros? –a garota de cabelos castanhos, Karen, inquiriu-

— Certíssima, minha cara! Eu os vi com estes olhos apenas há alguns dias!

— Não tem como terem vampiros aqui nesta cidade... – disse o garoto descrente-

— Por que não? Temos humanos e lobisomens! –falou como se fosse lógico- Está na hora de nosso clube fazer algo bom para sociedade... Ao que parece àqueles vampiros estavam atacando pessoas, como humanos representantes é nosso dever negociar e impedir que façam isso!

— Tudo bem, -desistiu de contestar a líder de clube- Suponhamos que tenham vampiros, o que possivelmente eu, a Karen e você poderíamos fazer a respeito?

— Há muitos modos, eu estive pesquisando na internet sobre profissionais que possam nos ajudar a resolver o assunto.

— P-profissionais? –os dois amigos de infância se entreolharam-

— Sim, quero dizer, caçadores.

— N-não me diga que existe mesmo gente assim! – a outra garota se assustou-

— Claro que existe! –a presidente disse confiante- E ultimamente eu ouvi boatos na net que diziam sobre a vinda de um caçador para cá... –pôs a mãos no queixo, pensativa-

— Em que sites você acha essas informações?! – o vice-presidente se abismou-

— Hum... Acho que era o nome John Mcwillard, conhecido como... Ah, como era mesmo o apelido dele...? –dizia pensativa- Em fim, não consigo lembrar, o que sei é que tem alguns boatos sobre a vinda dele para cá.

— E o que importa se ele vier para cá? –a outra perguntou desinteressada-

— Bem, é preocupante porque ele é um caçador de lobisomens...

— O quêêêêêêê?!!! –gritaram os dois novatos do clube-

— Sim, realmente preocupante, não? Se ele estiver mesmo vindo para cá, significa que ele pode saber sobre o professor lobo aqui ou que existem outros lobisomens que não conhecemos por perto, e ele veio aniquilá-los. Qualquer uma das opções é ruim, pois um a vez que esteja aqui, é bem possível que tente matar Leonhard Graham.

— Isso é terrível!  Temos que avisar ao professor Leonhard!-Silas alterou-se-

— Calma, calma, são só boatos. Muita gente posta mentiras na internet sabia?

— Mesmo assim... Se ele vier e tentar mesmo caçar o Sr. Graham? –Karen entristecia-se com o pensamento-

—Não se preocupem, o professor lobo é forte, não vai morrer tão fácil, certo? Afinal ele se recuperou extremamente bem do acidente de carro, tanto que deu até aula no dia seguinte! –Alícia sorriu-

—...

. . .

No horário de almoço...

. . .

            Sentamos no jardim para almoçar, como de costume, apesar de eu e Karen termos ficado preocupados, Alícia disse que não seria um problema para o professor se o caçador viesse, porque o Sr. Graham é forte.

            Não tenho muita fé no que ela diz. Tenho um mau pressentimento, não gosto mesmo disso.

            Enquanto comíamos tranquilamente, alguém apareceu no jardim. Quando digo alguém, quero dizer uma pessoa conhecida, e por conhecida quis dizer a bela noiva do Sr. Leonhard.

— Olá crianças~ -acenou alegremente- Viram seu professor por aí? Eu tenho algo para entregá-lo~-ela mostrou uma trouxinha-

            Me diga que aquilo não é um almoço que ela preparou. Não pode ser. Maldito professor! Como ele pode ter uma noiva?! Por favor Srtª. Ária, dê isso pra mim, ele com certeza vai jogar fora como fez com os biscoitos. Não entregue a ele! É um desperdício!

— Provavelmente na sala dos professores. –Karen apontou a direção-

— Obrigada~

            Ela saiu saltitante. Essa mulher não trabalha? Será que ela não sabe que não pode vir aqui quando bem entender para entregar comida ao noivo dela? Bem, deve ser coisa de estrangeiro, acho que ninguém explicou isso a ela.

            Minutos depois, o professor apareceu no jardim, aparentemente irritado com algo e a noiva dele veio em seguida.

 – Ária... Não pode invadir o colégio... –ele ajeitou os óculos-

— Eu não invadi! O moço do portão me deixou entrar!          

O segurança você quis dizer, não foi Srtª Ária? Ela parece tão lerdinha às vezes...

— Não pode vir aqui só para me ver, estou no meu local de trabalho. Tem que respeitar algumas regras. –ele ainda explicou calmamente-

— Mas eu quis fazer uma surpresa, é nosso aniversário de noivado! –cruzou os braços fazendo biquinho-

— Meus superiores ficarão irritados comigo se você aparecer aqui toda hora.

— Não é ‘toda hora’, já disse que hoje é especial...

— Não há espaço para sua teimosia aqui. Vá embora. –disse frio-

            Como pode tratar uma mulher assim, professor? Isso é muito terrível.

— Veja, eu lhe trouxe um relógio~-mostrou um pacote, sorridente-

— Eu já tenho um. –cortou o ânimo dela-

— Isshv-foi interrompida-

— Não se esqueça de como sou chamado aqui...

— L-Leon... –disse hesitante- Isso é muito cruel sabia? Eu atravessei um oceano inteiro só pra vir aqui!

— Não tente me chantagear emocionalmente. Não vai funcionar. –ele disse com tanta convicção que senti um arrepio só de ouvir-

— Já que é assim, então você pode voltar pra casa sozinho hoje, eu vou para casa do Illiel! –franziu o cenho, inchou as bochechas de ar e deu as costas para o professor-

            Tenho certeza de que ela queria que aquilo fosse algum tipo de chantagem, para fazer ciúmes, mas não funcionou como esperado...

— Sim, agora saia daqui, por favor. –disse sem mudar o tom, saindo do jardim-

— Crian...ças~? –ela notou nossa presença ali -

. . .

— Eu sei que é impróprio perguntar algo assim, mas porque você é noiva do professor? –perguntei um pouco incerto sobre que tipo de resposta ela daria para falar de seu amor unilateral-

— Hum... –ela corou!- Isso é porque ele me salvou há muito tempo... Eu ainda era adolescente~

— Então não faz tanto tempo assim, né? –Karen comentou-

— É... –disse sorridente-     

Não entendo se é ingenuidade ou apenas amor genuíno, mas como ela pode simplesmente esquecer-se da raiva que estava do professor há apenas alguns minutos?

— Fale-me, noiva do professor lobo, -Alícia iniciava seu interrogatório- Você sabe a verdadeira identidade do seu noivo?

— Claro que eu sei quem ele é~ -respondeu simplista- Ele me contou que vocês descobriram, que crianças espertas vocês são~-riu-

            Como assim ela sabe quem ele é? Ela não estava falando sobre o fato dele ser um lobisomem, não é? Não pode, nenhuma humana em sã consciência escolheria amar um monstro que a trata com frieza enquanto ela se esforça ao máximo para fazê-lo feliz, certo?

— Você acredita que humanos e lobisomens possam se dar bem? –a presidente do clube continuava suas perguntas-

— Bem, há sempre exceções, depende de como esse humano e esse lobisomem pensam... –respondeu como se não fosse uma pergunta estranha-

— Srtª. Ária... –Karen interrompeu- Você sabe sobre o... Quero dizer, o segredo do professor?

— Eu já disse que sei, ele é meu noivo, por que esconderia isso de mim? –respondeu indignada, como se fizesse todo sentido do mundo-

            Ela sabe. Ela sabe e continua com o professor? Existem mais pessoas malucas neste mundo do que eu pensava. Acho que o mundo é mesmo um lugar grande afinal.

— Já pensou na possibilidade de ter filhos? É possível que nasça alguma criança da união entre as raças humana e de lobisomens?

— Sim, pensei. E é possível! Humanos tem uma versatilidade incrível na questão sanguínea então é possível ter tanto mestiços com lobisomens quanto com vampiros, no entanto eu nunca ouvi falar sobre um mestiço entre lobisomens e vampiros, então eu não sei sobre o caso~ 

Mas como ela pode saber disso?! Ela entende demais do assunto?! Quem é ela?!

— De fato, humanos são mesmo magníficos! –a líder anotava algo em sua caderneta com um sorriso maníaco no rosto- Não sabia que o sangue humano poderia se misturar com de outras criaturas. Então é possível que existam mestiços, que serão mais difíceis de eu identificar... –ponderava-

— I-isso é verdade? –eu perguntei surpreso-

— Sim~ -ela sorriu para mim- Mas o professor de vocês é um sangue-puro, obviamente.

            Isso significa que se ela tiver mesmo filhos com ele, eles serão meio-lobisomens? Isso é mesmo possível? (Claro que não, não acho nem que ele cogita a possibilidade de ter filhos, isso é tudo da cabeça dela!).

— Conte-nos mais... Os tempos de vida de um lobisomem e de um vampiro não diferem muito dos de um humano?

— Alícia... Não acho que ela saiba esse tipo de detalhe... –Karen interferiu-

— Eu sei~ -riu- Sim, há uma diferença. Vampiros vivem milênios, lobisomens vivem um pouco menos que isso e quanto aos humanos bem... São privilegiados os que vivem mais de um século...

— Isso não te incomoda? Saber que seu noivo não vai envelhecer e você vai? –a presidente conseguiu extrapolar-

— Alícia! –eu e minha amiga a repreendemos pela indelicadeza-

— Desculpe Srtª. Ária, não precisa responder a essa pergunta... –me curvei num gesto de desculpas-

— Perdoa a grosseria dela, ela exagera às vezes... –minha vizinha também se curvou-

            Hum... Agora que penso, não poderia ser esse o motivo do Sr. Graham ser mau com ela? Talvez ele não queira se envolver com... Uma humana...?

            Quero dizer, seria realmente muito triste se ele se envolvesse emocionalmente com alguém e assistisse essa pessoa morrer envelhecendo enquanto ele ficaria vivo por muito mais tempo...

— Não tem problemas~ Sintam-se à vontade para perguntar, afinal –ela corou, de novo!- Eu não posso esconder meu amor por ele~

            Ela não tem muitos neurônios. Ou talvez eu deva dizer que ela tem um coração mole demais por ele? Provavelmente os dois, de um jeito ou outro ela não bate bem da cabeça.

. . .

            Hoje é quatro de março, será lua minguante. Fico um pouco mais tranquilo sabendo disso. Poderei dormir em paz, o professor Leonhard não se transformará hoje...

            A noiva dele sumiu depois do almoço... Realmente não estava no portão quando nós saímos da aula... Me pergunto se está tudo bem assim... Se bem que ele não parece se importar muito com isso... Sinto que nunca irei entendê-lo...

. . .

À noite, no centro da cidade, em certo laboratório clandestino...

. . .

— Então... O que te traz aqui mesmo Ária...? –O velho Doutor Illiel perguntava com o cenho arqueado-

— Eu não quero voltar para casa dele porque ele é um chato! –dizia irritada-

— Sim, têm estado pior estes últimos tempos, porque acha que aquela pessoa está aqui...

— Ele sai tarde da noite pra vasculhar a cidade todos os dias, mas ainda não encontrou nada...

— Isso te incomoda? –risos-

— Sim... Eu me preocupo com o que acontecerá se ele encontrar mesmo quem procura... –torceu o cenho numa expressão aflita-

— Ora, ora, não fique assim Ari, –afagou o ombro da mulher- Isshvan não é imprudente, ele ficará bem sozinho...

— Sozinho... É... –suspirou-

. . .

Madrugada, num alto edifício abandonado, perto da zona de galpões...

. . . 

            No alto do edifício já velho, em ruínas, o professor de cabelos negros encarava o oceano ao longe, olhando o fluxo das ondas e sentindo a brisa que vinha do mar. Observava o horizonte sendo engolido em sombras e mais uma noite que ele passava sem alcançar seus objetivos.

            Ele habilidosamente desceu do edifício pulando do alto, e aterrissando seguro no chão, sem perder o equilíbrio. Assim que pôs os pés na terra, um som de tiro foi ouvido, ele afastou a cabeça para o lado instintivamente, fazendo com que uma bala lhe acertasse de raspão na face.

            Um pequeno corte foi produzido pela bala, ele tocou para sentir o sangue escorrendo e ardência do ferimento. Olhou para trás.

— Muito bom. –disse um homem com um sobretudo de couro se aproximando do professor lobo-

Silver:

—...

— Interessante, eu venho até aqui procurando um de descubro que ambas as presas estão reunidas numa só cidade. –sorriu seriamente- Isso que é pegar dois coelhos numa cajadada só, ou melhor, dois lobos.

— John Mcwillard, ou devo dizer... “Silver”... –Leonhard franziu o cenho- Por que está aqui?

— Eu que lhe pergunto Isshvan Von Einhardt, o que traz alguém da nobreza a uma cidadezinha assim? –pôs um cigarro na boca-

—...

— Bem, creio que é inútil perguntar... Deveria esperar por isso... –tragou e encarou Leonhard apontando a arma- Não importa.  Dê recadinho meu ao Khalen: diga que ele não escapará desta vez.

— Não me agrupe com ele.

— Vejo... Ainda tem más relações com sua raça... É uma pena, porque todos vocês irão para o mesmo lugar quando forem mortos por mim!

            No momento que acabou de falar, ele atirou no professor, que desviou rapidamente, e assim se iniciou uma perseguição noturna:

            O caçador correu atrás do homem de cabelos negros que fugia velozmente, mesmo estando em forma humana.  Mais dois tiros, Isshvan desviou-se, mas novamente as balas pegaram de raspão, em seu braço esquerdo.

— Tch. –tocou no corte do rosto- Ainda não curou... Ele está usando prata...? –olhou para trás- E também está conseguindo acompanhar minha velocidade... Ele ficou mais rápido... –aumentou o ritmo do passo-

— Tentando me deixar para trás?! –gritou o perseguidor aparecendo atrás de sua presa-

            O professor reagiu imediatamente, se jogando para o lado, para se distanciar do caçador. Os dois pararam de correr.

            Era uma larga área com galpões, a mesma onde outra vez, o professor estivera com o aluno, a diferença era que agora estava de frente para um homem em um nível completamente diferente.

— Surpreso? Melhorei muito nestes anos, em parte graças ao Khalen, devo admitir... –sorriu-

Leonhard torceu o rosto de raiva, o que ele quis dizer com isso? E porque tinha que mencionar aquele nome abjeto?

— Que há? Prata dói, não é mesmo? –sorriu- Esta belezinha foi feita especialmente para matar aquele desgraçado, mas é bem caro conseguir muita munição... –mostrou a arma de fogo e recarregou- No entanto... Eu a usei um pouco antes do esperado...

— Não brinque comigo!

— Não estou brincando, estou realmente sério... Eu pretendia matar o outro antes, mas como está aqui nesta cidade também, como um caçador não posso ignorá-lo, é orgulho, sabe?

—... –o professor encarava com ódio o seu perseguidor-

            Em um segundo, o homem atirou duas vezes seguidas para atingir seu oponente, mas o outro desviou sendo atingido de raspão, desta vez na área das costelas.

—Argh... –tocou no ferimento, e voltou a fugir-

            O professor subiu no telhado de um dos galpões e saiu pulando de galpão em galpão, fugindo, o caçador continuou seguindo-o do chão, correndo sempre com a mira no alvo.

“Se acertar em cheio estarei com problemas... Estes cortes são pequenos, mas estão demorando a sarar... Não posso me arriscar aqui, logo agora que confirmei. Se até Silver veio aqui, isso significa que ele está aqui também, Khalen está aqui...!”

            Por causa de apenas alguns segundos de distração em seus pensamentos, quando ouviu o barulho de um tiro que vinha em sua direção, não foi capaz de desviar completamente e desta vez um profundo corte foi feito em seu abdome.

— Gah! –grunhiu de dor, sem diminuir a velocidade de seu passo, para não ser atingido-

“Tenho que me apressar. Algo que o distraia, apenas para ganhar tempo... Meus ferimentos estão queimando por dentro... Há algo de errado com essas balas... A pele queima com prata, mas não deveria continuar ardendo por tanto tempo assim...”

— Um dor terrível o consumirá se continuar sendo atingido por minhas balas... –o caçador conversava sozinho, em voz baixa, satisfeito com seu trabalho- É uma surpresinha Isshvan, mas estas balas são caras por serem diferentes... Elas não são apenas feitas de prata por fora, mas tem prata dentro delas também, uma vez atingido e a prata líquida vai se espalhar pelo sangue... Logo teremos um lobo imobilizado pela dor... –deu um sorriso sádico- Eu adoro meu trabalho!

. . .

            Subitamente, o professor parou de correr, ainda em cima de um galpão. O caçador freou os pés, confuso.

“Não queria fazer algo tão chamativo, mas não tenho escolha... Meu corpo está estranho, se continuar assim vou ficar mais lento e ele me abaterá...”

            O homem de cabelos negros tomou impulso e pulou para cima, deu um giro no ar e pisou com os dois pés juntos, causando um enorme impacto no telhado do galpão com sua força sobrenatural.

            Um estrondo foi produzido e o teto da construção tremeu, a estrutura de concreto começou a ceder e cair aos pedaços, levantando poeira e obrigando o caçador a recuar para que nada caísse em cima dele.

— Vai usar isso para fugir é...?-disse irritado- Não vou permitir!

            Ele entrou na nuvem de poeira, procurando por rastros da sua presa, atento a todos os lados, para sua infelicidade, quando a nuvem se dissipou, sua caça já não estava mais lá.

— Tch! –bateu o pé no chão-

. . .

No laboratório subterrâneo do Doutor Illiel...

. . .

            O médico ilegal olhava abismado para o que via na porta de seu laboratório... Eram três da madrugada e alguém aparecera naquela hora em seu laboratório subterrâneo.

— Isshvan...? –encarou analisando o outro dos pés à cabeça- O que aconteceu?

            O homem mencionado por ele estava na porta , com vários cortes e rasgões na pele, o que era apavorantemente incomum considerando que ferimentos leves não levariam mais do que segundos para estarem curados. O professor bufou impaciente em resposta ao doutor.

— Tudo bem, entre logo, vou dar uma olhada nisso... –disse ainda inconformado com o que via-

— Quem é... -Ária apareceu na sala de entrada- I-Isshvan, o que aconteceu?!! –quase gritou correndo na direção do noivo-

— Silver... Está na cidade.

Só de ouvir o nome os outros dois estremeceram por dentro.

— ‘Silver’... O caçador que ganhou esse nome por caçar apenas lobisomens, que são vulneráveis à prata... –a mulher engoliu seco- Um homem como ele aparecer logo agora que aqueles nobres também estão aqui... Uma coincidência terrível?

. . .

            Agora Leonhard Graham encontrava-se sentado numa das bancas de autópsia o laboratório enquanto Illiel o examinava e tratava de seus ferimentos.

— Ele disse que Khalen estava aqui... Por isso veio, para matá-lo...

— O quê? –o médico se espantou- Então ele estava mesmo por perto...

— Não acredito... –a noiva pensou por alguns segundos- Isso é coincidência demais! Primeiro os nobres vem, depois o caçador e agora descobrimos que aquele cara também está aqui... A pior situação possível está tomando forma nesta cidade...

— Por que nobres vampiros e um lobisomem sangue puro estariam na mesma cidade de humanos? –o doutor comentou perplexo- Isso me cheira ao início de uma guerra de três lados...

— Está ficando cada vez mais perigoso... Temos que nos apressar e descobrir por que todos estão se reunindo aqui... –Ária encarou os outros dois-

— Ugh... –o professor gemeu de dor, olhando as feridas em seu tronco-

            O seu amigo apressou-se em ajudá-lo.

— Estava usando uma arma de fogo com balas de prata, certo...? –olhou para o outro-

— Sim... Contudo, tem algo estranho nas balas... As feridas continuam queimando, não é comum durar tanto assim...

— Hum... Entendo... –olhou rasgo no abdome do homem- Isso vai doer um pouco... –pegou uma seringa e enfiou no local ferido, retirando um pouco de sangue- Vou analisar isso e vou só enfaixar por enquanto, por isso preciso que fique aqui por hoje. –olhou o amigo nos olhos-

— Entendido.

— Ari, termine de colocar as bandagens, eu tenho que olhar isso agora no laboratório. –saiu para apressar o diagnóstico-

— Me desculpe. –a mulher disse enquanto enfaixava-o-

—...?

— Se eu estivesse com você, a situação poderia ser diferente...

— Só estar lá não mudaria o fato de que ele iria tentar me matar.

— Mas balas de prata não afetam meu corpo... Se eu tivesse ido pod-

— Pare com isso.

Ele disse num tom forte, e a mulher encolheu os ombros sentindo-se reprimida.

. . .

            Algum tempo depois, o médico ilegal veio correndo arfando cansado pela maratona até a sala de autópsias.

— Eu... arff... Eu... –buscava ar- Descobri porque seus ferimentos não estão se curando propriamente...

            Tanto o professor quanto a mulher presentes na sala voltaram sua atenção imediatamente para o homem que acabara de chegar.

— Tem prata no seu sangue.

—...! –Leonhard franziu o cenho-

— As balas que ele usou não devem ser só de prata por fora, devem ter algum tipo de prata líquida por dentro, assim, quando te atingiram, parte do líquido vazou e ficou retido no seu ferimento e se espalhou um pouco pelo sangue...

— Mas como...?! –a mulher encarou o doutor-

— Não se preocupe, não se espalhou muito pelo sangue porque a bala pegou de raspão, se tivesse acertado em cheio, seria uma história diferente e aí sim, estaria em grandes apuros meu amigo.

— Isso significa que as feridas não vão curar...? –Isshvan olhou o outro perplexo-

— Não! Nem diga isso... Eu vou te dar um medicamento que vai diluir essa prata retida no seu corpo e impedir que fique alojada aí, depois sua regeneração funcionará normalmente. –explicou mostrando um frasco que carregava na mão-

— Nossa! Não sabia que existia um remédio útil assim! –a noiva comentou-

— Ahahaha, - o médico riu, preparando uma injeção com o conteúdo do frasco. – Na verdade foi meu pai quem criou este...

— Sério?

— Sim, o primeiro a conhecer Isshvan foi meu pai, aparentemente eram muito amigos, certo? –deu um sorriso esperando a confirmação do outro-

—...

— Bem, após conhecer este cara, meu pai simplesmente passou a dedicar a vida para estudar a espécie, que considerava fantástica. Ele me disse que Isshvan trazia corpos de transformados, às vezes alguns vivos, e ele os usava como cobaias para seus experimentos, soa um pouco desagradável, não?

— Sim...-a mulher teve um pouco de nojo-

— Olhe bem agora, foi graças a estas cobaias que você trazia que meu pai foi capaz de criar este remédio. –aplicou- Pronto! Agora basta repousar e deixar que o medicamento faça o resto.

— Não posso sossegar quando algo grande está para acontecer...

— Ai, ai, você é mesmo um teimoso!-balançou a cabeça negativamente- Escute, tem que ficar ao menos algumas horas, se possível, falte ao colégio que dá aulas amanhã. O mínimo esforço que fizer, melhor será. –recomendou o médico-

— Ainda tem algumas horas até as aulas começarem, dormir até lá já é o suficiente...  

— Mas... Ishhvan, agora que aquele caçador está aqui, não pode se expor tanto e sair assim na rua! –a noiva bronqueou- 

— Ele não irá me atacar enquanto houver pessoas por perto, ele não machucaria humanos, afinal ele é um também...

— Mesmo assim... E se ele te atacar nesta próxima lua nova...?-a mulher temeu o pensamento-

— Não acontecerá. –respondeu convicto-

            A sala ficou em silêncio por alguns segundos, com Ária encarando preocupada o noivo que franzia o cenho. O amigo do homem quebrou o clima tenso:

— Ele é mesmo um homem e tanto para acertar você...

— Sim, mas havia algo diferente desta vez... Ele pareceu mais rápido... Ou talvez eu que esteja mais lento...? Não, não... Ele com certeza melhorou... –ponderava-

— O que quer dizer?

— Quero dizer que é estranho um humano, mesmo sendo um caçador habilidoso e experiente, conseguir acompanhar a minha velocidade. –explicou- Por mais que eu não esteja com meus poderes ao máximo, ainda deveria ser o bastante para conseguir fugir sem problemas, e olhe quantas vezes fui atingido...

— Certamente há algo que não encaixa... –pôs a mão no queixo- Isso indica meu amigo, que deve ser ainda mais cauteloso quanto a esse homem, evitá-lo o quanto puder. Vou tentar descobrir algo sobre o que ele esteve fazendo nos últimos anos.

— Eu irei andar com você a partir de agora. –a mulher encarou o noivo- Nem tente contestar!

—...

            Ele olhava enquanto o doutor e a noiva comentavam sobre como deveriam cuidar dele como mães que cuidam de seus bebês. Estava cercado de duas pessoas muito afetuosas, não estava acostumado a isso. Suspirou cansado iria passar longas horas ali...

. . .

            Manhã de 5 de março, aquele dia eu e Karen ficamos boquiabertos quando o professor entrou pela porta da sala. Alicia também se surpreendeu.

Ele estava com um curativo no rosto. Aquilo me incomodou, senti que havia algo muito errado nisso. O homem que foi atropelado e quebrou inúmeros ossos, e minutos depois se levantara e recolocara os mesmo no lugar estava usando um curativo?! Isso é impossível. Improvável.

Sabia que havia algo esquisito naquela situação, todos nós do clube de ocultismos sabíamos. Mas naquela hora, eu ainda não tinha noção do lugar perigoso que a cidade estava se tornando e que em breve, seria muito até mesmo para nós estudantes escaparmos dos acontecimentos que estavam por vir...


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