Aquele Professor É Um Lobisomem escrita por Lady Pompom


Capítulo 8
Capítulo 07: Lua Ascendente


Notas iniciais do capítulo

Essa história não tem qualquer ligação com fatos ou acontecimentos da realidade.



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A lua cheia passou. Sinto-me um pouco mais seguro. O professor Graham realmente não fez nada. Eu tive a impressão de ter ouvido um uivo ontem e repentinamente a Srtª. Ária apareceu em minha casa, mas acho que o uivo foi só impressão. Fico triste que tenha ido embora assim, queria ter passado mais algum tempo com ela.

            Tem um monte de coisas que gostaria de perguntar ao professor. Será que a noiva dele sabe o que ele é? Não parece que sabe. Pra mim isso cheira a engano. Aposto que ele está enganando-a. Mesmo que esteja, ele não vai dizer. É quase certeza que ele não responda a nenhuma das minhas perguntas, ele é sempre muito fechado.

            Preciso falar com a presidente do clube, temos que espiar o professor e a noiva dele. Sinto que podemos extrair um monte de informações dela.

. . .

No clube de ocultismo

. . .

— Nós não conseguimos segui-lo... Não o vimos se transformar... –Alícia cerrava os punhos- Mas na próxima lua cheia, com certeza vamos!!! Heheheheh, tenho que me preparar melhor...

— Com licença, presidente... –Karen ergueu a mão-

— Diga, novata!

— O professor tem uma noiva, certo? Talvez consigamos descobrir algo sobre ele se a perguntarmos...

— Karen, eu acho que a pobre coitada nem sabe quem ele realmente é!

— Além do que o garoto Silas disse, você mesma havia dito que ela morava longe dele até o dia em que veio aqui, certo? Se ela não convive, não deve saber muito sobre ele...

— Tem razão... –ela suspirou desanimada-

— Isso significa que o melhor plano ainda é “seguindo o professor lobo até sua toca”~.

— Você quis dizer casa, não foi Alícia? –disse eu abismado-

— É que toca soa mais como se ele fosse um lobo, hehehehe~

            Não importa quanto tempo eu fique neste clube, nunca me acostumarei com a personalidade da líder. Ela é louca. Mas nós somos piores por coagir com os planos dela.

— Estão todos com as pulseiras, certo~?-perguntou animada-

— Siiim... –respondemos em um uníssono sem ânimo-

— Então, não há o que temer! Hoje mesmo acompanharemos o professor lobo até sua toca!

. . .

            E assim, lá estávamos nós três, logo que as aulas acabaram, do lado de fora da escola, esperando o Sr. Leonhard sair.

            Ele saiu a pé. A noiva dele o estava esperando hoje também. Será que ela virá todos os dias? Bem, nós os seguimos mesmo assim, eles andaram até o centro.

. . .

— Ei, presidente...

            Eu sussurrei, mas era desnecessário, pois estávamos andando metros atrás deles, no meio de uma multidão no barulhento centro da cidade.

— Quê?

— Eles aparentam ser apenas um casal normal se divertindo num encontro... –comentei descrente no sucesso de nossa busca-

— Não, não... Não estão ‘se divertindo’, a parte da diversão é só dela. -Karen apontou-

            Verdade. Estavam de mãos dadas e a noiva falava incansavelmente com um sorriso no rosto. Ele, nem dava pra ver a expressão, mas conhecendo-o, posso dizer que ele não estava dando à mínima.

— Não desanimem! Talvez eles possam estar indo a alguma conferência de criaturas sobrenaturais. –a líder dizia como se aquilo fosse animador-

— Mas a Srtª. Ária é humana...

— Ele pode estar tentando levá-la para que ela seja transformada e eles possam ficar juntos eternamente! –persistiu-

— Não acho que ele queira ficar eternamente com ela... –Karen torceu o cenho com a ideia-

— Mesmo assim, vamos segui-los!

            É. Ela não tinha mais nenhuma desculpa para dar, por isso continuou com a ideia básica. A presidente é sempre assim, teimosa em tudo que faz, e essa crença absurda dela em contos sobrenaturais é o que dá a ela um ar de ingenuidade. Acho que é por isso que eu e Karen continuamos surfando nos devaneios sem sentido dela...

. . .

Iss... –Ária disse encarando o noivo- Aquelas crianças já estão nos seguindo há um bom tempo...

O homem simplesmente franziu o cenho, permanecendo com seu silêncio misterioso.

— Ora... Será que elas gostam tanto assim de você? –ela riu-se- Fico feliz que tenha alunos tão amáveis que adoram tanto o professor!

— Não me adoram.

— Então por que estão nos seguindo desde que saímos daquele colégio? –olhou sutilmente para trás-

— Não sei. Provavelmente me consideram algum tipo de “brinquedo” curioso para ocuparem seu tempo.

— Que modo negativo de ver a situação... Mas eu estou mesmo surpresa que elas estejam te seguindo... Talvez só queiram descobrir algo mais sobre você~ -risos- Sabe, a maioria das pessoas passaria longe de ti só de saber seu segredo, ainda assim, aqueles adolescentes continuam curiosos sobre o professor deles. A Juventude é realmente uma época maravilhosa, não acha~?

—...

— De qualquer forma, temos que despistá-los, não podemos falar com Illiel se elas estiverem nos seguindo...

O homem deu um longo suspiro, aquilo estava se tornando muito problemático, e respondeu em desalento:

— Eu sei.

. . .

            Não acredito! Só pisquei por um segundo e aquele professor lobo e sua noiva sumiram de vista! Sabia que estavam tramando algo, a pobre mulher deve se transforma em lobo ainda hoje...

            Ah! É! Meu nome é Alícia Aven, eu sou a atual presidente do clube de ocultismo. A maioria das pessoas me pergunta por que eu gosto desses seres, se houver uma resposta boa o suficiente é porque eles existem, e eu quero presenciar estas criaturas sobrenaturais e suas vidas neste mundo majoritário de seres humanos.

            Deu muito trabalho criar o clube, tive que falar com o diretor e ele me deu um prazo de um mês para arranjar ao menos um membro a mais para o clube, felizmente ele apareceu, o garoto Silas que é agora vice-presidente. Pouco depois sua amiga também ingressou no clube. Pena que ainda são novatos no assunto, eu terei que trabalhar muito neles para ficarem polidos.

            Desde criança, sempre tive fascínio por lendas e mitos, estórias além da visão humana, além do mundo palpável no qual vivemos. Acreditei fielmente e gastei tempo pesquisando e me especializando no assunto, ano passado fui expulsa do meu outro colégio porque eles me consideravam “além dos padrões normais”, puft, besteira!

            Este ano, ao ingressar nesta escola, não, antes mesmo disso, assim que pus os pés nesta cidade pequena, eu sabia que encontraria algo que faria valer todos os meus anos de dedicação ao surreal. E minha intuição se confirmou com um fato que aconteceu na escola...

            Um professor novo, jovem e belo foi transferido justamente este ano, que eu entrei aqui, para substituir uma senhora doente que não poderia mais se responsabilizar pela classe. Isso poderia ser o destino? Talvez.

            No segundo em que aquele homem pisou no chão da sala, eu senti que havia algo diferente, algo que nenhum outro humano apresentava. Uma aura forte e nobre, algo que um ser humano normal não poderia apresentar. Naquele dia, meu coração acelerou, meu sangue ferveu, era minha sede de conhecimento surgindo, eu tinha que entender o que era, tinha que descobrir quem era aquele homem!

            Tentei segui-lo, mas outra pessoa já havia feito isso, o garoto Silas. Quando o vi se escondendo e seguindo o professor, sabia que ele havia sentido algo também, algo que a maioria das pessoas não notaria. Ele notou. Fico feliz que haja pessoas que possam me compreender nesta escola.  

            Eu desisti de seguir o professor, era uma ideia muito idiota, afinal, não conhecia nada sobre ele, então teria de começar uma profunda investigação.

            Começando pela aparência: Alto, bonito, elegante, usa óculos, terno arrumado, usa um brinco também. Os cabelos pretos, olhos azuis, pele clara. Parece uma estátua, pois sua expressão é sempre a mesma, séria.

            Não era o suficiente, então observei um pouco mais. Ele vem de carro para o colégio, mas tem dias que vem a pé. Tenho que saber onde é a casa dele... Humn... Acho que dá pra achar pelo nome: Leonhard Graham. É um nome estranho, até mesmo para um estrangeiro...

            De acordo com meus anos de experiência em tais assuntos, eu sabia que só o fato dele se apresentar como um estrangeiro era significativo o bastante para aumentar minhas suspeitas. A maioria das criaturas como vampiros e lobisomens é dita como vistas em outros continentes, não neste.

            E Ahá! Quando pesquisei o nome Leonhard Graham, achei seu endereço, é um condomínio de luxo da cidade. Poucas pessoas tem dinheiro pra sustentar algo tão caro, e ele é um professor, não há como ter tanto dinheiro a não ser que já fosse rico ou tenha alguma herança.

            Passei a observá-lo mais na sala de aula. Percebi que o garoto Silas o observava também. E algum tempo depois, eu pensei e pensei e finalmente concluí que ele era um lobisomem!

            Bem, graças aos meus anos de pesquisa e envolvimento com esse mundo pude reconhecê-lo, fiquei tão feliz! Tenho um professor lobo, sempre acreditei que um dia veria algumas das criaturas das lendas! Isso me motivou a continuar com o clube!

            Não muito distante dessa época, o atual vice-presidente do clube (quando ainda não era membro) veio me perguntar o que eu sabia sobre o professor lobo, uma coisa e outra aconteceram e logo ele veio correndo motivado, dizendo que tinha comprovado com os próprios olhos que o professor era um lobisomem(queria estar no lugar dele). Eu sabia! E gentilmente o acolhi e passei a discipliná-lo e estudar sobre o assunto.

            Comprei pulseirinhas de prata para nos defendermos de qualquer possível ataque da criatura. Não o considero uma pessoa má, mas dizem que na lua cheia eles ficam incontroláveis. Melhor prevenir do que remediar.

            Então um dia, garoto Silas e sua amiguinha chegaram contando uma estória sobre o professor ter sido atropelado, ficar gravemente ferido e se levantar como se fosse nada. Tentei imaginar... Que cena incrível! (Por que nunca estou na hora que coisas assim acontecem?!) E finalmente nosso clube se completou, menina Karen decidiu se juntar a nós.

            Com o relato do ocorrido, fiquei ainda mais instigada a ver o professor se transformando, por isso bolei um plano para segui-lo e filmá-lo quando se transformasse durante a lua cheia, mas foi um fracasso. Uma mulher que é aparentemente noiva dele apareceu e não pudemos filmá-lo no fim das contas...

            Professor lobo e sua noiva estavam andando na rua ainda agora, mas sumiram. Sinto algo estranho vindo dela, não sei bem o que é, é bem diferente do professor e de alguma forma, sutil, incompleto. Uma sensação que não entendo bem... Será que ele já iniciou o processo de “transformação da noiva para viver eternamente comigo” nela? Não sei.

            Ah~! E quando finalmente o tínhamos seguido, ele some do nada! Esperto... Muito esperto, acho que nos notou pelo cheiro, havia esquecido esse detalhe... Da próxima vez, deixarei parte do produto químico removedor de cheiro disponível para uso no clube, assim poderemos segui-lo sem sermos notados.

— Ele sumiu... O que fazemos agora? –o vice-presidente disse desanimado-

— Não há mais o que fazer, tentaremos amanhã novamente. –eu disse- Podem ir para casa, membros do clube estão dispensados!

            Os dois aparentavam estar desanimados. Senti pena, mas tive que mentir para eles, podíamos ter perdido o professor lobo e a noiva de vista, mas nosso clube não foi feito apenas para investigar uma única criatura. Esperei até eles sumirem de vista para iniciar o próximo passo.

            Na verdade, eu irei vasculhar a cidade um pouco... Ouvi boatos na internet que casos recentes de pessoas sendo encontradas desmaiadas nas ruas, com perda de sangue. Geralmente nas fotos que divulgam, a pessoa está ferida no pulso ou no pescoço e com hematomas por todo o corpo.

            Não lhes soa familiar? Sim, isso mesmo. Estou indo em busca desse ou desses vampiros que podem estar na cidade, no entanto, diferente de nosso inofensivo professor que nunca nos machucou, este ou estes podem ser um grupo ofensivo, como têm provado ao atacar humanos indiscriminadamente. 

            Ainda é cedo para os dois calouros se envolverem em algo perigoso assim, eu como alguém experiente devo explorar terreno primeiro, para verificar o quão ruim é a situação, não quero assustá-los com situações assim tão cedo.

. . .

            São sete da noite, ainda é cedo. Estou agora num beco de um bairro perigoso da cidade. Foi aqui onde a última vítima foi encontrada, ainda tem marcas de sangue no chão, algo recente. Quem fez isso estava tentando fazer parecer como um ato de violência já que escolheu um bairro desses, assim a polícia provavelmente trataria como um caso corriqueiro.

            Ainda não apareceu no noticiário nacional porque todas as quatro vítimas que foram encontradas nesse estado entre vida e morte estavam neste mesmo bairro, o que indica um criminoso local, ou talvez só esteja tentando chamar o mínimo de atenção possível.

Queria interrogar as vítimas, mas não terei permissão para isto, e apesar de terem sido encontradas ainda vivas e serem encaminhadas para o hospital, três delas já morreram. Todas com os mesmo sintomas, a anemia por perda de sangue, alucinações, convulsões e parada cardíaca seguida de morte.

Felizmente a última vítima, um funcionário de empresa pública que voltava do trabalho ainda está vivo. Buscarei mais informações e farei algumas perguntas sobre o incidente se ele sobreviver e deixar o hospital.

Andei pelo bairro, sem me importar com os olhares que me lançavam enquanto eu caminhava, perguntei aos moradores da localidade sobre os incidentes, todos eles diziam o mesmo: não sabiam dos detalhes porque os ataques sempre aconteciam tarde da noite, quando não havia ninguém por perto.

Era de se imaginar, afinal, estamos falando de criaturas espertas e fortes, embora eu acredite que já chamaram bastante atenção e que parece o trabalho de um amador que não tem “discrição” alguma... Talvez mude de bairro para atacar a próxima vítima... Ou dê um tempo até o próximo ataque já que os cidadãos estão começando a ficar apavorados. Se arriscar muito, pode ser que estes acontecimentos virem notícia num jornal local.

. . .

São onze da noite. Onze é um número bom. Eu gosto. As pessoas estão entrando em casa para dormir agora e os bandidos estão saindo para assaltar algum bom morador desprevenido que passe por aqui. Ou alguma visitante como eu. Felizmente não tenho nada para ser roubado além da minha passagem de volta para casa. E não creio que irão me assaltar, parecem ter algum tipo de medo de mim. Será meu sorriso?

Só porque visto um casaco com capuz e carrego uma estaca, martelo e crucifixo de prata na mochila não significa que eu seja má. Vim aqui preparada para me defender de um possível ataque.

Ah, é... Eu até tentei conectar as vítimas, mas todas são muitas diferentes umas das outras, não tem nenhuma conexão. O que aumenta ainda mais as suspeitas de ser algo e não alguém a cometer os crimes, já que parece atacar a primeira coisa viva que vê pela frente.

Oh! Nem percebi e já é meia noite. Estava tão distraída que acabei andando pra longe dos limites do bairro que estava investigando... Ah... Eu devia estar lá, é por volta dessa hora que os ataques acontecem.

Koo, koo , koo

            Tem uma coruja me encarando do alto de um galpão. Corujas não são bom sinal, não no meio da noite. Huuu... Tive um arrepio, meus instintos me dizem que algo está para acontecer! Será que finalmente chegou minha hora de ver uma dessas criaturas de verdade, com meus próprios olhos?! Que excitação!

            Estou andando entre alguns galpões abandonados, aqui seria o lugar perfeito para se esconder da sociedade. Ficam afastados das luzes da cidade, e perto do mar. É obscuro, sinistro, nenhuma alma viva pisa aqui. Um local afastado da visão de todos, esquecido pelos cidadãos e pela cidade.

            Fui até o galpão com a coruja em cima, mas ela levantou voo. Tentei segui-la, achei que me guiaria até algum lugar interessante, mas ela voltou e pousou no mesmo galpão.

            Ficamos nos encarando por algum tempo, ela no telhado, eu no chão, ela fixou seu olhar, sentia como se ela pudesse ver através da minha alma, perscrutando cada canto através dos meus olhos para enxergar a fundo meu coração.

            Hehehehe, isso está ficando cada vez mais divertido. Lugar sombrio, animal estranho, o som das ondas quebrando-se nas rochas ao longe. Adoro meu trabalho!

            O galpão tinha aberturas perto do teto, e umas caixas de madeira velha encostadas na parede.  Fiz algum esforço para subir nas caixas, um bom investigador tem que sempre ter alguma habilidade com certos esportes, no meu caso, escalada.

            Fiquei de ponta de pé e olhei pelo buraco, estava escuro lá dentro, muito escuro. Não consigo ver nada. Desci. Agora decidi pegar meus instrumentos, primeiro meu binóculo de visão noturna (que roubei do meu pai), depois peguei tijolos que estavam num monte de entulhos acumulados ali perto e subi novamente nas caixas.

            Coloquei os tijolos de modo que não precisasse me esforçar para enxergar pelo buraco, usei os binóculos. Sabe, às vezes ter um pai que é ex-militar e trabalha como policial te ajuda.

            Realmente, havia alguém lá, uma pessoa, o binóculo demonstrou claramente sua eficiência.

            Era uma figura notável, se movia de um lado ao outro, impaciente. Até que, simplesmente mais alguém apareceu na visão do binóculo. Não o vi chegar, foi muito rápido! Hehehehe, sabia que eram velozes!

            O outro se mexeu ainda mais quando a nova figura a apareceu. Incrível! Incrível! Eu presencie mesmo o encontro de duas criaturas que acredito serem vampiros! Então eram dois? Será que são esses que estão bagunçando a cidade ou é só um deles e vieram aqui discutir sobre o assunto?

            Há a possibilidade de o professor lobo estar vindo se encontrar com eles. Será mesmo...? Se ele vier, provavelmente transformarão sua noiva... Mas não faz muito sentido, sempre ouvi histórias sobre vampiros e lobisomens não se darem bem...  Pode ser que nem o professor saiba da existência destes dois amiguinhos aqui... Então eu seria a primeira a ter uma informação tão boa dessas?! Kyahhh!!! Kyahhh!!!

             Não consigo ouvir o que eles dizem! Quero me aproximar, mas não conseguirei sem ser notada... Que situação complicada... Tenho que tirar ao menos uma foto, mas também serei notada se fizer isso... Hum... Não posso garantir minha segurança aqui...

. . .

            Havia duas figuras dentro do escuro galpão, uma tinha a postura encurvada e tremia, a outra, estava estática ereta.

— Como se sente...? –uma voz masculina serena vinda da figura de postura ereta-

— A-aah... Aaah... –uma voz diferente, cansada e embargada soou do sujeito que tremia-

— Vejo que ainda não se acostumou com isso... –dizia o outro calmo-

O homem agitado encurvava-se e parecia inspirar profundamente pelas narinas.

—Muito bem. Sentiu um bom cheiro, não foi? –o mais calmo deu aplausos discretos-

            No galpão escuro, os dois homens conversavam envoltos nas sombras, mas nenhum dos dois precisava de luz para enxergar o outro, fato este que seus vibrantes olhos vermelhos comprovavam ao brilhar na escuridão.

— Eu... –dizia o homem impaciente, cheirando-

— Tenho certeza que percebeu, tem uma refeição generosa lá fora para você... –o que entrou depois disse, com um sorriso no rosto-

— Não! –contestou o agitado- Não!

— Se esse é o caso... Vou pedir ao nosso amiguinho que a pegue em seu lugar... Não gosto de intrometidos... –o mais calmo fez um gesto com a mão-

. . .

            Não escuto o que falam, um deles se move muito e o outro, quase não se mexe... Espera, agora fez um gesto com a mão. Sobre o que estão falando? Será que estão discutindo sobre como lhe dar com a situação das vítimas que fizeram naquele bairro?

Kooo, Kooo

É aquela coruja de novo. Hã? O quê...?

Eu gritei. Quando olhei para cima a coruja estava voando em minha direção e deu um rasante perto da minha cabeça, eu me desequilibrei e caí. Minha mochila nas costas amorteceu a queda. Sorte.

            Ela voou alto e retomou voo em minha direção, pronta para me atacar. Maldita coruja! Tenho que me retirar. Com meu grito eles devem ter me percebido, tenho que correr e rápido e rezar para que não me alcancem!

            Investigações podem ser perigosas, mas eu tenho que fazer isso para desvendar o mistério por trás destas criaturas!

. . .

Respirei cansada depois da longa corrida. Estranho, nenhum deles me seguiu. Eu corri muito (sorte que sou boa em corrida), cansei quando já estava perto daquele bairro suspeito. Chamei um táxi e desci uma quadra antes de chegar em casa, para despistar se alguém tivesse me seguido, quando tive certeza que não, voltei para casa.

. . .

No galpão

. . .

— Deve ser difícil, mas logo estará acostumado a beber como água... Porque vai sentir uma sede incontrolável. Isso lhe motivará um pouco... –sorriu o mais calmo-

— Não! –dizia com as mãos na cabeça- Eu sou... Um monstro! —agitou-se ainda mais-

— Essa era a intenção inicial... Para ser realista, eu mordi muitos de vocês, mas apenas você conseguiu resistir. Humpft. Que raça fraca. Deve se considerar sortudo por ainda estar vivo.

— Não! Mate-me!

— Não irá morrer... Com você por aí, mais e mais surgirão... E assim espero. Em breve haverá muitos de nós. E poderemos em fim começar os planos dele.

— Haaa... haaa... –chorava-

— Não seja fraco! Quando seus instintos despertarem e esse corpo inútil se adaptar, você sentirá o prazer de pôr as mãos em sua presa enquanto se delicia com o sangue. E tenho certeza de que irá mudar de ideia. –sorriu maldosamente-

. . .

No laboratório subterrâneo do Dr. Illiel...

. . .

— Então foi por isso que veio até aqui, Ária?-o velho Doutor Comentou- Porque tem vampiros à solta?

— Foi um dos motivos... Se eles estão se reunindo aqui, deve ter um propósito maior, mas não creio que saibam sobre Isshvan ainda...

— Mas por que viriam aqui...?

— Estão planejando algo grande... Que lugar melhor do que uma cidade pequena como esta para ser palco do show deles? –a mulher disse séria-

— Aquele homem que eu trouxe ao Illiel estava se transformando em um lobisomem, mas ainda no estágio inicial, tanto que não conseguia controlar seus poderes... –Leonhard disse-

— Significa que tem alguns ou alguns lobisomens por perto também... – Ária comentou-

— Estão sugerindo que a cidade vai ficar cheia de vampiros e lobisomens? –o velho recuou os ombros com a ideia-

— Provavelmente eles devem saber da existência um do outro por aqui, o problema é... Como não senti a presença deles? –o professor franziu o cenho-

— Se eles resolverem atacar qualquer um, isto irá causar uma epidemia na cidade e logo todos os humanos se transformarão em seres como eles... –a mulher afligiu-se-

— Ai, ai, não estou nem um pouco a fim de virar uma criatura assim, sabe? Não quero ser como vocês... –o doutor encarou o casal- Quero dizer, não quero ser como você Isshvan, mas como a Ária não tem problema já que ela é uma humana aceitável~

— Hehehehe~

— Temos que descobrir o que eles desejam fazer por aqui, e impedir o mais rápido possível, antes mesmo que cheguem à cidade... –o professor Graham disse ignorando os outros dois-

            Mal sabia que as pessoas das quais falava, já respiravam o ar da mesma cidade na qual ele estava...

. . .

No dia seguinte após minha busca, em parte fracassada por não obter provas para mostrar a ninguém e ser apenas uma testemunha ocular daqueles seres, eu, Alícia Aven, descobri que a última vítima dos incidentes havia sumido do hospital.

            Será coincidência? Ou será que ele também se tornou um vampiro? Não tenho certeza, mas fico feliz de que saí da minha última investigação com vida. Posso considerar uma vitória. No entanto, meu trabalho ainda não acabou... Está na hora de levar isso mais a sério...

            Hehehehehehehe. Nosso clube de ocultismo não é inútil, irei descobrir as intenções destas criaturas e tomar medidas no possível alcance de minhas mãos como líder de clube. Mal espero para vê-los novamente, me aguardem criaturas! Me aguardem...

As conspirações que se desenredam neste local, ainda estão longe para serem vistas por olhos comuns, só quem não vê com os olhos opacos da realidade pode enxergá-las através da fina parede que separa ambos os mundos: o humano e o sobrenatural.

. . .

Naquela mesma noite que as criaturas se reuniram nos galpões,

No porto da cidade...

. . .

            O som de um navio chegando ao porto e das ondas quebrando-se nas rígidas estruturas de metal e concreto e nas pedras da costa praieira.

            O rugir do escape do navio ecoava na imensidão da noite, se espalhando até o mar no horizonte.

            Descendo do cargueiro um homem, alto, usando um sobretudo de couro marrom, luvas e botas de couro, e um cigarro na boca. A barba mal feita e o rosto de meia idade, com um tapa-olho no olho direito. O olhar vago e frívolo do homem passou por todo o porto silenciosamente, discretamente sobre cada pessoa ali.

            E tirando o cigarro da boca, jogou-o no chão, apagando-o com o pé. Saiu andando para fora do lugar, em direção às luzes da cidade que o esperava de braços abertos.    

Vamos fazer esta cidade tremer um pouco.  


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