Aquele Professor É Um Lobisomem escrita por Lady Pompom


Capítulo 10
Capítulo 09: 1/4




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/368637/chapter/10

Quando o professor entrou pela porta e o vi com um curativo, uma sensação ruim me preencheu. Silas e Alícia também pareceram desconfortáveis com aquilo. Não era normal.

            Após a aula, nós esperamos todos saírem da sala e olhamos pedimos para falar com ele.

— Sr. Graham... –eu chamei- O que houve?

— Isso mesmo, -Silas disse- O Senhor está machucado?!

— Não devia estar... –Alicia completou séria-

            Ele nos fitou por um tempo, como se estivesse perplexo, mas logo pôs na face sua expressão de estátua de novo. E nos respondeu friamente:

— Eu caí e me cortei.

            Era óbvio que aquilo se tratava de uma mentira, não importa quão bom fosse o fingimento dele e que não mudasse o tom da voz, se não o conhecêssemos poderíamos ter nos deixado enganar por aquela frase, mas é justamente porque o conhecíamos que sabíamos que não era verdade.

— Não minta! –eu disse um pouco irritada-

— Não adianta tentar no enganar, nós sabemos que é impossível, professor! –meu amigo disse franzindo o cenho-

— Sua capacidade regenerativa é muito alta, creio que um corte deste tamanho sararia em questão de minutos. –a líder do clube explicava logicamente-

— Isso mesmo, e daquela vez você até quebrou alguns ossos, ainda sim estava de pé no outro dia dando aula pra gente! –reforcei a teoria-

Ele andou para fora da sala, ignorando-nos completamente e evitando aquela conversa.

— Espera! Aonde você vai?! –Silas gritou-

— Estou ocupado agora, até mais.

            Ele nunca nos responde nada. Mesmo com nossa preocupação, o Sr. Graham continua sendo uma pessoa muito fechada. Me inquieta saber que ele está omitindo algo de nós de novo. Espero que não seja algo tão importante quanto o segredo dele ser um lobisomem.

. . .

No jardim da escola

. . .

— Será que ele estava mesmo machucado? –meu amigo dizia desconfiado- Quero dizer, ele estava usando um curativo, mas... Não tem como né?

— Ele está evitando nos contar algo, e meus instintos dizem que é algo bem grande... –a líder do clube comentava-

            Às vezes Alícia emanava uma aura assustadora. Não a entendo bem, mas ela está longe de ser uma humana normal também...

— Temos que segui-lo hoje! –disse a presidente entusiasmada-

            E então, mais uma vez tentaríamos seguir e descobrir algo novo sobre nosso professor, embora isto fosse uma rotina, que nós sempre o seguíamos de longe, nunca tínhamos descoberto nada fazendo isso.

. . .

Na hora da saída a noiva do Sr. Graham não estava hoje... Ela vem todos os dias, dizendo que veio buscá-lo, e os dois voltam juntos para casa.

            Ele saiu de carro. Que tragédia! Não podemos segui-lo assim! Haa~ isso é mesmo um trabalho difícil...

            Desistimos de segui-lo e fomos ao centro, andar por lá enquanto tomávamos sorvete e discutíamos os planos pra amanhã, em como extrairíamos informação do professor Leonhard...

. . .

— Srtª. Ária...?

            A vimos de longe, andando pelas ruas, desolada. Não estava com o sorriso brilhante de sempre. Então algo realmente ruim havia acontecido com o professor afinal?

— Oh, crianças~-pôs um sorriso no rosto- O que fazem aqui a esta hora?

— Estamos dando uma volta! –respondi-

— Falando, você viu o professor por aí? –Silas perguntou ingenuamente-

— Não. Ele provavelmente deve estar em casa. –ela respondeu sem cerimônia-

— Falando nisso, você sabe sobre o que aconteceu com ele? –meu amigo insistiu nas perguntas inapropriadas para o momento- Ele estava machucado...      

Continue sendo insensível Silas, continue... Eu lhe darei uma boa bronca mais tarde.

— Ele está escondendo algo de nós? –Alícia conseguiu ir ainda mais fundo na insensibilidade-

—... Não é bem isso... Ele só deve achar que não é necessário envolver vocês nos problemas dele, certo? –gesticulou um pouco preocupada-

            Ária é uma pessoa muito transparente, não importa o quanto tente ocultar, os sentimentos dela sempre vem à tona, é fácil decifrá-los. Ao menos eu posso ver isto claramente...

— Podemos sentar e conversar em algum lugar? –a presidente disse séria, exercendo certa pressão no ar-

. . .      

            E assim, nós fomos até uma cafeteria ali perto e sentamos numa mesa mais reservada...

— Esta cidade está se tornando um palco maravilhoso de criaturas sobrenaturais~ -a líder de clube falava animada- Primeiro o professor lobo, depois aqueles vampiros agora os boatos de um caçador, kyaahhh! É muita emoção!

            Senhorita Ária continuou reticente, com aquela vaga expressão de preocupação no rosto.

— Alícia... –belisquei-a-

— De onde sabe sobre os vampiros e caçadores, quem te disse algo tão absurdo? –a noiva perguntou-

— A internet tem todo tipo de informação hoje em dia~ Além disso, eu vi os vampiros com estes olhos!

— Eu entendo que goste desse mundo, mas é melhor para você, não, para vocês ficarem longe disso tudo...

— Por que diz isso? –novamente meu amigo falava indelicado- Eu pensei que estava feliz com o fato de gostarmos desse tipo de coisa... E ainda não nos explicou o que houve com o professor!

            Ária permaneceu alguns segundos sem responder, acho que estava pensando sobre nos contar ou não a verdade, ou no que diria, isso mostra que a situação é séria, se até ela que é um livro aberto, não quer nos dizer nada...

— Você deve ter ouvido falar sobre um homem chamado ‘Silver’, certo...? –ela fitou especificamente Alícia-

— Oh! –a garota fez um gesto como se lembrasse de algo- Sim, era esse o apelido daquele caçador que diziam estar vindo para a cidade!

— Tem mesmo um faro pra isso, pra ter ouvido até mesmo da vinda dele... –a noiva do professor não falou como se fosse um elogio-

— Claro, não duvide de minhas fontes~ -sorriu-

            Esse lado da presidente me assusta, o lado dela que não se cansa de bisbilhotar esses assuntos que não nos convém e sua capacidade de sorrir enquanto fala sobre algo perigoso.

— Bem, os boatos eram verdade... –Ária continuou- Ele encontrou o professor de vocês e eles tiveram uma briga, foi assim que ele se feriu...

— O quê? Mas isso ainda não me explica porque ele ainda está ferido, mesmo se fosse atacado, ele se recuperaria instantaneamente, ainda mais um machucado tão minúsculo! –Silas dizia indignado-

— Ora, ora, mas ainda é um tolinho, apesar de ser nosso vice-presidente... –Alícia se gabava- Permitam-me explicar: O homem do qual falamos, ‘Silver’ é um caçador conhecido por este nome porque caça apenas lobisomens, nem vampiros nem humanos são alvos. Vocês devem saber que seu nome significa ‘prata’, certo? Tente imaginar o porquê de ele ter um nome assim...

—... –meu amigo tremeu com o pensamento- Então... Prata afeta mesmo... –engoliu seco- Lobisomens...?

— Exato. –a noiva confirmou- E agora mesmo, este caçador está por aí, pela cidade...

— Mas... E o Sr. Graham?! Ele não pode andar de forma imprudente ou... –eu disse, preocupada-

— Eu sei... Mas ele não me escuta... Eu iria segui-lo, mas ele ficaria com raiva de mim se o fizesse. –suspiro- É porque o professor de vocês é muito cabeça-dura.

— Temos que dar um jeito de tirar esse home da cidade! –meu amigo bateu na mesa, irritado e temeroso que algo de mal acontecesse com nosso professor-

— Não adianta se envolverem nisso. Ele pode não atacar pessoas, mas acredito que ele não seja tão piedoso a ponto de ignorar o fato de crianças do lado de lobisomens... Não é assunto para vocês...

— Mas, se você nos contou é porque quer que nós a ajudemos, certo? –eu perguntei-

— Errado, eu só queria que entendessem que não é um assunto simples...

— Mas e quanto a você, não consegue pensar em algo para ajudar? –A presidente questionou-a sem se importar com o peso da pergunta-

—... –ela deu um sorriso melancólico- Eu gostaria, mas não sei se serei capaz de fazer algo a respeito...

            A maioria das pessoas acharia isso idiotice. Para mim não. A Ária consegue expressar seus sentimentos de forma tão pura e falar abertamente sobre eles, sem se incomodar com o que os outros acham disso, é incrível.

            Eu gostaria de poder ser assim também, de poder ter alguém de quem eu não me importasse em falar por ter um sentimento forte por essa pessoa. Alguém que eu amasse de verdade. Bem, isto não vem ao caso agora...

— Não diga isso! –Alícia levantou-se- Você é a noiva dele, não? Tem que tomar providências!

— Nós vamos ajudá-la, não se preocupe! –Silas seguiu, acho que ele merece o título de vice-presidente do clube-

— Hum... Faremos o que puder para te ajudar, se precisar de algo, pode contar conosco. –sorri-

— Agradeço o apoio. Porém... –ela sorriu- Não posso envolvê-los nisto. Foi por este motivo que seu professor não lhes contou nada, ele não queria que se envolvessem, e é melhor assim.

— Mas... -meu amigo contestou-

— Farei o que puder para protegê-lo, quanto a vocês, só peço que continuem ao lado dele, isto é muito importante~ -disse bem humorada- Deixem o trabalho sujo para nós, adultos.

            Ela não estava muito confiante dizendo aquelas palavras, eu percebi isso mesmo com ela sorrindo. Imagino o que faz ela, uma humana como nós entrar num mundo tão vil e inescrupuloso só para estar com o Sr. Graham... Talvez pelo mesmo motivo que desejamos ajudá-lo agora...?

Não sei ao certo, no entanto ela nos disse para ficarmos longe desta outra realidade. Um conselho sábio, eu compreendo. Mas não podemos simplesmente cruzar os braços e assistir o professor ser perseguido, certo?

— Anime-se! –eu levantei-me do banco dizendo para a Ária- Vamos pesquisar sobre isso, tenho certeza de que a líder do clube pode conseguir informações que ajudem!

— Sim~-a presidenta disse animada- Vamos a um local mais reservado, estou com meu notebook aqui... Poderemos pesquisar tudo sobre esse caçador...

— Crianças... Isso não é uma brincadeira... –disse sorrindo e tentando ser gentil-

— Não estamos brincando, confie em nós, só um pouco! –Silas disse sério-

            E no fim das contas, nós a arrastamos para uma praça mais reservada e a mantivemos a noite toda com a gente, pesquisando mais boatos sobre o tal Silver. Bem, a maior parte da noite foi diversão, nós estávamos mais rindo de Alícia e suas teorias de conspiração do que nos dedicando a pesquisa... Mas foi bom, Ária ficou de bom humor depois daquilo.

            Nós só saímos de lá às duas da madrugada. Ela se ofereceu para nos acompanhar até nossa casa, dizia fazer questão de nos levar em segurança. Alícia foi sozinha, a casa dela ficava longe da nossa, por isso esperaria o pai dela num estabelecimento ali perto. Eu e Silas podíamos ir a pé para casa, mas já era tarde, por isso a noiva do professor resolveu nos acompanhar.

. . .

No meio das ruas vazias, às duas e meia da madrugada...

. . .

            Estávamos caminhando numa rua estreita, havia residências dos dois lados. Os postes de luz estavam acesos e apenas o cricrilar de alguns grilos era ouvido no silêncio da noite. Karen estava ao meu lado, e a Senhorita Ária do outro.

            Conversávamos sobre pequenos acontecimentos, coisas sem importância, que se conversa quando está no caminho de volta para casa com alguns amigos. Repentinamente, o sorriso carinhoso da Srtª Ária se desfez, e ela se desconcentrou da conversa por alguns segundos.

— Algum problema? –eu perguntei encarando-a-

— Não. –respondeu simplista-

            Mas é claro que havia um problema. Ela não conseguia disfarçar, sua sinceridade era algo que não podia esconder. Estava estampado na expressão que ela fez agora há pouco.

            De repente, quando prestei atenção no caminho à frente, havia um homem parado lá. Todos nós paramos de caminhar. Aquele era um homem estranho, estava encurvado, e fazia uma expressão retorcida.

            Essa não...! Tem duas mulheres aqui e logo um sujeito suspeito desses aparece! Não parece que vai nos deixar em paz, deve ser um assaltante, ou pior, pode ser até um serial killer! Tenho que fazer algo a respeito...

— G-ghr...Grr... –o homem rosnava enquanto era afetado por algum tipo de tremor-

— Karen, Senhorita Ária, pa- fui interrompido-

— Não. –disse a noiva do professor, séria-

—...?

— Crianças, saiam daqui! –ela se pôs à nossa frente-

— Senhorita...?

            Tanto eu quanto Karen ficamos confusos, se iríamos fugir, tínhamos que fazer juntos, mas por que ela estava tentando nos proteger? Só por ser alguns anos mais velha...? Não posso permitir isso!

— Mas...!

            Quando abri a boca para falar algo, enquanto encarava Ária, pelo canto do olho, eu vi aquele homem pulando, não normalmente, pulando alto em nossa direção, a ponto de diminuir a distância entre nós em um segundo.

— Aaah! –Karen gritou-

Eu tentei empurrar Ária, para que aquele homem perturbador não a pegasse, mas antes mesmo que eu conseguisse, ela fez um rápido movimento e deu uma joelhada bem no meio da cara dele, e ele caiu.

— H-hein? –meus olhos acompanharam-no caindo no chão-

— Saiam daqui, rápido! –ela nos olhou de cenho franzido-

— M-mas Senhorita Ária...

            Eu tremia internamente. Fiquei ainda mais assustado quando vi o homem se levantar... Sem equilíbrio, ele se levantava torto, e rosnava, como um animal. Os olhos dele, pareciam vermelhos, não sei se era só impressão minha... Mas tenho certeza de que vi caninos protuberantes na boca dele, quando a abriu para grunhir e fazer outra investida.

— Tch! –Ária resmungou-

O homem avançou em direção à ela, que tomou um impulso e deu um soco no abdome dele, fazendo-o cair e ser arrastado no chão pelo menos uns dois metros.          

Fiquei pasmo. O que exatamente isso significa? Ária deu um soco? Não, não aquilo não foi um soco normal, se você soca alguém forte o bastante, a pessoa cai no chão ou desmaia, mas não voa antes de cair, pessoas normais não fazem os outros voarem com socos. Karen gritou assustada, não me admira, atpe eu estou assustado.

— Crianças... –virou-se em nossa direção- Saiam já daqui!    

                        Na mesma hora, aquele homem que havia sido jogado longe se levantou, e em um segundo estava atrás de Ária.

— C-cuidado! –foi tudo que pude gritar, no desespero-

            Tarde demais... O homem com suas presas alvejou o pescoço dela, e... Mordeu... Com aquelas presas protuberantes perfurou o pescoço dela... Senhorita Ária ficou paralisada... Não importava o quanto tentasse me mexer, meus músculos ficaram também, momentaneamente estáticos.

            Alícia mais uma vez estava certa? Seria essa criatura à nossa frente o que os antigos costumavam chamar de vampiros?

            Porém, ele não demorou, apesar da tensão que fez a cena durar horas em minha mente, tenho certeza de que não se passaram nem cinco segundos que ele a mordeu, imagino se sugam sangue tão rápido.

            Afastou-se da mulher, fazendo uma expressão furiosa, jogando-a no chão. Nem se preocupou em enxugar o sangue que escorria pela boca e olhou diretamente para onde eu e Karen estávamos. Não pude fazer nada a não ser engolir seco e encarar o corpo caído da noiva do professor.

            Eu sou humano. Inteiramente humano. Que posso eu fazer contra estas criaturas? Como posso me defender sendo a raça mais fraca? Ah... Quantas desculpas... Minha covardia não é motivo para criar desculpas... Mesmo assim eu...

— Grh... –o vampiro veio para cima de mim-

            Foi tudo num só instante, ele abriu a boca e ferozmente voou para cima de mim, na intenção de me morder, mas foi parado por uma mão que segurou em seu ombro.

—... –olhei por cima do ombro dele-

— Eu não disse para sumirem daqui, crianças?

            Era Ária, com uma expressão séria no rosto. Eu não sei se estava muito escuro e vi errado, ou se meu medo me fez imaginar... Mas os olhos dela quando olharam para nós estavam brilhantemente vermelhos. Um vermelho sangue que reluzia em meio à escuridão.

            Não é possível... Ela se... Transformou? Ela não morreu? Então é assim que pessoas normais viram vampiros?  Por que logo a noiva do Sr. Graham...? Como ela se tornou uma vampira tão rápido...? Isso é realmente verdade? Não estou sonhando?

            Ah! Minha cabeça está girando. Não entendo, é muito confuso... Tudo está acontecendo muito rápido!

— G-ghaaa! –a criatura virou-se para ela-

            Ela segurou no braço dele com as duas mãos, e simplesmente o arremessou como se fosse a ação mais fácil do mundo. No entanto, ser arremessado alguns metros não foi o bastante para o homem.

            Ele se pôs de pé, e velozmente a alcançou, tentando arranhá-la com suas unhas monstruosas, e conseguiu, ela ganhou alguns bons cortes no braço, apesar de desviar um pouco, evitando um ferimento muito sério.

— O que está fazendo? Corram para casa! –disse irritada-

— H-hein? –eu a encarei abismado-

            Como numa situação dessa ela pode estar tão calma? Ela não está com medo de morrer? Será que não percebeu que se transformou em vampira? O que eu faço? Não posso só deixa-la e fugir com a Karen... Oh... Talvez ela tenha uma sede incontrolável de sangue e acabe sugando o nosso...

— Tch! –resmungou novamente-

            Se concentrando na luta, ela desviou de mais um golpe desferido pelo vampiro e saltou. Não um salto comum, quer dizer ela pulou longe o suficiente para pousar bem atrás dele, como se não fosse um problema fazer aquilo...

            Imediatamente ela pôs ambas as mãos, uma em cada lado da cabeça dele e girou o pescoço da criatura.

Craak

            Lembrei-me de quando o Sr. Leonhard foi atropelado, ouvi o mesmo som, e sei bem o que significa... Um som perturbador, de ossos se quebrando... Engoli seco.

            O homem caiu de joelhos. Foi cruel... Nunca pensei que Ária faria aquilo... Mas... Se não tivesse feito... Acho que estaríamos mortos agora... É difícil quando você para pra pensar sobre o que faria numa situação onde a sua vida e a vida de outra pessoa está em jogo... Me sinto egoísta quando penso que não quero deixar de viver...

            Se fosse antes, eu diria que aquela criatura era um simples monstro e optaria com certeza por a minha vida, mas depois que conhecemos o professor, não sei mais o que eu posso ou não considerar como um monstro... Quero dizer, o professor é diferente de nós,  mas não é mau, ele é um “monstro humano”...  Esse que está na nossa frente, não sei em que categoria eu posso classificá-lo, mas definitivamente não é amigável como o professor Leonhard.

— G-gah..u... –a vampiro se levantou, mesmo estando com o pescoço quebrado-

            Esta brincando comigo...? Sério, mesmo... Não tem graça... Como ele pode estar vivo depois daquilo...? É... É muito surreal... Haha-há... Hahahaha, não tem como...

            Chega! Eu não aguento mais... Essa não era exatamente a ideia de vida saudável a qual eu desejei... Eu só tenho dezesseis anos! Nunca pedi para ver nada sobrenatural, nunca fiz magia negra, nem tentei atrair espíritos malignos ou má sorte (que nem a Alícia), ainda assim, minha vida tem uma reviravolta indesejada e começo a presenciar mais desses acontecimentos brutais...

            Haa... Ele se levantou mesmo... Não quero ver isso, mas meus olhos não fecham, estão vidrados na cena... Acho que é tarde para tentar controlar meu cérebro...

— Não vai encostar um só dedo nestas crianças!

Ária franziu o cenho, tomou forças e enfiou a mão perfurando diretamente no coração, impiedosamente.

            Foi assustador. Mais do que quando o professor foi atropelado...  Porque eu não esperava ver um lado tão aterrorizante dela... Não para matar um homem... Bem, eu sei, era um vampiro, mesmo assim, se ele era um vampiro, como a Ária teria forças para combatê-lo se ela acabou de se transformar...? Soa muito estranho, não?

— Fuuu... –expirou- Vocês... Vocês estão bem...? –ela nos encarou, com uma expressão calma-

— A-ah... –Karen deu um passo para trás- Ária...?

            De fato, eu me senti tentado a fazer o mesmo que Karen quando olhei para a mão ensanguentada dela, e os olhos vermelhos sangue, reluzentes, mas algo dentro de mim me disse que seria melhor não.

— Ah... –disse aliviada, colocando a mão no peito- Não estão machucados...

            Ela pegou o celular e ligou para alguém, acho que era o professor, não ouvi bem a conversa porque ainda estava mais concentrado no corpo imóvel do vampiro que estava caído no chão. Fui até Karen, que também estava com medo, mais do que eu, presumo pela expressão que ela fazia.

—...

            A noiva do professor terminou a ligação, e não disse mais nada, nem uma palavra de conforto... Acho que ela estava tentando manter distância de nós, para não nos assustar, pelas nossas expressões, ela deve ter percebido nosso desconforto ao vê-la daquela forma.

            Um carro veio de longe, a princípio pensei que fosse algum policial. Me desesperei... Como iríamos explicar o cadáver no chão...? Logo percebi que era o carro do Sr. Leonhard. Agora me perguntava como explicaríamos que a noiva dele se transformou numa vampira?

— Ária... –ele desceu do carro - ... –nos encarou-

            Nós estávamos sentados na pista, esperando a coragem para explicar tudo e nos levantar e ir para casa sem dar sinal de que algo ruim havia ocorrido.

            Como é que vamos resolver essa situação? O que vai acontecer agora...? Tem um cadáver de um vampiro no chão, a noiva do professor foi mordida e se transformou, a Karen está com medo... E eu... Não posso fazer nada?

. . .

            Os dois adolescentes, estavam sentados na pista, a menina abraçava os joelhos, ainda temerosa pelo ocorrido. Os dois adultos conversavam.

— Eles estão bem fisicamente, estou mais preocupada com o que viram... –suspirou preocupada- Além disso, aquele cara... É melhor nós chamarmos o Illiel...

O homem tirou os óculos, que usava por disfarce, fazendo uma expressão de desagrado.

— Eu o chamei aqui para levá-los para casa, estão sentindo medo do que aconteceu e quanto a mim... Pode deixar que eu fico aqui e ligo para o Illiel...

— Você foi mordida...? –Leonhard olhou os furos no pescoço da mulher-

— Ah! –escondeu coma mão- E-ele não sugou muito sangue... –disse nervosa-

—.. –o noivo franziu o cenho-

— P-professor! –Silas se levantou, indo em direção aos dois adultos- E-eu sinto muito! –ele agarrou a camisa do professor, sacudindo um tanto desesperado-

—...?

— Eu sinto muito, nós fomos atacados e a sua noiva acabou sendo mordida e... –encarou a mulher- Acho que... Ela se tornou uma... Vampira...? –disse incerto-

            A outra adolescente também se levantou, um pouco tímida e receosa em ficar perto dos dois adultos.

— Desculpe! –Karen acompanhou o amigo- Sinto muito Senhorita Ária... Se nós tivéssemos fugido, talvez... Eu sinto muito mesmo, depois de ter nos salvo você se tornou...

— Do que estão falando...? –ela os fitou confusa-

— Se nós não tivéssemos ficado, poderíamos ter fugido juntos e você não teria sido mordida! –Karen segurou nas mãos de Ária, com pena-

 – Hã?

— Sentimos muito Senhorita Ária! –o garoto dobrou o corpo formando um ângulo de 90º com o chão- Sinto muito por sua noiva, professor!

            Os dois mais velhos simplesmente ficaram parados, um tanto confusos com a situação. Leonhard lançou um olhar, como que pedindo uma explicação para a noiva.

— Ah!  -algo se esclareceu na mente dela- Será que vocês não sabiam...?

— Hum...? –os estudantes se entreolharam- O quê...? –perguntaram em uníssono-

— Eu não vou nunca ser transformada em vampira... –ela sorriu-

— Como...? -Silas perguntou perplexo-

— Mas você foi mordida! –a garota quase gritou, nervosa -

O professor suspirou pesadamente com a ignorância dos garotos quanto à noiva dele.

— Não posso ser transformada, -ela abriu um sorriso- Porque eu já sou uma. –riu da confusão na mente dos garotos-

— C-como...? –o garoto fez uma expressão de descrença-

— O que quer dizer...? –a garota ficou boquiaberta-

            Isshvan, o noivo da mulher suspirou. Aquele mal entendido todo por causa da mordida o deixou um pouco impaciente. E ela não os havia contado quem ela era realmente.

— Ária... Você é uma... –engoliu seco- Vampira? —o garoto hesitou ao pronunciar aquelas palavras-

— Sim! –respondeu com um sorriso brilhante no rosto-

— O quêêêêêêêêêêêêêêêê?! –gritaram os dois alunos-

— Ora, pra quê o escândalo? –a mulher sorriu-

— M-mas eu pensei que fosse humana! –Silas disse ainda descrente na mulher-

— Sim, eu sou também.

— C-como assim também? –agora a garota que perguntava, sem entender- Quer dizer que você é...

Híbrida...? –o amigo completou- Uma meio humana e meio vampira...?

— Sim, eu sou uma híbrida, mas não meio híbrida... Eu sou apenas ¼ vampira!

— U-um quarto...? Isso é possível?!

— Claro que é!

— M-mas, se você é vampira, então como pode ser noiva do professor? V-vampiros e lobisomens não se dão bem, certo? –o garoto tentava estabelecer alguma lógica-

— Hum... –ela demorou alguns segundos para responder- Isso é coisa do passado, de gente conservadora, os tempos mudaram... Além disso, eu não sou só vampira... Sou uma humana também~

            O menino calou após ouvir a explicação. Não lhe convenceu muito, sentiu que deveria pesquisar mais sobre as relações entre vampiros e lobisomens depois. Ainda tinha muito que aprender sobre aquele mundo maluco.

— Eu irei levá-los para casa... –o professor disse sério- Apenas esperem um minuto, tenho de fazer uma ligação...

. . .

[Alô?]

— Illiel... Sou eu...

[Eu sei, vi pelo nome no telefone... –suspiro- O que quer desta vez?]

— ... Perdoe o incômodo, mas preciso que venha aqui agora... Quero que trate uns machucados e confira algo para mim...

[Isshvan, eu sei que precisa da minha ajuda, mas você não é meu único cliente, tenho que terminar de atender um agora mesmo, e se for as suas feridas, elas devem se curar logo se utilizar o remédio que lhe dei, ent-]

— Não é para mim... É a Ária...

[O quê? A Ari? Mas como ela está...?]

— Preciso que venha tratá-la e conferir um cadáver aqui... É um vampiro desta vez...

[...!] –um minuto de silêncio se passou antes que o homem respondesse- [Vejo que a situação está séria... Assim que acabar com esse cliente, irei cuidar disto, espere só mais um pouco...]

— Obrigado...

—desliga-

— Professor! –os dois alunos correram até o professor-

— A senhorita Ária vai ficar bem? Ela está meio pálida... –a menina preocupou-se-

— Sim, apesar de ser esquisito, aquele vampiro sugou o sangue dela... –completou o amigo-

            O lobisomem suspirou pesadamente, seus problemas eram intermináveis.

— Não devem se incomodar com isto, eu já chamei um médico. Vou levá-los para casa agora. –abriu a porta do carro-

— M-mas... –Silas olhou para trás, com um pouco de pena da mulher-

— Ela ficará bem.

Finalizou e fazendo um olhar de imposição para os jovens, que recuaram, e decidiram entrar no carro.

. . .

            O professor levou os alunos em silêncio, e mais uma vez pediu para que não dissessem ou perguntassem nada. Depois, saiu deixando-os perplexos.  

            Voltando para onde sua noiva estava, sentada à beira da estrada, perto do corpo caído. O Doutor Illiel já estava lá, cuidando em pôr alguns curativos na mulher.

— Temos que tirá-lo daqui... –o professor olhou o cadáver-

— Eu sei, coloque-o no meu carro, vou analisar quando formos ao laboratório... –o médico respondeu ríspido-

— Ele é um transformado... –Ária disse- Por isso me mordeu... Provavelmente pensou que eu fosse uma humana qualquer... Se bem que até alguns nobres tem dificuldade em me diferenciar.

— Se é um transformado, então tem algum vampiro por perto... –o noivo franziu o cenho-

— Sinceramente, não sei por que tantos de vocês estão aparecendo nesta cidade! Primeiro um lobisomem, agora um vampiro, sem falar naquele caçador! Tem algo muito grande acontecendo por aqui! –o doutor resmungava-

— Precisamos achar quem transformou tanto o outro quanto este, antes que se torne uma epidemia... Se ele já tiver mordido alguém... A cidade ficará um caos...

— Eu sei Isshvan, mas é perigoso sair por aí descuidado enquanto há tantos inimigos... Temos que ser discretos... –a mulher dizia séria-

— Então, vamos discutir isto em um lugar mais apropriado... –o doutor disse-

            Depois disto, tanto o carro do médico, Illiel quanto o do professor Leonhard partiram para o laboratório subterrâneo.  E mais uma vez a noite assombrosa da cidade ganhava uma pitada de mistério e terror. Isto era apenas o prelúdio do que ainda estava por vir.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Aquele Professor É Um Lobisomem" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.