Aquele Professor É Um Lobisomem escrita por Lady Pompom


Capítulo 7
Capítulo 06: A Ária do Lobo


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora! Aqui está o capítulo!



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Alguns dias se passaram, faltam dois dias para a lua cheia. Meus pais voltam de viagem hoje. Vou ao aeroporto recebê-los, os pais da Karen vão buscá-los comigo.

            O voo deles chega às sete da manhã. Como hoje é sábado, não tem problema já que não tem aula. Karen ficou na casa dela dormindo.

            O pai da Karen foi dirigindo e eles ficaram a viagem toda me fazendo perguntas sobre o cotidiano, me esforcei para não demonstrar nenhum sinal das mudanças que ocorreram na minha vida neste último mês.

. . .

            Eu sempre venho aqui no aeroporto para buscar meus pais. Quando eu era pequeno, ficava na casa da minha tia durante as viagens deles, e eles faziam de tudo para ficarem muito menos tempo do que um mês, sempre traziam presentes de fora para mim...

            Hoje em dia eu fico sozinho, quero dizer, não exatamente sozinho. Karen está sempre gastando o tempo dela comigo.

— Foi um longo mês... Mas seus pais não voltaram de viagem quando souberam sobre a tentativa de assalto que você e Karen...

— Na verdade, não disse aos meus pais, Sra. Bastern... –cocei a cabeça- Não queria atrapalhar os negócios deles, além disso, estou perfeitamente bem.

— Silas! –o Sr. Bastern falou em tom autoritário- Não devia ter escondido isso dos seus pais! A cidade está se tornando um lugar perigoso, e se algo mais tivesse acontecido?

— Eu sei, mas... –baixei a cabeça-

            Sério, levar bronca dos pais da vizinha... Só eu mesmo para me encontrar numa situação dessas!

            Fomos até o lugar onde os passageiros que desembarcaram do voo estavam, meus pais apareceram pouco depois junto de um monte de pessoas.

— Pai, mãe! –corri para abraçá-los-

            Muitas pessoas considerariam vergonhoso um rapaz de dezesseis anos sair correndo para abraçar os pais, eu particularmente acho normal. Sou feliz de ter uma família, por que não posso demonstrar isso?

— Então, como passou o mês? Sentiu-se só?-minha mãe perguntava com um sorriso no rosto-

            Meus pais tinham uma aparência relativamente comum. Meu pai, um executivo de cabelos pretos, rosto um pouco desgastado da idade e olhos castanhos. Minha mãe, cabelos castanhos e olhos da mesma cor dos meus, só parece um pouco mais nova que meu pai.

— Obrigada por trazerem-no até aqui tão cedo. –minha mãe cumprimentou o casal Bastern-

— Disponha.

            Enquanto sorria e olhava as pessoas que circulavam pelo aeroporto, para deixar meus pais e os da Karen conversarem, meus olhos foram atraídos por uma mulher.

            Ela era muito bonita, os cabelos negros, lisos e longos, batendo bem no meio das costas, tinham um aspecto sedoso e brilhante de longe. Os olhos dela, eu não vi muito bem, pareciam castanhos... Não, castanho-avermelhados.  Pode até ter uma aparência comum, mas algo nela era diferente, especial. Um tipo de beleza elegante.

            Segurava uma mala de viagem, olhava para os lados, como se estivesse perdida. Senti meu corpo se movendo por conta própria, hipnotizado, indo em direção a ela, mas meu transe foi quebrado...

— Silas Belmont!

Era a voz rígida do meu pai, que tocou em meu ombro. Virei-me imediatamente para escutá-lo.

— Por que não disse que foi atacado por bandidos no caminho de volta da escola?

— Querido, disse que estava tudo bem quando lhe ligamos semana passada! –minha mãe disse decepcionada-

— Eu não queria preocupar vocês, e estou bem!

— Silas, não seja tão inconsequente! E se algo tivesse acontecido?!

            Ah. Acho que pais pensam todos da mesma forma. Deve ter algum “manual de coisas que se deve dizer ao seu filho irresponsável” ou algo assim.

            Meus olhos se abriram instintivamente quando vi aquela beldade de antes caminhando em minha direção. Ela está vindo mesmo pra cá? Não acredito! Ela tem um sorriso lindo!

— Com licença... –ela chamou a atenção dos adultos perto de mim-

— Oh! É aquela menina da cafeteria! –minha mãe disse sorrindo-

            Menina da cafeteria? Que cafeteria?

— Sim. Eu estou um pouco perdida, acabei de chegar nesta cidade... Será que poderiam me ajudar? –disse um pouco tímida-

— Claro! –meu pai respondeu prontamente-

            Fiquei revezando olhares entre ela e meus pais. Como assim se conheciam?

— Vamos sentar em algum lugar para conversar... –minha mãe sugeriu-

            Os pais da Karen se despediram e foram trabalhar. Triste ter trabalho dia de sábado, e meus pais disseram que terminariam o trabalho quando chegassem em casa. Eu e eles, junto à mulher bela misteriosa fomos à lanchonete do aeroporto.

— Desculpem a rudeza, me chamo Mariane. –a moça me cumprimentou-

— Silas... Silas Belmont...

— Este é o filho de vocês? –me olhou como se eu fosse um bebê-

— Sim! –minha mãe disse orgulhosa-

— Bem, Srtª. Mariane, disse que precisava de ajuda. –meu pai cortou a conversa das mulheres-

— Sim. Eu arrumei um emprego aqui, mas não sei nada sobre a cidade, estive ocupada e só pude pegar o voo que chegava hoje... Será que poderiam me dizer onde ficam alguns endereços? –perguntou um pouco envergonhada-

— Claro!

— Mas... Você já tem um lugar para ficar? –minha mãe indagou preocupada-

— Não.

— Mas, se conhece alguém daqui, esta pessoa não poderia te ajudar? –meu pai encarou-a perplexo- Não podia nem te buscar no aeroporto?

— Eu quis fazer uma surpresa, esta pessoa não sabe que estou aqui. Eu iria ficar numa pousada até falar propriamente com...

Meus pais se entreolharam com aquela cara de preocupação. Eles sempre foram muito solícitos, admiro isso, mas eles deviam tomar mais cuidados com estranhos. Se bem que, com essa estranha eu não me importo de ficar.

— Tudo bem, pode vir conosco, e ficar na nossa casa, afinal você nos ajudou muito na outra cidade...

— Desculpe, se for muito incômodo, tudo bem...

— Não, não, tudo bem, nós a ajudaremos! –meu pai tentou parecer gentil, não foi muito convincente-

. . .

Meus pais trouxeram a tal de Mariane com a gente. Não sei se isso é chamado sorte ou destino, mas eu gosto. Uma mulher tão linda ficar em minha casa, é quase como ter uma modelo famosa vivendo com você por um tempo! Haa! Sinto-me o adolescente mais sortudo do mundo!

— Silas, você estuda numa escola das redondezas, não é? –ela me perguntou enquanto andávamos até o quarto de hóspedes-

— Sim... Por quê?

— Qual o nome da sua escola?

— Colégio Nieyama, de nível médio. –disse desinteressado-

— Mesmo?! Que surpresa! –ela riu- Conheço alguém de lá...

            Imagino quem uma moça bonita dessas conheceria do meu colégio. Não há ninguém realmente interessante lá, fora o professor, é claro.

            O quarto de hóspedes fica ao lado do meu, que sorte~! Terei dias mais felizes agora! Pena que segunda terei que ir à escola... Não vou poder ficar muito tempo com ela.

            Eek... Tive um arrepio, falando na segunda é justamente o dia de lua cheia... Será que o professor vai virar lobo novamente? Espero que não saia por aí mordendo as pessoas...

. . .

            No domingo eu apresentei Mariane à Karen e nós três saímos para o centro da cidade, mostramos as lojas e lugares que tinham no centro.

— O que a traz a esta cidade, Srtª. Mariane? –minha amiga a questionou, curiosa-   

— Eu vim aqui pra visitar alguém que conheço...

— Algum conhecido?

— Sim.

— Mas, aquela cidade que você estava era bem longe daqui, tanto que teve de vir de avião. –eu comentei-

— Não entendeu Sil? Significa que essa pessoa vale o esforço, não é?

Karen sorriu. Mulheres se entendem, né? Mas eu fiquei boiando nessa afirmação.

— Sim, afinal é meu noivo.

— N-noivo? –eu e Karen dissemos em uníssono-

            Noivo. Noivo. Ela tem um noivo. Não acredito. Minhas expectativas acabaram. Este é um mundo cruel. Que sorte que nada, eu sou é azarado. Quando finalmente penso que tenho a chance de ter um romance com alguma mulher adulta, o mundo a tira de mim.

            Me sinto um lixo. Um verme. E nem fui dispensado! Não quero sentir isso nunca mais. A adolescência é mesmo uma fase terrível. Odeio vocês, hormônios pilantras.

            E só depois que ela falou sobre ser noiva que vi o anel de noivado, um prateado na mão direita dela. Era bem bonito, com um cristal no centro e entalhes delicados ao lado.

            Nós continuamos a andar, mas eu cessei as perguntas, não queria mais ouvir nada daquilo. Já minha amiga, ficou ainda mais animada e não parava de perguntar. Coisa de menina.

            Um senhor, já pelos seus sessenta pra mais veio em nossa direção, com um sorriso no rosto.

— Ah~! –os olhos da Mariane brilharam- Illiel! –abraçou o senhor que retribuiu o gesto-

            Eu e minha vizinha tivemos um choque... Não, é muito improvável, quase zero... Sem chance de aquele ser o noivo que ela estava falando... Ou esse velho é muito rico e ela uma beldade que não tem caráter, ou esse cara é o avô dela.

— Há quanto tempo! –ele disse se separando dela e dando um largo sorriso- Quando foi a última vez que te vi? Há uns vinte anos? E continua linda como sempre.

            Senhor? Será que Sr. percebeu que esta mulher não tem nem trinta anos? Posso saber quantos anos ela tinha vinte anos atrás hein? Cinco, sete? Por favor, alguém me responda! Esse só pode ser mesmo o avô dela!

— Nem eu me lembro! –ela riu se divertindo-

            Claro que não lembra, você não poderia lembrar mesmo, devia ser só uma criança!

— Ah! Desculpem crianças, este é um amigo meu. –ela explicou olhando para nós-

— Olá! –o velhinho cumprimentou-

            Ah! É só um amigo. Apesar de eu não saber como ela pode conhecer um velhinho de sessenta anos de uma cidade a qual nunca visitou, fico feliz que seja só amizade.

— Ele é um amigo do meu noivo.

— Aah. –finalmente entendi como ela o conhece-

— Falando nisso... –o velhinho fez uma expressão de preocupação- Ele já sabe que está aqui...

— O quê? –ela quase gritou surpresa- Não acredito! Não era pra ele saber, era para ser uma surpresa!

— Ele está subindo pelas paredes como um cão raivoso. Por dentro. –completou com certo desgosto-

— Como ele soube? Eu não deixei nenhum recado ou pista para que ele soubesse... Só quem sabia que eu estaria vindo era você... –raciocinou por alguns segundos- Illiel! –disse indignada- Foi você quem contou, não foi?!

— Desculpe mesmo! Ele estava muito nervoso sobre isso então...

— Não acredito nisso! –cruzou os braços fazendo uma expressão indignada- Nunca mais lhe conto nada!

            Ela fica tão fofa, mesmo quando faz uma expressão de raiva. Imagino quem é o sorteado da vez para ter uma noiva assim. E me senti revoltado, pelo que ouvi da conversa o noivo dela estava furioso porque ela veio?

— Desculpe interromper, mas... –eu falei, hesitante- O seu noivo está com raiva porque você veio?

— Ele não deveria estar feliz? –Karen também se intrometeu após notar a complexidade da situação-

— Ah, bem... –ela disse sem jeito-

— Vai saber, ele é um cara bem árido! –o Senhor deu de ombros-

— Illiel!-lançou um olhar de reprovação-

— Só estou dizendo a verdade!

— Bem, ele ficaria furioso de qualquer jeito quando me visse, só adiantou um pouco a raiva dele.

            Então o noivo dela sabia que ela vinha e não veio buscá-la porque estava com raiva dela? Que tipo de homem ele é? Me envergonha pensar nele como um companheiro da mesma raça.

— Eu tenho que ir agora Ária, te vejo depois... –disse o senhor recebendo um sinal negativo da mulher- Boa sorte com ele.

            O homem foi embora e automaticamente eu e Karen nos viramos na direção daquela mulher. Ária... Ele disse Ária não foi? Tenho a impressão de que já ouvi esse nome antes... Onde foi? Não importa... O foco agora é, ela esteve mentindo seu nome?

— Ária...? –falamos em uníssono-

— Ah! É que meu segundo nome é Mariane, Me chamo Ária Mariane, mas prefiro usar o segundo nome! –tentava explicar-

A encaramos estreitando os olhos em descrença. Ela não acha que vamos cair nessa do nome composto, né? Tá na cara que ela mentiu o nome, e muito provavelmente a idade.

— Ah~-suspirou derrotada-

. . .

— Então seu verdadeiro nome é Ária? –a minha amiga perguntou curiosa-

— Sim... –disse cabisbaixa-

            Estávamos os três sentados num banco de uma praça do centro, ela acabara de nos explicar a confusão com seu nome. Eu prefiro o nome real dela, achei mais bonito. Combina com a beleza dela.

— Por que disse outro nome então?

— Vários motivos...

            Não me diga que ela é noiva de algum mafioso da região e precisa usar outro nome para não ser assassinada por outro grupo mafioso rival! Pobre Ária! E de novo... Essa sensação de que já escutei esse nome em algum lugar...

— Mas... Você e seu noivo vivem separados e ele fica nervoso assim quando você vem visitá-lo? –Karen indagou com certo ar de reprovação-

— É porque ele acha que eu vou ser um empecilho para o trabalho dele... –respondeu com um sorriso amargurado- Mas não se preocupem, ele é assim mesmo...

— Então você vai para a casa dele? –eu perguntei com pena dela-

— Não, provavelmente ele deve estar organizando a passagem de volta para minha cidade enquanto conversamos, e vai me mandar embora quando me vir.

— Isso é terrível! –Karen se levantou indignada- Como pode continuar com uma pessoa assim? Ele vive longe, tem raiva quando vem visitá-lo e ainda te manda embora! Tem certeza de que essa pessoa te ama?!

—... Não é bem assim... –disse sem graça-

. . .

            Nós voltamos para casa, a Srtª. Ária não se sentiu muito à vontade para discutir mais sobre o assunto. Fico compassivo diante da situação dela. Ter um noivo tão ruim deve ser horrível. Ela não parece muito feliz.

            Não posso me distrair! Amanhã é lua cheia, tenho que observar os movimentos do professor. E a líder do clube vai me atazanar para que o sigamos pra filmar a transformação dele... Será que ele se transforma mesmo? Se sim, eu gostaria de presenciar... Deve ser fantástico! O-oou... Acho que estou ficando tempo demais naquele clube...

. . .

            No dia seguinte, chegamos mais cedo ao colégio. O professor Leonhard já estava lá. Fomos para sala, Alícia estava mais maluca do que nunca. Não parava de falar sobre a “caça noturna ao lobo”.

            Ficamos o dia todo inventando desculpas para dar aos nossos pais e combinando como faríamos para segui-lo e filmá-lo sem que ele percebesse. A presidente comprou um produto químico suspeito que remove cheiro, ela disse que era necessário se quiséssemos segui-lo sem que ele nos farejasse. Onde ela arranja essas coisas? Às vezes ela que me dá medo...

            E enfim, o tão esperado momento do dia, o fim das aulas, e fim da tarde. O pôr-do-sol de hoje estava simplesmente esplêndido! Pela primeira vez estava animado em fazer algo, se fosse antes eu estaria com medo, mas agora, eu realmente quero ver o professor virar um lobisomem!

. . .

            Quando chegamos à portaria do colégio, tivemos uma surpresa...

— Srtª. Ária...?-fitei-a confuso- Por que está aqui...?

 Ela sorriu gentilmente e deu um risinho animado, cobrindo a boca com certo ânimo. Cara, eu não a entendo, de verdade.

— Eu vim buscar meu noivo.

— Então ele trabalha aqui...? –Karen olhou em volta-

— Quem é essa? –Alícia estava perdida na situação-

— Depois eu explico... Mais importante, vamos ajudá-la.

— Mas não podemos perder tempo ou ele sumirá da nossa vista! –a líder contestou-

— Não precisa ajudar... Ele vem vindo ali... –Ária apontou para trás de nós-

            Alguns alunos e o professor Graham vinham na multidão. Eu procurei alguém que tivesse ao menos porte para ser o noivo dela, e que parecesse um carrasco troglodita, porque pelo jeito que a tratava só podia ser um homem assim!

— Onde?

— Bem ali. –ela sorriu- Não precisa se preocupar!

            Ela saiu correndo animada e parou em frente ao único homem frívolo que conheço na terra.

            ... Demorou alguns segundos para meus olhos acreditarem no que viam e mais alguns para que eu me perguntasse se é aquilo que chamam de destino... Karen e eu nos entreolhamos e dissemos ao mesmo tempo:

— O Sr. Leonhard?!

            Não acredito, não pode ser... O noivo que ela tanto falava era ELE? De todas as pessoas no mundo essa mulher tinha logo que ser noiva de um cara frio e malvado, e ainda mais um lobisomem?! Será que ela ao menos sabe que ele é um lobisomem? Se pensarmos um pouco, ele não a estava mantendo afastada por que não queria que ela descobrisse?

— Esse é meu local de trabalho. Não apareça aqui do nada. –disse com sua voz fria-

— Eu estava com saudades! Você recebeu o presente que te mandei? –dava pulinhos de ânimo-

            Presente... Calma... Calma... Não é possível... Sim... É... Lembrei... Aquele pacote comum bilhete que o professor recebeu no dia dos namorados, se não me engano foi lá que vi o nome Ária... Então era dela? Era da noiva dele e ele jogou no lixo? Por que tenho cada vez mais a impressão de que isto é um caso de amor unilateral?

— O que está fazendo aqui?

— Vim te buscar, claro!

—Professor... –Karen franziu o cenho e encarou-o interrompendo a conversa entre os noivos- Você é o pior!

Ele a encarou perplexo, eu podia ver os questionamentos que pairavam sobrea cabeça dele agora, e assim como a Karen, eu estava inconformado:

— Não acredito que seja o noivo da Srtª. Ária... –eu disse me intrometendo, também de cenho franzido-

            Vi um traço de irritação passar por seus olhos por trás dos óculos.

— Ária.

— Que foi?

— Como você...? –suspirou como se procurasse paciência-

— Ah! Eles são pessoas boas! Fico feliz que tenha alunos tão gentis!

— Como os conhece? E por que sabem seu nome?-massageou as têmporas-

— Eu –ela foi interrompida-

— Melhor, não me responda agora... –fez um gesto com a mão, que cara grosseiro!- Conversamos depois... Agora saia daqui, você chamou muita atenção... –disse baixo-

            Ela desanimou e saiu do colégio. Percebi que muitos olhares curiosos se acumulavam sobre o professor, ele teria uma grande dor de cabeça para dar explicações depois.

            Fico triste pela Ária, ele não parece dar muita atenção aos sentimentos dela. Notei que ele nem usa o anel de noivado. Que tipo de noivo é ele afinal?

— Sr. Leonhard, ela é mesmo sua noiva? –perguntei sem pensar duas vezes-

            Só percebi que ele havia se irritado quando o vi olhando fixamente para mim, com uma expressão séria. Ele saiu do colégio sem dizer nada.

            Eu e Karen queríamos enchê-lo de perguntas, mas ele saiu tão rápido que não dava pra acompanhar, e saiu de carro. Patife! Nem pra nos responder!

. . .

Num condomínio de luxo...

. . .

            Leonhard entrava na sala de estar de sua casa. Tirou os sapatos, subiu as escadas até o andar de cima, no longo corredor, dirigiu-se à última porta que estava à sua frente.

            O chão todo do lugar era de cerâmica branca, reluzente à luz. Deixava a casa mais clara. As paredes revezavam entre um tom cinza metálico e branco gelo, completando a elegância.

            Dentro do quarto que ele entrou, havia um grande espaço, havia uma cama de casal de madeira que era enorme, apesar ele dormir só ali; do outro lado da sala havia um closet e uma mesa de vidro, e na parede central do quarto uma porta de vidro com cortinas de seda pura que levavam a uma sacada.

            As cortinas voavam ao vento, a porta aberta indicava a presença de mais alguém ali.

— Ária. –disse sério-

— Você finalmente chegou! –ela correu para abraçá-lo- Seja bem-vindo!

            Ele afastou a mulher para encará-la nos olhos e perguntar:

— O que está fazendo aqui?

— Eu vim visitá-lo! Você nunca dá notícias e não responde as cartas semestrais que mando! É muita maldade sabia?

— Como aquelas crianças lhe conhecem?

— É engraçado, eu conheci na verdade os pais daquele menino e eles me ajudaram, me deixaram ficar na casa deles por um tempo... –falava animada-

— Está na casa de outras pessoas? –perguntou com um tom descrente- Você foi seguida quando veio para cá?

— Claro que não! Eu tomei providências para não ser notada! O único que sabia da minha vinda era o Illiel!

— Não pode ficar na casa de ninguém, você chama muita atenção. –bronqueou- E pode ter sido seguida sem ter notado!

— Não fui! –contestou-

            Depois de uma longa explicação sobre como havia ido parar ali, o professor imaginava se aquilo era ou não destino. Sua noiva conhecer justamente os alunos que sabiam de seu segredo era de fato, intrigante.

— Por que veio aqui? –encarou-a novamente- Você não atravessaria um oceano inteiro só pra ver meu rosto.

— Pra sua informação eu atravessaria sim! –disse um pouco ofendida- Mas como sempre, você está afiado...

— Aconteceu algo no lugar onde você estava...?

— Não aconteceu, a questão é o que vai acontecer... –disse num tom preocupado- Isshvan, enquanto investigava os outros, eu ouvi um nobre falando sobre vir até aqui...

— Não irei comentar que estou surpreso em ouvir que estava investigando por conta própria, mais importante, por que um nobre estaria interessado em vir até aqui?

— Estavam falando sobre ele...

            O olhar do homem mudou drasticamente, um misto de ódio e surpresa...

— Não sei se descobriram sobre você, creio que não... Mas mesmo assim disseram sobre um plano de vir até aqui... Se te notarem aqui, farão de tudo para atacá-lo enquanto estiver fraco, para te matar!

—... Então eles planejavam mesmo se proliferar aqui... –o homem franziu o cenho, irritadiço-

— Felizmente ainda não vieram... Eu fiz de tudo para chegar aqui antes! –a preocupação na voz aumentava gradativamente- Eles irão te descobrir quando chegarem, não pode se esconder por muito tempo... Vão se aproveitar da sua fraqueza durante aquela noite... Eu também vim aqui para garantir sua segurança!

— O que quer dizer?

— Eles não vão me descobrir tão fácil... Então se tentarem te atacar quando você estiver vulnerável, eu estarei aqui para impedir! 

            Apesar da proximidade entre os dois, era apenas a mulher quem esbanjava preocupação, enquanto que no rosto do homem, era difícil identificar o que queria expressar, era algo confuso.

—...

— Mesmo que me diga para voltar, eu ficarei aqui!

— Não adianta te mandar embora agora. –disse voltando à expressão marmórea habitual- Será pior se descobrirem que esteve aqui e foi embora, só irá lançar suspeitas desnecessárias... E acabarão descobrindo minha estadia nesta cidade...

— Então eu não preciso ir?

— Não. Mas não incomode nem chame a atenção de muitas pessoas. –advertiu-Não pode se misturar com os humanos, isso representará risco para as pessoas com quem se envolver. Aqueles nobres não se importariam em ferir humanos...

— Entendi!

            Ela deu um pulo de alegria e abraçou o noivo, bem apertado, arrancando um suspiro cansado dele.

. . .

Durante a madrugada, dentro daquela mesma casa luxuosa...

. . .

            Um lobo negro de olhos azuis-acinzentados estava parado em frente à porta. Ária se abaixou e agarrou o lobo, esfregando o rosto para sentir o pelo.

— Iss, seu pelo é tão macio~ -apertou- Não importa quantas vezes eu o veja nessa forma, é sempre fofo~

            O lobo grunhiu, fazendo-a soltá-lo.

— Sim, sim, eu sei! Temos que vasculhar a cidade agora... –levantou-se e abriu a porta- Mas ainda acho que você poderia aproveitar essa lua cheia para se transformar de verdade, quero dizer, a forma real de sua raça.

O lobo grunhiu novamente em resposta ao comentário inoportuno, ela só riu-se e respondeu num tom com certo deboche:

— Tá, tá, já entendi! ‘Não preciso usar toda essa força’ é o que quer dizer, certo? Tudo bem, não vou mais falar nada.

. . .

Numa rua distante

. . .

Acordei com um uivo ao longe. Me fez lembrar do dia que o lobo apareceu na minha porta. Só que desta vez o som veio de longe, não da porta da casa. Ouvi um som vindo da porta do meu quarto.

Gelei. Ainda sonolento, lembrei de que hoje era lua cheia, e esse som na porta do meu quarto... Enfim o professor decidiu me matar? Eu estou acabado, nem posso reagir, o único modo de sair daqui é pular a janela do quarto, que fica no primeiro andar.

Meu coração disparou, o que eu poderia fazer contra um lobisomem? Com esse corpo franzino eu ficaria mais quebrado do que o professor quando foi atropelado.

Eu me levantei e fui até perto da porta, peguei a cadeira da minha mesa de estudos para bater em quem quer que entrasse pela porta. E tive uma surpresa quando finalmente a porta abriu-se:

Impulsivamente quase quebro a cadeira na cabeça da Srtª. Ária. O que ela veio fazer em meu quarto tão tarde da noite? Ela levou um susto quando parei o impacto da cadeira ainda no ar. Meu coração acelerado se acalmou um pouco ao ver o rosto de alguém não assustador.

— Ária...? –disse perplexo-

— Desculpe vir a essa hora... Eu não vou mais ficar aqui, então pensei em deixar um bilhete de despedida... –mostrou um pedaço de papel em uma de suas mãos-

— Despedir? Mas não disse que não tinha para onde ir? –coloquei a cadeira no chão- Não me diga que... O Sr. Graham te mandou mesmo embora? –disse com pena-

— Não, não. Eu vou sair da sua casa, não da cidade.

            Fiquei ainda mais confuso com a declaração dela.

— Muito obrigada pela hospitalidade. –curvou-se- Nos veremos de novo.

— E-espera, aonde vai ficar então?

— Na casa do meu noivo, claro! –deu de ombros, e saiu saltitando sorridente-

— N-na casa do p-professor? –fiquei chocado-

            ... Não tenho palavras...  Acho que devo ser muito grato por sobreviver durante mais uma lua cheia... E é só...

. . .

            Esta cidade irá ficar cada vez mais agitada daqui para frente. Não há tempo para descansar, um enorme turbilhão de acontecimentos cerca o lugar e os pobres alunos do colégio Nieyama também já estão no centro disto tudo.

            Sem perceber, a vida pacífica que eles desejaram começa a sumir de suas vistas. E a noite acaba ao som de fundo da ária que o lobo forma em meio a uivos.

 


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