Aquele Professor É Um Lobisomem escrita por Lady Pompom


Capítulo 5
Capítulo 04: Valentim vermelho sangue


Notas iniciais do capítulo

Essa história não tem relação com qualquer fato ou acontecimento da realidade, é pura ficção e tem apenas fins de entretenimento. Boa leitura



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Hoje é dia 14 de Fevereiro, um dia muito especial. Sim, o dia dos namorados! Todos os anos eu ficava ansioso por esse dia, mas especialmente este ano, não estou nem um pouco ansioso. Por quê? Pelo simples fato de que faltam 11 dias para a lua cheia e estou assombrado com a ideia de que este seja talvez, meu último dia dos namorados...

            Agora que eu e a presidente do clube de ocultismo sabemos do segredo do professor Leonhard Graham, não sei se podemos garantir nossa vivência nesse mundo...

. . .

            O dia não poderia começar mais agradável, o sol, um céu límpido e brilhantemente azul. Os casais da escola todos fazendo confissões de amor, e as garotas entregando seus chocolates aos rapazes.

            Pena que eu sempre recebo chocolate da minha mãe e ela não está aqui este ano... Bem, Karen me dá sempre algum chocolate, mas ela faz isso com todos os outros amigos dela. Acho que recebi o chocolate de uma garota uma vez, no fundamental. Que decepção. Minha vida amorosa é um fiasco.

— Sil, que cara é essa? Você ganhou um chocolate, não é o bastante? –disse me entregando um pacote -

—...

— Se não está feliz, posso dar a outra pessoa que queira receber chocolates! –ameaçou-

— Não é isso...  –suspirei- A vida é curta demais para ser feliz... É uma decepção... Um poço sem fundo...

— Haha! Não precisa ficar tão depressivo, é só dia dos namorados, ainda vão ter muitos dias dos namorados pra você receber chocolates, Silas! –ela deu tapinhas nas minhas costas-

— Haa... Com certeza...–forcei um sorriso-

            Eu odeio a minha vida de agora. Poderia ter vivido muito melhor como um bom garoto normal se não soubesse sobre certas coisas do mundo. Era melhor ter continuado acreditando que aquelas lendas eram somente lendas do que comprovar que eram reais. Odeio isso!

. . .

            Durante toda a aula da manhã, as garotas ficavam de cochichos umas com as outras, mandando bilhetinhos para seus paqueras, e dando sorrisinhos de garota adolescente apaixonada.

            Sinto tanta inveja destas pessoas que podem desfrutar de uma adolescência tão calma e normal. Seu eu pudesse voltar no tempo, não seguiria o professor, ignoraria a existência dele e a aura estranha que ele emana e talvez eu tivesse um futuro um pouco diferente.

. . .

No horário de almoço

. . .

—suspiro-

— Garoto Silas, por que está suspirando tanto hoje?-Alícia sorria animada como sempre-

— Por quê?-eu disse irritado- Já deu uma olhada lá fora?

— Hum? – ela olhou pela janela da sala do clube-

            A vista dava para a quadra de esportes da escola. Havia vários casais sentados, garotas dando chocolate na boca de seus namorados, algumas correndo atrás de algum garoto ídolo do colégio.

— Dia de São Valentim te incomoda?

— N-não.

            Respondi envergonhado, por que ela tem que ser tão direta? Como ela saca dessas coisas? Ela não parece do tipo que se importa com assuntos tão triviais.

— E você, já entregou seu chocolate a alguém? –perguntei desinteressado-

— Não. –respondeu simplista-

— Hã? Mas hoje é...

— Eu sei, é um dia muito especial... –disse com os olhos brilhantes-

— É dia dos namorados!

— Sabe o que isso significa...? –disse sorrindo com uma aura estranha-

— Que muita gente vai começar namorar...?

— Não seu tolinho! –ela riu de mim- Dia de São Valentim é um dia no qual os hormônios ficam a mil, as garotas estão mais frágeis e apaixonadas e mais fáceis de enganar, é por isso que é a chance perfeita para vampiros as seduzirem e tomarem o sangue delas!

— Hã? –eu estava descrente na explicação- Vampiros à luz do dia...?

— Eles estão espalhados por todo o colégio, de noite veremos quais as garotas que foram pegas na magia deles!

            A imaginação dela continua fértil como sempre. Não consigo deixar de me impressionar como tanta ingenuidade pode estar na mente de uma única pessoa. Lobisomens podem ser reais, mas... Vampiros...? Poupe-me! Existem lendas fantasiosas demais para ser verdade!

            E lá vai a presidente atrás dos “vampiros” da escola. Ainda tinha tempo até as aulas da tarde... O que eu devo fazer...?

. . .

No corredor da sala dos professores

. . .

            Eu estava passando em frente à sala dos professores quando vi pelo vidro um professor que parecia discutir com o Sr. Leonhard pelas caretas e gestos que fazia... Parei e fiquei olhando...

. . .

Do lado de dentro da sala

 . . .

— Isso é inadmissível, Sr. Graham! –o outro professor falava- O senhor é um professor, deve ser um exemplo! Não pode aceitar chocolates de adolescentes inconsequentes! –apontava para uma pilha de chocolates-

            O homem que falava era jovem, usava óculos, cabelos castanhos arrumados para trás, aspecto sério, olhos castanhos e usava um terno areia.

            O cenário era: na sala dos professores, havia várias mesas com alguns notebooks, papéis, e especificamente na mesa de Leonhard Graham, ao lado do computador, uma pilha de chocolates de um lado e uma pequena caixa do outro, como se fosse formar uma nova pilha ali.

— Gostaria de ressaltar que eu não aceitei isto. Apareceram aqui em minha mesa. – o lobo ajeitou os óculos falsos-

— Então se desfaça deles! Não pode se portar de forma tão irresponsável! Mostre que se deve ao respeito como um profissional! –pontou o outro no peito, com o dedo indicador-

— Não precisa ser agressivo, eu irei resolver isso... –disse calmo-

— Não! Deixe-me dar um fim a isto de um modo que possa entender!

            Passou o braço varrendo os chocolates da mesa e jogando-os bruscamente na lixeira...

. . .

Do lado de fora, alguns minutos atrás...

. . .

— Sil! Te achei! –Karen correu em minha direção - O que está fazendo aqui?

— Bem, eu estava passando e... –olhei através do vidro- Acabei vendo aquilo...

— Hum? O professor de matemática... Está discutindo com o Sr. Leonhard?

— É o que parece...

            Fiquei um pouco preocupado, sobre o que eles poderiam estar discutindo? E se o Sr. Graham ficar com raiva do professor de matemática e resolver matá-lo? Não quero nem pensar nisso!!

            Vi o professor de matemática fazer algo com a mão, mas não entendi o que foi porque a divisória de mesas tapava a visão. O Sr. Graham ficou olhando para baixo, como se algo dele tivesse caído. Sua expressão mudou um pouco, pareceu decepcionado com algo por alguns segundos, mas depois voltou à expressão fria, ainda olhando para baixo.

            O professor de matemática pontou o Sr. Leonhard com o dedo indicador, como se o ameaçasse de algo, e quando se virou, nos viu. Saiu da sala dos professores e nos lançou um olhar furioso de relance, foi embora sem mais explicações. Que mau humor.

. . .

— Podemos entrar...? –Karen bateu na porta, abrindo em seguida-

— Professor...? –entrei logo após ela-

Ele nos encarou sem dizer nada, não havia nada na expressão dele que exprimisse emoção. Queria saber ficar tão de boa como ele.

— O que aconteceu professor Graham? O outro professor estava furioso. –fez um olhar de preocupação-

            Karen é sempre tão gentil. Ela se preocupa muito com os outros, imagino se ela também se preocuparia assim se soubesse quem é Leonhard de verdade...

— Nada, apenas alguns problemas. –ele olhou para a lixeira-

— Nossa!! Sr. Graham! Tem um monte de chocolates aqui! –fiquei impressionado- Não sabia que era tão popular!

— Mas... Por que isso está na lixeira?

Ele ficou parado, nos encarando, como se não quisesse se dar ao trabalho de responder.

— Oh... –entendi o que aconteceu mais cedo- Ser popular te traz alguns inimigos...

— Que cruel! O Senhor recebeu tantos chocolates, jogá-los fora assim é muito cruel!

— Não posso aceitar esses presentes, como um profissional, além disso, eu não gosto de chocolate.

— Não pode acatar isso assim, professor! É uma ofensa! –disse indignada-

Até mesmo eu tive pena quando me lembrei dele olhando para aquela lixeira, acho que no fundo ele queria algum daqueles chocolates.

 – Não tem importância. –ajeitou os óculos-

— Espera, Sr. Leonhard, não pode desperdiçar chocolates assim! Eles são preciosos!

Eu me pronunciei indignado. Cá estava eu, decepcionado por não receber nenhum chocolate e o cara joga os dele na lixeira. Ah, faça-me um favor!

— Silas! –Karen me deu um puxão de orelha-

— Ele está certo... –ele se abaixou, pegou os chocolates que ocupavam a lixeira e pôs em cima de sua mesa- Não vou comê-los, podem distribuí-los para quem quiser...

— Não vai ficar nem com um? Isso que é desperdício! –encarei-o-

— Silas! – ela me beliscou- A-ah, nós vamos deixar um em cada banca da nossa classe, já que o Sr. é o nosso professor responsável.

— Ótimo, tirem isso daqui... –ajeitou os óculos, incomodado-

. . .

            Eu e Karen carregamos os chocolates e pusemos um em cada banca, inclusive nas bancas das meninas. Eu e ela, claro, pegamos cada um, um embrulhe colorido.

            Todos ficaram surpresos e felizes quando viram os embrulhes em cima de suas bancas, e lógico que a Karen deu todos os créditos ao nosso professor, dizendo que a ideia tinha sido dele. Todos o aplaudiram. Acho que ele conseguiu atenção o bastante por um dia, ao menos não vai ficar deprimido por não poder comer chocolates.

            E eu acabei lucrando, ganhei mais um chocolate! Abri meu embrulhe, era rosa, humpft! Típico de garotas apaixonadas. Mas... Que droga é essa...?

Olhei a caixinha por um minuto. Não era chocolate. Não tinham chocolates na caixinha. Tinham biscoitos dentro. E um bilhete com a seguinte mensagem:

“Hoje é um dia muito especial~ mesmo estando longe, eu gostaria de demonstrar que me importo com você Iss! Espero que não esteja se sentindo sozinho!

Sei que não gosta de chocolate, por isso eu fiz estes biscoitos! Espero que os tenha recebido!

De sua amada Ária”

            Devo comentar que havia uma marca de batom no bilhete. No entanto... “Iss”? Quem diabos é “Iss”? Quem tem um apelido desses? Acho que alguém entregou o pacote errado para o professor... Espera... Ele disse mesmo que não gostava de chocolate... Talvez alguma fã maluca tenha enviado?

            Não... Um momento... Será que “Iss” é algum apelido que alguma mulher que o conhece inventou...? E no final do bilhete diz “sua amada”, ele tem uma amante secreta? Com certeza isso não foi feito por alguma colegial doida, tem marca de batom! Caramba o professor tem uma namorada às escondidas! Sabia aquele cara tem pinta de quem guarda um monte de segredos, além do fato dele ser lobo, claro!

— Sil o que houve? Está com o rosto pálido...

            Karen sussurrou. Ela se senta ao meu lado, na última cadeira da fila vizinha. Isso facilita nossos diálogos nas aulas entediantes.

— K-Karen... –me assustei quando ela se aproximou, amassei o bilhete em minha mão- Não foi nada! –fechei a caixa com os biscoitos, deixando-a confusa-

. . .

            Após as aulas da tarde, corri para o clube, Alícia tinha que me ajudar a esclarecer isso. Eu prestei atenção e todos os outros tinham ganhado chocolates, por que só o pacote que peguei tinha que ser biscoitos? E Por que tinha um bilhete de alguma “amada” nele?

— Ora, se não é o vice-presidente do clube!

— Não me chame assim, ahh! –baguncei o cabelo- Tem algo que você vai adorar saber... É sobre o professor...

. . .

— Então alguma aluna mandou esse bilhete...

— Não sei quem foi, estava no meio dos chocolates que deram pra ele...

— Talvez o professor lobo tenha uma namorada e nós não sabíamos? –ela sorriu com a ideia- Á...ri..a –leu lentamente o nome ao final do bilhete, como se apreciasse a descoberta-

— Sim, e essa pessoa sabe até que o Sr. Leonhard não gosta de chocolate!

— Isso é perfeito! Vamos pesquisar~! -começou a teclar no computador-

— Pesquisar o quê? Se lobisomens se apaixonam?

— Não! Vamos pesquisar se tem alguma aluna no colégio com este nome, bobinho! –continuou sua busca-

            Algum tempo de pesquisa e nenhum resultado foi encontrado...

— Sabe o que isso significa, garoto Silas? –olhou-me sorrindo animada- Duas possibilidades: Ou esta pessoa não é do colégio e é um relacionamento que não sabíamos, ou essa Ária está usando um pseudônimo!

Eu ponderei. Alícia até que é inteligente, ela tem umas ideias bem boas de vez em quando... Mas eu ainda acho que tem algo a mais nessa estória...

— Não... Ela diz no bilhete que está longe do professor, não faria sentido se ela fosse daqui do colégio...

— Verdade... Então só nos resta uma opção... –encarou-me séria-

— Qual...? –engoli seco-

— Perguntar diretamente a ele, claro! –deu um sorriso vitorioso-

— Não! De jeito nenhum! Ele vai nos matar! Nós já sabemos do segredo dele, ainda por cima saber que ele tem um relacionamento, ele ficará furioso e nós não vamos viver por mais nem uma noite pra descobrir quem ela é!

— Você é um chato, vice-presidente! Não é como se ele fosse algum tipo de assassino! Só porque ele é um lobisomem não implica que seja perigoso!

            Aquela frase me fez parar e pensar. Eu sempre o considerei alguém perigoso, e ainda acredito nisso. No entanto, eu nunca o vi machucar alguém, ele não tentou me matar quando descobri seu segredo, também foi ele quem nos salvou no incidente com o homem com garras. Ele era mesmo a pessoa má que eu acreditava que fosse ou eu estava enganado?

. . .

            Na hora de voltar para casa, eu segui o Sr. Graham até o estacionamento. Ele me viu pelo retrovisor do carro e parou antes de entrar no veículo.

— Silas Belmont... O que quer?

— Professor... Quem é Ária?

            Num instante ele se virou para mim, com um impulso, e franziu o cenho, não de raiva, estava mais para revolta por eu conhecer o nome.

— C-calma! –gesticulei um pouco nervoso e amedrontado-

            Ele relaxou os ombros e a expressão que fazia, voltando à habitual frieza que sempre residia em sua face. E perguntou calmamente:

— Onde ouviu esse nome?

—... Não respondeu a minha pergunta... –arrisquei confrontá-lo-

— Silas Belmont, continua tentando me investigar? Creio que já sabe o suficiente, por que não me deixa em paz? Eu não lhe fiz nada e nem pretendo fazer, tudo que peço é que pare de tentar descobrir sobre minha vida pessoal, só quero viver pacificamente.

            Apesar de não usar um tom ameaçador, ele pareceu convincente sendo educado ao me pedir para parar de investigá-lo. Mas eu estava curioso demais para acabar com o questionário por ali...

— Professor, isso estava numa das caixas que as garota lhe deram... –mostrei a caixa- Tem biscoitos aí dentro, e tinha isso também... –coloquei o bilhete sobre a caixa- A pessoa que enviou isso o conhece e se intitula Ária... Conhece alguém assim?

            A expressão dele congelou ainda mais quando contei aquilo. Ele rasgou o bilhete bem na minha frente e amassou os pedaços jogando numa lixeira ali perto. Fez o mesmo com a caixa de biscoitos, jogou fora como se não fossem nada.

— Senhor...? –assisti à cena, abismado-

            Como ele pode ser tão vil para pisar nos sentimentos de alguém dessa forma, quero dizer, pelo que tinha no bilhete aquela pessoa não está por perto, mas mesmo assim fez questão de mandar algo pra que ele recebesse hoje...

— Não é da sua conta, não fique me seguindo por aí. –franziu o cenho, ajeitou os óculos e entrou no carro-

            Eu sabia. Ele é uma pessoa terrível afinal... Ou devo dizer, ele pode até querer viver pacificamente com humanos, como um professor comum, mas tem um péssimo caráter, não me agrado disso.

            Fiquei com muita raiva daquela atitude. Apesar de não conhecer essa tal Ária, sinto pena dela por gostar de um cara como ele. Ninguém merece isso.

. . .

— Sil, o que há com esse mau humor? Ainda chateado por não ter recebido chocolates?

— Karen eu me enganei... Pensei que o Sr. Leonhard pudesse ser uma boa pessoa, mas ele é um homem terrível no fim das contas...

— Do que está falando Sil? –ela parou de caminhar-

— Hum... Nada... –disse disfarçando- Só pensei alto! –sorri- Que tal irmos ao cinema amanhã? Tem um filme ótimo em cartaz é sobre... –distraí-a com a conversa-

            Ela continuava curiosa para entender por que eu havia dito aquilo, mas disfarcei falando de outros assuntos...

. . .

            Oi. Eu me chamo Karen. Tenho um grande amigo de infância que coincidentemente estuda na mesma escola que eu, é o Silas Belmont. Ele é um bom garoto, mas às vezes me sinto preocupada com suas atitudes.

            Ah! É! Eu faço segundo ano agora, a classe 2-B. Nossa professora responsável ficou bem doente ano passado e este ano, foi substituída por um professor novato que veio do estrangeiro.

            Ele é uma pessoa calma, fria e centrada. Muitas garotas mantêm sua atenção voltada para ele por sua aparência, e ele é de fato muito bonito, mas não foi isso que me chamou a atenção nele.

            Sim, desde que ele entrou pela porta da sala, senti algo diferente, algum tipo de aura, ou seja lá como prefira chamar. O que me atraiu foi a solidão que esse homem parece carregar nos ombros.

            Nunca o vi sentar para conversar com algum amigo, não fala mais do que o necessário e está sempre vagando sozinho pelos corredores. É um ótimo profissional, dedicado, isto me faz pensar se ele tem vida pessoal...

            Ah, é... Meu amigo, o Sil (acho esse nome muito fofo) parecia não se dar bem com o professor no começo, mas estes últimos dias sinto que eles estão mais próximos. Eu disse para que ele se esforçasse para se tornar um bom amigo, hehehehe!

            O Sil entrou para um clube, a líder e uma garota esquisita da nossa sala. Ele me disse que era o clube de ocultismo e sempre critica isso, mas todas as tardes ele tem constantemente ido lá. Será que ele percebeu? Bem, parece um lugar divertido, a presidente do clube sempre me convida, mas Silas me pede para não ir, ainda assim, talvez eu entre algum dia. É bom tentar coisas novas.

            Ah! Ontem foi o dia de São Valentim, era para ser um dia especial, mas aconteceu algo horrível... Como eu disse antes, o Sr. Leonhard é bastante popular com as garotas, por isso ele ganhou um monte de chocolates hoje...

            Eu e Sil estávamos em frente à sala dos professores e vimos o professor de matemática discutindo com nosso professor, Sr. Graham. Quando fomos ver o que havia acontecido, descobrimos que o outro professor tinha jogado fora os chocolates do prof...

            Eu me esforcei tanto para fazer Sil e o Sr. Graham ficarem amigos para que ele não se sentisse sozinho, e agora isso acontece...  Silas disse que não devíamos desperdiçar os chocolates, tive a ideia de distribuí-los para nossa sala e disse que foi o professor que teve a ideia! Todo mundo aplaudiu e adorou, disseram que ele quebrara a tradição do “garota dá chocolate para garoto” foi algo inovador e bem legal!

            Fiquei muito feliz, espero que ele tenha ficado feliz também... Nunca o vi sorrir... Imagino se seremos capazes de contemplar o sorriso do Sr. Graham algum dia...

            Sil disse algo estranho, como se não gostasse do professor hoje na volta para casa... Aquilo me preocupa... Será que a amizade deles está se desfazendo? Espero que não...

            Nós vamos ao cinema hoje, eu e meu amigo. Meus pais ficaram preocupados porque iremos pegar a sessão das nove, que acabará às onze. É um filme de lobisomens que o Sil escolheu ele tem estado estranhamente fixados nessas coisas de uns tempos pra cá...

            Ah é, nem contei ainda, mas fui atacada por bandidos uma vez que estava voltando sozinha pra casa, o Silas apareceu e tentou me ajudar, mas não lembro bem o que houve porque desmaiei... Meus pais me disseram que o professor Leonhard nos trouxe para casa, a mim e a meu amigo... Tentei perguntar o que aconteceu, mas prefiro não lembrar, deve ter sido algo terrível para eu esquecer assim, por isso apenas agradeci ao professor!     

. . .   

No cinema

. . .      

Silas estava incomumente atento ao filme, parecia até que acreditava na história e se aterrorizava de verdade quando via cenas sangrentas. Achei mais interessante ver as caras e bocas dele do que assistir ao filme.

            E às onze e meia da noite, lá estávamos nós saindo do cinema. Recebi umas vinte ligações da minha mãe, mas não atendi. Liguei para ela só pra dizer que já estávamos saindo do cinema, a caminho de casa e que não havia necessidade de preocupação.

            O centro da cidade é mesmo um ótimo lugar... Aqui tem cinemas, lojas, parques, museus, e muito mais! Pena que é tarde para dar mais uma volta. O bom de tudo é que podemos ir a pé para casa, apesar de que deve demorar quase uma hora... Eu não ligo! É ótimo caminhar com a brisa gelada da noite.

. . .

Enquanto isto, numa rua um pouco distante do centro...

. . .

            Leonhard Graham falava ao celular. Estava recostado em uma parede, sob a luz de um poste de rua.

— Como eu disse, ela enviou um presente e até deixou um bilhete...

[Isso é ótimo, significa que ela gosta muito de você!]

— Não Illiel, é imprudência! –dizia com irritação na voz-

[Ora, ela só quer estar perto de você, e como não dá a devida atenção, é óbvio que ela fará de tudo para conseguir um pouquinho.] 

— Não sei como ela consegue, não disse para onde estava vindo, ainda assim ela me descobriu.

[Já te disse que você é um canalha? Como pode fazer isso com a pobre Ária?! Está louco?! Não sei como ela ainda te quer!]

— Eu disse para que ela ficasse longe daqui... Mas ela nunca me escuta... E agora está me criando problemas de novo!

[Não diga isso! Se falar mal dela de novo, juro que vou aí te dar um soco!]

— Ela é muito inconsequente... Ainda não entendeu Illiel? Se ela vier aqui vai atrapalhar minha investigação...–massageou a têmpora-

[Não te entendo. Sei das circunstâncias que vocês dois estão envolvidos, mas devia ao menos se preocupar um pouco com ela, não acha?]

— Eu já fui claro o suficiente. –franziu o cenho- Me importo com o distúrbio que ela pode causar se vier até aqui... Será um problema para mim se acabar estragando minha busca... Não a quero por perto. Ponto final.

[Se não a quiser, me dê, eu quero uma mulher assim seu babaca! Tem muita sorte sabia?! Ah! Não adianta discutir contigo]

— Preciso saber o que ela planeja...

[Sim, sim, eu vou pesquisar isso pra você, mas vou logo avisando, pelo que conheço é bem capaz dela já estar...]

— Não termine esta frase... Só descubra e me diga... Obrigado novamente pelo favor...

[Ah! Eu não sei por que ainda ajudo um cara como você. Eu mereço...]-desliga o celular-

            Desencostou-se da parede, guardou o celular no bolso da calça, pôs as mãos no bolso e começou a andar.

. . .

            Sil e eu ainda estamos no caminho de casa. Estamos andando na beira de uma avenida não muito movimentada. É uma larga e grande avenida, mas não tem carros passando por aqui essa hora, já é mais de meia noite.

            Todos estão dormindo em suas casas, para poderem acordar cedo e bem dispostos amanhã, é uma sexta, muita gente trabalha amanhã, no sábado. Pena que não é feriado. Tem aula amanhã também, mas só de manhã, diferente dos outros dias. Ainda assim, queria poder dormir mais no sábado. Aposto que o Sil vai dormir durante toda a aula, hehehehe.

            Começamos a andar no meio da pista, brincando de andar na linha branca que a divide. Acho que o sono já está afetando nossos cérebros. Bah, quem se importa? É divertido!

            Huh? Tem alguém vindo ao longe. Uma só pessoa andando no meio da pista também... Quem será a essa hora...?

            Ah! Eu conheço essa pessoa...

— Sr. Graham? –disse estranhando a presença dele-

— O que faz aqui, professor? –Sil também fez uma expressão de quem estranhou-

— Nada.

            Ele é sempre tão direto em suas respostas. Às vezes isso me incomoda, pois sinto como se ele estivesse evitando falar muito, tentando esconder algo de nós.

— Nada? Numa sexta-feira, mais de meia noite, numa pista vazia, e não está fazendo nada? –Silas não tem sutileza para rebater em discussões-

— Sil... –belisquei-o de leve-

— Só caminhando. Não consigo dormir. –completou-

            A noite estava um pouco fria, mas o ar em volta do professor era ainda mais gélido. Imagino se não é ele próprio que tenta afastar as pessoas ao invés delas se afastarem dele...

— O que fazem aqui? –perguntou ajeitando os óculos-

— Nós fomos ao cinema! –respondi antes que Silas o atacasse com palavras de novo- A sessão acabou tarde, estávamos voltando para casa.

O professor  olhou para trás de nós, depois nos encarou sério.

— É perigoso andar a esta hora da noite. Para a calçada. –ele tocou nos nossos ombros e nos empurrou de leve até a calçada-

            Começou a andar na mesma direção que nós, acho que significava que iria nos levar para casa. Pouco depois de irmos até a calçada, atrás de nós, lá no fim da avenida, um carro vinha rapidamente.

            Tive um arrepio quando o vi correndo tão velozmente, algumas pessoas tem mania de acelerar ao máximo em avenidas só por pensarem que estão vazias, é por isso que alguns acidentes de carro acontecem a essa hora.

            Estávamos andando tranquilamente e conversando, até que ouvi o barulho do pneu friccionando fortemente na pista, quando olhei para trás aquele carro estava bem perto de nós. Meus olhos se arregalaram.

            É uma sensação aterrorizante. Meu corpo não se move. Tudo está em câmera lenta, mas meu corpo não se move. Eu quero sair daqui, se eu ficar vou ser atropelada, eu quero me mexer!  

 

Vou morrer! Vou morrer! Vou morrer! Acabou pra mim!

. . .

            Não pude fechar os olhos. Estava muito chocada para fazê-lo. Assisti a toda à cena.

No momento em que nos viramos, e vimos o carro a alguns metros de distância, Silas e eu ficamos paralisados de medo. O professor instintivamente nos empurrou (um com cada mão) para longe, e ele aplicou tanto força que fomos parar quase na metade da pista, meu ombro provavelmente deve estar machucado, mas não consegui sentir a dor por causa da adrenalina.

O pior sucedeu após estarmos caídos na pista. Eu me levantei rápido, sem fechar os olhos e vi o carro desviando para o lado, como se tentasse não atingir o professor. Em câmera lenta o carro acabou atingindo o Sr. Graham...

Meus olhos acompanharam a tragédia. Vi o carro frear após a colisão com o professor. E o corpo dele voou pelos ares, passou por cima de nós girando. Ouvi alguns sons esquisitos...

Craack, crack, crack...

 

            Que som é esse? Algo quebrando? O que está...?

            Meu raciocínio não acompanhou o acontecido, me virei para trás, para ver onde ele havia caído. Estava um pouco longe de nós, mais pra lá da pista.

            Não me importei nem em olhar o carro que fez isso, saí engatinhando até onde o Sr. Graham estava, cheguei até perto, mas não tive coragem de continuar quando vi o estado dele. Senti algo molhado na palma da minha mão que tocava o chão...

. . .

Um grito estridente ressoou. Era eu. Não sei como uma voz tão alta pode sair da minha garganta, mas eu simplesmente não me controlei.

            Não consigo, não consigo olhar! É mentira, mentira! Não pode ser real uma cena dessas acontecer bem na minha frente! Não quero ver isso!!!

            Isso dói. Meus olhos estão ardendo, as lágrimas não param de cair, estão embaçando minha visão.  Levantei a cabeça para não olhar o chão, não quero ver essa cena horrenda. Tem alguém se aproximando de mim, não sei quem é minha mente não identifica.

— K-Karen! –chamou meu nome, essa voz é do Silas...- Karen, tenha calma... Fique aqui, eu vou...

— Chame uma ambulância, o professor vai... Chame uma ambulância!! –eu gritava descontrolada-

— Karen... –ele olhou para trás, onde estava o corpo- O Sr. Leonhard...

            Não quero escutar isso! Não quero escutar isso! Por que alguém tem que morrer bem na minha frente? Não consigo aceitar, isso é muito vil.

            Eu continuei chorando desesperada ali, sentada no meio da pista. Silas segurava nos meus ombros, não sei se estava dizendo algo, não conseguia ouvir mais nada naquele momento.

. . .

            Silas me sacudiu pelos ombros. Abri os olhos finalmente, ele estava de joelhos. Olhei por cima dos ombros dele, apesar de minha vista estar embaçada eu podia ver o vermelho do sangue que saía do corpo do professor Leonhard.

            Porém, no segundo seguinte, meus olhos se abriram completamente com o que eu vi...

— P... Pro... –levantei meu dedo indicador com a mão tremendo e apontei por cima dos ombros de Silas-

— O que foi?

— P... –a palavra não saía-

            Silas olhou para trás e pôde enxergar o mesmo que eu... O corpo do professor Graham se levantando e olhando em nossa direção.

Eu gritei de novo. Como minha garganta pode suportar?

. . .

Naquele dia foi que eu entendi que o nosso professor, não era humano.


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Notas finais do capítulo

E aí, acharam impactante o bastante? Quem será essa mulher que enviou o bilhete ao professor? E o que vai acontecer ap´so esse acidente? será que os alunos do professor lobo irão tratá-lo de mesmo modo de antes? Divirtam-se ^,^