Aquele Professor É Um Lobisomem escrita por Lady Pompom


Capítulo 17
Capítulo 16:Noite de Lua Cheia parte 1 -Fragmentado-


Notas iniciais do capítulo

Essa história não tem relação alguma com qualquer fato, acontecimento ou pessoas da vida real. é uma obra de ficção com fins de entretenimento.



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Naquele tempo eu ainda não sabia como aquela semana poderia mudar tanto... Antes estávamos tão felizes naquela mesa, jantando juntos, eu poderia jurar que aqueles momentos inesquecíveis durariam por muito tempo... Eu estava terrivelmente enganada ao pensar que aquelas lembranças efêmeras poderiam se consolidar em um futuro alegre... Então devo começar daquele dia, pois aquele foi o segundo evento que marcou nossas vidas antes da grande ocasião...

Tudo se iniciou a lua cheia... E não importam quantas vezes eu me lembre disto, o sentimento de que as mudanças se fincaram em nossas vidas naquele tempo continua sendo mesmo... Sim... Foi por causa disso que eu e Silas nos tornamos assim...

            Eu ainda lembro como se fosse hoje...

. . .

Dia 25 de maio,

. . .

            Hoje está ensolarado, apesar dos últimos dias de maio estarem sempre nublados e chuvosos... Um bom presságio, talvez?

 Um dia bonito assim me lembra das flores na casa do professor. São lindas! Eu pensei que a Ária quem cuidava daquelas azaleias rosa, mas parece que é ele quem cuida delas... Hehehe, não sabia que o professor gostava de plantas... Muito menos uma tão romântica!

            A Senhorita Ária passou a semana toda inventando desculpas para manter o professor em casa são e salvo, mas hoje é uma lua cheia, talvez ela o deixe sair...

            A Alícia tem estado mais esquisita do que nunca esses tempos. Já desisti de tentar compreendê-la, é muito complicado... E aquele caçador que ela chamou aparece vez ou outra na sala do clube. Se o Sr. Graham se encontrar com ele, teremos problemas... Ela tem noção disso, não tem?

            Silas também ficou igualzinho à presidente do clube. Acho que passou tempo demais com ela... Semana passada, eu acordei no meio da noite e não conseguia dormir, fui olhar o céu pela janela do quarto e acabei o vendo fugir de casa pela janela... Depois disso, outro dia aconteceu à mesma coisa, quando eu acordei no meio da madrugada e olhei para conferir, ele estava saindo de novo, e desde então suas saídas se tornaram frequentes... Não sei o que ele anda fazendo, mas para sair escondido assim, ele não quer que ninguém saiba, e acredito que é porque está fazendo coisas perigosas... Isso me preocupa... Deveria segui-lo...? Imagino se é o certo a se fazer...

. . .

            E na madrugada daquele dia 25, sob a luz da lua cheia, eu esperei até que Silas saísse novamente de sua casa. Eu poderia segui-lo e descobrir aonde ele iria, porém, não seria justo... Ele esteve escondendo de mim, mas é claro que não posso fazer tudo às escuras como ele, se há algo que eu quero saber, seria melhor perguntá-lo cara a cara. Então eu acreditei que seria melhor encurralá-lo, por isso eu apareci bem em frente à ele, quando ele menos esperava, bem na porta da casa dele para pressioná-lo a falar tudo que estava acontecendo e o que significavam estas andanças noturnas que ele fazia.

Aonde pensa que vai, Silas?

— K-Karen... –ele assustou-se-

. . .

No dia 25,

Horas atrás...

. . .

            Silas Belmont estava sentado em sua banca no colégio, com o queixo apoiado em uma das mãos, olhando o lado de fora através da janela ao seu lado, sonhando acordado. Ele espreguiçou-se lentamente e bocejou, sonolento. O sol se mostrava no céu, espalhando feixes de luz que alcançavam a banca e o rosto do garoto.

— Sil... –a amiga chamou-o uma vez-

“Ultimamente tem sido assim... Porque eu saio todas as noites eu acabo ficando com sono no colégio... Não que seja tão diferente dos meus dias normais, quando eu jogava videogame, a única diferença é que estou utilizando meu tempo de forma mais útil... ”

— Sil.

“Me sinto um criminoso por me esgueirar por aí durante as noites, mas é necessário, para um bem maior! Sim, eu decidi que iria ajudar a Alícia com o clube, e também decidi ajudar o professor! Exatamente por esse motivo que eu preciso descobrir sozinho onde está aquele caçador e também... Eu gostaria de seguir a Alícia e aquele tal Sanmoto ao menos uma vez... O que eles tanto tem feito na cidade...?”

Sil!—Karen chamou pela terceira vez, retirando o garoto de seus pensamentos-

— A-ah! Desculpe... Você estava aí há muito tempo? -ele ajustou-se na cadeira para encarar a menina de braços cruzados à sua frente-

— Não... –ela franziu o cenho com certa irritação- Poxa, Silas! O que tem de errado com você?! Desde a semana passada não presta mais atenção nas aulas, vive dormindo e nem nos seus amigos você presta mais atenção! E nem me diga que é o videogame, eu sei que isso não é culpa dos jogos! –jogou a torrente de reclamações sobre o garoto-

— Ah... –ele gesticulava tentando acalmá-la- Desculpe... Eu estou com... Insônia...

Ela aliviou a expressão, preocupada, quase acreditando na mentira dele:

— Isso é verdade?

— Sim.–respondeu um pouco nervoso, sem desviar o olhar- Eu estou tendo alguns problemas para dormir, acho que meus horários de sono estão desconformes...

— Hum... –a menina olhou com leve desconfiança- Tente dormir mais cedo hoje...

— Sim...

— Mas mudando de assunto, não vai à sala do clube? Alícia deve estar por lá agora, já que estamos no intervalo...

— Sim, claro...

            E o garoto seguiu a menina, em direção ao clube de ocultismo, onde sua líder e o suspeito caçador estavam.

— Ei... –suspirou Silas- Alícia, não pode ficar trazendo ele para a escola, se nos pegarem vão...

            O vice-presidente tentava inutilmente convencer sua presidente de que não podiam trazer um caçador estrangeiro suspeito para a escola como se fosse seu bichinho de estimação, porque era contra as regras.

— Não se preocupe, ele está preparado para correr se alguém vier aqui! –ela deu um sorriso confiante-

— Se a Milady assim desejar... –o caçador confirmou determinado com a cabeça- Não há necessidade de se preocupar Milorde Silas, eu tenho habilidades para uma fuga eficiente.

— Bem não é esse o problema aqui sabe...

            O garoto estava incrédulo ao ouvir as palavras do caçador. Sua presidente era uma pessoa extraordinária que conseguia juntar pessoas tão esquisitas quanto ela ao seu redor. E ele mais uma vez se perguntava mentalmente porque havia se juntado aquele clube.

. . .

            Ao fim das aulas, o garoto disparou imediatamente para casa, despedindo-se bem rápido dos colegas de classe. Karen, sua vizinha, estranhou a pressa do menino. O que poderia ser tão importante para que ele corresse para casa?

            Silas não queria perder tempo, iria se organizar para mais uma jornada na noite como todas as outras que havia feito, em busca dos vultos que assombravam aquela cidade ameaçando a paz do lugar e a vida de seu professor. 

            Passou o resto de seu tempo arrumando uma mochila, analisando as áreas da cidade que havia investigado e a próxima área que deveria investigar. Pelo que havia visto do mapa na sala do clube, formulava onde sua busca se iniciaria. Já havia ido a todas as áreas circuladas de vermelho, exceto uma... Os galpões. Sim, ele planejou deixar esta por último, porque tinha o pressentimento de que seria o mais problemático dos lugares.

“Parece que a Ária está mantendo o professor em casa por causa o que aconteceu... Por isso durante toda a semana eu tive noites tranquilas de investigação, mas se o professor sair de casa e me vir no meio da rua, ele ficará preocupado... Não sei se ele sairá hoje, é uma lua cheia afinal...”

            Ele chacoalhou a cabeça, tentando se livrar dos pensamentos que o distraiam de seu foco.

“Mesmo que o professor saia, não posso pausar minha investigação agora! Eu irei descobrir o que está acontecendo nesta cidade, com as pistas que Alícia deixou naquele mapa!”

“Visitei todos os locais chave... Eu entendi que os ataques que estavam ocorrendo eram para transformar pessoas em vampiros... Contudo, qual o objetivo em transformá-las? Apenas um vampiro se alimentando? Não é o que me parece... Tem algo grande por trás destes acontecimentos, porém, ainda é muito enevoado para conseguirmos compreender... Eu tenho que descobrir o que é!”

            Ele esperou pacientemente até a madrugada, no mesmo horário que havia saído outras noites. Quando chegou a hora, pegou a mochila, uma corda que comprou recentemente, amarrou na sacada e jogou para baixo, descendo do primeiro andar.

“Pronto! Agora é só voltar antes do amanhecer, antes que meus pais acordem... Isto é... Se eu chegar vivo em casa... Com tantas criaturas perigosas por aí, e do jeito que eu sou azarado... bem não que alguma casualidade tenha acontecido nestes dias que saí, mas nunca se sabe! Tenho que estar sempre preparado para o pior!”

            Bastou dar dois passos em direção ao portão para sair da casa, Silas pôde visualizar alguém parado em sua porta, e apesar de ser noite, o poste de luz iluminava a calçada e a pessoa que estava ali, de braços cruzado com o cenho franzido:

Aonde pensa que vai, Silas?

— Ka-Karen... –ele assustou-se-

“Essa não...! Logo agora... Ela me viu saindo pela janela?”

— Bem, eu... –disse nervoso, sem encontrar palavras para explicar-se-

— É bom que tenha uma ótima explicação para o que está fazendo mocinho, eu posso ficar com muita raiva dependendo do que disser... –ela estreitou os olhos, forçando o garoto a contar tudo-

— Eu... Erm...

— Não adianta mentir, tenho certeza de que não é culpa da sua insônia e você não é sonâmbulo! –ela aproximou-se, encarando-o de perto- Pensou que poderia esconder as coisas de mim por muito tempo? Não pode fingir que está tudo bem pra sempre! Eu quero a verdade!

            Embora as palavras da menina fossem duras, ela hesitava em seu coração, pontado a cada vez que ela pronunciava uma frase de acusação contra o amigo de infância. Mas era algo que precisava ser feito, antes que uma tragédia acometesse a vida do garoto e ela acabasse envolvida também.

— Ah... –ele suspirou desistindo de inventar desculpas esfarrapadas- Eu estou investigando algo na cidade...

— In... –a menina ficou confusa- Investigando?

— Sim...

            Ele explicou parcialmente o que estava fazendo, obviamente omitindo detalhes importantes, como o fato de sua fonte de pesquisa ser os documentos na sala do clube ou que suspeitava que o lugar mais problemático fosse os galpões... Omitiu o fato de Alícia quase ter sido morta e sobre as recentes aventuras noturnas da líder.

— Estava envolvido em algo perigoso assim? –Karen fez uma expressão triste- Por que não contou antes...?

— Sinto muito, eu não queria que você se envolvesse... Tem muitas coisas que eu preferiria que você não soubesse...

— Silas, Por quê? –perguntou aflita-

— Karen, este mundo o qual nos envolvemos é muito perigoso para nós dois. Alícia sempre mergulhou de cabeça, mas você era a que menos se interessava pelo clube... –ele baixou o olhar, com uma expressão angustiada-

— Eu tenho meus motivos para estar investigando isso... E sou o vice-líder do clube, então é meu dever fazer isso de qualquer forma... Mas Karen, você não precisa se envolver mais... Eu escolhi sozinho que queria fazer parte desse mundo mesmo que ele seja perigoso porque eu queria proteger esta cidade e as pessoas que eu amo, mas... Se você continuar, sua vida vai estar em jogo também...

— Eu sei que só por conhecer o professor podemos ter problemas, mas se você não fizer nada a mais, eventualmente poderá ter uma vida normal... Então, por favor, volte para sua casa agora e fique fora disso... É meu trabalho.

“Silas... Você pode expressar suas palavras com tanta convicção... Mas... Eu também... Se eu voltar agora...”

            A voz do garoto implorava num tom embebido de preocupação. Mas a resposta não foi a que ele esperava ouvir. E mais uma vez, a garota contrariou as expectativas dele:

— Não. –disse firme-

— Não? –ele ficou sem ar-

— Não.  –repetiu ainda com a voz firme- Silas, eu agradeço sua preocupação, sei que suas intenções são as melhores, no entanto, me interpretou mal se acha que eu vou ficar sentada enquanto todo mundo está lutando par acabar com esse caos! –uma expressão de consternação e indignação tomou o rosto da menina- Eu sei que você e a Alícia vivem escondendo tudo de mim, que devem ter passado por situações perigosas, o que está tentando fazer é nobre, mas eu não aceito ser protegida! Me recuso a dar a meia volta e ir para casa como uma covarde quando vocês estão em campo se arriscando!
— Mas-ele foi interrompido-

— Eu ainda não terminei! –ela disse alto- Tem muito acontecendo nos bastidores da cidade, os vampiros, aquele caçador que machucou o professor, eu sei que é algo grande, e que como humana eu provavelmente não serei capaz de ajudar muito, ainda assim, eu quero lutar! Eu também sou uma participante do clube de ocultismo! Quero proteger pessoas importantes para mim da mesma forma que você! Não me impeça de agir como desejo só porque se preocupa, tente imaginar como eu me senti quando vi você fugindo pela janela do quarto todas aquelas noites!

“Ela viu das outras vezes também...?!”

            Silas ficou sem palavras, era a primeira vez que ele via Karen demonstrar tanta firmeza na fala, e mesmo que não fosse típico dela, o havia deixado sem palavras. Não podia ir contra os sentimentos que a menina emanava enquanto dizia tudo aquilo. Não tinha forças para combater.

Ele teve empatia por as emoções dela. Quando ela falava sobre como gostaria de ajudar, mesmo não sendo de muita utilidade. Não fora assim que ele se sentira todas aquelas vezes que se envolvia nas mais perigosas situações com vampiros e lobisomens?

— Se você vai investigar, deixe-me ir com você, como um membro do clube do ocultismo! É o nosso dever, certo?

“Mesmo que eu queira proteger a Karen ela não irá mudar de ideia agora... Não há nada que eu possa fazer... No fundo, eu também...”

Ele torceu o cenho em desgosto com a ideia, mas cedeu receoso, sentindo que não tinha a autoridade nem direito de impedi-la.

— Tudo bem... Mas se a situação ficar perigosa fuja, por favor...

            E pela primeira vez a garota esboçou um sorriso, aliviada em ter convencido o amigo.

— Certo!

— Agora vamos, nosso destino são os galpões próximos ao porto!

            E os dois jovens iniciaram a trilha noturna ao destino desejado, enquanto, em um lugar distante dali, outra cena acontecia, na calada da noite...

. . .

Na casa de Leonhard Graham,

. . .

            O homem de cabelos negros andava em direção à porta, na intenção de sair de sua casa e vagar pela cidade, em busca de pistas sobre os objetivos do vampiro que fazia alvoroço nos bairros...

— Isshvan.

Uma voz feminina o chamou. Ele virou-se para trás, para fitar a mulher que aparecera ali na sala de sua casa:

— Vai sair hoje...? –ela perguntou séria, encarando o noivo-

O homem virou o rosto na direção da porta novamente e andou alguns passos, colocando uma das mãos no trinco, iria prosseguir e girar o trinco, mas parou a ação antes de completá-la e respondeu:

— Eu irei procurar o Silver...

            Ele não ousou virar-se para ver a expressão da mulher, mas ouviu um suspiro cansado vindo dela, e depois ouviu os passos dela se aproximando, até que ela parou ao lado dele, com um sorriso no rosto, perguntando:

— Por onde vamos começar?

— Ária...

— Pra um cabeça-dura como você que vive andando imprudentemente, eu preciso ser uma boa guarda-costas, não é? Se eu te enfurnasse em casa por mais tempo você iria fugir mesmo... –ela deu tapinhas no ombro dele- Agora vamos, você está em boa forma hoje!

            E o jovem casal também seguiu rumo, para mais uma noite de investigações pela cidade.

. . .

Em alguma rua da cidade,

Num bairro qualquer,

. . .

            Uma terceira situação acontecia aqui, e embora as três duplas estivessem separadas, o objetivo de investigação era o mesmo; E aqui estavam Alícia e Sanmoto, em mais um dia de caçada pela cidade.

— Este foi o último... –o caçador respirou fundo embainhando a espada-

— Será mesmo...? –Alícia observava o cadáver do vampiro recém-transformado no chão, reflexiva- Daquela vez nós também pensávamos que havia acabado, mas no dia seguinte saíram mais notícias sobre pessoas atacadas na escuridão... E eles se tornaram vampiros...

— Milady, quer continuar a caçada, mesmo sem saber se existem mais alvos? –o caçador a fitou preocupado-

— Me desculpe por dá-lo tanto trabalho, sei que não temos certeza, mas... Eu estou com um mau pressentimento... Sinto que algo muito ruim vai acontecer hoje... Meus sensores do oculto estão faiscando!

— A Milady nunca erra... –o caçador assegurou com a cabeça-

— Então, vamos? –ela sorriu-

— Sim!

            E mal sabiam eles que uma coruja os observava, do alto de um prédio, com os olhos vermelhos cintilantes, vidrados nos mínimos movimentos que faziam.

. . .

Longe dali,

Nos galpões,

. . .

            Raphiel, o vampiro, estava no teto de uma das construções abandonadas, de olhos selados, sentindo os ventos noturnos e os presságios que eles sibilavam em seus ouvidos, num estado de concentração prolongada. Ele lentamente abriu seus olhos que também incandesciam num vermelho vivo em meio às trevas da noite.

— Entendo... Eles estão naquela área e acabaram com aqueles humanos transformados... –disse num sussurro- Eu gostaria de finalizá-los o mais rápido possível, mas primeiro tenho que cuidar do outro empecilho, o lobo... Eu não o encontrei durante as últimas noites, nem sei onde ele se esconde... Nem mesmo meus “olhos” conseguiram vislumbrá-lo... Seria bom se eu o encontrasse logo... Apesar de que seria ruim se fosse hoje, já que é uma lua cheia...

— Imagino se o Lucci já encontrou aquele lugar... De qualquer forma, devo me mover, quem sabe que tipo de surpresas a noite reserva... –sorriu com um ar maléfico-  

E o vampiro sumiu num segundo, sem deixar vestígios, se camuflando nas sombras da noite.

            As peças do evento prestes a acontecer estavam todas reunidas, bastava que apenas uma delas cruzasse caminho para que toda a noite se transformasse num completo caos. E foi exatamente o que aconteceu, não muito tempo depois da cena acima descrita...

. . .      

            Nas ruas escuras da cidade, Isshvan corria velozmente pelas largas estradas asfaltadas, enquanto a noiva o seguia, a alguns metros de distância, atrás dele.

No céu, algumas nuvens escuras ameaçavam fechar o tempo e lançar chuva sobre o perímetro civil, mas a lua ainda podia ser vista brilhante, bem no alto do céu.

— É impressionante, mesmo não tendo se transformado, ele consegue correr tão rápido! –ela sorriu- A lua cheia influencia mesmo nos poderes de um lobisomem!

            Isshvan parou de correr e passou a fitar o nada, com uma expressão raivosa. Ária também parou, logo depois dele, franzindo o cenho, olhando discretamente os arredores. Havia alguma ameaça ali. A presença de um transeunte não desejado.

“Um inimigo logo agora? Quem será...?! O Silver ou...?”

            Ela ouviu alguém lentamente batendo palmas, e um vulto foi saindo da escuridão. Um homem com um sorriso cínico de pura maldade, que se mesclava com as sombras da noite com os trajes negros que usava, deixando à mostra seus brilhantes olhos vermelhos.

— Devo cumprimentá-lo, -disse cessando as palmas- Eu pensei que estava tendo discrição, mas conseguiu me descobrir em um segundo... Suas habilidades durante uma lua cheia não devem ser subestimadas...

            Sem esperar um encontro tão inusitado, o vampiro felicitou-se por ser abençoado pela sorte naquela noite. E logo pouco tempo depois que ele falava.

— O que quer conosco? –Ária fez uma expressão de raiva-

— Calma, Senhorita mestiça... –ele lançou um olhar sobre a mulher e depois focou a atenção no homem que o encarava árido- Não é todo dia que tenho uma oportunidade assim, de ver uma criatura tão magnífica, não é verdade?  

“Surgir em uma ocasião como esta é um problema, as habilidade deste lobo estão em seu máximo, mas não creio que terei outra chance como esta... Talvez seja hora de brincar um pouco...”

— O que quer nesta cidade, vampiro?-o professor perguntou apreensivo-

— Humpf. Mas que homem sem modos, indo direto ao assunto de forma tão brusca... –ele balançou a cabeça negativamente- Mas não acho que deveria esperar cortesia vinda de um lobisomem...

— Pare de enrolar! –Ária quem disse entredentes, impaciente com o balbuciar do vampiro- Por que está nesta cidade?!

— Eu deveria perguntar o mesmo... O que um lobisomem e uma mestiça fazem se tentando se misturar aos humanos?

O sorriso desapareceu do rosto de Raphiel e seus olhos analisaram as expressões dos dois oponentes:

— Não pretende responder, Senhor lobo? Pois eu também não... –o vampiro franziu o cenho-

. . .

Enquanto isso,

Não muito longe dali, nas ruas da cidade...

. . .

            Mais uma vez minhas investigações continuam. Eu, a líder do clube de ocultismo conseguiu finalmente, com a ajuda de um caçador profissional, eliminar as criaturas que deturpavam a paz da cidade, contudo, isto ainda não é o fim.

            Há um mentor por trás dos vampiros servos que estivemos atacando, e é certo que ele trama algo grande por as redondezas. Da última vez, quando eu quase morri, ele se revelou para mim, agora ele deve estar provavelmente escondido nas sombras, pode estar até nos observando sem que o notemos, vampiros não são uns especialistas nisso?

            O importante é que nós conseguimos acabar com o pequeno “exército” que ele havia criado por algum propósito, e não creio que ele ficará feliz com isso, então eu gostaria muito de ver que tipo de reação ele terá... Antes ele me disse que não gostava de sujar as mãos, quero ver se ele terá escolha a não ser vir e fazer o serviço ele mesmo, hehehehe. O perigo realmente me instiga. Mas não é hora de me animar! Temos muito trabalho pela frente!

— Milady, não encontrei nada... –o caçador disse cordialmente-

— Hum... Ele deve estar se escondendo em algum lugar, meu sexto sentido está me dizendo que algo está para acontecer... –a líder estreitou os olhos, perplexa-

. . .

            Eu não pensava que uma caçada noturna pudesse desembocar num evento tão marcante. Até aquele momento, eu ainda não sabia...

            Foi naquela hora que eu vi uma coruja. Sim. Batendo suas asas, acima de um dos prédios, ela foi descendo e pousou sobre a sacada de um dos apartamentos do prédio, perto de onde eu e o samurai estávamos. Uma coruja marrom com olhos vermelhos tais quais os de um vampiro.

“Eu conheço aquela coruja!” –foi o que eu pensei instantaneamente- e ingenuamente tomei uma decisão errada, que seria apenas um gatilho para uma das séries de eventos que se formavam naquela cidade. Eu pulei diretamente na tempestade por causa da minha imprudência e ignorância. Como eu me arrependeria disto naquele dia...

— Sanmoto, siga aquela coruja! –eu disse apontando para o animal que alçava voo-

— Sim, Milady! –ele correu prontamente, e eu o segui-

            Nós corremos o mais rápido que podíamos, na esperança de que finalmente poderíamos encontrar a criatura que assombrava a cidade e acabar de uma vez por todas com o mistério que a envolvia.

— É ela, eu tenho certeza! É a coruja daquele cara! Ela me atacou mais de uma vez, e agora estava nos vigiando! Que sagaz! Usar o animalzinho de estimação para nos observar!

            Mas eu o subestimei, aquele vampiro.

— Milady...?

— Não entende ainda Sanmoto? Aquela coruja está provavelmente retornando para o dono. –sorriu vitoriosa- E ele pensou que nós não notaríamos...? –refleti por alguns segundos- Não... Ele não cometeria um erro destes... Talvez ele... Queira que nós sigamos o animal? –um sorriso de satisfação tomou meus lábios, eu estava coberta pela loucura- Então ele deseja se encontrar conosco agora que acabamos com as marionetes dele?! –ela gargalhou-

            Eu o subestimei completamente.

— Olhe só, ela está descendo bem ali! –eu apontei novamente, e o caçador preparou-se para sacar a espada-

            E quando eu percebi isso... Já era tarde demais, porque nós já havíamos caído em sua armadilha... Foi assim que, naquela noite de lua cheia, eu encontrei o professor lobo e sua noiva, e também foi uma das noites mais tristes que eu já vivi...

— Aqueles são... –Sanmoto sacou a espada, com um rosto tomado em fúria e seriedade-

. . .

Momentos atrás,

No meio da rua...

. . .

— Não consigo entender o que um nobre como você faz aqui, por que precisa se expor dessa forma?! O que busca criando uma multidão de servos?! Não há nada aqui para você! –a irritação na voz de Ária era visível-

            O vampiro deu um riso abafado e convencido em resposta à pergunta da mulher, e em seguida fez uma expressão colérica.

— Que pergunta mais tola a se fazer, Senhorita mestiça... Porém, eu não deveria mesmo esperar que entenda, afinal parte de seu sangue é humano, é claro que vai sempre favorecê-los... –ele fitou a mulher enquanto falava, depois voltou o olhar para o homem poucos metros à sua frente- O que eu não compreendo é o que um lobisomem como você está fazendo por aqui... Está do lado desses humanos?

— E o que lhe faz pensar que tenho motivos para atacar os humanos? –Isshvan falou num tom rígido-

—... Deixe-me perguntar algo... –o vampiro disse seco- Não sabe de nada do que está acontecendo nesta cidade ou apenas finge não saber? –ele encarou o outro com um tom inquiridor-

— O que está acontecendo é que você está bagunçando a cidade sem motivo!-Ária se pronunciou fervorosa, mais uma vez-

— Não sabem mesmo...? –Raphiel ponderou por alguns segundos antes de continuar com um sorriso cínico no rosto e certo incômodo na voz- Não acredito que não saibam de algo que tem acontecido bem debaixo de seus narizes. Por qual outro motivo viriam aqui se não para se agrupar com aqueles humanos? Não adianta mentir... Eu sabia que aqueles humanos não tinham capacidade para fazerem tudo sozinhos, mas agora faz sentido se havia outras raças ajudando-os...

— Do que está falando? –o professor começava a perder a paciência-

— Eu não suporto quem vende seu orgulho para esses humanos baratos, se unindo a eles só para que consigam o que desejam. Humanos são criaturas sujas, e vocês que escolheram esse lado, não são diferentes deles...

— E só por isso você cometeu aquela atrocidade com aquelas pessoas?! Por que não suporta os humanos?! –Ária gritou indignada-

— Atrocidade? –o vampiro sorriu incrédulo- Você tem certeza de que sou eu quem está cometendo a maior atrocidade aqui Senhorita mestiça?

            A voz dele estava coberta de rancor, algum tipo de ressentimento que envenenava suas palavras e contaminava sua alma, nutrindo sua fúria. Ele perdeu completamente a compostura ao mencionar a palavra “humano” no discurso.

—... Pretende me atacar por causa de sua repulsa? É algo tão forte que não suporta ver raças diferentes interagindo com eles? ... –Isshvan franziu o cenho indignado- Eu conheço algumas pessoas assim, e tenha certeza de que o caminho que está tomando é sem fim... Afundará em seu próprio ódio...

— Isshvan... –a mulher lançou um olhar aflito sobre o noivo-

— Quem é você para me falar sobre valores morais? Não creio que deva dar crédito a alguém que se juntou com aqueles seres inferiores no que eles estão fazendo aqui... 

            A discussão poderia perdurar, no entanto, o vampiro sentiu a aproximação de seu familiar, a coruja que ele propositalmente havia posto para “guiar” os outros dois convidados ao local.

            Raphiel abriu um leve sorriso e não esperou mais, partiu para atacar o lobisomem em forma humana à sua frente. Ele tentou perfurar o lobo com uma das mãos, mas Isshvan revidou o ataque dando um soco no vampiro que foi facilmente atingido.

            O professor franziu o cenho, tinha certeza de que o oponente poderia ter desviado de um golpe simples, mas ele foi atingido e voou no muro de alguma residência ali perto, rachando o concreto pela força com que foi lançado.

— Eu sei que estamos numa lua cheia, mas... Aquele homem é tão fraco assim, ou ele está apenas escondendo a força que possui? –Ária estava perplexa ao se perguntar quase num sussurro-

“Ele se deixou ser atingido para bater no muro? Pretende causar um tumulto aqui na cidade para revelar a identidade de Isshvan aos humanos comuns?”

            O vampiro se levantou, ainda com um sorriso no rosto. Ele bateu as mãos na roupa para limpar a poeira.

— Ah... Olha só, minha roupa está toda suja... –ele pôs uma das mãos no estômago, ainda sorrindo- E você tem mesmo uma força brutal Senhor Lobo... Isso doeu bastante...

            O lobisomem , duvidando das intenções daquele inimigo, correu para a esquina, mas parou e imediatamente afastou-se dali quando o vampiro apareceu bem em frente à ele, atacando-o.

— Ora, ora... Tentando mudar o campo de batalha? Não faça isso, a cidade sob o luar é o palco perfeito, certo?

Isshvan franziu o cenho, um corte acabara de surgir em sua bochecha, ele passou a mão e sentiu a gota de sangue se espalhar pelo seu rosto, seus olhos estreitaram em irritação.

— Por que não tenta se transformar? Talvez seja mais sábio para nossa luta, não é verdade?-provocou-

            Isshvan não cedeu às provocações, ao contrário, passou a duvidar ainda mais das ações daquele homem. Foi aí que ele percebeu o que aquele vampiro estava tentando fazer ao mantê-lo ali... Quando ouviu uma voz familiar e outra e que ele não conhecia...

— Professor ?!-Alícia chamou num tom de surpresa e desagrado-

— Entendo... Há mais de vocês aqui...

            Sanmoto o caçador disse e entrou no espírito de batalha, sacando sua espada, preparando-se para o confronto iminente.

            A jovem presidente do clube de ocultismo suou frio, a pior situação acontecia. Ela finalmente havia entendido as intenções daquele homem vil... A coruja era apenas um guia... Um guia que levaria ao caos...

            Alícia tentou raciocinar propriamente, aquilo a havia surpreendido e os pensamentos se embaralhavam em sua mente. Ela havia sido precipitada. Como Pode cair em uma armadilha tão óbvia? E mais importante que isto, agora que a situação estava armada, o que faria para resolvê-la? O caçador acabara de encontrar seu professor e parte da culpa era dela. Como iria impedir que Sanmoto iniciasse uma batalha e ferisse seu professor? Como iria explicar que Leonhard Graham não era uma má pessoa?

            Perdida em sua mente, a líder do clube de ocultismo ficou sem reação. Estática assistindo ao desfecho de sua loucura.

— Irei eliminar a todas vocês, criaturas imundas!—disse o caçado com desprezo-

            Isshvan levou alguns ínfimos segundos fitando os recém-chegados enquanto seus pensamentos se organizavam, depois seu olhar posou sobre o vampiro à sua frente, que sorria vitorioso e arrogante.

— Sejam bem vindos, meus convidados... –disse num falso cavalheirismo- Agora que todas as peças estão posicionadas no tabuleiro... Vamos decidir quem será o vencedor desta partida!


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