Aquele Professor É Um Lobisomem escrita por Lady Pompom


Capítulo 14
Capítulo 13: Perseguição


Notas iniciais do capítulo

Essa história não tem quaisquer relações com pessoas ou fatos da vida real. É uma obra de ficção puramente para entretenimento.



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— Bem, vou dizer para Karen que você sofreu um ‘acidente’, não é bom que ela saiba o que realmente aconteceu ou vai ficar assustada, não podemos envolvê-la nesses assuntos ainda... É perigoso... –Silas disse sério-

— Ora, mas que rapazinho admirável você é! –Alícia riu- E tem toda a razão... Menina Karen é muito nova para entrar a fundo nesse mundo... -disse com seriedade- Não esperaria menos do vice-presidente que escolhi! –disse orgulhosa-

— Oh... –O samurai se impressionou- Então o Milorde é o segundo no comando do clã!

— Sim... –a presidente do clube de ocultismo explicou-

“Como assim clã? Esse cara tem problemas mentais?” Silas desacreditava cada vez mais naquele caçador estranho.

— Milady e Milorde devem ser famosos, sendo líderes de clã em uma idade tão juvenil... –um brilho de admiração surgiu nos olhos dele-

— Não se trata de idade, mas de experiência e sabedoria, meu caro.

— Guardarei bem estas palavras, Milady... –disse educadamente, com um sorriso-

— Eu irei agora... –Silas iria sair, mas foi chamado-

— Espere! Eu não te chamei aqui só pra explicar como vim parar no hospital, preciso da sua ajuda... –disse a líder de clube-

— Minha ajuda? –o rapaz ficou perplexo-

— Sabe que meus pais estão viajando, certo?

— Sim...

— Então, eu vim para o hospital e coloquei Sanmoto como meu responsável, porque ainda não sou de maior, o problema é que esse cara não tem dinheiro para pagar o hospital, e os cartões de crédito que tenho estão na minha casa... Poderia pegá-los para mim? –de um sorriso amarelo–

— Claro...

            Alícia explicou como Silas poderia achar os cartões na casa dela e como entrar lá também. O garoto não teve alternativa, não queria que sua líder de clube tivesse problemas. Ela receberia alta naquele mesmo dia, já que os ferimentos não foram graves.

. . .

            Mal saiu do hospital, a garota estava arranjando tudo, primeiro um local para o caçador ficar, embora ele insistisse que seria perigoso deixá-la sozinha porque ela havia sido marcada como presa. Segundo, precisava de um novo celular e teria de reformular seus planos de espionagem já que o último quase se encerra com sua morte, e por último, mas não menos importante, evitar um possível encontro entre o professor Leonhard e o caçador que ela chamou. Se Sanmoto soubesse que ela estava do lado de um lobisomem, tentaria matar o lobisomem e talvez até desistisse de ajuda-la.

. . .      

Hoje é 8 de abril... Faz alguns dias que Alícia saiu do hospital, Karen ficou aliviada. Eu também estive preocupado e ainda estou, mas não por Alícia, aquele caçador pode ser uma ameaça, no entanto, se ele não vier ao colégio nem trombar com o professor no meio da rua ou descobrir que a Ária é um quarto vampira, não nos trará problemas. E Apesar do grande número de possibilidades onde as coisas podem dar errado, tentarei ser otimista.

            A líder disse que haveria uma reunião no nosso clube de ocultismo, Karen está ansiosa, eu nem tanto. Sinto que teremos muito a discutir, e tenho que devolver aquela chave que peguei no armário.

            Fomos até a sala do clube após a aula, eu e Karen, quando chegamos lá, tomei um susto...

— A-Alícia?!

            Karen também pareceu confusa, claro ela nunca tinha visto a outra pessoa que estava na sala do clube além da Alícia antes...

— Por que o Sanmoto está aqui? –apontei exigindo uma explicação-

— Como assim garoto Silas? –a presidente riu- Claro que ele está aqui para discutir conosco. Ele é uma parte essencial do nosso plano para retirar as criaturas perigosas da cidade.

— Quem é esse? –Karen olhou perplexa-

— Este é Sanmoto, um exímio caçador que contratei. Ele irá nos ajudar a partir de agora! -a líder explicou com aquele sorriso dela-

— C-caçador? De quê? –minha colega empalideceu-

— Eu caço toda e qualquer criatura que represente uma ameaça para a humanidade. –respondeu sério-

— Ah! –pobre Karen, embranqueceu ainda mais-

            Ela lançou um olhar assustado para Alícia, que deu uma piscadinha como se tentasse sinalizar de que estava tudo certo.

— Já que eles se sentem tão curiosos, faria o favor de explicar suas origens, Sanmoto? –a líder requisitou com o máximo de educação que pôde-

— Sim, Milady.

            Ainda não entendo esse negócio de Milady e Milorde. Não entendo mesmo... E essas roupas estranhas que ele usa...

— Eu venho de uma vila situada dentro de uma floresta, numa pequena ilha do exterior. Minha vila é antiga e desde sempre tivemos a tradição de caçar criaturas malignas, todas as famílias, mesmo que não sejam caçadores, estão envolvidas com o trabalho. Há os ferreiros, os que preparam poções e medicamentos, os caçadores, como eu, e diversos outros ofícios.

            Ah! Que ótimo, um cara do interior de uma ilha pequena! Por isso ele fica com essa história de clã, criatura maligna e essas roupas suspeitas.

— Meu clã tem caçado por muitos anos, eu decidi seguir o caminho da espada para caçar. Quando recebi a carta da Milady, percebi a necessidade que sua cidade tinha e que os senhores tinham, por isso vim o mais rápido que pude.

— Não desconfiou que a carta poderia ser uma brincadeira? –eu fiquei abismado com o homem-

— Por que alguém escreveria uma carta sobre um assunto tão sério apenas para brincar? –ele perguntou franzindo o cenho-

— Não tem como, a vila dele é um lugar bem reservado, foi difícil de achar e nem sabe o que tive que fazer pra que a carta chegasse lá! –Alícia interrompeu-

            Nem quero saber. Evite contar essa história, não quero me envolver muito com essas obscuridades que a presidente faz. Sério, ela não é normal.

— Hum... –Karen pareceu querer perguntar algo-

— Algum problema? –Alícia encarou-a-

— Bem, não um problema só queria saber como ele entrou aqui e... –ela engoliu seco- Por que ele está carregando uma espada aqui no colégio?

 A presidente gargalhou, colocando as mãos na barriga, claro que ela ia achar graça, mas só ela mesmo.

— Eu passei sem que o guardião da entrada me visse... –ele respondeu com seu tom sério-

            Guardião? Você quis dizer o “porteiro”, não? E isso é invasão! Isso é crime! Invadir uma propriedade escolar privada e pior, se envolver com os estudantes!

— E esta espada é minha arma, não importa ode eu esteja, devo carregá-la comigo. Ela foi forjada da mais pura prata, abençoada por um líder religioso da vila, é sagrada e está em minha família por gerações. É uma espada feita para cortar o mal.

            Cortar o mal? Que clichê, além disso, ele disse sagrada não foi? Eu entendo que a prata faz um estrago nos lobisomens, mas o sagrado significa que vampiros são criaturas malignas?

— Ela pode ferir homens- lobos e os outros seres malignos, serve também para perfurar o coração dos sanguinolentos.

            É assim que ele chama vampiros? Sanguinolentos?

— Ah... –Karen balançou a cabeça negativamente, abismada-

            Eu acho que ela preferiu não fazer mais perguntas, agora tinha mais um louco no grupo, e pior, o cara falava mesmo sério sobre expurgar o mal. Era assustador.

— Olá! -uma voz feminina veio da entrada-

            Ah! Essa não, e Ária! Ela é um quarto vampira... Será que tem como ele descobrir isso? Tomara que não...

— Ah, vocês tem visita!-ela olhou o Samurai com um sorriso- Olá!

— Esta é Ária, noiva de um de nossos professores. -Alícia respondeu aquilo com tanta calma-

— Milady...

            Por que esse caçador tem que ser sempre tão cordial? Curvando-se para as pessoas.

— Por que está aqui? –Karen perguntou, um pouco nervosa, por causa da presença do caçador eu acho-

— Ah! Eu vim visitar o professor de vocês e pensei em visitá-los também... Faz alguns dias que não nos vemos, não é? Vejo que arranjaram um novo amigo...

            Ária conseguiu manter o sorriso, mas com certeza notou que o cara carregava uma espada e vestia roupas estranhas. Estou certo de que ela deve estar muito preocupada internamente, mas se ela der bandeira, o caçador pode notar algo estranho e desconfiar dela...

— Bem, o professor de vocês vai ficar bravo se souber que estou andando pela escola sem permissão, vejo vocês outro dia! Xau, xau crianças! –ela despediu-se e foi embora, como o vento-

            Teremos de explicar tudo para ela depois... Ah... Acho melhor explicar logo... Que problemão!

 . . .

O caçador passou o resto da tarde com os garotos, eles discutiram sobre os recentes acontecimentos que estavam acontecendo, Alícia dispensou os outros dois garotos e continuou a conversar com o caçador. Ela contou tudo que não quis falar quando estava sendo ouvida pelos dois membros mais jovens do clube.

— Temos que esperar e saber qual movimento eles farão... Descobriram que eu os estava observando, mas é claro, como sou uma humana qualquer, não farão tanto caso de mim... –a presidente do clube de ocultismo disse com um sorriso sério no rosto- Porém, aqueles peixes pequenos lhe viram, quero dizer, os sanguinolentos não puros...

— Entendo sua preocupação Milady... No entanto, não há necessidade de esconder minha presença porque irei expurgar esses seres em breve.

— Certo... Antes precisamos descobrir algumas informações sobre eles... O que são e o que querem...

— Irei caçar os sanguinolentos transformados, eles são como uma epidemia e se espalharão rapidamente pela cidade se não os pararmos.

— Havia um deles agindo como líder, ele falou comigo, os outros, que me perseguiram, só grunhiam como animais, mas mesmo assim, ele pode não ser o único vampiro esperto por aqui... –franziu o cenho- Tente manter um deles vivo, precisamos saber quem é o líder e cortar o mal pela raiz!

— Farei o possível para eliminar a ameaça, Milady. –o homem curvou-se e saiu da sala do clube-

            Alícia ficou ali por mais um tempo, até o colégio fechar, pesquisando secretamente sobre os seres que estavam invadindo a cidade.

. . .

Naquele mesmo dia,

À noite

. . .

            Na parte rica da cidade, num alto edifício para pessoas de alta classe, num dos andares, um restaurante que ostentava a riqueza da classe. Numa mesa, em uma área reservada do lugar, estava sentado o homem de longos cabelos brancos, com vestimentas elegantes, ele olhava através do vidro as luzes da cidade.

            A vista era bela. De o alto andar que o restaurante ficava situado, podiam-se ver as pequenas construções e os prédios altos mais ao longe, bem como o céu noturno e escuro com a lua praticamente invisível a olho nu.

            O homem, com sua audição aguçada, ouviu os passos leves do garçom se aproximarem e tornou-se para vê-lo. Estava acompanhado do vampiro de cabelos castanhos claros, que há poucos dias atrás havia coordenado o ataque à Alícia.

— Sr. Lucci, seu convidado... –o garçom curvou-se e retirou-se dali-

— Raphiel... –disse o homem de cabelos brancos, alargando o sorriso-

— Lucci... –o outro se sentou à mesa-

— É um lugar perfeito para conversar, no meio da sociedade, não é?

Raphiel, o de cabelos castanhos, franziu o cenho e o companheiro de cabelos brancos logo se apercebeu disso, encarando o subordinado e perguntado:

— O que te incomoda?

— Eu lhe contei sobre a humana que esteve me espiando, certo? –disse baixo-

— Sim...

— Acreditei que ela não seria um empecilho, mas iria matá-la, por precaução, porém, Silver livrou a pele da humana...

— Eu me lembro de que me falou sobre os atos do caçador... Ele não é muito confiável, é claro... Mas ele não faltará com a palavra em se tratando daquele outro obstáculo porque é algo pessoal para ele...

— Eu entendo como o estamos usando... O problema ainda não é sobre Silver... É algo ainda pior... –Raphiel disse com desprezo- Da última vez que aquela garotinha apareceu para espiar, eu deixei que eles tivessem a liberdade para brincar com ela, a princípio, ela fugiu inutilmente, mas quando estava prestes a alimentá-los, alguém apareceu.  

— Que tipo de “alguém”? –Lucci manteve o sorriso no rosto-

— Ele era humano, mas habilidoso... E num minuto, conseguiu criar uma rota de fuga enquanto carregava a garota e simultaneamente lutava contra quatro dos novatos.

            Lucci Van Der Veer não retirou o sorriso impecável do rosto. Mas podia-se notar que algo havia se alterado na aura que ele emitia, de uma aura serena para algo mais agressivo e imponente.

— Outro caçador está na cidade? –ele perguntou ainda sorrindo-

— Não tenho certeza se era um caçador, mas ele era habilidoso... Silver é definitivamente mais perigoso que esse homem, mas esse outro que apareceu naquela noite parece ser bastante problemático...

— Compreendo sua preocupação... –franziu levemente o cenho- Se este é o caso, então descubra onde ele está, siga-o e... Elimine-o antes que ele arruíne nossos planos.

— Eu entendo...

— Silver cuidará daquele empecilho e em breve, Einhardt está arruinado...

—...

— Muito bem, Raphiel, agora sobre o outro ser que está me incomodando... –o de cabelos brancos estreitou os olhos quando começou a falar-

. . .

E no dia 10 de abril,

No meio das ruas

. . .

            Ária caminhava ao lado de Isshvan, ele fazia sua ronda noturna acompanhado da mulher que insistentemente o seguiu. O rosto dela, porém, não estava sorridente, tinha uma expressão séria.

— Não precisava vir... –o homem disse enquanto caminhava-

— É lua nova, sua força não está nos melhores níveis agora... –a mulher contestou-

O homem suspirou, desistindo de tentar discutir ali, no meio da rua. Ambos pararam ao ouvir um som. Era o som de passos, mais alguém caminhava por ali. Isshvan voltou a andar, a noiva o seguiu, mais à frente, na esquina, um policial apareceu, e viu o casal. O homem aproximou-se e cumprimentou:

— Boa noite, Sr. , Srtª...

— Boa noite Sr. Policial! –Ária cumprimentou abrindo um sorriso-

— O que fazem aqui esta hora da noite? –perguntou desconfiado-

— Estávamos saindo, eu meu noivo! –Ária agarrou-se ao braço do noivo-

— Mas estamos voltando para casa agora... –o noivo lançou um olhar para a mulher-

— Entendo... – o policial pareceu relaxar a postura- Não andem por aí muito tarde sozinhos... A cidade está ficando perigosa...

— Perigosa? Pensei que fosse um lugar calmo... –a mulher parou de sorrir, fazendo uma expressão de desentendida-

— Sim, não quero assustá-los, mas, a cidade ficou mais perigosa há algum tempo... –ele disse quase sussurrando, apesar de não ter mais ninguém além deles para ouvi-lo- Alguns incidentes têm acontecido em bairros perigosos, mas não incidentes comuns, parecem feitos por a mesma pessoa, e de uns dias para cá, estes incidentes começaram a ocorrem em outros bairros, por isso não é bom ficar andando sozinho por aí esta hora da noite, entenderam?

— Sim...

— Tentem passar por pontos movimentados e evitem locais escuros, tenham uma boa noite, Sr, Srtª.

— Obrigada pelo aviso Senhor Policial, nós tomaremos cuidado. –a mulher sorriu- Deixamos o carro aqui perto, já vamos embora daqui...

            Ária e Isshvan continuaram a andar em direção ao local onde haviam deixado o carro, com uma expressão séria no rosto e se entreolharam quando o policial sumiu da vista deles.

— ‘Incidentes’? –a mulher disse desconfiada- A polícia está se metendo onde não deve... Mesmo que investiguem, nunca chegarão à verdade do caso, provavelmente devem atribuir aqueles ataques que acontecem nos bairros a algum criminoso qualquer... E aí está o perigo, eles continuarão a procurar por um criminoso que não existe enquanto mais e mais casos acontecem, até que a cidade sofra uma epidemia de transformados... Pior, não só há um que possa infectar, temos que lembrar que havia dois tipos diferentes de infectados, o que implica na possibilidade de algum dos seus estar aqui...

— Não é um simples alguém, tenho certeza de que é o Khalen que está aqui... –Isshvan franziu ainda mais o cenho- Silver confirmou isso quando nós nos confrontamos...

— Isshvan... Você pretende mesmo enfrentá-lo quando o encontrar? –uma expressão de angústia tomou o rosto da mulher-

— Eu tenho que pará-lo... Ele já fez mal o suficiente durante a vida, e vai continuar se ninguém o impedir... Você sabe disso, Ária... –ele lançou um olhar de irritação para a mulher-

— Sim, eu sei... –ela baixou o olhar-

“Mas eu preferia que não se resolvesse dessa forma, Isshvan...” ela pensou consigo mesma.

            Os dois pararam novamente quando ouviram um som de passos fazendo os pequenos pedaços de brita da rua asfaltada crepitarem, o som veio de trás deles. Imediatamente, ambos viraram-se para descobrir quem os seguia ali, para suas surpresas:

— Silas Belmont? –o professor franziu o cenho-

— O que faz aqui à essa hora? –a noiva indagou-

— Bem... Eu quem pergunto... –o garoto pareceu confuso-

            Ele estava sozinho, andava com uma sacola plástica numa das mãos. Usava roupas casuais, uma bermuda caqui e uma camiseta branca.

— Por que está andando sozinho no meio da rua a essa hora? –Leonhard franziu o cenho, e embora não estivesse de óculos como costumava usar no colégio pelo disfarce, ainda pareceu intimidador-

— Eu só fui numa loja de conveniência, comprar umas besteiras... –ele mostrou a sacola- Mas, professor, você não deveria estar em casa? Hoje é lua nova, não é perigoso ficar andando por aí?

— Por isso eu vim com ele! –Ária acenou sorridente-

— Ah... –Silas foi deixado sem palavras-

— Venha, eu te levarei até sua casa. –o professor fez aquilo parecer uma ordem-

— Não precisa, eu- o garoto foi interrompido-

— Não se preocupe, viemos de carro, está por perto! -a mulher disse dando tapinhas leves no ombro do menino-

            Então, os três começaram a andar no meio da rua. Silas sentiu-se desconfortável com o silêncio, podia ouvir os passos de cada um que caminhava e o cricrilar dos grilos na noite.

            Era estranho caminhar ao lado de um lobisomem e uma vampira, não podia acreditar. Antes pensaria que tudo era um sonho, mas agora era uma realidade tão diferente daquela a qual estava acostumado. Até seu primeiro ano de ensino médio era uma garoto comum, mas agora em seu segundo ano, sua vida virou de cabeça para baixo. Imaginava até quando seus encontros e desencontros com aquelas criaturas sobrenaturais iria se prolongar, uma vez que as conheceu, não poderá nunca se livrar desse mundo insano.

            Enquanto andavam, ele teve uma estranha sensação, como se alguém o estivesse observando. Parou por um segundo e lentamente tornou o olhar para trás. Não havia ninguém. É claro, não poderia haver ninguém ali àquela hora da noite, certo? Ao menos, foi o que o garoto pensou quando dissipou aquela preocupação e voltou a concentrar-se no caminho à frente.

            Subitamente, um vento gélido passou por a rua, Silas teve um calafrio. Foi quando sua visão contemplou uma figura tenebrosa que surgiu no meio da estrada. Ele tinha certeza de que não havia nada lá, mas antes que pudesse piscar, em um milésimo de segundo, aquele homem apareceu.

            O professor do garoto ficou surpreso, e ao mesmo tempo, arisco. A postura dele enrijeceu, como se estivesse pronto para atacar a qualquer um que viesse pela frente. Ária também mudou a expressão facial, de um sorriso para um rosto escurecido de raiva.

            O homem tragou o cigarro uma última vez e depois jogou no chão, apagando com a sola das botas. O sobretudo esvoaçava junto os resquícios de fumaça do cigarro e ele abriu um sorriso satisfeito por encontrar sua presa.

 – Silver.—disse a mulher, irritada-

“O quê? Esse é o Silver, aquele caçador de Lobisomens?!” Silas exasperou-se

— Vejo que resolveu sair com a família, Isshvan... –o caçador brincou- Mas foi uma péssima ideia sair hoje... –deu um passo à frente, afiando o olhar-

            O caçador sacou a arma e apontou para o lobisomem, não muito distante dele. Ària pôs-se à frente da mira.

— Isshvan, saia daqui junto com o Silas, eu cuido do Silver. –ela sussurrou-

— Não, mesmo se eu fugir com o garoto, é a mim que ele quer, é inevitável que ele me siga... –disse num tom preocupado-  Mas ele não irá se importar se vocês forem embora...

— Isshv- a mulher não teve tempo de terminar a frase-

            Antes que ela terminasse, Silver disparou, ignorando que Ária estava na mira, Isshvan jogou tanto ela quanto Silas, para o lado, empurrou-os com tamanha força que eles bateram na parede de uma das casas da rua.

            Silas fechou os olhos, pelo súbito percurso que seu corpo fez até se chocar com o duro cimento, mas os abriu imediatamente quando sentiu suas costas baterem no cimento, fez suas costas doerem.

— Tch!-Silver grunhiu, aborrecido-

            Sua presa havia desviado da bala, apesar de que ainda acertou de raspão, nas costelas.

O lobisomem em forma humana tocou no ferimento, sem tirar os olhos do caçador que já ajustava a mira, e gritou para a noiva:

— Ária, saia já daqui!

— Não, esp -ela levantou-se para tentar ajudar, mas novamente o caçador não a esperou terminar a frase-

            Silver deu outro tiro, desta vez Isshvan desviou completamente, e os dois começaram a correr, iniciando uma perseguição como da vez dos galpões.

— Espere!! –a noiva gritou inutilmente, o noivo já estava longe-

— O que está acontecendo aqui?! –Silas levantou-se, ainda perdido na situação-

— Fique aqui, Silas, eu vou atrás do seu professor, ele não deve enfrentar Silver sozinho!

— Senhorita Ária, esp-

            E a mulher disparou num instante, tentando acompanhar os dois que já haviam ido. Silas olhou em volta, abandonado no meio da noite, e pior, seu professor estava com problemas. Ele nunca teve muita firmeza em suas decisões, mas agora simplesmente sentia que não podia ficar parado.

            Ele correu o mais rápido que pôde para tentar acompanhar o vulto de Ária que estava quase sumindo. Esforçou-se para não perdê-la de vista.

. . .

Enquanto isso,

. . .

            Isshvan pretendia afastar-se o suficiente da sociedade para que nenhum civil fosse envolvido pelo conflito, mas estava complicado, Silver atirou três vezes na direção dele, enquanto corriam, e infelizmente, um dos tiros acertou a perna dele, fazendo-o estancar o passo. O inimigo sorriu e também parou de correr, a poucos metros dele.

— Deve estar doendo não é? –o homem deu um sorriso maligno- Ficou alojada na sua perna, eu aconselharia tirar antes que a prata se espalhe pelo sangue... Ops, quero dizer já é tarde demais...

Silver... —o lobisomem grunhiu-

— Vamos lá, por que não se transforma? –o caçador instigou- Sei que pode fazê-lo mesmo sem ser lua cheia, vocês puros-sangues fazem de tudo, não é?

— E você, por que está atrás de mim? Pensei que sua prioridade fosse Khalen... –Isshvan retorquiu-

— Hahahaha – o outro gargalhou- Você é mesmo filho dele, fala igualzinho! –depois fez um rosto sério- Eu só estava passeando pela rua e aconteceu de nos encontrarmos, será que não posso acabar com você primeiro depois de receber um presente desses do destino? Vamos lá, se transforme e teremos uma luta justa... Não gosto de presas moles, a caça só tem graça quando a presa é astuta...

—... Não vou me transformar. –o lobisomem foi claro e grosso-       

— O quê? Não quer usar sua força porque estamos no meio da cidade? –o caçador provocou- Você não era assim antes, quando fugia pelas florestas... Costumava ser mais selvagem! –ele riu para si mesmo- A cidade o domesticou, ou está tentando se esquecer da sua verdadeira natureza?

Isshvan grunhiu. Os olhos dele estavam furiosos, ele rangeu os dentes afiados para o caçador que sorriu com a reação dele, e sacou mais uma pistola.

            Quando Silver moveu o dedo para novamente apertar o gatilho, Isshvan imediatamente chutou uma lixeira de metal que havia no meio da rua, na direção do caçador, que desviou. Essa distração foi tempo o suficiente para que o homem fugisse cambaleante, pelo tiro que fazia sua perna arder.

Quando Silver se deu conta, sua presa estava já pouco longe dele. Ele alargou o sorriso, seus instintos de caçador palpitavam, fazendo-o chegar a uma sensação de êxtase pela caçada, um caçador nato com o sangue fervilhando, implorando por uma batalha contra um inimigo odiado. Pôs-se novamente numa perseguição de gato e rato.

Isshvan correu até o local mais deserto da cidade àquela hora: em direção aos galpões, sabia que não era uma boa ideia, sozinho enfrentando um caçador especialista que há anos o incomodava com perseguições; porém, que outra escolha teria? O caçador o perseguiria até o fim, até matá-lo e isso ele ainda não podia se permitir. Não podia morrer antes de resolver seus assuntos com seu inimigo também.

Antes que chegasse a área dos galpões, o caçador já estava quase o alcançando, para estranheza do professor lobo. Seus pensamentos tomaram de novo um rumo que há algum tempo ele havia refletido:

“Como ele consegue alcançar meu passo? Como ele pode ser tão rápido? Será que é por causa do tiro que levei que meu passo ficou mais lento? Não... tem algo de errado com Silver...”

            Os músculos da perna do lobisomem começaram a adormecer, e a cada passo ele sentia uma dor aguda, como se os músculos fossem romper todos de uma só vez, seu passo ficou consideravelmente mais lento.

            Foi quando Silver finalmente conseguiu correr lado a lado à presa, e com os olhos imbuídos de prazer, o caçador disparou as armas sem piedade. Isshvan jogou o corpo para desviar-se, mas ainda assim foi atingido por uma bala, na região do abdome desta vez, grunhiu de dor, perdeu o equilíbrio e caiu no asfalto.

            Faltavam tão poucos metros para os galpões, e ele se viu caído no chão, praticamente aos pés do caçador. Nunca em nenhuma outra perseguição das várias que Silver havia feito ele tinha sido posto em tal situação, se feria às vezes, mas nunca dessa forma. No entanto, já fazia anos que não se deparava com o caçador e ele parecia-lhe diferente das outras vezes... Teriam as perseguições à Khalen garantido experiência à Silver? Seria esse o motivo do acréscimo de habilidade dele?

— Engraçado... Nunca esperei que viveria para ver este momento... –Silver apontou uma das pistolas para o homem caído-

            Isshvan ergueu-se com dificuldade, tocando no ferimento. Franziu o cenho num misto de dor e irritação, encarando o caçador que segurava uma arma letal em mãos.

O caçador gargalhou num tom maníaco, sentindo êxtase em meio à luta que ele vencia.

— O grande Isshvan ficando impotente depois de tantos anos dessas caçadas... Hilário. –olhava com desprezo para o lobo- Deve estar bem curioso para saber como eu consegui te atingir, não é?

            Os olhos azuis-acinzentados de Silver ostentavam um brilho de loucura, enquanto imaginava como seria quando sua presa seria abatida e desfaleceria de dor. Isshvan conseguiu afastar-se um pouco do outro enquanto ele delirava em seus pensamentos, mas deixou rastros de sangue.

— Está quase acabando, mas espero que sofra bastante antes que acabe. –o caçador voltou a atenção para o lobisomem a alguns metros, mirando as duas pistolas- É hora de dizer Adeus à este mundo, Isshvan Von Einhardt!

            Os sentidos do lobo começavam a ficar entorpecidos, sua vista cada vez mais turva, suas pernas passavam a fraquejar e sua força se esvaía a cada segundo. Seus músculos doíam como nunca, e seu coração batia lento, tinha uma sensação de que o ar era rarefeito. Precisava dar um jeito de sair dali, criar uma rota de escape... Mas como?

            O céu nublado e escuro, cheio de nuvens negro-acinzentadas, dando um clima maligno à área sombria perto dos galpões e da solidão noturna. Não havia uma alma se quer para testemunhar aquele momento épico. Só o lobo e o caçador, sozinhos, um em frente ao outro, para decidir quem sobreviveria no final. Uma chuva começou a ameaçar cair, primeiro com respingos, depois gotas mais firmes e regulares.

            O professor lobo sentiu a água gélida tocando sua pele, quando respirava saía um ar branco de sua boca, pelo frio que fazia no local.

            Seu coração acelerou quando ele viu a mira da arma de Silver perfeitamente ajustada ao alvo, e o caçador abriu um sorriso de um lado a outro da boca. Instintivamente o corpo de Isshvan se projetou para reagir a qualquer ataque que viesse.

            Ele disparou com as duas pistolas ao mesmo tempo, o lobisomem conseguiu, com esforço, desviar de uma das balas, mas a outra o atingiu no ombro, e ele caiu de joelhos.

— Humpft... –o caçador olhou com desdém para a presa debilitada- Esperava mais de você, um sangue-puro, Isshvan... –mirou novamente a arma no outro- Não pensei que preferiria morrer a utilizar suas habilidades... É uma pena...

            O caçador mirou desta vez na cabeça, para finalizar o serviço que há anos tentava. Não sentia muita emoção, toda a chama que havia durante a caçada sumiu dele, ao ver a fraqueza de seu inimigo, toda a satisfação sumiu, por caçar uma presa que não estava dedicando todo potencial para evitar o destino. Ele apontou a arma letal para fazer o ultimato, hesitou antes de puxar o gatilho, mas lentamente moveu seu dedo para dar um fim ao destino...

Porém, não foi o que aconteceu. Quando Silver estava prestes a escrever o desfecho final daquela história, na visão embaçada de Isshvan ele pôde contemplar quando alguém, uma mulher se lançou contra o caçador, dando um chute que o fez, literalmente, voar para longe.

Ele foi lançado com tal força, que quebrou a parede de uma das construções ali perto, podia-se ver a fumaça e os escombros. Uma mulher irada.

— Ária...? –o homem lobo reconheceu a silhueta, apesar de sua visão não estar em boas condições-

— Isshvan! –a mulher correu para socorrê-lo- Você foi atingido! –ela afligiu-se- Não devia ter vindo sozinho! Eu sabia que...- ela o ajudava a se levantar, falando com a voz embargada-

            Apoiou o braço do homem em seus ombros, e iria ajudá-lo a sustentar o peso.

— Temos que sair daqui e ir ao Illiel imediatamente!

            A chuva piorou, torrentes de água caíam do céu, estalando quando se chocavam no chão e quando escorriam como cachoeiras dos telhados das construções.

— Guh... Não...

            Um barulho desconcentrou os dois, vindo do local onde o caçador havia sido arremessado. Ele saiu de dentro da fumaça que pairou quando os escombros foram movidos. Espanou o sobretudo com as mãos e encarou  a mulher.

— Que maldade chutar assim sem avisar, Madame... –o caçador disse com certa ironia-

— Silver!-disse entredentes, enfurecida-

            Não podia suportar a presença daquele homem ali, principalmente agora que havia ferido seu amado.

— Atrapalhando num momento crucial destes... –o caçador continuou a resmungar- Só mesmo uma mestiça para ter tamanha falta de educação... –usou um tom cínico e ofensivo para pronunciar as últimas palavras-

—... Isshvan... –Ária franziu o cenho- Fuja daqui, eu vou distrair esse homem, então, por favor, vá embora...

—... Nã-ele iria responder, mas ela não permitiu-

— Por favor... -implorou-

—...

— Você ainda consegue usar sua animalia, certo? Use-a para fugir mais rápido, eu cuido do resto!

            Ela soltou o homem, e ele relutantemente deu as costas para ela. Silver posicionou a arma para atirar no lobisomem, mas Ária se pôs em frente à mira.

— Terá que passar por cima de mim se quiser chegar até ele... –disse convicta-

— Pois bem, -o caçador mudou o alvo na mira- Não costumo caçar vampiros ou humanos, mas dizem que há uma primeira vez para tudo na vida, não é?

            Isshvan lançou um olhar de relance para trás, enquanto corria torto e se despia, assim usou a animalia e se transformou no lobo negro, traçando um caminho desorientado pelas ruas, com as pálpebras pesadas, ameaçando cair-lhe sobre os olhos a qualquer momento.

. . .

 Em outro lugar,

No meio das ruas vazias da cidade

. . .

            Silas arfava, curvado, apoiando as mãos nos joelhos, sendo banhado pela chuva. Ele olhou para o caminho à frente, desmotivado.

“Que inútil eu sou. Não corri nem duas quadras e já estou cansado... Eles são rápidos demais... Eu não pude ajudar o professor Leonhardt... Isso dói.”

“Cara eu sou um energúmeno! Até quando vou ficar pra trás assim? Eu sei que eles são criaturas diferentes e eu sou um humano, mas... Isso é tão frustrante!”

            Ele socou uma parede que havia ali perto, cerrando o punho, irritado e ao mesmo tempo decepcionado consigo mesmo.

“Se continuar assim, eu não poderei proteger ninguém...!! Eu nunca pensei que fosse me perguntar isso, mas... Por que é que eu nasci como um humano? Pra ser fraco assim...”

            Enquanto Silas se culpava por suas inúmeras fraquezas, a chuva piorou. Ele ficou estático ali, imerso tão profundamente em seus pensamentos que perdeu a noção do tempo.

            Um ruído irrompeu sua meditação, de longe, ele viu a figura de um lobo, correndo trôpego e lento pelas ruas.

“Não pode ser...”

            O garoto arregalou os olhos, e foi seguindo a figura do lobo quando o animal o ultrapassou, em meio à chuva.  Quando o canino estava na esquina, foi que ele notou algo perturbador: Em meio às inúmeras poças de água no asfalto, um líquido vermelho se diluía na água, e uma trilha de poças com esse líquido avermelhado era formada, uma trilha de sangue do lobo.

“Não... Isso é... Professor!”

            Ele correu imediatamente quando seu raciocínio conseguiu compreender a gravidade da situação. Ele apressou o passo, para alcançar o lobo que havia virado a esquina.

            Quando finalmente chegou, um sentimento ruim tomou conta dele, quando ele viu aquele lobo cambaleando, a passos lentos, e sangue se espalhando pela rua.

— Senhor Leonhard... –disse angustiado-

Na mesma hora, um vulto passou por ele, assustando-o. Era Ária, encharcada, e com um olhar aflito. O lobo então, desfaleceu no meio da rua.

“Não acredito... O professor Leonhard está... O professor...!!”

— Isshvan! –Ária gritou desesperada-

            Era tarde, aquele lobo não podia mais ouvir as vozes do mundo exterior. Um sono profundo ocasionado pelo cansaço e pela dor o abateram, e ele teve que aceitar o gentil convite a ser acolhido nos braços de Morpheus.

“Aquele dia foi a primeira vez que vi o professor se ferir daquela forma... E também, foi quando entendi como minhas fraquezas pareciam pesadas aos meus ombros, incapazes de sustentar minha inabilidade.”

“Todos os meus medos e incertezas pesaram muito mais do que a chuva que caía, e lá estava eu, torcendo de novo, para que tudo não passasse de um sonho.  Para que eu não vivesse até chegar o dia em que o Professor Leonhard fosse extinto.”

            Uma realidade desesperadora e uma tristeza insondável. Até onde a escuridão poderá afundá-los em suas angústias? Que repercussões terá este dia no futuro?!


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