Aquele Professor É Um Lobisomem escrita por Lady Pompom


Capítulo 13
Capítulo 12: Criatura Vil


Notas iniciais do capítulo

Essa história não tem qualquer conexão com pessoas ou fatos reais, é apenas uma obra de ficção para fins de entretenimento.



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Ontem eu tive pesadelos à noite... Não sei por que, mas... Tinha o Sil e a Alícia, e uns monstros esquisitos no sonho... Imagino o que tem na minha cabeça pra eu sonhar essas coisas... Talvez eu esteja... Envolvida demais com o clube...?

            Bem, hoje é primeiro de abril, um novo mês começou, é hora de deixar o que passou para trás e começar de novo, não é?

— Sil! –chamei na porta da casa dele-

            Isso é estranho, geralmente quando eu saio, ele é quem já está me esperando, e ele sempre reclama que eu demoro demais pra me arrumar...

— Sil...? –olhei o rosto dele- Não dormiu direito ontem?

— Hum? –disse disperso-

            Esquisito... Ele está distraído... Deve ser o sono, pela cara que ele está...

— Teve pesadelos? –perguntei despreocupada- 

            Ele enrijeceu a postura imediatamente, como se eu tivesse acertado bem no alvo. Por que a reação exagerada? Não é como se eu fosse rir dele ou criticá-lo se ele teve mesmo pesadelos, todo mundo tem de vez em quando...

— H-hum? –me encarou assustado-

— Silas, você está bem? –agora sim, eu me preocupei-

— Sim... Eu... –ele desviou o olhar- Estou apenas cansado...

            O olhar dele pareceu muito longe, aéreo, como se estivesse buscando algo num espaço vazio, sem esperança. Não sei o que aconteceu, tudo bem que ele estava meio perdido desde alguns dias atrás, mas... Hoje parece pior... Será que ele está escondendo algo importante de mim de novo...?

Durante todo o caminho para escola ele só respondia ao que eu falava com “Hum” ou “Ah.”, me senti fazendo um monólogo. Além disso, ele não sorriu nem uma única vez.

            Quando chegamos à sala, ele sentou-se quieto na cadeira e abaixou a cabeça, o vi lançar um olhar para a banca da Alícia. A nossa líder de clube não veio hoje... Mas ela marcou uma reunião ontem...  Bem, talvez ela tenha matado aula para fazer pesquisas estranhas na sala do clube de novo e está nos esperando lá...

            Ele pareceu mais deprimido e escondeu o rosto nos braços apoiados na cadeira e deu um longo suspiro de desânimo. Não sei o que fazer. Ele não diz nada pra mim.

            Assim que o intervalo chegou, ele disse que iria à sala do clube, eu insisti em acompanhá-lo, mas ele recusou, pareceu um pouco assustado com a ideia na verdade, mesmo assim, eu o segui contra a vontade, ele pode tentar esconder tudo de mim, mas não pode me interferir nas minhas decisões. Além disso, se Alícia marcou aquela reunião, ela irá comparecer, a presidente do clube não é do tipo que falta a compromissos.

            Ele pareceu ansioso de alguma forma, contudo, sua expressão de ansiedade mudou, assim que ele viu a sala do clube vazia, pareceu... Triste... É impressão minha ou ele está ficando um pouco próximo demais da líder de clube?  Hum...

— Silas? –encarei-o-

—... –ele ficou parado, fitando a janela, olhando para o nada-

— Parece que hoje a Alícia não veio mesmo... –disse tentando obter alguma resposta- Talvez ela deva vir mais tarde, como naquele dia... –sorri, mas ele não pareceu se animar-

— É... –ele deu um sorriso meio tristonho-

            Por que ele está com esse ar tão deprimido? Estou ficando realmente curiosa agora! E ainda mais, a Alícia faltou a uma reunião que ela mesma marcou, isso é inédito! Quem sabe ela não ficou entretida com alguma investigação esquisita ou esteja fazendo algo suspeito fora da escola... Ela aparece com cada informação aqui no clube que não ficaria surpresa se ela me dissesse que tem ligação com algum informante do submundo ou algo assim...

— Que tal se ligássemos para ela? Tenho certeza de que ela terá uma boa explicação para- fui interrompida-

— Não! –disse com certo terror na expressão, como se eu houvesse dito uma frase proibida- Ela... Deve estar ocupada... –ele relaxou um pouco a expressão-

— Ah, sim... Então acho que teremos de esperar ela aparecer de novo... Bem, ela estava mesmo se dedicando a alguma atividade suspeita por essas últimas semanas, tenho certeza de que ela nos explicará tudo direito, quero dizer, daquele jeito maluco dela... –ri me lembrando da líder de clube-

            Ela é mesmo uma pessoa divertida, sempre falando maluquices de um modo tão animado, você acaba escutando o que ela tem a dizer e sendo capturado pelo carisma dela, embora eu me perca nas explicações sobre o oculto que ela dá algumas vezes...

— Já está quase na hora de voltar para a sala, vamos? –perguntei sorrindo-

— Ah... Pode ir na frente? Eu queria ficar aqui mais um pouco...

— Hum? Tem algo para resolver no clube?

— Não exatamente... –ele disse sem jeito- Por favor? –juntou as mãos e pediu, como se não tivesse nenhuma desculpa para me dizer-

— Tá bom, já que você quer ficar sozinho...

            Não vou questionar, talvez ele precise de um pouco de ar e reflexão, quem sabe ele não fica mais animado. Encontrei com o professor Leonhard no corredor.

— Onde está o Silas Belmont? A aula vai começar... –disse sério como sempre-

— Ah, ele tinha uns assuntos para resolver no clube, mas já deve estar vindo.

            O professor ajeitou os óculos e entrou na sala sem dizer mais nada. É incrível como mesmo após tudo que aconteceu ele ainda nos chame tão formalmente, é como se tentasse manter distância de nós...  

            Ah, o dia hoje parece tão sem graça... O que o Silas tanto faz no clube afinal...?

. . .

Manhã de 1º de Abril,

Algumas horas antes...

. . .

            Eu não compreendo. Foi tudo tão repentino. Aquela mensagem da Alícia... Será que eu não sonhei tudo aquilo...? Não, não é possível, as mensagens que ela enviou ainda estão no celular... Eu conferi umas três vezes antes de sair de casa...

            Não importa... Quando eu chegar ao colégio aposto que ela estará lá e foi mais uma daqueles surtos dela, quando descobre algo novo e quer muito nos avisar... Eu espero...

— Sil? –Karen me encarou-

— Hum? –tinha esquecido que ela estava aqui, estava meio perdido no mundo da lua-

— Teve pesadelos?

— H-Hum?-não pude deixar de me assustar-

            Na verdade eu me surpreendi. Por que ela está perguntando isso? Será que ela recebeu mensagens também? Ah-

— Silas você está bem? –perguntou preocupada-

            O que eu digo? Se tudo que aconteceu for só um sonho...? Não sei o que dizer... Se... Se for real, eu realmente não tenho palavras...

— Sim... Eu... –desviei o olhar- Estou apenas cansado...

            Minha primeira mentira do dia. Sinto como da vez que escondi sobre o professor ser um lobisomem... Eu fiz aquilo para protegê-la... E aqui estou de novo, omitindo a verdade...

            Ela conversou comigo o caminho todo, como se tentasse me animar, aprecio as intenções, mas não consegui prestar muita atenção ao que ela dizia. Minha mente não me permitia concentrar em algo que não estivesse relacionado às mensagens que recebi ontem à noite...

            Quando chegamos à escola, eu esperava encontrar a líder de clube na sala, deitei a cabeça para disfarçar e olhei para a banca dela... Estava vazia...

Então... Ela só pode estar na sala do clube não é? Deve estar lá... Assim que o intervalo iniciou, eu precisava ir lá, tinha que conformar que Alícia estava na sala de clube, caso contrário eu não sei... Não sei se seria capaz de continuar alimentando as falsas suspeitas sobre o bem-estar dela...

            Não... Ela tem que estar viva!

            Senti meu coração acelerar quando estávamos caminhando para a sala do clube. Essa palpitação me perturba... Depois do que eu li naquela carta ontem... Será mesmo que a Alícia escreveu aquilo tudo de brincadeira?

            Ela pode não ser a pessoa mais séria do mundo, mas aquilo não soou em nenhum momento como uma mentira dela... A carta pareceu bem sã, apesar de eu não entender o sentido...

            Quando abri a porta eu esperava encontra-la lá, sentada na escrivaninha do computador, absorta nas pesquisas como sempre, mas... Não foi o que aconteceu...

            Está vazia...

— Silas?

Karen me chamou, mas não tive vontade de responder. Fiquei parado, encarando a janela, olhando para aquele vazio na sala.

            Me sinto tão decepcionado... Isso é muito triste... Essa sala solitária... Era para ser nosso clube, mas sem a Alícia aqui não parece bem aquele lugar onde nos reuníamos para discutir sobre as criaturas e fazer nossas pesquisas... É apenas uma sala qualquer agora...        

— Parece que hoje a Alícia não veio mesmo... – Karen disse - Talvez ela deva vir mais tarde, como naquele dia... –sorriu –

            Karen ainda não sabe de nada... Como... O que eu digo a ela...? Como posso explicar a situação...

— É... –dei um sorriso meio tristonho-

            Respondi sem pensar muito.

— Que tal se ligássemos para ela, tenho certeza de que ela terá uma boa explicação para- interrompi-a-

— Não! –me aterrorizei- Ela... Deve estar ocupada... –tentei relaxar um pouco, ela não podia desconfiar-

— Ah, sim... Então acho que teremos de esperar ela aparecer de novo... Bem, ela estava mesmo se dedicando a alguma atividade suspeita por essas últimas semanas, tenho certeza de que ela nos explicará tudo direito, quero dizer, daquele jeito maluco dela... –sorriu-

            O que eu digo...? O que posso dizer a ela? Ah! Agora que parei para pensar nisso, a única frase que me vem à mente é aquela... “Cuide bem da garota Karen”... Alícia pediu...

Não posso contá-la, não ainda... Eu não sei nem por onde começar, como eu posso explicar? Como eu posso...? Nem sei o que aconteceu direito ainda, preciso confirmar um monte de coisas e...

Não suporto mentir para a Karen... No entanto, se for para o bem dela, é o melhor a se fazer... Pergunto-me por quanto tempo conseguirei esconder a verdade... E também, quantas verdades mais terei de esconder para que a Karen esteja segura...? Isso é exaustivo...

— Já está quase na hora de voltar para a sala, vamos? –ela me perguntou sorrindo-

— Ah... Pode ir na frente? Eu queria ficar aqui mais um pouco...

            Preciso pensar. Analisar o que houve, como a Alícia fazia.

— Hum? Tem algo para resolver no clube?

— Não exatamente... –disse sem jeito- Por favor? –quase implorei, sem dar explicações-

— Tá bom, já que você quer ficar sozinho...

            Ela já saiu... Essa sala fica tão vazia... É verdade mesmo que você não vai voltar, Alícia...? Tentei ligar do meu celular, mas ela não atende, está fora de área...

            Eu não sei o que eu devo fazer... Nunca serei um líder de clube tão bom quanto ela foi... Ela esteve fazendo tudo sozinha e no fim, acabou...

— O que eu faço agora? –assanhei meu cabelo, irritado-

            Ela disse que havia escrito sobre o que andou investigando... Onde será que está...? Ah... Eu não consigo... Não posso olhar isso ainda... Preciso de mais tempo antes de tirar conclusões, talvez ela ainda volte... Talvez...

— Por que isso está acontecendo? Aquilo foi uma carta de despedida não foi?

            Eu não consigo não chorar... No começo eu descobri que o professor Leonhard era um lobisomem, mas ele não era mau... Então de repente apareceram aqueles outros, o cara com garras e o vampiro, e tudo se tornou tão perigoso...

            O que eu digo para o professor? Ele queria tanto que não nos envolvêssemos, o que vai acontecer quando ele descobrir que a Alícia... Por causa de monstros como ele... E a Karen, o que eu conto pra ela? “desculpe, mas a líder do clube não vai mais aparecer então eu vou ficar encarregado do clube agora”?

            Alícia, você disse que eu poderia escolher entre uma vida segura e perpetuação do clube... Mas... Eu não tenho escolha... Já estamos envolvidos demais para dar as costas e fugir agora... O único caminho que resta e afundar cada vez mais nisso tudo...

            O que vai acontecer daqui pra frente...? Eu não sei se posso garantir a segurança da Karen, nem a minha... Se aconteceu com a Alícia, aquela grande desbravadora do oculto cujas façanhas nos impressionavam,  pode acontecer conosco também... Me sinto como se estivesse caindo de um penhasco para o fundo de um abismo sem fim.

            Não! Eu tenho que ser forte, seja homem, Silas! Eu tenho que assumir as responsabilidades, pelo bem da Karen. Se... Se algo for acontecer, nem que eu perca minha vida, não vou permitir que a Karen se machuque! E tenho que fazer isso pra ajudar o professor também! Além disso, é meu dever herdar o desejo da Alícia de continuar com o clube!

. . .

            Silas voltou atrasado para a aula, recebeu uma bronca e ficou de molho no corredor por uma aula inteira, para “refletir sobre o que fez”, depois o professor permitiu que ele entrasse. Leonhard Graham era bem rígido no que dizia respeito às regras da escola.

            O jovem guardou as incertezas para si e tentou agir normalmente, para não dar suspeitas de sua depressão à sua paixão de infância, Karen.

. . .      

            Ao final do período de aulas do dia, quando os estudantes iam para casa, Ária esperava no portão da escola, ela correu para encontrar com o noivo e com os estudantes, como de costume.

— Olá, Srtª Ária! –Karen cumprimentou com um sorriso-

— Oi!

— Srtª Ária tem vindo muito ao colégio esses dias... –Silas conjecturou-

— Ah, é porque eu não consigo ficar longe dele! –ela se jogou num abraço ao noivo, que não teve nenhuma reação-

“Ah... Mas que sortudo... Não entendo o professor... Por que ele não casa logo com essa mulher? Que inveja! ”

            Silas seguiu com os olhos o casal formado por seu professor e a noiva, quando eles foram até o estacionamento da escola. Suspirou, sempre o dia acabava com essa mesma cena, era deprimente para ele.

“Ah, mas... O que eu estou fazendo, tenho que... Tenho que pegar aquilo que a Alícia mencionou na carta!! E além disso... Eu queria saber como ela... Sumiu assim do nada... ”

— Karen eu preciso pegar algo que deixei no clube, poderia esperar?

— Bem, se quiser eu posso ir andando...

— Não! –negou veemente- Quero dizer, não é bom você voltar sozinha, não é? Apenas espere um pouco...

            Ele correu até o clube. Sua ex-líder havia falado sobre uma chave, uma que abriria o armário do clube, onde estariam supostos escritos feitos pela própria investigadora sobre as criaturas sobrenaturais e a ligação que estas possuíam com a cidade. Ele revirou o clube, mas não achou chave alguma. Um pouco desesperado e impaciente. Olhava para os lados, inquieto.

 “Se eu fosse a Alícia, onde esconderia as chaves?”

            Tateou debaixo da escrivaninha onde ficava o computador, mas não estavam lá... Suspirou mais uma vez, já quase noite, onde essas chaves poderiam estar? Olhou para o teto, os balões de ufos, vampiros, livros de magia e lobisomens pendurados.

“Ah... Onde as chaves poderiam...”

            Encarou os balões por alguns segundos...

“Ah... A Alícia era mesmo doida, encher a sala com esses balões em formatos estranhos... Se eu fosse ela, onde esconderia uma chave importante...?”

            Enquanto observava os balões e pensava num possível local onde a chave poderia estar, um insight atravessou sua mente e ele se deu conta do tipo de pensamento que sua líder teria...

 “...”

“Será que...?”

            Não demorou para que ele subisse numa cadeira e estourar cada balão ali, tentando achar algo dentro.

            Ao estourar um dos balões de vampiro, ele ouviu um estranho barulho, um ruído fino de algo caindo no chão. Não hesitou, desceu da cadeira na hora e,

— A-há! –ele sorriu vitorioso-

            Uma chave caiu. Uma chave comum. Ele pegou, e pretendia abrir o armário onde a ex-líder, supostamente, guardava suas pesquisas, mas sua amiga de infância apareceu bem na hora.

— Sil? –ela simplesmente brotou na porta do clube-

— Ah! –o garoto se assustou- Erm... Karen...

— Temos que ir, está tarde...

— Hum... –ele olhou para o armário da sala, um armário embutido na parede- Certo... –guardou a chave no bolso discretamente-

— Achou o que procurava? –ela perguntou estranhando o comportamento do garoto-

— Sim... Vamos...

. . .

Passaram-se dois dias, e no dia três de Abril,

Numa calma manhã...

. . .

— Silas... Sabe o que aconteceu com a Alícia? –Karen encarou-me nos olhos-

— Bem...

— Já faz um tempo que tem escondido algo de mim... –ela franziu o cenho, não gosto quando ela me olha dessa forma- Você sabe por que a Alícia faltou hoje... Por que não quer me contar? Vocês dois estão tramando algo sem mim?!

            Ah... O que eu digo? Queria privar a Karen dessa informação, mas...

— Oh! –eu peguei o celular do meu bolso- Karen só um minuto... –gesticulei-

            Ela abriu a boca para contestar, mas eu corri antes ela pudesse dizer qualquer palavra. Meu celular havia vibrado, eu sempre deixo no silencioso durante o período de aula, e apesar de termos estarmos no intervalo, eu não tirei do modo silencioso... Tocou na hora H! Nunca me senti tão aliviado em receber uma chamada telefônica...

            Olhei quem era... Um número desconhecido? Mas quem me ligaria de um número desconhecido? Algum trote por acaso? Ou engano, talvez? Vamos ver...

— Alô? –disse desconfiado- Quem fala?

[Milorde Silas?]

— Hã? Quem fala?

            Milorde? Quem é? Uma voz de homem? Esse cara do outro lado da linha tá me estranhando? Como sabe meu nome?

[Eu falo do hospital, Milady requisita sua presença.]

— Milady? Quem é? Desculpe não lhe entendo! –eu disse confuso-

[Milady A--] –a ligação começou a se cortada- [Rápido! Diga à ele!]

            Uma outra voz apareceu ao fundo da ligação, uma voz feminina, depois a ligação encerou, mas...

            Aquela voz era...?

— O quê? –franzi o cenho-

            Rapidamente busquei aquele número na lista de chamadas atendidas, realmente era desconhecido... Mas tenho certeza de que a voz que ouvi era...

— Alícia...?

            Será que estou tão abalado com a perda da líder que comecei a ouvir a voz dela? Não quero nem pensar na Alícia como uma assombração, me dá arrepios...

— Será que é alguém passando trote?

            Mas pra imitarem até a voz da Alícia... Ou será que estou só imaginando? Só para ter certeza...

— Alô? –retornei a ligação-

[Alô?!] –uma voz feminina atendeu desta vez-

— Q-Quem é?

[Sou eu! É o garoto Silas, não é?]

— H-hã?! –um branco atingiu minha mente- Quem é?

[Não acredito que já se esqueceu de mim após poucos dias! Sou eu, Alícia, a líder do clube!]

            Deixei meu telefone escorregar pelos dedos e cair no chão quando ouvi aquilo. Impossível... Eu estava sendo assombrado agora? Como pode ela estar falando comigo se está morta? É algum tipo de carma por não ter ajudado a líder quando ela precisou?

[Alô? Alô?! Garoto Silas?!] –gritou a voz ao telefone-

            O telefone ficou mudo, encerraram a chamada do outro lado da linha. Imediatamente peguei o aparelho e conferi se alguma chamada havia sido feita ou se aquilo teria sido alucinação minha...

            Para minha infelicidade, não era alucinação. Então o que era? Resolvi discar aquele número mais uma vez para checar se havia algo errado com meu estado mental ou se estava só sonhando...

— Alô...? –disse receoso-

[Ah! Se acalmou agora? É a sua líder de clube, será que pode me fazer um favor?]

Arregalei os olhos, era o fantasma da Alícia! Só podia! Como?! Não! Não!

[Será que pode vir no Hospital Alameda da Paz? Eu estou no quarto 107, quando vier aqui te explico os detalhes, venha rápido, por favor, temos muito o que conversar...]

            A ligação foi encerrada. Sem mais palavras. Suei frio, o sangue me fugia das veias, fiquei todo branco. Já havia visto vampiros, lobisomens e agora... Fantasmas? E num hospital? Tem lugar pior para um fantasma aparecer do que num hospital?!

            Ah... Mas se o fantasma dela está aqui é por ter coisas mal resolvidas... Talvez se eu conversar com ela uma última vez, o espírito de Alícia possa descansar em paz no além... 

— Silas? –uma voz familiar me arrancou de meus devaneios-

— Hum? –me virei para ver- Karen?

— Silas, você está bem? Tá muito pálido! –ela preocupou-se-

— Não... é nada... –forcei um sorriso, mas bem forçado mesmo-

— Sil?

— Desculpe, não estou mesmo me sentindo bem hoje, acho que vou matar aula...

— Espera- ela tentou me impedir com palavras, mas falhou-

            Saí antes de escutar os montes de perguntas que ela me faria. Peguei minhas coisas e fugi da sala de aula, da escola. Ela havia dito Hospital Alameda da paz, certo? Tenho que ir lá de dia, de noite não sei se terei coragem...  Fazer o espírito de Alícia ficar em paz é mais importante que meus estudos por hora...

. . .

 No Hospital Alameda da Paz,

Recepção

. . .

— Com licença, -eu chamei a recepcionista- Tem alguma menina chamada Alícia Aven neste hospital?

— Alícia Aven?

Será que tem? E se não tiver e isso for só um sonho?

— Sim, é uma amiga, ela me ligou dizendo que estava neste hospital, disse que estava no quarto 107, gostaria que conferisse para mim... –sorri forçado-

— Hum... –a mulher olhou no computador- Isso mesmo, há uma Alícia Aven hospedada aqui... E está no quarto 107... –ela me olhou sem interesse-

— Será que eu poderia ir visitá-la?

— É algum parente?

— Um amigo da escola...

            Depois daquilo ela me deu as direções, fiquei nervoso... Como era possível, depois de toda aquela mensagem de despedida, que Alícia estivesse viva? Mas eu ouvi a voz dela, e tinha mais alguém, mas não conheço a outra pessoa...

            Antes de abrir a porta do quarto 107, respirei fundo, o que quer que eu visse ali, jurei para mim mesmo que não me surpreenderia, porque já havia visto coisas impressionantes o bastante nessa vida, não havia realmente muito que pudesse me espantar agora...

            Quando abri a porta, bem no leito de hospital... Era Alícia, ela estava sentada ali, com a cabeça virada para o lado, falando algo com alguém, mas não pude ver quem era porque a porta impedia a vista.  E então ela me notou e voltou o olhar para mim, sorrindo.

            Nunca vou me esquecer dessa cena. De repente um peso enorme saiu de dentro de mim. Eu pensei que tudo havia mudado porque achava que ela havia morrido, mas ela está viva e parece bem. Isso é...

— Alícia!! –eu corri para abraçá-la impulsivamente, mas parei quando algo tocou meu pescoço- H-huh?

            Quebrou completamente o clima da cena. Eu olhei para o que pontava meu pescoço. Uma espada? Meu deus isso é uma espada?! Como alguém tem uma espada num hospital? A Alícia está sendo feita de refém ou algo assim?! Mas num hospital?!

— Q-quem é você?! –eu perguntei assustado, claro-

            O homem que me encarava era estranho... Usava um quimono...? E tinha o olhar afiado, fiquei com medo de ter meu pescoço perfurado ali. Ele tinha o cabelo preto, era adulto, mas não tão velho...  Mais novo que o professor Leonhard eu acho...

— Tudo bem, ele é o Silas... O vice-presidente do clube... –Alícia gesticulou para o homem-

            Ele lentamente tirou a lâmina de perto de mim, relaxando a postura de ataque. Continuou me encarando com o cenho franzido, depois curvou-se e disse:

— Perdoe minha insolência, Milorde Silas! –e ficou curvado, acho que esperando eu responder-

— Ah... Sem problemas... –lancei um olhar de “o que está acontecendo aqui” para a presidente, ela riu de mim-

            Ele andou até a cadeira ao lado de Alícia, e a ofereceu para mim:

— Milorde... –gesticulou o esquisitão-

— Ah... Muito obrigado... –novamente olhei para Alícia, que sorria-

            Ela estava com o braço enfaixado e tinha um curativo na testa, estava sentada no leito com o lençol cobrindo as pernas.

— Bem... Acho que tenho muito que explicar... –ela me encarou- Comecemos por ele... –ela olhou o homem que estava de pé, ao lado do leito, me encarando- Este é Sanmoto, um samurai...

— S-samurai? –me espantei- Alícia, por que tem um samurai lhe servindo de guarda-costas? E ainda mais num hospital?! E como o deixaram carregar uma espada até o quarto de um paciente?!

— Espere... –ela gesticulou- Vou lhe explicar tudo, tenha paciência... Primeiro, desculpe pela mensagem que lhe enviei, apenas a esqueça, ainda sou a presidente do clube...

— Ah... Você me deu um baita susto! –quase gritei- Eu pensei que tivesse morrido de verdade! Como pôde? Não teve graça! Por que disse aquilo?! E o que aconteceu contigo afinal?! –joguei uma enxurrada de perguntas sobre ela-

            Ela gargalhou por causa do meu nervosismo, parecia estar se divertindo. Não acredito que ela tenha tanta energia.

— E também pensei que ia morrer naquela hora... Felizmente vivi mais um dia pra contar a história~! E isso tudo graças a este homem aqui! –ela deu uma tapa no ombro do samurai-

— Milady...

— Desculpe perguntar, mas quem é você afinal? Um samurai? O que está fazendo aqui? –encarei aquele homem suspeito-

— Eu sou Sanmoto, um samurai caçador de criaturas malignas, vim de uma vila  reclusa no estrangeiro!

— Caçador?! –olhei para Alícia-

— É... Se lembra daquela vez que falei para você e para Karen que tinha achado uns caçadores na internet? Por acaso eu achei sobre a vila onde esse caçador morava, mas não tinha como se comunicar por internet, então enviei uma carta explicando a situação...

— Permita-me continuar, Milady –o samurai disse cordial- Assim que recebi a carta, entendi o quão grave era a situação de seu povo... E imediatamente busquei embarcar num navio, o primeiro que pude encontrar em alto mar. Escondi-me junto das bagagens até chegar neste porto, o local que a Milady mencionou em sua carta, e saí, quando a encontrei estava com problemas...

            Espera aí... Carta? De que interior esse cara vem? Não usa internet ou não tem sinal no lar dele? E como assim se escondeu junto das bagagens? Ele era um clandestino no navio não era? Ele entrou escondido no navio não foi? Como pode um cara suspeito desses que anda por aí de quimono e é clandestino em navios ser alguém confiável? Por que a Alícia chamou esse cara?

— E ele provou ser um habilidoso caçador... –a líder disse vitoriosa-

— Como? –eu ainda estava confuso sobre a situação-

— Deixe-me explicar de forma mais clara... Há alguns dias trás, da madrugada de 30 de março para a manhã de primeiro de abril...

. . .

            Eu sempre estive fazendo investigações secretas nos galpões perto do porto, principalmente depois que descobri que aquele era o local de reunião dos nossos amiguinhos do mal...

            Naquele dia, eu estava em mais uma de minhas observações, mas diferente do que eu pensava, não foi fácil... Sempre que eu ia havia apenas um ou dois deles, mas daquela vez, tinham cinco, e um deles era bem esperto, agia como um “líder”...

            Quando percebi o perigo, decidi fugir com os dados que havia reunido, sabia que o aumento do número deles significava que estavam transformando pessoas, e se pesquisasse um pouco, descobriria que os desaparecimentos de ataques estranhos acontecendo na cidade não eram coincidência com o súbito aumento de vampiros...

            Mas... Havia muitos, eu tentei fugir, por fim, quando eu estava na área dos containers do porto, lhe enviei aquela mensagem, eu já estava machucada, mesmo que tentasse fugir, eles sentiriam o cheiro do meu sangue, porém, eu não desistiria...

            Meu celular caiu e eu caí também pouco depois, e me vi cercada por quatro criaturas que avançaram para extrair meu sangue... Eu pensei que morreria ali...

. . .

Alguns dias atrás,

No porto

. . .

“Pessoas com coragem morrem sempre com um sorriso no rosto...”

            Ela manteve os olhos abertos, encarando a morte, porém, antes que as garras do inimigo a alcançassem, ela ouviu um barulho de passos correndo no chão de pedra, e quando se deu conta, na sua vista embaçada pelas lágrimas que se formavam, a figura de um homem apareceu.

            Ele barrou as garras da criatura com uma espada (?).

Criatura Vil! —disse irado com o monstro-

Ele rapidamente tentou cortar a criatura que desviou, tentou cortar as outras criaturas que também se afastaram. Quando elas deram espaço, ele se virou rapidamente para ver a adolescente caída no chão.

            O homem tinha os cabelos curtos, quase raspados, de cor negra. Os olhos dele eram indubitavelmente azuis, brilhavam furiosos sob o filtro prateado da lua. Ele usava um quimono azul-claro e segurava uma katana nas mãos e tinha outra espada presa à faixa na cintura da roupa.

Sanmoto:

Olhou em volta, viu as criaturas que ameaçavam se lançar em cima dele para rasgá-lo em pedaços, pegou a menina e jogou por cima de um dos ombros.

— Perdoa minha indelicadeza, Milady... –disse sério-

— Hã? –Alícia estava confusa-

            Em um segundo estava pronta para morrer, no outro um homem com uma espada a salvara e agora estava correndo com ela num dos ombros, fugindo daquelas criaturas malévolas...

            Ele era habilidoso, apenas com uma das mãos segurava a espada, mesmo assim, não teve dificuldades em barrar os constantes ataques das criaturas que o perseguiam incessantemente, tentando tomar Alícia de volta. E ainda conseguiu cortar uma das criaturas com sua lâmina afiada, fazendo o monstro cair no chão, e recuar de dor.

            Logo aqueles vampiros se tornaram uma visão distante, à medida que se aproximavam das luzes da cidade.

— Quem é você? –perguntou curiosa-

— Sou Sanmoto, um caçador, Milady...

— Ah! –ela sorriu - Chegou em ótima hora, muito obrigada... Estive te esperando, caçador...

            Ela sentiu-se tonta e enjoada, o vento gelado e os cortes que tinha fizeram-na se sentir assim, e ela desfaleceu.

. . .

— Então depois eu acordei e pedi para que ele me trouxesse aqui no hospital, e ele disse que seria mais seguro se ficasse aqui já que tinham muitos deles me perseguindo...–ela sussurrou última parte- Eu o chamei aqui, por isso ele estava esperando para que resolvêssemos a situação, mas eu achei melhor se você, Karen e também o professor pudessem opinar sobre o assunto...

— Ah... Um especialista em vampiros? –disse o garoto ainda descrente na situação-

— Eu caço todas as criaturas malignas... –disse Sanmoto convicto-

— Espera... –Silas ponderou- Alícia! –disse com um ar de reprovação-

— Ah! –ela percebeu o “por quê” da preocupação do garoto- Sobre isso, não se preocupe... Não vai acontecer nada de mal com nenhum dos meus amigos, certo? –ela sorriu encarando o homem-

— Decerto, Milady. –respondeu educadamente-

“Não acredito que Alícia trouxe um caçador de vampiros e lobisomens para cá... Se ele caçar o Sr. Graham será o fim! Já tinha um caçador atrás dele, outro seria... Mas... Ao menos ele salvou a vida da presidente... Se ela não estivesse aqui nem sei como eu daria conta desse clube... Só ela mesmo para ser a líder de um clube estranho desses!”

— Bem... De qualquer forma, fico feliz que esteja viva, presidente... –Silas sorriu-

            Um alívio tomou o coração do garoto. Agora que a líder estava de volta, ele sentia que tudo estaria mais seguro, de alguma forma. E apesar de se preocupar sobre o futuro do professor, não poderia ser tão ruim, certo? Eles acabavam de ganhar um importante aliado que seria necessário para impedir os malignos seres que se esgueiravam na cidade... Se fosse uma pessoa de bom coração, iria compreender que o professor Leonhard não é um inimigo dos humanos... Era o que ele acreditava.  

Agora não precisaria mais dar uma notícia triste à Karen sobre a morte de Alícia. Mesmo que não estivesse em uma boa situação, sabendo dos monstros que havia na cidade, sentia que tudo iria melhorar daqui para frente... Foi o que ele pensou...

Realmente seria esse sentimento o de um futuro auspicioso da realidade que tomaria lugar ali naquela cidade invadida por criaturas sobrenaturais?   


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