Aquele Professor É Um Lobisomem escrita por Lady Pompom


Capítulo 11
Capítulo 10: Silver


Notas iniciais do capítulo

Essa histórias não tem qualquer relação com pessoas ou fatos reais. É uma obra de ficção com fins de entretenimento.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/368637/chapter/11

— O que pretende fazer, Isshvan? –o médico perguntou sério ao amigo-

— Preciso investigar quantos deles, quais os que estão na cidade e o que querem... E tenho que descobrir se há lobisomens aqui também... Aquele transformado e a presença do Silver indica que tem algum por as redondezas...

— Eu sei em quem você está pensando quando fala sobre lobisomens... Mas... E se ele não for o único a estar aqui? E se tiver mais lobisomens...? –Ária perguntou preocupada-

— Neste caso precisamos descobrir por que estão aqui. –o professor falou de cenho franzido- Da última vez que vi vampiros, lobisomens e humanos no mesmo lugar, -disse como se sua memória o levasse a algum lugar distante- Foi durante um massacre...

— Eu gostaria de não pensar assim... Mas a situação parece tomar os piores rumos... –Illiel afligiu-se- Vou tentar descobrir quem Silver veio procuram aqui... Talvez isso clareie um pouco...

— Sim, por favor. –o professor concordou- Vou tentar ser discreto e investigar os nobres que vieram à cidade...

— Eu vou com você, não é seguro andar por aí com um caçador à solta e tão perto da lua nova...

—...

— Vou buscar informações com meus contatos, -o doutor propôs-se- E vocês dois... Tomem cuidado...

. . .

Nos galpões escuros, perto do porto da cidade

. . .

            Koo,koo

A coruja branca sobrevoava a cidade, foi diminuindo a altitude para se aproximar de um local. Era um beco vazio, num subúrbio da cidade, longe das vistas curiosas das pessoas e até mesmo dos excluídos da sociedade.

            O som agourento da coruja soava no silêncio noturno. Ela voou até se aproximar de uma figura que a esperava de pé. Pousou no braço que o homem estendeu.

— Então... Mostre-me o que viu... –ele sorriu, olhando diretamente nos olhos da coruja-

            Os olhos dele eram carmesins, e assim que encarou a coruja, os olhos dela antes castanhos, ficaram vermelhos.

— Hum... –ponderou- Vá até ele... Depois fique de olho no caçador e naquela mulher impura que tem sangue humano...

            A coruja ascendeu e sumiu em meio à noite. Após isso, o homem abriu um sorriso sombrio no rosto.

            Ele era alto, os cabelos castanho-claros, ondulados batendo no queixo. Os olhos carmesins possuíam um brilho de maldade, a pele branca parecia macia e ele um portava um ar elegante inegável, além das roupas sociais de cor preta que vestia, usava uma corrente prata com um anel de mesma cor, servindo como pingente para a corrente.

Lucci deve se encontrar com aquele caçador daqui a alguns dias... Ele será um empecilho ou um bom peão...? –deu um sorriso sombrio-

. . .

Na Escola...

. . .

            Hoje é dez de março, falta apenas um dia para a lua nova. Depois do que aconteceu estou preocupado. Será que o professor vai ficar bem? Quero dizer... Com aquele vampiro, e antes disso aquele homem com garras... O que está acontecendo na nossa cidade afinal?

            Foi por o que aconteceu há algumas noites atrás que Alícia, Karen e eu ficamos preocupados. Por isso fomos ao clube e passamos os últimos dias fazendo pesquisas e tentando descobrir por que tem tantas criaturas sobrenaturais neste lugar...

— Presidente, o que está fazendo? –eu perguntei ao entrar na sala do clube-

            Lá estava ela, Alícia com um sorriso vitorioso no rosto. Deve ter achado algo interessante.

— Hum... –ela alargou o sorriso- Boa pergunta, garoto Silas! Como sabe a situação é crítica... Há um ar muito sobrenatural pairando sobre nós. Há vampiros na cidade e um caçador de lobisomens, isso é inquietante. Se o caçador está por perto, sua presa também deve estar. –disse sorrindo- E havia mais de um vampiro, vi dois, mas pode haver mais... Um deles nos atacou aquele dia. Você sabe, se tivesse sucedido, ou estaríamos num caixão agora, ou estaríamos transformados, mas por sorte a noiva do professor lobo nos ajudou...

— Aonde quer chegar presidente? –perguntei voando na explicação dela-

— Pense direito garoto Silas, vampiros e lobisomens não se dão bem, se estão juntos num mesmo local, é um mau presságio! E ainda tem um caçador de lobisomens que pode ser uma ameaça ao professor... –mordeu o dedão da mão-

— Então por que estava sorrindo quando eu cheguei? Não acho que a situação condiz com sua alegria...

— Ah! Quase esquecia disso... –pigarreou- Bem, como uma presidente dedicada, estive buscando informações sobre esse tal Silver e sobre outros caçadores...

— Outros caçadores?

            Isso não me soa bem, não vindo da nossa presidente.

— É fato que a presa que Silver está buscando está aqui, mas ele é um caçador de lobisomens, não de vampiros. E temo ter um problema com isso, já que tem vampiros na cidade e ele provavelmente não irá mover um músculo se quer para tirá-los daqui...

— Só que, -sorriu- Enquanto pesquisava, encontrei alguns bons caçadores... Pesquisei por um especialista em vampiros... Na verdade ele caça lobisomens também, no entanto, não falarei sobre o professor lobo para ele.  

— Caçador de internet? –fiquei desacreditado-

— Eu o encontrei informações sobre ele num site na internet, ele tem honra e parece ser um experiente no assunto, a situação exigiu Silas, já enviei uma solicitação da presença dele aqui já faz um tempo... Em breve ele aparecerá e aí poderemos tirar esses vampiros perigosos.

— Alícia... Não creio que esse caçador seja... –fui interrompido-

— Não se preocupe! –agarrou em meus ombros- Ele virá e exterminará os vampiros maus antes que eles transformem nossa cidade toda!

            Não pude rebater o argumento dela porque os olhos dela brilhavam muito. Dizer que não acreditava, seria como dizer a uma criança que Papai Noel não existe enquanto ela esperava um presente de natal...

            Esse caçador de internet deve ser algum maluco tentando extorquir algumas pobres almas. Não que eu não acredite que haja caçadores de verdade... Mas fica difícil confiar em algo que ela achou num site aleatório...

            Enquanto eu suspirava me achando um miserável envolvido em assuntos que não deveria e que estão muito além de minha mera compreensão, Karen apareceu no clube.

— O que estão fazendo?

— Ah, eu estava explicando para o garoto Silas que... –a presidente iniciou uma longa explanação detalhadas-

. . .

— Para falar a verdade... Eu estive muito preocupada... –Karen fez uma expressão triste- O professor foi perseguido por um caçador, a noiva dele foi ferida por aquele homem estranho... E nós não pudemos fazer nada...

            Karen... Deveríamos estar preocupados com nossa segurança, já que não podemos nos defender contra esses monstros, mas ela está pensando primeiro nos outros... Também me incomoda que Srtª Ária e o professor Leonhard sejam os mais ameaçados nesta situação toda... E amanhã... Amanhã é a Lua nova... Tenho um mau sentimento sobre esse dia... É o dia que lobisomens ficam mais vulneráveis...

. . .

Dia 11 de março,

O dia da lua nova

. . .

            Acordei cedo esta manhã. Talvez pela minha inquietação sobre hoje... Já está na hora do intervalo, tanto eu quanto a Karen estamos muito preocupados. Como sempre, estamos no jardim da escola almoçando.

— Oi -uma voz familiar veio de trás de nós-

— A-Ária! –eu disse num impulso-

            Levei um susto... Aparecendo tão de repente assim...

— Como estão crianças? –ela sorriu- Parecem um pouco deprimidos, qual o problema?

—... Não é... Nada... –respondi, mas não convenci nem a mim mesmo com aquelas palavras-

— Não me digam que o professor de vocês fez disse algo mau...? –ela preocupou-se-

— Na verdade, estamos assim porque hoje é a lua nova, você sabe, o professor... –Karen respondeu hesitante-

— Ah, -a noiva do professor fez uma expressão de piedade- Não precisam ficar preocupados com nada disso... Eu não vou deixá-lo fazer nada imprudente. Vou cuidar dele!

            Isso ainda me deixa um tanto inquieto... Do jeito que o Sr. Graham a ignora, acho difícil ela poder ajudar em alguma coisa, apesar dela ser bem forte... –suspiro-

— Você veio buscá-lo de novo hoje? -minha querida Karen perguntou-

— Sim... Tenho que vigiá-lo redobrado, se não ele acaba se envolvendo em algo perigoso... –suspirou- Tenho que ir crianças, alguém vai ficar muito incomodado quando me vir aqui... –saiu dando pulinhos de felicidade-   

Não sei se tenho pena ou fico feliz da alegria dela. O professor Leonhard não é exatamente uma pessoa atenciosa... Ao menos, não para o tipo de atenção que ela quer.

. . .

            Num corredor do prédio escolar, perto da porta da sala dos professores, Ária encarava o noivo enquanto ele novamente a bronqueava por invadir o colégio.

— Mas... Especialmente hoje é perigoso você ficar sozinho...

— Eu já lhe falei, Ária... Não pode vir aqui, este é meu trabalho sabia? –explicava pacientemente- Vou ser demitido se pensarem que todos os dias eu trago minha noiva aqui...

— Eu prometo que fico do lado de fora, ninguém vai me ver... –olhava de soslaio, tentando convencê-lo-

            Enquanto os dois estavam um de frente para o outro, conversando, o professor de matemática, Houston saiu da sala dos professores e os viu no corredor. Assim que viu uma figura feminina, que mal aparecia porque o professor Leonhard estava na frente, julgou ser uma aluna, por ser uma garota baixa perto do homem com quem ele cismava.

“Não acredito...! Primeiro os chocolates agora, mesmo tanto tempo depois do dia dos namorados ainda tem alunas puxando conversa com ele no corredor?!”

            Irritou-se e foi até o colega de trabalho, puxou bruscamente o ombro de Graham e disse:

— Sr. Graham, o que está acontecendo aqui? –franziu o cenho-

—... –Leonhard surpreendeu-se por alguns segundos-

— Eu exijo uma explicaçã- -Houston dizia irritado até visualizar o rosto da mulher-

            Ária estava confusa com a situação, ela fitou o noivo e depois fitou o outro professor que aparecera ali.

“Linda.”

            Aos olhos de Houston, quem estava ali era uma bela mulher, de longos e sedosos cabelos negros, olhos castanhos brilhantes e lábios rosados.

            Houston parou e encarou a mulher por alguns segundos, raciocinando.

“N-não é uma aluna”

            Ele se recompôs, pigarreou, envergonhado.

— Sr. Graham, -falou mais calmo- Poderia me explicar o que está acontecendo aqui...?

—... Ah! –Ária pronunciou-se- Fui eu quem... –foi interrompida-

— Eu a conheço, ela acabou de se mudar para a cidade e precisava de ajuda, então veio até aqui me pedir... –Leonhard explicou com sua postura séria- Mas ela já estava de saída... –lançou um olhar discretamente para a mulher-

— Desculpe invadir a escola, -ela curvou-se- Se me dão licença... –retirou-se dali-

“O que foi isso agora? Foi impressão minha ou ele simplesmente a expulsou daqui?”

— Hmrr –pigarreou- Professor Graham , entendo que queria ajudar uma jovem moça, mas por favor contenha-se de trazer pessoas aqui.

— Não acontecerá novamente. –curvou-se num gesto de desculpa-

            O homem já se retirava do local, quando o professor Houston chamou a atenção dele novamente:

— A propósito, quem era aquela moça? –perguntou curioso-

—...  –ponderou por alguns segundos antes de responder com seu tom habitual- ...Minha noiva

“K-kah! No-noiva...!!

. . .

Isso s-só pode ser mentira! Não tem como uma mulher tão bonita se interessar por um cara desses, além disso, ele nem está usando aliança de noivado! Deve estar dizendo isso só pra se amostrar, esse Leonhard Graham... Grrr”

            E saiu dali nutrindo ainda mais raiva pelo arqui-inimigo. 

. . .

— Aqui estamos de novo. Eu Alícia Aven, como líder do clube de ocultismo devo investigar a fundo os assuntos que concernem ao professor lobo e sua noiva e os acontecimentos que são mais do que coincidência, ocorrendo em torno dos dois.

— O fato de existirem vampiros na cidade, um caçador de lobisomens me intriga, principalmente por que estes estrangeiros parecem estar de lados diferentes, cada um seguindo seus próprios interesses, e em meio ao fogo cruzado, o casal do ano aparece: Leonhard Graham, o lobisomem e sua noiva Ária, três quartos humana e um quarto vampira.

— Hoje é lua nova, provavelmente aquele caçador deve estar à solta, buscando sua presa, que deve ser, supostamente, o Sr. Graham. Eu quero encontrá-lo. Minha investigação noturna hoje tem o intuito de analisar os fatos que ocorrem e ir a fundo nos motivos desse caçador estar aqui, e desses vampiros estarem na cidade. –desligou o gravador que segurava-

            Finalmente terminei minha gravação. São dez horas, é hora de sair de casa para mais uma aventura noturna.

            Com uma mochila nas costas, com todos os possíveis recursos que necessitaria, a presidente de clube saiu de casa pela janela, como uma profissional fugiu sem ser notada, correndo livremente pelas ruas da cidade.

. . .

            Eu finalmente cheguei ao local mais propício a encontros noturnos maquiavélicos, os galpões perto da praia. Querem saber por quê? Bem, é fácil entender, um monte de galpões abandonados, perto de uma rota de fuga marítima (o porto), escuro, vazio e a céu aberto. É fácil se esconder por entre os galpões ou dentro deles. Há tantos que ninguém nem notaria se um ou dois estivessem sendo usados. Pra falar a verdade, ninguém dá atenção a um monte de galpões velhos, esquecidos pela sociedade, é o que torna o local o esconderijo perfeito.

            H-hã? Tem alguém vindo, ouço os passos... Tenho que me esconder...! Ah, sim, adoro espaçamentos entre galpões, sombrios, sórdidos, esconderijo perfeito.  

É um homem... Hum? Quem é ele? Um caubói?  Usando um chapéu de caubói, um sobretudo, tapa-olho... Tenho certeza de que já vi essa aparência e descrição em algum lugar... Espera...

Não, não é possível... Esse é... Silver? Esse é mesmo o famoso caçador?! Ah! Não posso perder uma oportunidade dessas por nada, tenho que segui-lo. Queria um autógrafo, se possível, mas não é hora para isso! Concentre-se, Alícia!

Ah, ele entrou naquele galpão... Tenho que achar alguma abertura para ver o que ele foi fazer lá... E tenho que ser cautelosa, um caçador experiente como ele pode acabar me notando e pior, me confundir com alguma presa dele... Hohoho! Ser detetive desse tipo de assunto é mesmo perigoso, me inspira!

Ah, tem um monte de buracos nesse galpão velho, tenho que tomar cuidado pra não ser vista... Vamos ver... Se eu subir nestas caixas de madeira fica difícil descer depois, ainda me lembro da última vez, que tive que fugir de uma coruja suspeita...

Bem, posso olhar daqui debaixo mesmo... O Silver está dentro do galpão, mas está muito escuro, mal consigo ver a silhueta dele... Hein? Tem mais um? Quem será...?

Ah! Esse outro, os olhos dele são vermelhos... Será um vampiro? Pensando bem também foi por esses galpões que aqueles vampiros estavam... Será que esse é um deles? Ou outro que chegou depois...? Mas espera aí, o que um vampiro está fazendo se encontrando com um caçador de lobisomens?  Será que o Silver vai matá-lo...? Não... Não acho que seja isso... Pode ser o ódio entre vampiros e lobisomens tão profundo que um vampiro esteja se unindo com um caçador de lobisomens humano para matar algum lobisomem...?

Ah! Eu tenho que ouvir o que eles dizem, mas não consigo... Eles estão falando muito baixo...

. . .

Enquanto isso, do lado de dentro, alguns minutos antes...

. . .

            O homem de cabelos castanhos ondulados e olhos vermelhos encarou o sujeito que acabara de entrar na grande área coberta e escura.

— Com um olhar ameaçador e arrogante, como sempre... Sua raça nunca muda... –sorriu o “caubói”-

—... O que um caçador quer aqui...? –disse impassível-

— Tenho alguns assuntos para tratar contigo...

— Não tenho assuntos para tratar com ninguém... –respondeu o vampiro, num tom seco- Além disso, Lucci disse que se encontraria com você...

— Claro que temos muito que conversar... Eu venho seguindo o rastro de Khalen, descubro que tem vampiros “nascendo” nesta cidade e outra de minhas presas também está aqui... Um lugar agitado, devo dizer... –sorriu irônico- queria falar contigo antes do falar com seu “chefe”.

            O vampiro permaneceu em silêncio, com o semblante frio e inexpressivo, como se aquilo pouco o importasse.

— Ouvi que havia um transformado por aqui... Pensei que fosse obra dele, mas não esperava que fosse o transformado de um vampiro... Não que eu tenha nada contra você, com todo o respeito, mas é muito intrigante que um vampiro e um lobisomem tão antigo estejam na mesma cidade...

            O vampiro continuava a manter seu voto de silêncio, franzindo o cenho e estreitando os olhos, cada vez mais incomodado com as insinuações cínicas do caçador, que continuava com a maior paciência e despreocupação:

— Se há lobisomens e vampiros numa mesma locação e eles não estão se engalfinhando, só posso supor que há algum tipo de acordo entre eles... Como vocês já fizeram no passado...

— Está tentando me provocar? Garanto que numa luta, não se sairia bem, caçador... –afiou o olhar- Lembre-se de que hoje é lua nova...

O caçador estreitou os olhos e fitou o vampiro por alguns segundos, depois respondeu.

— Uma luta entre nós não traria ganho algum, para nenhum dos dois lados, além disso, meu alvo não é seu povo...

            O tom mais sério na voz de Silver indicava que ele havia parado com as brincadeiras, e ele decidiu ser sucinto:

— Eu sei que sabe algo sobre o paradeiro de Khalen, por que não facilita tudo e me diz o que sabe?-deu um sorriso- Já que tanto você quanto ele estavam tentando criar transformados nesta cidade... –lançou um olhar ameaçador-

— Não me relacione com tais criaturas... –franziu o cenho-

—... –sorriu cínico- Bem, como eu havia dito, uma disputa entre nós não trará nenhum benefício... Como não deseja me contar nada, me retirarei pacificamente por hoje... –virou de costas e deu alguns passos-

— Espere... –o vampiro chamou a atenção-

—... O quê? –olhou de perfil com uma expressão de desinteresse-

— E quanto à pessoa que lhe seguiu e esteve do lado de fora o tempo todo... Espionando...  –estreitou os olhos vermelhos-

— Ah, quanto a isso... –riu- Não precisa se preocupar, é só uma garotinha... Não faço ideia do que ela pretende, mas uma pirralha como ela não pode lhe fazer nenhum mal... –continuou andando-

— Você permitiu que ela lhe seguisse... –uma leve irritação surgiu na voz calma do homem-

— Hum? Não conhece minha política de trabalho? Eu não machuco humanos... E também preferiria não machucar nenhum da sua raça, meu alvo são apenas lobisomens... –sorriu astuto- Ora é só uma garotinha... Para temer uma humana, você deve mesmo ter algo a esconder...

O vampiro franziu o cenho, irritado, e o caçador saiu dali uma vez que seus negócios estavam encerrados.

A criatura noturna se demorou alguns minutos parada, como se pensasse,  e depois olhou na direção que Alícia estava espiando, com seus olhos carmesins reluzentes na escuridão. A garota arregalou os olhos, assustada, e num segundo, o vampiro sumiu.

. . .

Do lado de fora, minutos atrás...

. . .

            Devia ter trazido algum aparelho para intensificar sons... Acho que vou ter que colocar escutas e microfones nestes galpões... Não consigo escutar uma palavra do que eles dizem, mas vou tentar interpretar os gestos...

            É... Eles não se movem muito e está extremamente escuro para que eu possa ver as expressões... Os poucos feixes da luz da lua que entram no galpão não são o bastante para decifrar uma conversa...  Só consigo ver aqueles olhinhos vermelhos brilhando no escuro...

            Ah... Um deles está saindo... É o Silver... Tenho que segui-lo... Dependendo das ações dele, pode estar em perigo.

            Sumiu...!! Droga... O Silver sumiu da minha vista... Onde ele est-

Garotinha...—uma mão tocou no meu ombro, e uma voz soou atrás de mim-

Engoli seco. O caçador havia achado uma espiã... Não acredito que ele machuque humanos, porém depois de ver este suspeito encontro noturno entre um caçador e criaturas de uma raça que ele não caça, não sei se ele é confiável.

— Não devia estar aqui a essa hora... –sussurrou no meu ouvido -

—... O que... O Senhor quer de mim? –não ousei encará-lo, continuei olhando para a mesma direção-

— Não me entenda mal... Isto é apenas uma forma de vingança sutil, -disse ele num tom perverso- Por algumas palavras maldosas que ele usou para me provocar...

            No mesmo instante, o vampiro de dentro do galpão me encarou, tenho certeza de que ele viu meus olhos por o buraco na parede, parecia irritado, e num segundo, sumiu. Só que... Quando me dei conta, alguém havia me puxado para muito longe...

            Silver, o famoso caçador de lobisomens me pôs no ombro, como um saco de farinha, e de alguma forma, distanciou-se do galpão. Foi tão rápido que a paisagem parecia apenas um aglomerado de vultos velozes. Não acredito. Estou sendo carregada por um caçador kyahh!! Kyahhh! Um sonho! Não terei uma chance dessas em minha vida uma segunda vez!

            Então, ele me colocou no chão, me encarou com um sorriso brincalhão no rosto, e disse gesticulando com o dedo indicador, como se me desse uma lição:

— Não terá tanta sorte da próxima vez garotinha... Tente não brincar com assuntos perigosos por aí... Ou vai acabar como eu... –tocou no tapa-olho e virou de costas, indo embora-

            Ooh! Um verdadeiro caçador... Mas ele me ajudou a sair de perto daquele vampiro... Devo presumir que eles não eram amigos afinal...? Hum... Realmente isso merece uma investigação minuciosa, no entanto, por hoje devo correr, ou aquele vampiro vai me alcançar. Um detetive tem que sempre saber a hora para se retirar de cena.

            Enquanto aquele caçador que eu chamei não vier, terei que procurar informações com minhas fontes na internet... E fazer buscas como esta por conta própria, mas não é tão mal... Finalmente, nosso clube de ocultismo está funcionando, finalmente!

            E com um sorriso de inspiração no rosto, Alícia Aven correu animada, maquinando mais de seus planos desvairados e teorias absurdas para o bem do clube e da cidade.

. . .

Nos galpões

. . .

— Aquela humana sumiu... –o vampiro franziu o cenho- Não há como um humano fugir tão rápido... –olhou em volta- Não sinto a presença dele também... Como... –um lampejo de entendimento passou por sua mente- Silver... —disse com ódio- É assim que aquele maldito caçador joga... –grunhiu- Ele terá um pagamento por suas ações... Em breve... –jurou vingança- Em breve...

            E assim os olhos vermelhos furiosos e sedentos por sangue desapareceram na noite...

. . .

Dois dias depois...

. . .

            Alícia a presidente de clube tem estado concentrada em algum trabalho, que ela diz ser para o bem do clube e de nós mesmos, e está com uma aparência maníaca...

            Karen e eu estamos ficando preocupados com a saúde mental dela...  A pobre tem dito que encontrou umas informações interessantes e que sua espionagem precisa melhorar... De que “espionagem” ela está falando...? Talvez precisemos achar um psicólogo para ela, ou até um psiquiatra...

            Hoje são 13 de março... É meu aniversário... Hoje serei oficialmente um garoto de 17 anos... Apesar disso, não me sinto muito feliz... Meus pais disseram que querem uma comemoração, mas eu não quero, com tanta coisa virada de cabeça para baixo na minha vida, o meu último desejo seria uma festa... Sem festas, sem muita felicidade, não consigo forçar um sorriso em situações assim...          

            A lua nova passou e não me sinto nem um pouco mais calmo... Fico imaginando o que pode acontecer com tanta gente perigosa andando por aí... Vampiros, lobisomens, sinceramente... Essa cidade está virando um recinto de criaturas sobrenaturais... Temo por os pobres cidadãos, temo por nós que estamos envolvidos nessa trama...

— Sil, qual o problema? –Karen me perguntou com um tom preocupado-

            Ah! Karen fica tão fofa quando está preocupada! Minha alegria do dia!

— Não é nada...

— Fazendo uma expressão tão depressiva dessas no seu aniversário... Não deveria estar um pouco mais feliz? –sorriu-

—... Ah... –suspiro- Eu não sei mais o que fazer da vida... E pensando bem, do jeito que as coisas andam, esse pode ser meu último aniversário...

— Não diga isso! –me repreendeu- Não diga isso nem de brincadeira, Silas!

— Hoje é seu aniversário...? –uma voz familiar disse-

— Hã? –eu me virei para ver quem era-

            Era o professor, como sempre eu e Karen ficávamos no jardim, e ele apareceu por lá.

— S-sim! –respondi um pouco assustado-

— Parabéns. –ele estendeu a mão-

            Sério? Sério que o Sr. Graham quer me cumprimentar? Não, sério mesmo?

— Ah, obrigado... –disse incerto dando um aperto de mãos-

—... Não se preocupe... Você será capaz de viver uma vida normal, eu prometo... 

            Por que ele está dizendo isso de repente? Será que ele percebeu de onde vem minha incerteza...?  Por que será que ele...?

— Feliz aniversário! –alguém me abraçou por trás–

—A-ah! –me assustei- Á-Ária...

            Quando foi que a senhorita Ária chegou? Nem percebi...

— Não está feliz? –ela deu tapinhas em meus ombros- Isso merece uma comemoração! –disse em seu tom alegre-

— Ária... –o professor ajeitou os óculos e disse- De novo... Você está aqui...

— A-ah! –ela se escondeu atrás de mim- É uma data especial, aniversários são bem melhores com todo mundo junto, eu tinha que vir!

Ele suspirou e massageou as têmporas... Devia estar com dor de cabeça. Ah, professor, está tudo bem deixar a Senhorita Ária vir aqui todos os dias... Acho que isso só prova o quanto ela quer estar com você... Mas... Usar meu aniversário como desculpa... Isso é lamentável... E suspirei também, aquela onda de desânimo era contagiante.

— O que há com vocês dois hoje? –Karen disse um tanto irritada- Poxa, ficam suspirando o tempo todo! -

— Não é nada Karen... –gesticulei- Só não me sinto muito bem...

            E tenho um mau pressentimento... Bem, talvez seja só porque estou pensando muito no futuro que estou desanimado... Não vamos deixar isso estragar meu dia...

            Mal sabia Silas que naquela mesma noite um encontro incitante para o mal estaria para ocorrer e que as consequências deste encontro seriam, talvez, irremediáveis.

. . .

Durante a madrugada, num prédio de luxo, na cobertura,

. . .

            Silver apareceu na cobertura daquele prédio. O ar gélido e o vento forte faziam seu sobretudo esvoaçar. Era plena madrugada e a maioria dos postes de luz da cidade estava acesa, mas daquela altura as luzes não ofuscavam muito o brilho das estrelas no céu, deixando mais estrelas à mostra.

— Veio fazer seu lanchinho? –o caçador sorriu irônico direcionando-se a outra figura presente ali-

—... Silver, o grande caçador de lobisomens... - a voz masculina da segunda figura presente no alto arranha-céu soou num tom forte-

            O homem a qual a voz pertencia era alto, magro, com longos e lisos cabelos de cor prata, como a lua. Os olhos com longos cílios brancos, e um olhar imponente, vermelho vivo. A pele era branca, quase transparente e com uma aparência desejável, e ele tinha um fraco sorriso de uma gentileza enganosa no rosto.

Vampiro:

            Os cabelos do homem esvoaçavam junto ao manto negro que utilizava. E ele deixou de observar o céu para encarar o recém-chegado caçador.

— Você deve ser... Lucci Van der Veer... Um verdadeiro nobre... – disse Silver sério-

            O homem pálido simplesmente sorriu educadamente com um aspecto leve e enganador nos lábios.

— Suponho que deva ter notado a presença de Khalen por aqui também... Deve saber onde ele está, e se possível, gostaria que me dissesse...

Você querendo saber onde ele está? Imaginava que sua rixa contra essa raça devesse ter acabado há algum tempo... –fitou a Silver-

— Não importa, se souber onde ele está... –o caçador franziu as sobrancelhas sutilmente -

—... –o outro abriu mais o sorriso - Podemos fazer um acordo...

— E que acordo teria o Sr. Lucci a me oferecer?

— Um bem interessante...

—...

— Sei que o está procurando há muito tempo, posso lhe dizer a localização dele agora mesmo... Porém...

— Há, que espertinho... Tentando me usar para algum plano seu? –o caçador afiou o olhar-

— Só estou tentando estabelecer um acordo que beneficie ambos os lados, saberá o que quer e eu terei alguma paz... –o homem de cabelos brancos disse com firmeza-

— E o que você deseja? –o caçador desconfiou-

— Como profissional que esteve tantos anos a fio buscando uma única presa... Não seria divertido para você perdê-la de vista novamente, não é...? –iniciou o discurso, encarando o caçador nos olhos- Basta que não interfira em nossos assuntos e faça um favor a nós, assim iremos lhe dizer onde ele está...

— Uou! Isso é inédito, um vampiro tentando fazer um acordo com um caçador de lobisomens! –sorriu- Depende do favor que você quer me exigir...

— Não utilize uma palavra tão forte, não é uma exigência, na verdade acredito que você sentirá prazer em realizá-lo...

—...

— Gostaria que acabasse com um indivíduo que pode vir a trazer problemas... –fitou o céu com seus olhos vermelhos- Há alguns dias atrás, meu amigo me disse que havia alguém nesta cidade que possuía potencial e poder para estragar nossos planos... Não quero interrupções, por isso, nada melhor do que um profissional para realizar tal trabalho... –olhou novamente para Silver- Deve estar adivinhando de quem falo...

— Seria esse homem um lobisomem que chegou recentemente à cidade? –sorriu sádico-

— Exato, falo de Isshvan Von Einhardt, -sorriu o vampiro- O filho de Khalen.

            O caçador alargou o sorriso sádico e fitou o outro.

— Isso você não precisava nem me pedir, esse favor farei por cortesia!

—... Bom...

            E assim, os homens apertaram as mãos, sinalizando o contrato. Na noite fria da cidade mais uma vez um acontecimento inédito e temeroso se forma, e o que vem a seguir pode não trazer tão doces memórias para os que estarão envolvidos.

            Isshvan corre perigo e todos que estão próximos a ele. Quem é Khalen afinal?! O que sucederá? Terão os dedos cruéis do destino alcançado Isshvan e os que o cercam?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Aquele Professor É Um Lobisomem" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.